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A BrandLovrs quer inverter a pirâmide do mercado de influência digital e turbinar as colaborações de pequenos criadores com as grandes marcas

Marília Marasciulo - 18 set 2024
Rapha Avellar, fundador e CEO da BrandLovrs.
Marília Marasciulo - 18 set 2024
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Conectar anunciantes a criadores de conteúdo de forma democrática e sem atritos: essa é a proposta da BrandLovrs, plataforma de publicidade programática que reúne em sua base 200 mil influenciadores e 300 marcas. 

Criada em 2022, a empresa captou 45 milhões de reais em duas rodadas de investimento que incluíram recursos de fundos como Canary e Kaszek e de celebridades como Will.I.Am e J. Balvin. Agora, mira em atrair mais empresas e se consolidar em toda a América Latina.:

“Somos uma plataforma que ajuda anunciantes a fazerem investimento em mídia de criadores em escala de forma programática, com tecnologia e IA”, define o economista carioca Raphael de Avellar Cunha, 33, CEO e fundador da BrandLovrs. “E um aplicativo gratuito para os criadores encontrarem centenas de marcas e milhares de campanhas para ganharem dinheiro.”

Para as marcas anunciantes, a BrandLovrs funciona como qualquer plataforma de publicidade digital, como Google Ads e Facebook Ads: a empresa cadastra uma campanha com seus objetivos, escopo, público-alvo e valor. 

Do outro lado, o influenciador recebe a notificação no aplicativo (que também funciona como uma carteira digital para gerenciar os pagamentos), convidando-o a fazer parte da campanha por determinado preço. Segundo Raphael:

“Qualquer pessoa pode baixar o app, é 100% democrático. E quanto mais completo for o perfil, com todas as redes conectadas, mais chance o influenciador tem de ser convidado por grande anunciante para fazer ação”

São três modalidades de campanha, de acordo com os objetivos do anunciante: Awareness (reconhecimento de marca), Knowledge (consideração) e Conversion (conversão). Para cada uma, a plataforma mede os principais indicadores de mídia, como retorno sobre investimento, vendas, frequência e alcance.

Os anunciantes são prospectados via relacionamento institucional e pagam uma assinatura fixa. “Buscamos os maiores anunciantes do Brasil”, diz o CEO. “Não é muito diferente da estrutura de outras plataformas, como Meta e Google.”

A fim de não causar atrito com as marcas e incentivá-las a investir na plataforma, as taxas, que variam entre 10% e 20% dependendo da ação, são cobradas dos criadores (o app em si é gratuito). A BrandLovrs garante que cada real investido em campanhas é convertido em ações efetivas, de forma transparente e que elimina as ineficiências que fazem os custos aumentarem.

RAPHAEL APRENDEU A DOMINAR O MARKETING DIGITAL USANDO O LINKEDIN PARA ALAVANCAR AS VENDAS DA EMPRESA DO PADRASTO

A entrada de Raphael no mundo do marketing se deu por acaso. Depois da faculdade de economia e de experiências de estágio, ele sabia que não tinha vocação para trabalhar no mundo corporativo. 

A saída foi ajudar o padrasto, que há mais de 30 anos tocava uma pequena empresa de instrumentos e sistemas para medir grandezas físicas na indústria. Os negócios não iam bem, eram poucos os funcionários e não havia onde cortar custos. A única chance era aumentar as vendas.

“A gente fabricava algo super específico e técnico, e através do LinkedIn, de graça, começamos a compartilhar nossas soluções. Viramos influenciadores, com milhares de seguidores e clientes nesse nicho específico”

O que era para ser algo temporário se tornou uma parceria que durou seis anos e fez a empresa crescer de um faturamento de 2 milhões para 50 milhões de reais entre 2014 e 2019. 

“A grande essência do negócio é que meu padrasto é um gênio da engenharia eletrônica e nuclear e física, e eu descobri uma maneira de contar o que a gente fazia na internet. Isso explodiu a empresa”, diz Raphael, que reconhece ter ficado encantado com o impacto disso no negócio: 

“Aquilo expandiu todos os horizontes das minhas conexões, dos meus relacionamentos e do alcance que as nossas estratégias poderiam ter. É algo muito forte”

Quando chegaram à capacidade máxima, alcançando todo o mercado endereçável, Raphael decidiu que era hora de abrir uma consultoria de marketing digital. 

Em janeiro de 2018, ele fundou a Avellar, empresa que teve um crescimento exponencial: foi de 3 milhões de reais no primeiro ano para 100 milhões, no quarto ano. 

A SACADA DE CRIAR A BRANDLOVRS VEIO AO DESCOBRIR QUE UMA AMIGA INFLUENCIADORA NÃO TINHA GRANA NEM PARA O ALMOÇO

Ao mesmo tempo em que prestava serviço para outras empresas, Raphael começou a produzir conteúdo para as redes — Instagram, LinkedIn, YouTube e TikTok —, compartilhando o conhecimento em marketing digital que havia acumulado ao longo dos anos.

Ele fala sobre as mudanças desse mercado:

“Há seis anos era muito diferente, era muito mais fácil crescer nas redes sociais. Mas eu não acho que é algo que demora para trazer resultados. Nunca precisei de 100 mil visualizações. Só precisava que o cliente certo visse o que eu estava falando”

Imerso no mundo dos influenciadores, sendo ele mesmo um, Raphael percebeu uma nova oportunidade de fazer associações mais sofisticadas entre marcas e criadores de conteúdo. 

Daí surgiu a ideia de fundar a Adventures em dezembro de 2020, em sociedade com Ricardo Dias, que na época era VP de Marketing da Ambev no Brasil. A empresa se especializou em ajudar criadores de conteúdo e celebridades a criarem e lançarem produtos próprios, e formou uma holding com a Jones (como a Avellar foi rebatizada em 2023), com Raphael como CEO.

Mas foi só no início de 2022, em um almoço com uma amiga que não pediu nenhum prato por estar sem dinheiro, que ele teve a ideia para criar o negócio que se transformou em sua “menina dos olhos”. 

“Eu perguntei: como assim? Você é uma influencer digital com 70 mil seguidores, uma audiência super engajada, faz parcerias com várias marcas – e está sem dinheiro?”

“Eles só enviam os produtos, mas não remuneram”, respondeu a amiga. Inconformado, Raphael decidiu estudar o caso. Como pessoas com uma base fiel de seguidores não recebem investimentos de publicidade das grandes marcas? Para onde estaria indo esse dinheiro?

“Descobri que 80% do orçamento de mídia está em 50 empresas do Brasil”, diz Raphael. “Essas empresas, que são os grandes anunciantes, têm um grande desafio: precisam focar energia em ações que possam mover o ponteiro do negócio.”

MESMO COM MENOS SEGUIDORES, CRIADORES DE CONTEÚDO TRAZEM VANTAGENS PARA AS MARCAS NA RELAÇÃO COM O PÚBLICO-ALVO

Na visão dele, era um processo ineficiente, que demandava encontrar a pessoa certa, conseguir o contato, negociar o contrato e os entregáveis, monitorar a entrega… No fim, contratar alguém com 50 milhões de seguidores dava o mesmo trabalho do que alguém com 70 mil. 

Esse era um dos motivos, do Raphael, pelo qual as marcas preferiam olhar para as celebridades, com seus milhões de seguidores, em vez dos pequenos criadores – como sua amiga. Um erro estratégico, segundo o CEO da BrandLovrs:

“Isso para mim parecia errado, porque os criadores de conteúdo menores são os que têm o melhor engajamento e maior proximidade com a audiência. Muitas vezes, conhecem os seguidores pelo nome. Já as grandes celebridades são quase como canais de TV: não conhecem ninguém, têm menos engajamento — e menos influência na decisão das pessoas”

A tese da BrandLovrs, portanto, é de que há uma disparidade no ramo da influência digital. A imensa maioria das oportunidades de monetização está concentrada no 1% – aqueles com mais de 100 mil seguidores. Enquanto isso, os outros 99% têm poucas chances de monetização, embora entreguem resultados superiores. 

A proposta é inverter essa pirâmide, democratizando e escalando a colaboração dos pequenos criadores com as principais marcas do país. Além disso, segundo a companhia, a plataforma elimina o uso de intermediários, o que garantiria que o orçamento de marketing seja integralmente investido em mídia de impacto direto.

A PRIMEIRA CLIENTE A USAR A PLATAFORMA DA BRANDLOVRS FOI UMA EMPRESA DE COSMÉTICOS DO CANTOR GUSTTAVO LIMA

A BrandLovrs recebeu 1 milhão de dólares de capital inicial de investidores como Luciano Huck, Marc Lemann, Adam Bain, além da gestora de investimentos Provence Capital e a empresa de comércio eletrônico Mercado Livre. 

Com isso, contratou dois engenheiros para desenvolverem um MVP no final de 2022, que envolveu a participação de quatro marcas — a primeira a utilizar a plataforma foi a GL Cosméticos, do cantor Gusttavo Lima

Sem nenhum investimento em aquisição, no primeiro mês de lançamento, criadores com entre 20 mil e 50 mil de seguidores de todos os estados do Brasil já usavam a plataforma, segundo Raphael. 

Hoje a empresa tem entre os anunciantes companhias como Magazine Luiza, Reserva, Tinder, Mercado Livre, Claro, Burger King e Americanas, que chegam a fazer 3 mil colaborações com influencers por mês. E a equipe, composta por um fundador e dois engenheiros, agora conta com 60 pessoas.

Raphael fala sobre o orgulho de ver o crescimento da empresa e como ela vem ajudando os criadores a viverem da produção de conteúdo: 

“Eu era um garoto de classe média baixa. Tudo que tenho e fiz na vida foi pela internet. Poder estar à frente de uma empresa que democratiza o acesso às oportunidades é algo que mexe comigo… Minha expectativa é levar a oportunidade de viver dessa paixão para cada vez mais criadores do Brasil e América Latina”

Num exercício de futurologia, ele imagina que chegará um dia em que todos seremos criadores de conteúdo — afinal, influenciamos de alguma maneira as pessoas ao nosso redor. Logo, todos teremos oportunidades de monetizar essa influência em nossos círculos de relacionamento, sejam eles do tamanho que forem. 

Para os próximos quatro anos, Raphael espera chegar à marca de 1 bilhão de reais distribuídos para os criadores por meio de anúncios. “O maior desafio da empresa é trazer oportunidades o suficiente para uma base de criadores tão grande. Mas a boa notícia é que estamos atraindo marcas enormes.”

 

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