Eu demorei bastante para assumir a minha sensibilidade. “Gente que “sente demais” não produz, não vira ninguém na vida”, aprendi, cedo – nem sei bem por onde nem através de quem.
Apesar da minha ludicidade e criatividade, nutridas pela leitura voraz de livros, pela primeira infância, meio selvagem, numa fazenda, eu, filha do meio de uma família tradicional gaúcha, sempre performei conforme “o esperado”: a melhor aluna, as melhores notas, líder da turma.
Fui a filha que não incomodou, a que saiu de casa, a que “se fez na vida”, por si. Esperta, entendi logo que precisaria me sustentar
Minha família, que chegou ao RS em meados de 1700, pelos dois lados, teve muitas posses e fui a primeira geração que viveu o esgotamento do recurso.
Minha suposta veia empreendedora, portanto, não veio por romantismo, mas através de uma percepção de que algo não ia bem.
Ainda assim, “performando”, na escola, me virando e produzindo, como dava, dando aula particular, inventando (eu gostava do gosto de ganhar o meu dinheirinho, ainda que a minha família tenha conseguido me subsidiar até a maior idade), comecei a escrever, “pra valer”, aos 12 anos.
Foi o meu respiro.
Um professor deu o pontapé inicial. Foi o primeiro “espelho confiante”, como me ensinou a autora do best seller, “O caminho do artista”, Julia Cameron. Segundo ela, a Julia, “espelhos confiantes” são aquelas pessoas que enxergam nosso potencial antes mesmo que o enxerguemos
O profe Antônio Carlos, na sexta série, a vizinha literária do jornal, Dalila, e outros anjos, entenderam, cedo, e me fizeram ver, que minha escrita era boa. Um bom leitor, aprendi, tem bastante potencial para tornar-se um escritor. Assim publiquei, precocemente, poesias e textos, no jornal da minha cidade.
Sempre quis estar numa faculdade e fui “empurrada” pela minha mãe para conseguir fazê-lo. Eu, que sempre tive a chave da casa e responsabilidades acima da média, as teria, portanto, para morar sozinha numa cidade grande. Ela foi sábia e corajosa e confiou no potencial das minhas asas.
Seria algo ligado à escrita, claro. Mas eu sabia que viver dela seria quase impossível. Também era boa com grupos, mediando, usando a palavra, escrita, falada, como ponte. Fiz Comunicação por causa disto – e já enxergava a Comunicação como algo bem largo.
Adiantei as matérias que pude nos primeiros semestres e já o terceiro comecei a fazer estágios, primeiro na Televisão Educativa, produzindo revistas e jornais internos; depois, em algumas agências.
Na última delas, menor, fui contratada, antes mesmo do diploma, me tornei sócia, empreendedora, empresária, dona de mim, a que formou gente e se desenformou em muitos papeis
Trabalhamos, eu e o meu sócio (somos sócios até hoje, tem mais de 25 anos) com Comunicação Corporativa e seus diferentes públicos.
Ampliei a escrita, dirigi filmes publicitários, conheci muita gente e cresci na sede de saber. Fiz Pós em Marketing, Mestrado em Gestão, com parte do processo na HEC, em Paris, e EADA, Barcelona.
Depois de ter feito o “by the book” todo, bem bonitinho, abri uma “startup” do nosso negócio, em São Paulo e fui, sozinha, “fazer América”, desta vez numa capital grande de verdade. Lá, com a Sarau Filosofia Empresarial, nosso novo “filhote”, finalmente pude inserir novos conhecimentos e a minha busca imensa e infinita de saberes em outras camadas.
Me formei Consteladora Sistêmica, fui estudar Felicidade Interna Bruta, no Butão, fiz formação em Mediação, estudei, profundamente, Antroposofia, ciclos, Astrologia, Filosofia, Mitologia, fui para o Egito
Neste meio do caminho, ao lado da minha atividade com as empresas, agora Brasil afora, encontrei um espaço de respiro e de transbordes: as Costuras. O que um dia era para ter sido uma palestra (Costura de teorias e biografias) – e que acabou “dando errado” – foi o estopim para um novo capítulo da minha história.
Nas “Costuras”, aulas, encontros, palestras, rodas de conversa, inicialmente presenciais, com bolo quente, livros e aconchego, pude ser mais autoral. Mal sabia eu que ao “costurar” as pessoas, estava era curando as minhas feridas de vida.
As Costuras viraram coisa séria, um livro e um mundo de possibilidades, inesperadamente ampliadas com o online, na pandemia.
Sigo, no paralelo complementar, “costurando” CNPJs, com a Sarau, consultoria, alargando repertórios e pontos de vistas de lideranças corporativas, mas consigo trabalhar outras camadas com as pessoas físicas que chegam nas Costuras.
Deixei um pouco de lado o terninho e os scarpins (ainda que siga, eventualmente subindo num salto para um ou outro evento corporativo), as mesas masculinas de reuniões, tive uma filha (tê-la certamente reduziu minha vontade – e possibilidade física de estar tanto “no salto”), me divorciei, me reinventei
Numa das rodadas como Sarau, desta vez, numa família empresária, fiz amizade com uma das participantes, que me provocou: – quando criares algo diferente e inesperado, me avise, em primeira mão.
Quando eu criei as “Costuras”, anos antes, cheguei a “consultar”, informalmente, alguns amigos e clientes. Todos me demoveram da ideia de fazê-las e me disseram que algo com este nome não teria credibilidade e que ainda poderia macular minha trajetória tão sólida e pragmática…
Mas, neste pedaço da vida, a Andréa já vinha aprendendo a ouvir mais sua intuição e as entrelinhas. A guria que supostamente foi criada católica já vinha entendendo que religião, na etimologia, significa re-ligar e que pragmatismo e Ciências ditas holísticas poderiam dar um bom match
Quando pequena, tive uma babá, a Eva, que benzia. Anos depois, crescida, fui estudar Budismo, sempre gostei de goles do Espiritismo e tudo o que faz a gente brilhar.
Descobri, nas andanças pelo mundo, que houve um tempo que todo rei tinha um Astrólogo, como parte do time mesmo, porque os Astros representam, cartograficamente, curvas de tendências de acontecimentos que, nas nossas vidas, no mundo, se repetem.
Mas como falar destas coisas com gente das empresas, com quem tá preocupado com metas e “to dos”?
Depois do livro, lançado no final de 2019, depois da pandemia e por outros empurrões da vida, decidi fechar o ciclo paulistano e vim, filha a tiracolo, viver em Florianópolis.
Tinha amigos na Ilha, minha filha amava, oportunidades de trabalho, o online, o anywhere office, a favor. Sem saber, “voltei pra casa”. Descobri, já em Floripa, que a minha família que chegara ao RS em meados de 1700 tinha entrado no Brasil por aqui.
Na terra das “bruxas”, feiticeiras, curandeiras, da mulher que benze, reencontrei, aos poucos, o meu feminino adormecido
Dizem que as primeiras mulheres a chegaram no Desterro (primeiro nome da capital de Santa Catarina) eram remanescentes de mulheres fugidas da Inquisição na Europa. Saí da cidade de pedra para mergulhar nas minhas profundezas. Aprendi a nadar – com 45 – e pari, nesta terra auspiciosa, o meu produto literário que tem se tornado carro-chefe: O Oráculo Costuras.
Nem sabia a diferença de Oráculo (cartas que sugerem perguntas – ou um local, como na Grécia antiga, onde aquietamos para escutarmos os “conselhos dos deuses”) e Tarot (as cartas que a gente joga mais os 22 arcanos maiores, que são figuras arquetípicas representativas de nossas fases da vida).
Num feriado, inspirada, compilei palavras que uso em demasia nas Costuras e as transformei em um “glossário” com perguntas. Liguei para esta cliente amiga e contei a boa nova. Ela, que nem tinha lido, respondeu: – vamos fazer! Ela foi mais um espelho confiante na minha vida
O Oráculo, leve, lindo, simples, fundo, foi então trabalhado graficamente por uma amiga-irmã, a quem chamo de Frida particular. Foi também ela quem fez a capa do meu livro e quem esteve comigo, levando arte para muitos eventos corporativos, anos antes.
A Ale, artista, levou 9 meses para parir os desenhos e conseguimos produzi-los, a ferro e fogo, com um parceiro dos tempos de São Paulo (nosso guardião, masculino, cuidador, preciso).
Faz pouco mais de um ano que o Oráculo foi para o mundo. Eu o apresentei aos “Costurados” numa imersão que faço, anualmente, desde este meu novo ciclo em Floripa, numa ilha aqui perto, fechada todinha pra nós.
Fico pensando na Andréa de 18 anos atrás, a que se formou “Mestre”, a corporativa, pragmática, assertiva, contando pra atual que traria ao mundo “cartas” coloridas, “lúdicas”, leves e fundas, cheias de histórias. Que faria um encontro cheio de magia numa ilha, com fogueira, avistares de nascer do sol e pausa…
O oráculo vem se tornando uma ferramenta de mediação de grupos, uma poderosa forma de revelação, para uso individual, mas também um espelho generoso de quem eu venho me tornando…
Gosto de sugerir que seja usado em reuniões familiares tensas, para acalmar os ânimos, ou numa solitude restaurativa matinal. Não tem modo de usar, jeito de fazer, que não o que seja leve. Nele, embarco autores, trechos, livros, filmes, prosas, vivências, “achados”.
Uso com os “Costurados”, mas também no mundo corporativo, em programas de lideranças. Imprimimos a terceira edição, em pouco mais de um ano, e os recursos dele geram investimentos sociais para o Instituto que o apadrinhou.
Estudei tanto, pratiquei tanto, para chegar, beirando os 50, no ápice da simplicidade. Eu que sempre amei cartas, pelo Correio, a mão, pela vida, as reinventei, numa nova escrita, como símbolo de meu renascimento.
O Oráculo virou meu Marketing, meu jeito autoral de espalhar pelo mundo o fundo / leve que eu levo nas entrelinhas das Costuras. É simples, didático, lúdico, despretensioso, mas cheio de silêncios vindouros depois de sua leitura
Dia destes, num evento, um amigo querido de longa data veio me apresentar para outro. Não me mostrou como Mestre em Gestão nem empresária. Não falou das minhas viagens, das cidades onde vivi, dos estudos, dos diplomas, que eu me tornei “imortal” na Academia de Letras da minha cidade, que sou Conselheira, palestrante, nem da minha filha. Estudei tanto para ser deliciosamente chamada de “a que fez o Oráculo Costuras”.
A vida, te conto, não é só sobre Best Seller, mas também sobre best choices.
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“Ser hipersensível”, Josiane Aparecida da Silva convivia com dores físicas e emocionais. Ela conta como uma bebida sagrada a levou a encontrar propósito na natureza, no cuidado com as abelhas e na cura de si mesma.
Thaís Borges cresceu num ambiente de vulnerabilidade social, mas não deixou que sua origem definisse o seu destino. Ela conta como fez para crescer na carreira e se tornar mentora e investidora de negócios periféricos comandados por mulheres.
O diagnóstico – Atrofia Muscular Espinhal, que leva à perda progressiva dos movimentos – parecia uma sentença de morte. Em vez disso, e com apoio dos pais, Gabriel Serafim agarrou a vida e fez dela uma maravilhosa experiência de superação.