A Vedacit vem inovando com startups para que você nunca mais tenha que quebrar o banheiro por causa de uma infiltração

Bruno Leuzinger - 16 jul 2020
Alexandre Quinze, CIO do Vedacit Labs e agora também presidente da Vedacit Soluções Tecnológicas.
Bruno Leuzinger - 16 jul 2020
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Você compra o tão sonhado apartamento e se muda, feliz da vida. Daí, dois anos depois, o vizinho de baixo reclama que, lá no apê dele, apareceu uma mancha escura no teto…

Ou seja: por conta de uma impermeabilização mal feita, você vai precisar quebrar o piso do seu banheiro. Um baita transtorno.

A Vedacit vem trabalhando em uma forma de evitar esse tipo de aborrecimento. Há dois anos, a octogenária fabricante de produtos impermeabilizantes começou a investir em inovação aberta, por meio do seu próprio laboratório. 

Alexandre Quinze, CIO do Vedacit Labs, explica a motivação por trás da iniciativa:

“A indústria é carente de inovação para melhorar a sua performance. Encontramos uma oportunidade significativa de nos estabelecermos como um hub de soluções tecnológicas para melhorar a eficiência na construção civil”

Cinco startups estão sendo aceleradas atualmente pelo Vedacit Labs, e outras cinco passaram pela aceleração em 2019. Destas, três tiveram suas soluções incorporadas ao portfólio de uma nova unidade de negócios, anunciada pela Vedacit em junho de 2020. 

Uma delas é a catarinense Lógica-e, que desenvolveu uma solução batizada de Vedacit Detector. “Funciona como um scanner na superfície”, diz Quinze. “Imediatamente você consegue saber se a impermeabilização foi bem feita ou não.”

CONTRATAR SUPORTE INDEPENDENTE PARA ERP LIBEROU VERBA PARA INOVAÇÃO

Engenheiro de formação, Quinze está na Vedacit desde fins de 2018. No currículo, entre outras empresas, tem uma passagem pela Philips, onde conheceu Marcos Bicudo, então CEO Latam da fabricante de eletrônicos e hoje CEO da Vedacit.

“Em 2018, ele me ofereceu uma posição para fazer uma transformação na área de TI — e já me ‘vendendo’ a ideia de começar a trabalhar com inovação.”

Na época, Quinze atuava como head de serviços estratégicos na Rimini Street, fornecedora de suporte para sistemas ERP (uma alternativa para quem prefere abrir mão — pelo custo — do suporte da fabricante do software, como SAP ou Oracle).

Ao topar o convite para colocar de pé o projeto do Vedacit Labs, trouxe na bagagem a proposta de valor da Rimini, de que a contratação de um suporte independente significava dinheiro em caixa para investimentos mais “inteligentes”.

“Fizemos uma parceria com a Rimini. O valor que antes investíamos na manutenção de um sistema legado ajudou a fomentar o nosso esforço de inovação e o Vedacit Labs”

Com o novo contrato, o custo mensal de suporte caiu imediatamente em 50% e foi direcionado para estruturar o Labs. 

“Além da economia financeira, tem uma economia do meu tempo”, diz Quinze, que transferiu para a fornecedora a tarefa de manter o sistema de TI rodando. “Sem esse ganho de tempo eu não encontraria espaço na minha agenda para trabalhar com as startups.”

A REVISÃO DO PLANEJAMENTO GEROU UMA GUINADA RUMO À SERVITIZAÇÃO

O investimento no Labs transcende essa grana que sobrou do suporte de TI. Ao todo, a Vedacit já investiu 2 milhões de reais no projeto, incluindo aí o aporte nas cinco startups do primeiro ciclo.

A decisão de montar o laboratório decorreu de uma revisão do planejamento estratégico, que gerou uma epifania: era preciso mudar a forma de atuação para garantir o futuro da empresa.

Tradicionalmente, explica Quinze, a Vedacit sempre foi focada em produtos: impermeabilizantes, mantas asfálticas, tudo vendido quase exclusivamente no varejo da construção civil.

“No planejamento, uma das alavancas de valor que elencamos foi a servitização: para levar o crescimento adiante, precisávamos focar também no B2B e levar tecnologia como serviço para a indústria da construção civil”

Essa guinada exigia trazer para dentro da empresa habilidades novas, daí a necessidade de um programa de inovação aberta. E, mais do que “acelerar por acelerar”, ficou acertado que esse novo projeto deveria trazer retorno financeiro:

“Fechamos um compromisso com o Conselho [de Administração]”, diz Quinze. “Até 2023, nós faremos 5% do Ebitda da empresa na forma de serviço, por meio dessas inovações tecnológicas.”

A LIGA VENTURES AJUDA NA GESTÃO E NA “CAPTURA” DE STARTUPS

Em termos de injeção de grana nas startups, o programa, explica Quinze, funciona da seguinte maneira: a Vedacit faz um primeiro aporte de 100 mil reais na forma de um mútuo conversível em participação na empresa. 

Esse valor é usado na aceleração. “Ao longo do programa, montamos um plano de negócio que pode ou não requerer maior investimento na startup”, diz.

Os ciclos duram quatro meses. Considerando também o período de preparação — chamada pública, pré-seleção e pitches —, o processo todo leva uns sete meses.

Da esq. à dir.: Alexandre Quinze, Matheus Santos (do time da Lógica-e), Luis Fernando Guggenberger, executivo da Vedacit, Bruno Bichels, CEO da Lógica-e, Gabriela Oliveira e Suellen Medeiros, ambas da Vedacit (foto: Renilson Junior).

A gestão do programa é dividida entre o Vedacit Labs e a Liga Ventures. “A Liga traz metodologia, governança do processo, e nos ajuda no relacionamento para a ‘captura’ de startups.” 

O Labs conta com um time fixo de sete pessoas, além de executivos da empresa que doam seu tempo como mentores das startups. O próprio Quinze é um deles. “Esse apadrinhamento não consome um número de horas específico, mas diria que toma uns 20% ou 30% do meu tempo.”

Até a pandemia, o Labs ocupava um espaço no WeWork da Avenida Paulista, vizinho de empresas com Facebook e Spotify, e com possibilidade de residência para as startups. Com a Covid-19, claro, neste momento está todo mundo em home office. 

PARA A LÓGICA-E, O LABS TROUXE A CHANCE DE DIVERSIFICAR A RECEITA

No caso da Lógica-e, o home office fica em Florianópolis. “Durante a aceleração, rolavam alguns eventos presenciais, então vivi boa parte daqueles quatro meses entre ônibus e avião, indo e vindo de São Paulo”, diz Bruno Bichels, CEO.

Fundada em 2012, a startup de desenvolvimento de produtos eletrônicos viu no Vedacit Labs uma chance de diversificar a receita com um produto específico para o setor de construção civil. As idas à capital paulista serviam também para conhecer as dores dos clientes da Vedacit. Quinze menciona uma delas:

“Até hoje, a única forma de se medir se uma impermeabilização foi bem feita era encher a laje com água. Ou seja, você construía a laje, colocava a manta asfáltica, e para testar a impermeabilização tinha que esperar 72 horas para ver se havia algum sinal de vazamento…”

Esse teste parece uma gambiarra, mas segundo Quinze, é o formato padrão da indústria. E pior do que o desperdício de tempo e de água (descartada depois no esgoto) seria a falta de precisão: as 72 horas são insuficientes para se detectar microfissuras — que ao longo dos meses vão dando vazão às infiltrações….

Daí veio a ideia do Vedacit Detector, o tal “scanner de superfícies” citado por Quinze lá no começo do texto.

NA VALIDAÇÃO, O DETECTOR IDENTIFICOU 43 FALHAS NUMA SÓ IMPERMEABILIZAÇÃO

A solução foi cocriada do zero pela Lógica-e e a Vedacit. O Detector funciona como um taser (ou, vá lá, uma raquete elétrica mata-mosquito, admite Bruno), que emite uma tensão e gera uma faísca quando em contato com uma fissura na superfície.

“É um equipamento portátil, uma mochila com um aplicador”, descreve o CEO da Lógica-e. “De um lado da mochila sai um fio que é ligado no cimento, e a outra ponta parece uma vassoura metálica. Durante o teste, o profissional passa essa vassoura por cima da manta [asfáltica], e identifica se há algum furo ali.”

O aparelho foi validado em 66 canteiros de obras, com 88% de aceitação, segundo a Vedacit. Quinze detalha uma dessas validações:

“Fizemos o teste com o Detector numa piscina de 100 metros quadrados, que já tinha sido liberada para revestimento. Encontramos 43 falhas na impermeabilização. O teste com a eletricidade é infinitamente mais preciso e mais eficaz do que o teste com água”

Independentemente da portabilidade do Detector, a Vedacit não pretende vender o produto em si — e sim o seu serviço, dentro daquela lógica de servitização.

“A proposta de valor que a gente entrega é o metro quadrado impermeabilizado e certificado, com seguro”, diz Quinze. “Para quem está construindo aquela piscina, aquele banheiro, queremos vender tranquilidade com garantia.”

PARA VENDER A SOLUÇÃO, A VEDACIT CRIOU UMA NOVA UNIDADE DE NEGÓCIO

A empresa já conta com uma rede de aplicadores do Detector treinada e certificada pela Lógica-e, “com cobertura nacional”. Para comercializar esta e outras soluções, a Vedacit anunciou, em junho, a criação da Vedacit Soluções Tecnológicas (VST). 

Duas outras startups do primeiro ciclo do Labs integram o portfólio. “Uma delas é a ConstruCode, que faz digitalização de plantas. Fizemos a aquisição do controle completo da empresa”, diz Quinze. “A outra é a Obrazul, um marketplace para o pequeno varejo da construção civil.” 

O executivo agora acumula os cargos de CIO do Labs e presidente da VST. Quinze explica o porquê dessa nova unidade:

“Chegamos à conclusão de que, para ir ao mercado com servitização, precisávamos lançar uma nova unidade de negócios. Com o crescimento e o retorno financeiro, a ideia é que a Vedacit Soluções Tecnológicas passe a ser a principal fonte de fomento desse ciclo de inovação”

Desenha-se, portanto, uma relação simbiótica, ganha-ganha, entre a aceleradora corporativa e a nova unidade de negócios.

“Vamos vender tecnologia na forma de serviço, com o Vedacit Labs fornecendo empresas para o portfólio da Vedacit Soluções Tecnológicas, diz Quinze. “É assim que estaremos levando inovação para o mercado.”

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