Zup, ou o pequeno grande case da startup que leva a digitalização a empresas tradicionais

Dani Rosolen - 7 fev 2017Os sócios da Zup na sede da startup, a partir da esq.: Felipe Almeida, Flavio Zago, Bruno Pierobon e Gustavo Debs.
Os sócios da Zup na sede da startup, a partir da esq.: Felipe Almeida, Flavio Zago, Bruno Pierobon e Gustavo Debs.
Dani Rosolen - 7 fev 2017
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A Zup é uma startup brasileira criada em 2011, em Uberlândia, Minas Gerais, com a proposta de “facilitar a integração de sistemas corporativos”. Significa ajudar grandes empresas tradicionais a entrarem no mundo digital. E mais: eles têm como meta fazer isso em tempo recorde e reduzindo gastos com TI.

O conceito do negócio começou a rondar a cabeça de Bruno Pierobon, 34, formado em Ciências da Computação e hoje CEO da Zup, quando ainda trabalhava no grupo Algar. Na gigante de telecomunicações, ele era Head de Inovação e, em 2010, teve uma certa ideia: e se fosse possível centralizar todas as compras online do mundo em um único portal, que fizesse seleções comparativas de preços em apenas um clique?

Embutido ali, estava o conceito de simplificar e facilitar a vida de quem usa tecnologia (virtualmente, qualquer pessoas ou empresa) usando a própria tecnologia para vencer suas barreiras de uso. Aos poucos, Bruno começou a desenvolver a ideia original. Quando o software já estava bem estruturado a Algar quase comprou a solução. Vender a própria ideia ou pedir demissão e empreender para tentar fazê-la crescer ainda mais? Bruno escolheu a segunda opção. Para tanto, começou reativando uma empresa de seu pai, um antigo provedor de internet que se chamaria Zoop, mas mudou de nome “para dar um ar mais up e virou Zup.

Em 2011, Bruno partiu em busca de parceiros para colocar o futuro negócio em pé. Dois co-fundadores da Zup foram colegas de Bruno na Algar: Gustavo Debs, 30, faz a gestão de operação e tecnologia (COO), e Flavio Zago, 41, é o Head de vendas. O terceiro e último, Felipe Almeida, 34, que faz governança e marketing (CMO), veio de um contato comercial de Bruno e acabou se tornando sócio-fundador também. A startup é sediada em Uberlândia (MG) e tem um escritório em São Paulo, dentro do Cubo, onde trabalha Felipe, que conversou com o Draft.

Com diversos produtos e soluções de tecnologia, talvez seja mais fácil explicar a Zup pelos serviços prestados em sua missão de “acelerar a digitalização de grandes companhias tradicionais” para clientes como Vivo, Via Varejo, Banco Original e Santander. O Vivo Easy, por exemplo, é um plano de celular que pode ser totalmente contratado, gerido e cancelado por um aplicativo (sem similares no mercado) — e roda integralmente em uma plataforma da Zup.

Por não conhecerem muito da mecânica de investimento em startup quando começaram, os sócios optaram por aplicar apenas capital próprio no negócio. Nos quatro primeiros anos, investiram 15 milhões de reais na Zup. Hoje, revendo seus primeiros passos, Bruno acredita que poderia ter otimizado uns dois ou três anos se tivesse feito uma rodada de investimentos mais cedo — ela só aconteceria em 2015, liderada pela Kaszek Ventures, fundo comandado por ex-executivos do Mercado Livre.

TUDO COMEÇA COM O PRIMEIRO CLIENTE

Ali, em 2011, eles só pensavam em materializar a ideia original. A operação da Zup começou já grande, por meio de uma joint venture (empreendimento em parceria) com o Buscapé, maior site de comparação de preços da América Latina. Com o sistema desenvolvido pelos mineiros, foi possível integrar mais de mil lojas dentro do botão de compras do Buscapé, sem que os usuários precisassem ser direcionados para as páginas dos e-commerces. Era a “tal ideia” de Bruno rodando de verdade.

O sucesso com o primeiro cliente serviu, ironicamente, para a Zup perceber que, com as ferramentas que tinha desenvolvido, poderia explorar o mercado empresarial. Um espectro de atuação ainda maior. Felipe fala a respeito: “Telecoms e bancos têm as maiores reclamações de usuários. Hoje, com o banco, tem horas que o cliente tem de telefonar e ficar pendurado na linha, ir até a agência resolver um problema, acessar a web, baixar até dois aplicativos diferentes… Pensamos em como a gente poderia diminuir esse atrito entre as empresas e os usuários usando nossas tecnologias”.

Com tecnologia própria, nacional, a Zup integra sistemas em uma plataforma pensada para ser mais simples.

Com tecnologia própria, nacional, a Zup integra sistemas em uma plataforma pensada para ser de uso simples.

Com isso, a estratégia da Zup se voltou de vez para o mercado B2B. Ficou claro que a missão deles era ajudar grandes empresas a se transformar digitalmente. Para um banco, por exemplo, além da integração dos sistemas, a Zup também desenvolve uma API (Interface de Programação de Aplicativos) que permite ao cliente organizar suas operações de maneira bastante intuitiva. Assim, ainda para ficarmos no exemplo de Felipe, o cliente pode acessar, na internet, todos os serviços de maneira segura e com alta performance.

Um produto Zup desenvolvido para a Vivo exemplifica o que a companhia faz. Como dito acima, o Vivo Easy é um plano cem por cento digital e permite que o cliente da operadora contrate, monte, controle e até cancele o plano através de um único aplicativo.

A Natura recorreu à Zup para deixar o relacionamento com as consultoras mais acessível no celular.

A Natura recorreu à Zup para deixar o relacionamento com as consultoras mais acessível no celular.

Bruno descreve o modelo de negócios da startup: “A cada novo cliente que adere à plataforma digital, cobramos um valor”. Os produtos são customizados para cada empresa e, assim, eles já conquistaram como clientes gigantes do mercado de telecomunicações — como a Nextel, Telecom, e o próprio grupo Algar — e do mercado financeiro — casos de Santander, Banco Original, MasterCard, Serasa Experian.

Telecoms e mercado financeiro são os principais mercados dos 20 clientes da startup, mas a Zup tem no portfolio também a Natura, que chegou até eles com “um projeto disruptivo de transformação digital”, como diz Felipe, visando melhorar o relacionamento com as consultoras. A Zup, então, construiu uma estratégia mobile para simplificar procedimentos antes feitos de forma manual, tais como o gerenciamento e a revisão dos dados de vendas.

COMO DIGITALIZAR DINOSSAUROS

Felipe conta que, além dos produtos e soluções pontuais, a Zup também faz processos completos de transição. A operação para uma empresa de trocar todo o sistema antigo por novos (processo chamado full stack) leva de três a cinco anos e o orçamento pode passar de 1 bilhão de reais, por envolver muitos profissionais especializados em programação em diversas linguagens. Isso se obtiver sucesso. Como são projetos muito complexos, vários fracassam e são abortados antes de rodar, diz ele.

A principal vantagem da inovação da tecnologia criada pela Zup para integrar sistemas é a capacidade de entrega rápida, e a consequente redução do custo. Felipe fala a respeito:

“Na área financeira, as fintechs já nascem digitais. Imagina se um banco for esperar quatro ou cinco anos para fazer uma transformação? Nosso papel é acelerar isso”

Ele prossegue e diz que, nesses casos, é possível desenvolver e entregar projetos em intervalos de três a cinco meses.

A Zup tem, hoje, filiais em três cidades paulistas: São Paulo, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. As coisas vão bem e, segundo os sócios, a Zup ainda não possui concorrentes nacionais (alguns players globais nesta área são Oracle, IBM e Ericsson). Desde que começou as atividades, a startup tem dobrado o número de funcionários a cada ano. Em 2017, deverá seguir a regra e terminar o ano com 600 contratados (ante os 300 atuais).

O faturamento também tem uma taxa de crescimento alta. Os valores não podem ser revelados por exigências contratuais dos investidores, mas os sócios afirmam que a receita de 2016 foi três vezes maior que a do ano anterior.

MEU DINHEIRO, SEU DINHEIRO, MINHA EMPRESA

Como falou, Bruno acredita que poderia ter otimizado dois ou três anos de crescimento se tivesse feito uma rodada de investimentos mais cedo. Por sua vez, Felipe vê vantagens na escolha do investimento próprio. “Com o bootstrap a empresa cresce com mais disciplina e gestão do dinheiro. Com um orçamento restrito, você pensa duas vezes antes de gastar qualquer coisa”, diz, e prossegue:

“Quando as empresas ficam muito capitalizadas logo no começo, investem tudo de uma vez e podem ter o risco de errar mais”

Um quase erro da Zup, e que serve de alerta a quem está começando um empreendimento, é a questão da assessoria jurídica. Bruno conta que o negócio recebeu algumas propostas de investimentos, não de fundos, mas de empresas. Ele diz que, na época, isso significava uma entrada de capital que parecia resolver milhões de problemas. “Mas aquilo poderia ter se tornado um grande entrave no futuro”, diz ele. “Eram contratos muito ruins. Eu não tinha assessoria jurídica então tive que estudar as leis. Se eu tivesse assinado alguns contratos, poderia estar amarrado, sem poder fazer algumas vendas ou não teria mais o controle da empresa para certas decisões.”

QUERO SER GRANDE, AQUI DENTRO E LÁ FORA

O caminho tem sido, como é de se esperar, de aprendizados e, no caso deles, de mais acertos do que erros. Os planos para o futuro são ambiciosos. Em breve, a Zup vai abrir mais duas filiais, uma em Joinville (SC), outra em Belo Horizonte. Além disso, ainda no ano passado os sócios começaram a internacionalização da startup. Estão próximos de fechar parcerias com três países da América Latina, América do Norte e Espanha, em especial por causa de clientes como Santander e Telefonica, que têm sedes lá.

A ideia é fortalecer no exterior a imagem do Brasil como um produtor de tecnologia. “A maioria das empresas brasileiras implementa tecnologia de fora. Quando vai trocar um sistema, é da Oracle ou da IBM. Não colocam os engenheiros daqui para produzir”, diz Bruno, e prossegue:

“A gente acredita muito que o Brasil tem potencial para criar softwares. Queremos mostrar isso com produtos para nossos clientes em outros países”

Outro objetivo, de médio prazo, da Zup é abrir capital na Nasdaq, com um IPO (oferta pública inicial de ações). Os sócios acreditam que, se mantiverem o ritmo de crescimento, em mais dois ou três anos conseguem chegar a um possível valuation bom para o IPO. Porém, de imediato, o foco é outro. “Agora a gente está num momento de treinar parceiros para escalar a implementação em outros países”, diz Bruno.

Entre contar sobre um plano e outro, Felipe diz que, para ele, os limites da Zup parecem não existir: “Em alguns negócios se sabe a linha final. Aqui a gente não tem noção do teto. Todo dia provamos e vemos que estamos crescendo. A gente acelera ao máximo para atingir metas que não são os objetivos finais. São apenas pontos a alcançar, só um meio de um caminho muito maior”. Zup!

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Zup
  • O que faz: Software para integração de sistema, soluções digitais
  • Sócio(s): Felipe Almeida, Flavio Zago, Bruno Pierobon e Gustavo Debs
  • Funcionários: 300
  • Sede: Uberlândia (MG)
  • Início das atividades: 2011
  • Investimento inicial: R$ 15 milhões
  • Faturamento: NI
  • Contato: [email protected] e (34) 3210-8181
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