Verbete Draft: o que é disrupção?

Gisela Blanco - 11 fev 2015Clayton Christensen, professor de Harvard que cunhou o termo (foto: Christensen Institute).
Clayton Christensen, professor de Harvard que cunhou o termo (foto: Christensen Institute).
Gisela Blanco - 11 fev 2015
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Gisela Blanco, que assina este texto, é jornalista mestre em Business Innovation pela University of London.

 

O empreendedorismo está cheio de novos termos e expressões. Preparamos uma série para explicar as principais palavras desse vocabulário que o empreendedor precisa saber. Seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O primeiro verbete é sobre…

DISRUPÇÃO

O que acham que é: Sinônimo de “inovador, moderno, radical”. Como diz Peter Thiel, fundador do PayPal, “disrupção se metamorfoseou em um jargão autocongrulatório para qualquer coisa que se faz passar por nova e moderna”.

O que realmente é: Produto ou serviço que cria um novo mercado e desestabiliza os concorrentes que antes o dominavam. É geralmente algo mais simples, mais barato do que o que já existe, ou algo capaz de atender um público que antes não tinha acesso ao mercado. Em geral começa servindo um público modesto, até que abocanha todo o segmento.

Quem inventou o termo: Clayton Christensen, professor de Harvard. Ele se inspirou no conceito de “destruição criativa” cunhado pelo economista austríaco Joseph Schumpeter em 1939 para explicar os ciclos de negócios. Segundo ele, o capitalismo funciona em ciclos, e cada nova revolução (industrial ou tecnológica) destrói a anterior e toma seu mercado.

Quando foi inventado: O termo apareceu pela primeira vez em um artigo de 1995, Disruptive Technologies: Catching the Wave. Depois, Christensen conta melhor a teoria em seus livros The Innovator’s Dilema e The Innovator’s Solution.

Para que serve: Para explicar a seguinte teoria: quando uma empresa lança uma tecnologia mais barata, acessível e eficiente, mirando margens de lucros menores, cria uma revolução. Deixa obsoleto quem antes era líder de mercado. É o oposto do que Christensen chama de “Inovações sustentáveis” — as que não chegam a criar um novo mercado e concorrem com outras empresas de forma mais tradicional. Para que os pioneiros não fiquem vulneráveis, a única saída seria fazer auto-disrupção. Um exemplo: a própria HP investindo em linhas de PCs populares antes que a Lenovo o faça. Segundo Christensen, algumas das características das inovações disruptivas são: margens de lucro menores, mercados-alvo menores e produtos e serviços mais simples, que não parecem tão atrativos quanto as soluções existentes quando comparados com métricas de perfomance tradicionais.

Quem usa: Christensen dá exemplos clássicos como PCs substituindo os antigos computadores mainframe; telefones celulares roubando o lugar dos fixos. Outros exemplos modernos: a Wikipedia, que sabotou milhares de vendedores de enciclopédia e serviços pagos de enciclopédias online. O Airbnb, que tira do sério associações hoteleiras. Aplicativos como Easy Taxi e 99Taxis, que tomaram o lugar das empresas de rádio-taxi. Serviços como o Netflix jogaram para a irrelevância as video-locadoras. E o Google, que fez milhões de pessoas esquecerem que precisavam de listas telefônicas.

Efeitos colaterais: Inovações disruptivas costumam irritar um bocado de gente. Como efeito colateral, um negócio assim geralmente provoca demissão de milhões de pessoas, falência de empresas ou pelo menos quedas repentinas no lucro que forçam concorrentes a mudar de rumos. Mas isso não quer dizer que elas prejudiquem o mundo. Pelo contrário. As inovações disruptivas dão mais informação e poder de escolha ao consumidor, facilitam processos e barateiam produtos, que assim se tornam acessíveis a mais gente. “Uma inovação disruptiva dá a novos consumidores acesso a produtos historicamente apenas disponíveis para consumidores com muito dinheiro ou habilidades”, afirmou Marc Andreessen, outro empreendedor e investidor famoso do Vale do Silício.

Quem é contra: Além das empresas prejudicadas, alguns teóricos e pesquisadores já questionaram a lógica da disrupção. A polêmica mais quente foi criada por um artigo recente da historiadora e professora de Harvard Jill Lepore, na revista New Yorker. Ela argumenta que a teoria foi construída em cima de uma argumentação histórica falha, e que Christensen olhou só para exemplos que confirmavam a sua hipótese. Várias das empresas que sofreram disrupção estariam por aí firme e fortes — caso da IBM e da Xerox.

Para saber mais:
1) Assista este vídeo da Harvard Business Review.
2) Leia os livros The Innovator’s Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail e The Innovator’s Solution: Creating ans Sustaininig Sucessful Growth, ambos de Clayton Christensen.
3) Veja esta série de 17 posts no Twitter, em que o empreendedor e investidor Marc Andreessen explica o que é disrupção, algo que ele considera um dos conceitos mais mal compreendidos sobre inovação.

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