A vida não é um jogo, mas o onboarding pode ser. Essa é a aposta da Workverse, startup que gamifica etapas da jornada profissional

Marcela Marcos - 10 jul 2023
Carolina Guimarães e Daniel Uchôa, dois dos sócios da Workverse.
Marcela Marcos - 10 jul 2023
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Imagine que você acaba de ser aprovado no processo seletivo para ingressar em determinada empresa e recebeu a oferta de trabalho, com os detalhes que ainda não tinham sido revelados nas etapas anteriores da candidatura. 

Agora, suponha que, para aceitar, você precisa participar de uma espécie de game. E, após topar a proposta e receber as boas-vindas, segue “jogando” até completar o envio de seus dados e saber o máximo possível sobre o novo emprego. 

Esta experiência imersiva é o que propõe a startup Workverse, que desenvolveu uma tecnologia baseada em gamificação para facilitar o chamado onboarding, o processo de integração de novos colaboradores. 

“EM VEZ DE LIGAR PARA A CENTRAL DE ATENDIMENTO, QUE TAL ASSISTIR A ESTE VÍDEO?”: ESSA ERA A IDEIA INICIAL

O embrião do que viria a ser a Workverse foi a pesquisa de mestrado de Daniel Uchôa (que hoje tem 43 anos) em engenharia elétrica – pela Escola Politécnica da USP –, em 2008, sobre como medir a audiência de TVs digitais. 

Para que isso fosse possível, o irmão dele, Rafael Uchôa (37) configurou, em 2009, uma primeira versão do video.bot. Na parte de criação estava Victor Almeida (40), que cuidava de storytelling

Na época, era um vídeo no formato MP4, com um botão de call to action, que passou a servir para a área de atendimento ao cliente de empresas de telecomunicação e bancos. Os principais clientes, nesta fase, eram a Vivo e o Itaú. 

Carolina Guimarães, 36, sócia e COO da Workverse, resume a ideia: 

“A ideia era substituir as ligações para as centrais de atendimento, quando os clientes tivessem alguma dúvida sobre os produtos. Então, era algo assim: ‘em vez de ligar para a central, veja este vídeo aqui!’”

A chegada de Carolina à equipe só ocorreu bem mais tarde, em 2017, quando a Vivo procurou a Workverse pedindo para que desenvolvesse um modelo de video.bot voltado para o setor de RH. 

Ela conta que, na época, trabalhava em uma multinacional, importadora da Apple no Brasil e fazia consultoria com Daniel Uchôa, que a convidou para trabalhar com ele. 

“Sou economista, mas sempre fui envolvida com algum projeto de inovação, ligado à viabilidade econômica de novos negócios”, diz Carolina. “Estava vivendo uma fase muito certinha e gosto de emoção, então aceitei a proposta e mergulhei de cabeça.” 

Naquele mesmo ano, 2017, a Workverse passou a ser residente do Cubo Itaú, o centro de empreendedorismo (que já foi pauta aqui no Draft) localizado na Vila Olímpia, Zona Sul de São Paulo.

COMO CRIAR UM ACOLHIMENTO DIGITAL (E AO MESMO TEMPO “HUMANIZADO”) PARA OS NOVOS FUNCIONÁRIOS

A demanda que impulsionou a criação do primeiro video.bot de RH levou à estruturação do modelo de negócio, que já tinha o investimento do hub de inovação da Telefônica, a Wayra

A solução desenvolvida envolve duas interfaces. Uma delas é acessada pelos profissionais de Recursos Humanos da empresa que contrata o serviço. Eles passam por um treinamento que tem, em média, 40 minutos de duração, para aprender a navegar e a monitorar o engajamento dos funcionários com a ferramenta. 

A segunda interface é a que os colaboradores acessam – e, segundo Carolina, é totalmente intuitiva, não requer nenhum treinamento. A tecnologia desenvolvida pela startup possibilita criar um ambiente imersivo, que combina inteligência artificial (especificamente o recurso conhecido como árvore de decisão), gamificação e storytelling. Ela explica:

“A gente faz o video.bot para criar um acolhimento digital do colaborador, mas que seja humano. Dentro do universo da empresa, ele é guiado até completar o onboarding”

O Draft teve acesso a cinco modelos de video.bot, criados para diferentes companhias. A interface é personalizada, com um ambiente virtual que remete a elementos da marca (como o Spiguy, mascote do salgadinho Fandangos, da PepsiCo). 

Um dos modelos permite, por exemplo, que o usuário navegue pelas salas e corredores do escritório. Alguns elementos comuns entre as ferramentas são trilha-sonora e uma locução que auxilia no passo a passo da navegação. 

Funciona como um jogo, em que, a cada fase do processo (até então, burocrático) após a admissão, o funcionário vai “passando de fase” até completar tudo. 

As informações essenciais estão a um clique, incluindo detalhes do cargo (salário, benefícios etc.). Dá até para criar seu próprio avatar.

“Tentamos falar do jeito que a empresa fala, mas de maneira criativa. Não se trata de um aplicativo e não é necessário fazer download de nada. A ideia é simples: você recebe um link e clica”

Segundo Carolina, a solução tecnológica foi sendo aprimorada desde a primeira versão, para que rodasse até mesmo em celulares mais antigos e com baixa conectividade à internet. 

Tal medida seria uma maneira de incluir funcionários que realizam tarefas mais manuais, normalmente em fábricas, nos casos em que estes empregados não têm muita familiaridade com tecnologia.

SEGUNDO A COMPANHIA, A FERRAMENTA TURBINA O ONBOARDING E REDUZ O CUSTO DA CONTRATAÇÃO

A solução desenvolvida pela Workverse não é exclusiva para a fase de onboarding. Há clientes que contratam as ferramentas para acompanhar também a progressão de carreira dos funcionários, férias – e, se for o caso, o trâmite da demissão. 

Os recursos são personalizados conforme a organização, o cargo e local de trabalho. Ou seja: um analista contratado para trabalhar no escritório de uma multinacional em São Paulo percorre etapas diferentes do game em relação a um colega com a mesma função, na mesma empresa – mas que ingressou em outro estado.

Segundo a Workverse, um processo admissional com suporte da ferramenta seria “15 vezes mais rápido” que o convencional e reduziria em 60% o custo de contratação. Carolina menciona outro “indicador de sucesso”: a satisfação dos usuários, que chegam a usar a imagem dos avatares do video.bot nos seus crachás. 

“Tem lá a foto real [do funcionário] e do avatar, então a gente adora brincar com o híbrido entre digital e físico” 

Os contratos (de, no mínimo, um ano) envolvem um investimento inicial por parte da companhia para construir o storytelling e, depois, um valor que varia de acordo com a quantidade de colaboradores que acessam as ferramentas por mês. 

Alguns dos clientes mais antigos estão com a Workverse há mais de três anos – é o caso de Vivo, Ericsson, DP e Nestlé. Entre os cases, Carolina cita a Liberty, que em 2022 recebeu um prêmio de inovação do segmento de seguradoras por um projeto conjunto. 

A WORKVERSE CRESCEU NA PANDEMIA E AGORA PRETENDE APRIMORAR O PRODUTO E INTERNACIONALIZAR

Em 2020, a Workverse foi, segundo a COO, a única representante brasileira selecionada para o MassChallenge, um programa apoiado pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology) e pelo governo americano, em Boston, nos EUA. 

A pandemia de Covid-19, que teve início naquele ano, não impactou negativamente os negócios da startup. Pelo contrário. A Workverse está entre as empresas que cresceram no período.

O impulso se refletiu na quantidade de clientes. Eram quatro antes da crise sanitária; depois, seis. O ritmo de contratos fechados aumentou até chegar aos atuais 24. 

“Houve uma mudança de mentalidade. Antes, o setor era visto como a parte burocrática, mais ligada ao contrato de trabalho, ao benefício, mas a área passou a ser enxergada como aquela por onde passam os talentos. E quem quer viabilizar projetos estratégicos precisa de pessoas engajadas”

No ano passado, a Workverse faturou 4 milhões de reais. O objetivo é fechar 2023 dobrando o faturamento e o número de clientes, com a expectativa de alcançar 50 companhias até o fim deste ano.

A startup mantém uma parceria de inovação com o polo tecnológico da Universidade Federal da Paraíba. Para o futuro próximo, o objetivo é seguir aprimorando o produto (de olho em avanços como a inteligência artificial generativa) enquanto planeja os primeiros passos de sua internacionalização.

Aqui no mercado brasileiro, a Workverse diz que hoje não enxerga nenhum concorrente – pelo menos não com uma solução nos mesmos moldes.

“Tem algumas ferramentas que aglutinam sistemas, mas aí estamos falando de aplicativos, de uma coisa mais mainstream”, afirma Carolina. “Nosso diferencial é a experiência imersiva, lúdica, com o audiovisual integrado – além de todo o ferramental dos dados.” 

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Workverse
  • O que faz: Desenvolve videobots personalizados para empresas
  • Sócio(s): Daniel Uchôa, Victor Almeida e Carolina Guimarães
  • Funcionários: 35 (além dos sócios)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2009
  • Faturamento: R$ 4 milhões (em 2022)
  • Contato: [email protected]
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