Com transparência e rapidez, a QueroQuitar ajuda devedores a negociarem suas dívidas – e lucra com isso

Camilla Ginesi - 8 maio 2018
Equipe da QueroQuitar com o fundador Marc Lahoud (o quarto da esquerda para a direita).
Camilla Ginesi - 8 maio 2018
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Durante mais de duas décadas, o administrador paulistano Marc Lahoud, 52, cofundador da plataforma de negociação de dívidas QueroQuitar, trabalhou no varejo. Já aos 17 anos, abriu uma loja multimarcas de moda infantil, a Petit, na rua de comércio popular Doze de Outubro, em São Paulo. “Sou filho de um libanês e de uma egípcia que, como muitos estrangeiros baseados na cidade, foram comerciantes. Segui o mesmo caminho”, conta.

Pouco tempo depois da inauguração do primeiro estabelecimento, vieram mais três. Marc, então, deu o próximo passo e abriu uma loja conceito no Shopping Eldorado. “Esse ponto despertou o interesse de outros shoppings na Petit. Mas, como o custo de operar em shoppings é alto e a margem de lucro das multimarcas não tão alta assim, precisei criar uma marca própria.” Para solucionar esse problema, ele aumentou gradualmente a presença da marca própria nas lojas – até não sobrar nenhum produto de outro fabricante. Isso possibilitou que encarasse mais um desafio, franquear a Petit. “Chegamos a ter oito franquias, além de 12 lojas próprias, em cidades como Belo Horizonte, Goiânia e Fortaleza”, diz o empreendedor. No entanto, o sucesso da Petit foi freado pela crise econômica de 2007 e, três anos depois, o empreendedor optou por encerrar as atividades das lojas.

Sem um negócio para gerir, Marc se sentiu perdido. “A mudança de vida não foi fácil. Precisei parar um pouco, me recompor, pensar no que queria fazer”, conta. Alguns meses mais tarde, abriu “uma consultoria de um homem só”, a Retail Detail, especializada em varejo. Durante os quatro anos seguintes, atendeu a brasileira Penalty, de artigos esportivos, e o Grupo AJ Vierci, empresa paraguaia que opera dezenas de restaurantes Burger King no Brasil.

UM NEGÓCIO QUE DÁ VOZ A QUEM TEM DÍVIDAS

Em 2013, Marc já sentia “uma coceirinha para voltar a empreender” quando decidiu resgatar cheques devolvidos da época da Petit. “Essa carteira nunca retornou bem. Então, quis descobrir por que a recuperação de crédito era tão difícil”, diz. A ideia de criar uma empresa de negociação online de dívidas veio em seguida, após uma conversa sobre o assunto com Alencastro José, dono da assessoria de cobranças Fortecob e antigo fornecedor da Petit.

Nos meses subsequentes, Marc e Alencastro criaram a primeira versão da QueroQuitar. Durante um café, mostraram-na ao médico Artur Zular, amigo de Marc que viria a se tornar sócio da empresa. “O Artur disse que a ideia era boa, mas que a disrupção deveria ser, além de tecnológica, comportamental”. Ele fala mais a respeito:

“Percebi que seria inovador que os devedores, que estavam acostumados a ser cobrados ostensivamente, passassem a ter um papel ativo na negociação”

Marc afirma que o constrangimento é o principal motivo pelo qual o devedor deixa de procurar o credor, a assessoria de cobrança ou a empresa de informação de crédito para resolver a situação. “Por isso, procuramos criar um ambiente neutro, que empodera o devedor a negociar”, diz.

A negociação de uma dívida pelo QueroQuitar dura em torno de dez minutos.

No final de 2014, a QueroQuitar já estava apta para operar, permitindo que o devedor cadastre e negocie sua dívida, feche um acordo e pague o credor em até dez minutos. A startup fica com uma taxa que varia de 10 a 15% sobre as dívidas pagas por meio da plataforma. Para os devedores, o uso é gratuito. O site foi desenvolvido pelo programador Rafael Miranda, que também participou da fundação da empresa, mas já não é mais sócio.

Foi também nessa época que a empresa foi selecionada para participar da primeira edição do programa de inovação aberta InovaBra Startups, do banco Bradesco. “Nosso projeto era buscar a validação da plataforma pelas áreas jurídica, tecnológica, de segurança corporativa e de operações do Bradesco”, fala Marc. “Imaginamos que, se fizéssemos um bom piloto com o banco, estaríamos chancelados para o mercado.”

No entanto, o processo durou mais do que os sócios esperavam – oito meses. “Fomos ficando cada vez mais preocupados porque o dinheiro estava acabando”, diz Marc. Felizmente, em abril de 2015, surgiu o primeiro aporte, de 150.000 reais, da aceleradora Wayra. Quatro meses mais tarde, a QueroQuitar recebeu uma rodada de investimento-anjo no valor de 1 milhão de reais. Participaram os fundos de capital de risco 500 Startups e Bossa Nova Investimentos.

PARCERIAS COM GRANDES PLAYERS E EDUCAÇÃO PARA REDUZIR A INADIMPLÊNCIA

Em outubro do mesmo ano, o site foi linkado à pagina inicial do Bradesco para atender exclusivamente os devedores do banco. Hoje, tem entre os clientes a seguradora Porto Seguro, a construtora MRV Engenharia e o Santander.

Marc afirma que, nos últimos anos, a QueroQuitar promoveu uma mudança no mercado. “Antes, existiam, por exemplo, contratos de exclusividade com as assessorias de cobrança. Além disso, uma dívida não podia estar em dois lugares ao mesmo tempo porque não havia nem sistemas para isso.” E continua:

“Pressionamos outros players para permitir que o devedor negociasse sua dívida onde quisesse, no credor, na assessoria, na QueroQuitar etc”

Deu certo. Atualmente, há mais de 3 milhões de devedores registrados na plataforma. Segundo Marc, a proposta de valor da empresa não é apenas recuperar crédito, mas também reaver consumidores. “Essas pessoas podem voltar a comprar, inclusive, das empresas para as quais estavam devendo”, diz.

Marc Lahoud (de cinza) fala sobre a QueroQuitar para estudantes de Economia, Administração e Contabilidade em um evento da USP.

Em março deste ano, a SPC Brasil, empresa de informação de crédito, estimou que mais de 60 milhões de brasileiros estão inadimplentes – ou seja, cerca de 40% da população economicamente ativa do país. “Se as empresas quisessem vender apenas para quem não deve, venderiam somente para pouco mais da metade do país”, afirma Marc.

Uma das soluções para reduzir a inadimplência no Brasil, de acordo com Marc, é a educação financeira. No ano passado, a QueroQuitar foi selecionada pela aceleradora de negócios de impacto social Artemísia e pela Caixa Econômica Federal para participar do “Desafio de negócios de impacto social: Educação financeira e serviços financeiros para todos”. O projeto da empresa é uma ferramenta de organização financeira.

Há quatro meses, a QueroQuitar recebeu mais um aporte: 1 milhão de reais do fundo BR Startups, gerido pela empresa de investimento de risco MSW Capital e que tem entre seus investidores a Microsoft, o banco Votorantim e a companhia de agricultura Monsanto. Marc não revela o faturamento da plataforma, mas fala dos planos futuros. Os sócios planejam escalar o modelo e investir em tecnologias como big data, machine learning e inteligência cognitiva. “Nossa principal preocupação é a experiência do usuário”, afirma o empreendedor da startup, focada em “recuperar dívidas e sonhos”, como está escrito em seu site.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: QueroQuitar
  • O que faz: Negociação online de dívidas
  • Sócio(s): Marc Lahoud, Alencastro José e Artur Zular
  • Funcionários: 12
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2013
  • Investimento inicial: R$ 150.000
  • Faturamento: Mais de 3 milhões de devedores cadastrados
  • Contato: contato@queroquitar.com.br e (11) 3588-0800
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