Verbete Draft: o que é Dopamine Fasting

Isabela Mena - 5 fev 2020A dopamina está relacionada à sensação de prazer.
A dopamina está relacionada à sensação de prazer.
Isabela Mena - 5 fev 2020
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

DOPAMINE FASTING

O que acham que é: Falta de dopamina no cérebro.

O que realmente é: Dopamine Fasting (jejum de dopamina, em português) é o nome de uma técnica que propõe a abstenção, por períodos limitados, de comportamentos que estimulam a liberação de um neurotransmissor chamado dopamina. Os resultados seriam aumento de qualidade de vida e produtividade.

A ideia está estruturada nos seguintes fatos:

— A dopamina é um neurotransmissor (mensageiro químico do cérebro) relacionada, entre outros, ao processo que envolve aprendizado, memória e motivação baseados em recompensas. Dentro deste contexto, e por associação, está também relacionada à sensação de prazer. O exemplo mais comum é o do chocolate: você prova um chocolate novo, gosta, e seu cérebro libera dopamina. O momento se torna uma lembrança prazerosa, que você procurar repetir.

— Vivemos uma era de bombardeamento de estímulos, na qual nossa atenção é uma commodity valiosa e cada vez mais disputada por empresas. Interação em redes sociais (fotos, vídeos, áudios, texto), anúncios, podcast, séries de TV, filmes, notícias verdadeiras, notícias falsas, mensagens de WhatsApp (pessoais e profissionais), e-mails (pessoais e profissionais) etc. Sem contar prazeres como comida, álcool, sexo etc.

Somando 2+2 e com a influência direta ou indireta de outras técnicas já comprovadas, como Terapia Cognitivo Comportamental, meditação, retiros espirituais e mindfulness, entra em cena o Dopamine Fasting, um chamamento para desligarmos por um tempo do que vem de fora e nos tranquilizarmos interiormente. A diminuição de estímulos aumenta a sensação de bem-estar. Na sala do terapeuta, em postura de lótus ou qualquer outro lugar ou postura escolhidos.

O que deu ares de novidade e tornou o Dopamine Fasting tendência nos Estados Unidos e afora não foi apenas o branding — do qual faz parte o nome chamativo, algo bem típico da internet — mas ter caído nas graças e moda dos empreendedores do Vale do Silício, sempre atrás de algo que possa fazê-los produzir mais. Com isso, passaram a falar do assunto veículos como New York Times, The Guardian, BBC, Vox, The Cut , Vice, entre outros.

Dentre as pautas, há depoimentos de quem testou, benefícios da prática, falácias envolvidas, sua adoção desvirtuada (leia no item “Excesso”), e gozação pelo furor que tem causado no Vale do Silício. Alguém lembra também que Jack Dorsey, CEO do Twitter, tem feito um outro tipo de jejum, o de comida mesmo. Chama-se jejum intermitente e advoga que horas ou dias sem comer, de forma programada, faz bem para o organismo. No Brasil a prática também pegou.

É preciso reconhecer que, apesar das controvérsias, esses empreendedores modernos da Califórnia estão em uma “pegada” mais saudável. Em outros tempos, a moda para o aumento de produtividade foi o uso de drogas como Adderall e Ritalina (oficialmente usadas para tratar Transtorno de Déficit de Atenção) e o consumo de LSD (em microdoses).

Origem: Em 2016, durante uma temporada de um ano no Camboja, o canadense Greg Kamphuis sentiu-se incomodado com seu estilo de vida desregrado e decidiu parar com tudo o que achava ruim — mas não sozinho. Criou um site chamado The Dopamine Challenge e foi ao Reddit chamar uma galera para encarar o desafio com ele, no começo do ano seguinte.

Lançou a pergunta “Is anyone interested in doing a 40 day dopamine fast with me?”, explicando que a ideia era redefinir seu sistema motivacional e aprender a se concentrar em quem realmente era em vez de passar de um prazer fugaz para outro. “Estou deixando álcool, nicotina, cafeína, açúcar processado, TV e pornografia. Também vou agendar compras, mídias sociais e jantares”, escreveu.

Kamphuis chegou a escrever um livro sobre o tema, mas a coisa só pegou mesmo em agosto do ano passado, quando Cameron Sepah, professor clínico de psiquiatria da UC San Francisco, escreveu um guia sobre a prática publicado em seu LinkedIn. Em “The Definitive Guide to Dopamine Fasting 2.0 – The Hot Silicon Valley Trend”, que teve mais de 100 mil visualizações e milhares de comentários, Sepah diz que “interromper comportamentos que desencadeiam grandes quantidades de liberação de dopamina (especialmente de forma repetida) permite que nosso cérebro se recupere e se restaure”. Ele conta ainda que o método é baseado na terapia cognitivo-comportamental (TCC), reconhecida abordagem de tratamento que ajuda as pessoas a mudarem maneiras inúteis de pensar que influenciam seus interesses.

Equilíbrio: Na prática, e sem firulas ou alcunhas moderninhas, o Dopamine Fasting postulado por Sepah é algo bastante simples e factível.

Comece discriminando seus comportamentos viciados e viciantes (como ficar checando redes sociais, tomar muito refrigerante, fazer binge watching de séries durante o fim de semana todo etc.) e, dependendo de sua disponibilidade e demandas pessoal e profissional, corte tudo durante um tempo pré-determinado. Ele sugere o corte de:

— Uma a quatro horas no final do dia;

— Um dia inteiro no fim de semana;

— Um fim de semana por trimestre e

— Uma semana por ano.

Segundo Cameron Sepah, em entrevista à Business Insider (link no item “Para saber mais”), o Dopamine Fasting fornece uma estrutura de limitação ou compartimentação para que o cérebro possa se recompor. “É o que as pessoas saudáveis fazem: desligar o computador à noite, tirar folga nos fins de semana, tirar férias”.

Já à Vox, (link no item “Para saber mais”), quando perguntado sobre a diferença entre o jejum de dopamina e ideias de senso comum como fazer pausas, aproveitar um fim de semana ou sair de férias, ele diz:

“Retiros de meditação envolvem praticar a atenção plena e, às vezes, não falar. O jejum de dopamina não envolve isso”. Sobre férias, ele diz que são frequentemente tratadas como oportunidades para o hedonismo desenfreado e para a prática de maus hábitos. “Por isso são praticamente o oposto do Dopamine Fasting.”

Excesso: Jovens empreendedores do Vale do Silício estão radicalizando o Dopamine Fasting a ponto de deixar de comer, olhar para qualquer tela, ouvir música, se exercitar, tocar em outros corpos.

O caso icônico, retratado pelo New York Times (link no item “Para saber mais”), é do jovem empreendedor James Sinka e seus companheiros de startup. Durante a entrevista, segundo o jornal, Sinka “se movia lentamente através das saudações ao sol [prática de yoga], tomando cuidado para não acelerar demais o coração, preocupado que estivesse falando demais naquela manhã”.

Na matéria, Sinka diz furtar-se até mesmo de olhar para pessoas. “Evito o contato visual porque sei que me estimula. Evito ruas movimentadas porque são chocantes. Tenho que lutar contra as ondas de alimentos deliciosos.”

Para saber mais:
1) Leia, na Business Insider, ‘Dopamine fasting’ is a new Silicon Valley trend, but some people are already taking it too far.
2) Leia, no Vox, Dopamine fasting is Silicon Valley’s hot new trend. Is it backed by science?
3) Leia, no New York Times, How to Feel Nothing Now, in Order to Feel More Later.
4) Leia, na BBC, Is ‘dopamine fasting’ Silicon Valley’s new productivity fad?
5) Leia, no The Guardian, Dopamine fasting is a tech fad that sounds silly – but might just work
6) Leia, na página do Medium de Cameron Sepah, Why the Media Lies to You about Dopamine Fasting.

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