Você dedica oito horas do seu dia para construir mais desigualdade? No que você tem investido ultimamente?

por Mariana Camardelli

Cada compra que fazemos ajuda a sustentar determinados mercados, serviços e pessoas em detrimento de outros. O tempo da nossa vida dedicado ao trabalho também é um ótimo exemplo do quanto podemos, sim, direcionar nossos esforços para mudar realidades.

Você dedica oito horas do seu dia para construir mais desigualdade?

Para trabalhar em algo que vai beneficiar ou prejudicar as pessoas? Todos somos, em alguma medida, investidores. Do nosso tempo, do nosso dinheiro, da nossa energia. Em que você tem investido ultimamente?

“Quando os seus talentos encontram as necessidades do mundo, ali está a sua vocação”, foi o que disse Aristóteles. Empreender, conectar pessoas, desenhar experiências, produzir eventos, ajudar o mundo a ser um lugar um pouquinho melhor através de investimentos em impacto social. Essas são as minhas grandes paixões!

Há cerca de seis anos na minha empresa, a Altos Eventos, e quase dois na Vox Capital, o primeiro fundo de investimento de impacto no Brasil, vivo diariamente desafios de unir esses dois papéis — o que acabou acontecendo durante a realização do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, em agosto, no prédio do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. E posso falar?

Unir todas as coisas que acreditamos, para mim, é a única forma de dar vazão ao que realmente somos

O evento foi uma iniciativa do ICE, Instituto de Cidadania Empresarial, e da Vox Capital, com produção da Altos Eventos. Foram dois dias, cerca de 700 pessoas presentes, 65 palestrantes e o mais importante: muitas conexões com potencial de incrementar o cenário de investimentos de impacto no Brasil.

O tema era “Investir para Transformar” e, a partir dele, levantou-se questões para provocar reflexões e a mudança que queremos ver. Como o dinheiro pode estar a favor das necessidades do mundo? Como direcionar nossos esforços para diminuir a desigualdade entre as pessoas em nosso país?

Fabio Barbosa, empresário e conselheiro de organizações como Itaú-Unibanco, Gávea Investimentos e Endeavor, trouxe a importante provocação sobre o dinheiro: “Na verdade, ninguém tem dinheiro, só o que está no seu bolso. O resto é da sociedade. Você é quem define a direção do dinheiro e passa para outra pessoa”.

Daniel Izzo, sócio-fundador da Vox Capital, endossou, durante a sessão de abertura, que: “A grande transformação do campo virá quando mais gente participar. O Fórum é importante na direção de criar o futuro desejável”.

Você deve estar pensando agora que isso tudo está distante da sua realidade, que você não é um multimilionário (e se por acaso você for: já pensou em investir o seu dinheiro em impacto social e ter retorno financeiro enquanto causa transformação social em seu país? Uma boa ideia, não?) e que não pode ajudar para que essa mudança aconteça. Felizmente, preciso informar que você está errado: você pode ajudar.

Outra provocação durante o evento também faz pensar: você já sabe onde está sendo investido o seu dinheiro que está no banco? Um dos palestrantes perguntou à plateia se alguma das pessoas já foi ao banco perguntar o que é feito com seu dinheiro enquanto está lá “parado”? Resposta: ninguém foi.

Refletir sobre esse questionamento nos leva à conclusão de que temos, sim, um poder nas mãos. Podemos criar este mercado, expandir os conceitos e engajar mais pessoas nessa causa, com certeza. O que precisamos é começar.

Sempre acreditei no potencial dos eventos como catalisadores de temas. Tantas pessoas, tanta energia e tanto esforço concentrados em apenas alguns dias de conversas e debates. Isso pode ser muito poderoso.

Eventos bem desenhados são momentos em que descobrimos o novo, não tanto pelo fator novidade em si, mas pela forma de olhar. Escutaremos histórias, nos envolveremos em conversas

O Fórum é, hoje, um dos cinco maiores eventos no mundo sobre o tema, dividindo espaço neste ranking com eventos que acontecem, na sua maioria, em países desenvolvidos. Amplificar o tema e o debate em um país em desenvolvimento como o Brasil, em meio a toda a crise que estamos vivendo é acreditar na esperança, sim.

É abrir espaço para que mais gente entenda sobre finanças sociais e negócios de impacto, que mais gente acredite na força de melhorar e junte-se, de verdade, a esta revolução. Usando novamente as palavras do Daniel: “precisamos de mais gente fazendo o que a gente faz”. É isso, o jeito mais rápido de chegar lá é indo todos juntos.

Termino este maravilhoso projeto de evento ainda mais reflexiva: tudo que eu faço, todos os dias, impacta o meu entorno, as redes em que estou envolvida e o mundo, de forma geral. Como, então, fazer melhores escolhas?

Como colocar as minhas formas de energia a serviço de um mundo mais bacana? O meu maior aprendizado é de que cada detalhe conta

Tudo importa, por menor que pareça, pois o todo nada mais é que a união de todos os pedacinhos. Saio daqui na busca de ser ainda mais cuidadosa com as minhas escolhas, pois se quero fazer a diferença, é preciso começar agora! Tempo é muito mais que dinheiro.

Mariana Camardelli, 30, é líder de Inspiração na Vox Capital e diretora criativa da Altos Eventos.