A Casa B2Mamy abre as portas para ajudar as mães empreendedoras a manter seu networking aquecido

Maisa Infante - 16 set 2019
Dani Junco (na ponta direita da foto) e, a partir da esq., as sócias Bianca Levy, Juliana Lopes, Micheli Junco, e Jaqueline Romanelli, braço direito delas no dia a dia da B2Mamy.
Maisa Infante - 16 set 2019
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O funcionamento em soft opening começou no dia 5. A inauguração oficial, porém, é hoje, 16 de setembro. Nesta segunda, a Casa B2Mamy abre as portas em um galpão de 400 m² na Rua Mateus Grou, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo. A proposta é ser um espaço — totalmente baby friendly — para trabalho, reuniões, eventos e trocas de experiências. 

O projeto é a mais nova frente da B2Mamy. Nos últimos três anos, a empresa acelerou 170 negócios (como Nanú, Be Flexy e Parafusaria) tocados por mães-empreendedoras que, juntos, faturaram R$ 2 milhões. 

“A B2Mamy atrai mulheres com ‘sangue no olho’, que querem fazer algo real. Elas podem estar tristes e confusas — mas querem fazer”, afirma a sócia-fundadora Dani Junco, 39. 

Com o tempo, entretanto, algo foi ficando claro: o faturamento das aceleradas caía ou mesmo despencava (em até 50%) uma vez que as empresas encerravam seu ciclo e se distanciavam da aceleradora. “Essas mulheres voltavam para dentro de casa e perdiam a capacidade de manter o networking quente”, afirma Dani.

Ajudar as empreendedoras a manter a rede sempre aquecida é um dos objetivos da Casa B2Mamy. Um espaço onde elas podem trabalhar, se encontrar, participar de eventos, cursos e fazer contatos enquanto seus rebentos dormem ou são entretidos no quarto ao lado.

A GRAVIDEZ LEVOU DANI A PENSAR EM COMO TORNAR O MUNDO “MENOS ESCROTO”

A semente da B2Mamy surgiu em agosto de 2015, quando Lucas, o filho de Dani, tinha poucos meses de vida. Na época, ela estava à frente da Injoy, uma agência de marketing voltada para a indústria farmacêutica. Aos poucos, começou a se perguntar sobre como levar adiante sua vida profissional, agora com um filho pequeno. 

O questionamento gerou preocupações que vão muito além dos dilemas de se conciliar os papéis de mãe e empresária: 

“A maternidade me fez pensar sobre o que eu estou fazendo neste mundo, para onde — e como — eu vou. Meu filho provavelmente vai morrer depois de mim e vou deixar para ele esse mundo escroto? Tinha que fazer algo para deixar um mundo melhor”

Ela foi para o Facebook dividir a angústia e, num desabafo, postou que gostaria de tomar um café com mulheres que também estivessem passando por isso. “Achava que teria cinco pessoas, mas foram oitenta mulheres!” 

Esse encontro aconteceu no escritório da Injoy, na Vila Leopoldina. Ali, Dani percebeu que havia uma demanda que não era só dela — e também uma oportunidade de negócio. Aquelas mulheres precisavam se conectar, conversar, trocar experiências, entender o que queriam fazer das próprias vidas. E para isso precisavam de ajuda. 

PELO NEGÓCIO, ELA TROCOU O FILHO DE ESCOLA E VOLTOU PARA A CASA DA MÃE

Até botar o negócio de pé levou uns dois anos. E assim, em 2016, junto com Bianca Levy, 29, Juliana Lopes, 37, e sua irmã, Micheli Junco, 37, Dani fundou a B2Mamy com a proposta de acelerar negócios de mães empreendedoras.

As quatro também eram sócias na Injoy. Nos primeiros meses, precisaram equilibrar os dois negócios, dividindo-se entre a aceleradora e a agência de marketing. Eventualmente, já em 2017, decidiram deixar o primeiro empreendimento para investir o tempo e o dinheiro na B2Mamy. 

“Foi o meu salto de fé, porque deixei uma empresa que tinha um ótimo faturamento para ficar em uma que não faturava. Voltei para casa da minha mãe, vendi meu carro e coloquei meu filho em uma escola mais barata”

Aos poucos, esse “salto de fé” vai dando resultados financeiros. Em 2018, o faturamento da B2Mamy foi de R$ 500 mil, valor já alcançado em 2019. 

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Hoje, cerca de 70% da receita vem do Trilhas de Conhecimento, programa de aceleração que engloba dois projetos. O B2Mamy Start, para empreendedoras na fase de ideação do negócio, tem duração de um dia. O B2Mamy Pulse é uma jornada de 250 horas (ao longo de quatro meses) para acelerar empresas já em um estágio posterior, que precisam ser validadas e estruturadas. Os preços variam de R$ 350 reais a R$ 5 mil. 

ESTIMULAR O EMPREENDEDORISMO FEMININO EM TECNOLOGIA É UM DOS FOCOS

Nada de “dourar a pílula”: Dani afirma que leva suas aceleradas quase à exaustão: 

“Na B2Mamy, não ‘passamos a mão na cabeça’, porque o banco não se importa se você tem filho. Mostramos a realidade. A diferença é que a gente abraça o filho, abraça a mãe e chora junto — mas continua mostrando o business”

Segundo Dani, 12% das mulheres desistem no caminho, 60% continuam e outras acabam voltando para o mercado como líderes ou sócias de projetos que nasceram dentro da aceleradora. 

No B2Mamy Pulse, as mulheres são levadas por uma jornada que vai ajudá-las a impulsionar os negócios e, às vezes, a desistir deles.

Para participar dos programas é preciso se inscrever pelo site. A B2Mamy faz a seleção usando o recorte da tecnologia, priorizando aqueles negócios já plugados no digital. 

“Esse é um lugar que as mulheres ainda não ocupam — mas precisam ocupar. Olhamos muito para empresas que não são de tecnologia, que estão no ‘mundo real’, mas que podem fazer uso da tecnologia de forma mais inteligente e eficiente.” 

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A B2Mamy atua ainda no B2B com pesquisa, consultoria e ativação de marca. Os preços das campanhas variam de R$ 30 mil a 150 mil, dependendo do desafio. Entre os clientes, hoje, estão empresas como ConectCar, Danone, Deloitte, Nestlé, Leroy Merlin e Sympla.

“Só vai existir transformação no universo da maternidade se atuarmos nas empresas — e nos homens”, diz. Eles, aliás, são 13% do público dos cursos. Engajá-los é fundamental, até porque os maridos fazem parte da rede de apoio das mulheres que se desdobram entre cuidar do filho e da empresa.

A META É TRANSFORMAR A CASA B2MAMY EM UM MODELO DE FRANQUIA

Com a Casa B2Mamy, a ideia é impulsionar essa frente B2B fazendo do espaço um centro de pesquisa para marcas que conversem com o segmento da maternidade. Segundo Dani, a Casa não é um coworking, mas um clube de capacitação, mentoria e encontros.

O espaço comporta simultaneamente até 160 empreendedoras. “O protagonismo é das mulheres, mas toda a família é bem-vinda”, diz Dani. A mensalidade custa R$ 399, o que dá direito a entrar para o programa Let’s Grow, com eventos específicos e encontros pra networking. Quem opta pelo plano anual (R$ 199 mensais) tem acesso a espaço para trabalho e priopridade de inscrição em mentorias gratuitas da rede.

Podcast Retrato, com Dani Junco: “Ser mãe é aprender a se acolher, se perdoar e seguir o jogo”

A iniciativa foi estruturada a partir de um financiamento coletivo pela plataforma Kickante, que arrecadou R$ 155 mil de 355 doadores ao longo de dois meses. A quantia foi prevista para bancar o funcionamento da casa durante seis meses, incluindo infraestrutura, aluguel do mobiliário, espaço kids com monitor, tecnologia, papelaria, contas, marketing, taxas e impostos.

Transcorridos esses seis meses, a expectativa é que a casa seja autossustentável. A meta é franquear o modelo e ter uma dúzia de unidades até 2022, além de endereços próprios em São Paulo, Porto Alegre e Cuiabá (nessas duas capitais, a B2Mamy conta com duas pessoas bem engajadas e uma comunidade já estabelecida). 

Festa de inauguração da Casa B2Mamy, ponto de encontro da comunidade criada pela empresa, que está há 3 anos no mercado (foto: Paulo Liebert).

Dani diz que hoje fatura menos do que na época da agência, e também tem menos tempo com o filho (embora seja um tempo com mais qualidade). Mesmo assim, está em paz com a decisão que tomou ao empreender na B2Mamy. 

“Todos os dias, faço essa escolha pelo meu filho e por todas as mulheres que decidiram ser um exemplo para seu filhos. Elas chegam fragilizadas, com muita solidão — e isso não faz sentido e não ajuda em nada a economia e a vida familiar. Por isso, decidimos que onde houvesse o nosso logotipo, as mães estariam seguras. É isso que queremos fazer.”

DRAFT CARD

  • Projeto: B2Mamy
  • O que faz: Aceleradora para negócios de mães empreendedoras
  • Sócio(s): Dani Junco, Bianca Levy, Juliana Lopes e Micheli Junco
  • Funcionários: 6 (mais 4 sócias)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2016
  • Investimento inicial: R$ 40 mil
  • Faturamento: R$ 500 mil (2018)
  • Contato: [email protected]
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