Não me considero um talento extraordinário e com certeza meus erros não foram os mesmos de todos os empreendedores.
Porém, antes de chegar onde estou hoje, como CEO da Authen, primeira marca do país a produzir uma linha de vestuário especializado em corrida para mulheres brasileiras, errei e não foi pouco.
Por isso, escrevo, para compartilhar os erros que cometi e as lições que assimilei nesta jornada. Assim, você não precisará aprender da maneira mais difícil.
Nasci em Michigan, nos EUA. Sou formado em engenharia mecânica e possuo MBA pela University of Chicago Booth School of Business.
Já fui consultor de Private Equity e General Practice na Bain&Co e me encantei pelo Brasil quando precisei vir para cá numa viagem de negócios.
Mas foi em 2012 que deixei o meu emprego, o meu país e me mudei para São Paulo. Aprendi português (virava noites estudando) e foi como diretor geral do site de compras coletivas Groupon que pude conhecer e entender um pouco do mercado e dos hábitos de consumo dos brasileiros.
Morei em São Paulo até 2014. Depois, em 2015, fui para o Rio de Janeiro — e foi aqui onde decidi empreender.
A minha relação com o esporte começou na faculdade. Fiz parte de um dos times mais vitoriosos de futebol universitário da NCAA, o Grand Valley State.
No Brasil, voltei a me envolver com esse esporte e, a partir desse movimento, vi a oportunidade de criar um negócio, quando tive um insight ao observar a dificuldade que as mulheres brasileiras que corriam enfrentavam.
Elas precisavam escolher entre produtos esportivos que tivessem ou performance, ou estilo
Com isso em mente, me desafiei a criar um vestuário especializado em corrida para melhorar o desempenho esportivo delas, com tecidos tecnológicos e modelagens especiais.
Só que aprendi da maneira mais dura que certas iniciativas e decisões que se tomam como empreendedor são erradas.
Se você não tiver a humildade e a coragem de aprender rápido com esses erros, suas chances de sucesso serão menores.
Na minha visão, humildade é poder: ganhamos habilidade e conhecimento quando questionamos nossas crenças, escutamos mais e aprendemos com os outros.
O meu primeiro conselho é: não espere que pessoas se juntem a você para começar. Tentei bastante achar sócios para dar início à jornada empreendedora, mesmo ninguém querendo a princípio.
Por isso, tomei a atitude de fazer quase tudo sozinho, pagando o quanto podia aos prestadores de serviços para criar logomarca, site, produto e receita
Foi, sim, perigoso e, às vezes, eu não sabia como ia comer ou pagar contas. Mas essa experiência me fortaleceu como empreendedor.
Visualizar um sonho intangível é difícil para muitas pessoas, mas ao se entregar e correr atrás, os outros irão querer fazer parte da sua jornada.
Diante disso, sugiro: se você está decidido a empreender, seja você mesmo o seu melhor vendedor, mesmo que não tenha experiência com marketing. Não terá ninguém no mundo melhor que você mesmo para vender sua marca, produto ou serviço
Ninguém vai ter a paixão, conhecimento e habilidade de tomar decisões na hora crucial para ganhar clientes potenciais que estejam céticos.
Fiquei quase 18 meses na rua, batendo de porta em porta. Então para ter sucesso, recomendo que deixe suas malas feitas e se coloque na frente dos clientes no início. Não somente vai vender mais, mas aprender com seus erros mais rápido.
Outro ponto importante é que quase todos os empreendedores querem montar uma grande estratégia de marketing e ter tudo perfeito antes de começar.
Veja bem, não estou falando para fazer sem planejar, mas não espere muito tempo antes de começar a testar seu produto, precificação, promoção e praças onde vender.
Uma coisa eu posso te garantir: está tudo errado e, quanto antes você começar, mais rápido vai poder ajustar tudo
E pensando nos 4Ps do marketing, trago exemplos de como apliquei isso na empresa:
– Produto: Quase todos os nossos estão entre sua sétima e décima versão e nenhum de nossos best-sellers foram parte das primeiras três coleções.
Mas os aprendizados das primeiras coleções nos ajudaram a criar essas versões que são as mais queridas pelas brasileiras
Aplicar o design thinking, uma ferramenta que integra habilidades, inovação e a mentalidade das pessoas que estão participando (marca e consumidoras), fez e faz com que a gente entregue produtos que resolvam necessidades específicas e se adequem perfeitamente ao corpo da brasileira.
– Preço: Algumas marcas começam com preço de penetração, ou seja, subsidiados, o que deixa as pessoas mais dispostas a experimentar seu produto. Outras já começam com preços premium.
Não tem resposta certa — mas você não vai saber até começar a tentar vender.
– Promoção: Mesmo depois de oito anos, com pessoas especializadas no time e bem posicionados no mercado da corrida de rua, ainda temos muito o que aprender.
No entanto, um dos motivos pelo qual apresentamos um crescimento constante é que sempre focamos em performance e retorno em investimento — e não em awareness.
Por isso, não jogue seu caixa fora, principalmente se não tiver uma maneira clara de medir retorno em awareness.
Do meu ponto de vista, é melhor focar em ações que tenham maior retorno imediato e mensurável até receber o investimento necessário para impulsionar conteúdos que não possuem retorno imediato e mensurável no início.
– Praça: Começamos pensando que a gente seria apenas uma loja virtual online. Porém, quando testamos em lojas multimarcas, seis meses depois do lançamento da Authen, vendemos mais em seis dias offline do que nos primeiros seis meses online.
Não preciso dizer que, depois disso, mudamos nosso mix de canais e estamos presente em 413 lojas, incluindo grandes nomes como Decathlon, Centauro, Velocità, e as regionais Procorrer, Free Corner, Cadiles e Rhio Store.
E falando em loja online, se você não tiver vergonha do seu primeiro site, esperou tempo demais. Sabe porquê? Eu investi nove meses e muito dinheiro para ter um site totalmente personalizado e profissional.
Isso foi meu maior erro. Perdi um ano de vendas e aprendizados potenciais. Nove meses depois do lançamento, o site não tinha nenhum produto que eu lancei disponível e mudei quase toda sua estrutura inicial
Todas as marcas pivotam — por que você acha que no seu caso será diferente? Use um site padrão e comece a testar já!
E reforço, se você decidir empreender, na maioria dos casos, seu padrão de vida vai cair drasticamente.
Se você estiver fazendo isso pensando que entre um e dois anos vai começar a ganhar dinheiro, está enganado!
Você deve estar preparado para não começar a ganhar dinheiro e ser rentável por minimamente três, provavelmente cinco anos.
Apesar de não ter sido um erro meu, quero compartilhar isso com vocês, pois pude me preparar alguns anos antes, reduzindo meus pertences.
Também me permiti adquirir experiências ao viajar por dois meses para a Mongólia, no deserto de Gobi, ganhando autoconhecimento e aprendendo a viver de forma mais simples para me preparar para a jornada de empreendedor.
Fiquei em um monastério budista aprendendo a simplicidade: como meditar, reconstruindo um templo destruído e comendo a mesma refeição todos os dias
Prefiro ter bens? Sim, mas no final das contas estou indiferente a coisas externas que podem ser dadas ou retiradas.
Se você ama a luta e estiver preparado para sua jornada, para viver de forma simples, não há contratempo ou barreira que vá te atrapalhar.
Espero que esses exemplos tenham desmistificado os obstáculos enfrentados pelos empreendedores no início.
A questão é que pouco importa o quanto de educação e experiência você tem. A verdade é que não estamos preparados para liderar uma empresa
Busque por mentores, por conhecimento e transforme lições em planos de ação para o seu negócio.
O que me trouxe até aqui foi a habilidade de reconhecer os meus erros na minha trajetória e rapidamente corrigi-los, com humildade.
Que você erre rápido na sua jornada!
Nascido em Michigan, nos EUA, Christopher Spikes é fundador e CEO da Authen, a primeira empresa no Brasil a produzir uma linha de vestuário especializado de corrida e performance para mulheres brasileiras. Já atuou como consultor de Private Equity e General Practice na Bain&Co e foi diretor geral da Groupon Brasil.
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