No imaginário de toda uma geração, o ator Felipe Folgosi, 40, é o jovem galã global da década de 90. Em sua primeira novela, Olho no Olho, de 1993, ele tinha 19 anos e pegou logo o protagonista, Alef, um paranormal que soltava laser azul pelos olhos. Muitos anos depois (mas na mesma galáxia), Felipe está agora na plataforma de financiamento coletivo Catarse para arrecadar 36 mil reais para Aurora, um HQ sci-fi de sua autoria. O personagem da novela foi coincidência do destino: fã incondicional de Guerra nas Estrelas, Felipe é um nerd assumido desde criancinha.
Aurora conta a história de um pescador que após presenciar um fenômeno natural inédito deixa de ser apenas humano. É então perseguido por uma agência sombria do governo americano e precisa salvar sua família, descobrir o que se tornou e encontrar um propósito para o ocorrido, ou seja, responder à pergunta central da trama: o próximo salto na história da evolução humana ocorrerá por meio de um processo natural ou de uma intervenção externa?
Concebida há dez anos como roteiro de cinema, Aurora foi adaptada por Felipe para graphic novel por sua paixão pelo estilo — entre suas leituras, desde a infância, estão Mauricio de Souza, Disney, Marvel, DC, Mad, Chiclete com Banana, Milo Manara, Moebius, Asterix e Calvin — e porque ele acredita que, no Brasil, esse é o melhor formato para que a história saia do papel. “A gente não tem tradição em cinema de ficção, os filmes daqui têm uma pegada diferente e a probabilidade de conseguir fazer seria muito pequena. Como quadrinho, já há até interesse para que Aurora vire animação”, diz o autor.
COMO TRANSFORMAR PRECONCEITO EM COMBUSTÍVEL
A parceria com o Instituto dos Quadrinhos (os desenhos e a cor são feitos pela galera de lá, que desenha para Marvel, DC etc) deu ao projeto validação no meio, que Felipe só conhecia como fã. Preconceito? Sim. A fama de ator de TV, que hoje ajuda na divulgação do projeto, já soou estranha no universo da HQ, que tem leitores bastante críticos.
“No princípio, tive que convencer a comunidade dos quadrinhos de que não era um gimmick (truque). Mas eles passaram a abraçar a causa quando viram a parceria e a qualidade dos desenhos. A receptividade e a generosidade estão me surpreendendo”
A campanha no Catarse, que começou no início de outubro, termina neste domingo. Ainda falta pouco mais de um terço para atingir a meta e Felipe têm trabalhado bastante na divulgação: participa de feiras e eventos do meio, posta nas redes sociais (não tem fanpage no Facebook mas seu Instagram tem mais de 5 mil seguidores) e vai a programas de rádio e TV. “O Catarse é uma ferramenta fantástica, que de certa forma liberta o produtor cultural da dependência de leis de incentivo e patrocínios. Além disso, envolve o público, que acaba participando ativamente do projeto. Em uma de nossas recompensas, a pessoa será desenhada e virará personagem da história “, diz ele.
Aurora é apenas um entre vários roteiros que Felipe escreveu para cinema e engavetou. Paralelamente à carreira de ator, que tem quase 25 anos – seu primeiro trabalho na TV foi aos 17 anos, na minissérie Sex Appeal, na TV Globo – ele escrevia e lia livros de roteiristas como Syd Field e Doc Comparato. Agora, decidiu que era hora de tirar os projetos da gaveta. “Pensei, ‘pô, eu tô com 40 anos, o tempo passa rápido e não adianta eu ficar produzindo e não mostrar minha produção'”, conta ele.
“Eu tinha um pouco de medo da crítica com esses meus trabalhos. Pode falar mal de mim, tudo bem, mas se falar mal dos meus projetos, que são do meu coração, vou ficar triste”
O que poucas pessoas sabem é que Felipe já foi premiado como dramaturgo. A peça Um Outro Dia, sobre um jovem viciado em drogas, ficou em primeiro lugar no Concurso Nacional de Dramaturgia de 2001 (atual Prêmio Funarte) do Ministério da Cultura. A peça não chegou a ser montada. “Foi a confirmação, pra mim mesmo, que eu poderia escrever porque às vezes eu ficava meio na dúvida”, conta. No mesmo ano, ele trancava a faculdade de cinema da Faap, na qual se formou, para se especializar em roteiro na UCLA (University of California, Los Angeles). Nos primeiros anos da faculdade, colaborou como crítico de cinema e shows para o Jornal da Tarde. Chegou a resenhar o show de Wynton Marsalis no Teatro Municipal, em 2000.
No fim deste mês ele estreia em Chiquititas, novela infantil originalmente argentina, produzida aqui pelo SBT desde o ano passado (a partir de 1987 a emissora passou a exibir a novela em sua grade, tanto em versão brasileira gravada em Buenos Aires como na versão original). Felipe já começou a gravar sua participação, de cerca de 80 capítulos e que irá até o fim da trama. “Acho ótimo fazer Chiquititas. Primeiro, porque é um case da teledramaturgia. Segundo, porque nesse tempo todo que tenho de carreira, vejo ondas de público. Essa galera nem tinha nascido na época de Olho no Olho, por exemplo, e quanto mais eu conseguir me comunicar com as pessoas, melhor.”
Em 1988, ao finalizar a novela Corpo Dourado, na Globo (sua terceira seguida), Felipe estreou a peça Qualquer Gato Vira-Lata tem uma Vida Sexual Mais Sadia do que a Nossa, escrita por Juca Oliveira e dirigida por Bibi Ferreira. Era uma volta às suas origens já que tinha estudado, ainda adolescente, no Teatro Escola Célia Helena, em São Paulo. No total, foram cinco anos com a peça (três antes e dois na volta dos Estados Unidos) e mais de mil apresentações. “Sempre fiz teatro entre os trabalhos da TV e essa peça foi uma escolha muito certa porque foi um sucesso, mais de um milhão de pessoas viram”, diz.
Em 2000, Felipe estreou sua primeira novela na Record mas voltou à Globo três anos depois, pela última vez (até agora), para uma novela. Desde então vêm alternando trabalhos no SBT, na Band (onde apresentou o programa Acredite Se Quiser, em 2011), e na Record – nesta última, participando de uma edição do reality show A Fazenda, em 2012 (ficou em segundo lugar) e das novelas de Tiago Santiago (Prova de Amor, Caminho do Coração e Mutantes) que mexeram com os nervos e com a audiência globais.
“Essa coisa de que há mais exposição quando você trabalha na Globo é relativa porque, mesmo lá, não é toda novela que dá certo e nem sempre seu núcleo está bombando. Você não tem muita garantia nesse sentido”
Ele prossegue, dizendo que a visibilidade da Globo gera, de fato, mais trabalhos paralelos: comerciais de TV, desfiles, presenças em eventos. “Para compensar isso as outras emissoras pagam melhor e acho que vale mais a pena ser bem remunerado no seu trabalho do que ter que complementar”, afirma.
Felipe diz que ser ator é sua atividade principal mas não vai mais deixar engavetadas suas criações de cinema, teatro, quadrinhos. Ou música. Ele escreveu a letra e acabou de produzir o clipe de Vem Brilhar, do amigo Harada.
Mas dentre todas essas áreas, em qual Felipe se realiza mais? “Não sei… Mas se você quiser saber qual é o meu sonho, é fazer um dos novos filmes do Guerra nas Estrelas”, diz rindo. “Um sonho mais realista é criar um universo meu do Guerra nas Estrelas, seja atuando, escrevendo, dirigindo… Talvez esse projeto seja Aurora“, diz.
No que depender do Catarse, faltam cinco dias para uma definição. Que a força esteja com ele.
Juliana Jacinto e Pedro Franco não tinham ligação com o universo das motos até adquirir, em 2009, a marca de um festival brasiliense. Saiba como o casal turbinou o Capital Moto Week, que deve receber 800 mil pessoas a partir desta quinta, 18.
Pioneiros do podcast muito antes do estouro desse formato, Alexandre Ottoni e Deive Pazos venderam o Jovem Nerd para o Magalu, mas seguem na operação. E agora realizam um antigo sonho: o lançamento de seu primeiro videogame.
Como erguer um “espaço transcultural” numa das menores capitais do país? E sem nenhum aporte público? Josué Mattos insistiu nesse sonho e hoje dirige o Centro Cultural Veras, em Florianópolis, criado e mantido por uma associação de artistas.