A pauta de gênero e mercado de trabalho esteve presente nos veículos de comunicação nas últimas semanas graças ao Nobel de Economia recebido por Claudia Goldin. Em seu trabalho, a pesquisadora americana coletou mais de 200 anos de dados dos EUA, com o objetivo de demonstrar como e porque as diferenças de gênero nos ganhos e taxas de emprego foram mudando historicamente.
Uma observação relevante de seu estudo é que apesar de em uma primeira vista parecer que a presença da mulher no mercado de trabalho tem sido uma crescente, o levantamento de dados de Goldin demonstrou que participação das mulheres casadas diminuiu com a transição de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial no início do século 19, mas depois começou a aumentar com o crescimento do setor de serviços no início do século 20 formando uma curva em U.
Outro ponto, o que mais me interessa aqui, é como se estrutura, na prática, a disparidade salarial entre homens e mulheres. Para Goldin, também em um senso comum, poderia ser explicada por diferenças na educação e nas escolhas profissionais. Contudo ela demonstrou que a maior parte desta diferença de rendimento ocorre agora entre mulheres que exercem a mesma profissão, e surge, em grande parte, com o nascimento do primeiro filho.
Sabemos que as mulheres estudam mais tempo, são mais especializadas, mas, quanto mais alto o cargo de gestão, menos mulheres iremos encontrar nesses cargos. Então, na maioria das empresas, a prometida diversidade não chega nas tomadas de decisões, inclusive quando o assunto é ESG. Somos nós que estamos fazendo hardwork. Em OSC’s, as mulheres também são maioria nas organizações, porém as que mais recebem financiamento têm homens a frente.
Nós somos mais impactadas do que os homens quando falamos de crise ambiental, temos sido vozes de denúncia contra crimes ambientais, somos lideranças populares em todo o mundo, pesquisadoras, empreendedoras verdes, e temos liderado, majoritariamente, a implementação de práticas relacionadas ao ESG nas organizações, mas quando o assunto são posições no topo das cadeias, ainda somos sub representadas. Infelizmente não é surpreendente, mas precisa ser transformado.
Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que nas empresas brasileiras com alto desempenho na agenda ESG, 72% têm uma ou mais mulheres em seus conselhos administrativos, e 52% contam com diretoras femininas. Contudo, o levantamento “ESG Mulheres na Liderança”, realizado pela Teva Índices, dentre as 343 empresas analisadas, 38,4% não têm nenhuma mulher no conselho de administração. Mais de 56% das empresas não contam com nenhuma mulher na diretoria, no conselho fiscal ou no comitê de auditoria, e somente 25 mulheres são presidentes do conselho de administração, enquanto homens presidem 93,1% destes.
Se observarmos que a própria Claudia Goldin é apenas a terceira mulher a ser laureada com o prêmio Nobel de Economia em 55 anos de existência, temos a demonstração de que o caminho ainda é longo para uma ocupação equilibrada de espaços de relevância social. Mas nós seguiremos falando por nós e pelo planeta.
Historicamente os homens constroem seus laços de colaboração, usando da religião ao esporte para fortalecer estes laços. Então, penso que o movimento que podemos e devemos fazer é de cada vez mais criar comunidades em que as mulheres sejam valorizadas na sua completude. E possamos existir com menos medo.
**Kamila Camilo é ativista LGBTIQ+, empreendedora social, vencedora do Prêmio Young Leaders do Instituto Anga. É fundadora e diretora executiva da Creators Academy Brasil. Atua também como consultora estratégica no Instituto Talanoa.
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