Abraçar o erro é um dos convites da Sandbox, escola de estratégia com clima zero “salinha de aula”

Luana Dalmolin - 12 abr 2018
Felipe (à esquerda) foi "aluno cobaia" de Daniel. Juntos, os dois publicitários fundaram a Sandbox.
Luana Dalmolin - 12 abr 2018
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Após anos trabalhando em agências de publicidade como Lew Lara, JWT e DM9, Daniel De Tomazo, 39, hoje sócio-fundador da escola de planejamento estratégico Sandboxteve o primeiro estalo para o que crê ser sua verdadeira vocação: cuidar da formação de jovens profissionais. Na época, ele atuava na Loducca e seu trabalho era focado em prospecção. No entanto, ele conta que andava um tanto frustrado com essa missão:

“Decidi mudar minha métrica pessoal de satisfação profissional: em vez de propostas aprovadas, pessoas que eu ajudaria a formar”

Segundo ele, a agência já tinha uma vertente voltada para o coaching e ele se valeu desse ambiente favorável para estruturar feedbacks cada vez mais estruturados para sua equipe. Já em outra empresa, deu um passo a mais. A partir da dificuldade de um colega de trabalho com storytelling, começou a elaborar exercícios que, entre 2006 e 2007, se desdobraram em um curso. Anos mais tarde, esse curso, batizado de Story Planning, foi adaptado, se tornou um dos primeiros da Sandbox e até hoje faz parte de seu portfólio. Daniel conta que as aulas para a turma do trabalho eram dadas no horário de almoço e que a única condição para participar era que os alunos fizessem os exercícios propostos. Aí é que entra o publicitário Felipe Senise, 31, um dos seus primeiros “alunos-cobaia” e, atualmente, sócio da empresa.

Assim como Daniel, Felipe começou sua carreira na área de planejamento estratégico. Ele conta que sempre teve a cabeça voltada para negócios, tanto que pensou em estudar Administração, mas acabou escolhendo a Publicidade, após participar, na época de cursinho, de um evento em que estavam presentes nomes como Nizan Guanaes e Washington Olivetto. Ali, ele diz que conseguiu ver exemplos de como a publicidade poderia gerar valor para um negócio. O mundo da comunicação é muito pautado na criatividade. Aprendi que a estratégia orienta a criatividade para a eficiência e está a serviço do crescimento”, diz.

QUANDO HÁ ESPAÇO PARA O ERRO

Mexer com o jeito que as pessoas pensam é um dos principais propósitos da Sandbox, lançada em 2013, com o investimento de mil reais dos sócios. As primeiras turmas tiveram início um ano depois, com três cursos: Story Planning, Hard Strategy Day e Cachola de Designer, esse último focado nos conceitos de Design Thinking. De lá para cá, foram 75 turmas regulares e 42 corporativas. Hoje, 15 cursos estão na grade da Sandbox, que registrou 40% de crescimento nas matrículas das turmas regulares no ano passado. A duração dos cursos varia de oito a 70 horas e o investimento dos alunos é de 940 a 10 mil reais.

As aulas são construídas em torno de três pilares: exercício acompanhados de feedback, petit comité (turmas pequenas, de até 16 pessoas) e clima de casa (ou “zero salinha de aula”, como o fundador diz). “Todos os feedbacks do curso são abertos, pois acreditamos que isso é parte do aprendizado. Criamos um ambiente em que as pessoas se sintam à vontade para se arriscar, errar mesmo”, conta Daniel. E descreve a importância da falha neste sentido:

“Sempre digo: se você fizer tudo certo, não posso te dar um aumento. Se você fizer tudo errado, não posso te demitir”

Os sócios idealizaram a Sandbox como um lugar livre para errar e aprender, algo pouco convencional nos dias de hoje em que deslizes significam grandes perdas. Daí vem o nome da empresa, “caixa de areia”, na tradução para o português. Ou seja, um lugar onde se aprende brincando livremente. Os fundadores têm alguns mantras e mão na massa é um deles: a cada hora de conteúdo teórico, duas horas de prática. Essa mescla, conta Daniel, é uma estratégia para manter os alunos sempre alertas.

Os cursos da Sandbox buscam criar um clima de “sala de casa”, em que os alunos se sintam à vontade para errar e aprender.

Os primeiros cursos foram elaborados e ministrados pelos dois sócios, que se definem como “donos de um restaurante europeu”: trabalham desde a cozinha até o salão.

Neste ano, assumiram 15 turmas de cursos regulares e 25 in company, mas pretendem diminuir o ritmo ao longo do tempo, já que Daniel, além de cuidar da Sandbox e de ser pai de gêmeas, é diretor geral de planejamento da Ogilvy, enquanto Felipe administra também a Ilumeo, consultoria de Data Science.

Para que aos poucos possam passar algumas missões adiante, a dupla está investindo em ampliar sua rede de profissionais, hoje responsável por ministrar cerca de 50% dos cursos da Sandbox. Os sócios contam que todos são brifados quanto ao formato e conteúdo, criados sempre em conjunto com eles. Daniel fala sobre o estilo dos cursos: “Queremos criar um ambiente voltado para o aprendizado e não para a competitividade. Proporcionar uma experiência leve, informal. Tem que ser legal como estar na sala de casa”

Segundo os empreendedores, há uma preocupação em evoluir constantemente, por isso, os cursos são encarados como uma espécie de protótipo: testar, rodar, aprender e adaptar. Felipe fala a respeito:

“A gente não é Harvard, não é FGV, não temos esta etiqueta, então, precisamos focar em oferecer um curso em que o aluno valorize a experiência”

Historicamente, a Sandbox atrai profissionais de comunicação e marketing, que já atuam com planejamento estratégico. Mas, uma das apostas para este ano é ampliar este perfil. “Queremos mirar em quem está interessado no pensamento estratégico. Pode ser um cara de vendas, do comercial de um veículo de comunicação ou do atendimento de uma agência de publicidade”, afirma Daniel.

Hoje, a Sandbox está com 15 turmas em andamento, que seguem a lógica do petit comité: no máximo, 16 alunos em classe.

É, justamente, pensando em atrair tipos mais variados que a Sandbox está lançando novos cursos em parceria com empresas, como a firmada com uma consultoria para startups. Dessa união, nasceu o Startup Academy, com viés de empreendedorismo e duração de três meses.

Outras novidades do portfólio trazem temas como Data Science (Data Lab) e Gestão e Liderança (Planning Academy – Ciclo III), além de opções de cursos online.

Para Daniel, o crescimento é o norte da empresa, mas a métrica de sucesso, definida lá atrás, continua valendo: formar pessoas e acompanhar sua evolução profissional. “O que me deixa feliz é ver aquele cara que teve a experiência com os nossos cursos como isso, de fato, ajudou na carreira dele. Por isso, inclusive, criamos o Antena Sandbox, um banco de dados que agrupa o perfil de alunos e ex-alunos, com base em seu desempenho e que compartilhamos com o mercado. Só no ano passado, 10 contratações foram feitas com a nossa base”, diz o empreendedor, orgulhoso de seus pupilos que seguiram adiante colocando em prática os aprendizados dos cursos.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Sandbox
  • O que faz: Escola de planejamento estratégico
  • Sócio(s): Daniel de Thomazo e Felipe Senise
  • Funcionários: 5 (incluindo os sócios)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2013
  • Investimento inicial: R$ 1.000
  • Faturamento: 117 cursos realizados desde a fundação
  • Contato: contato@sandbox.ee
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