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Quais setores têm as maiores oportunidades para prosperar com soluções climáticas? Fomos ouvir o Campeão de Alto Nível do Clima da COP30

Aline Scherer - 26 set 2025 Dan Ioschpe, Campeão de Alto Nível do Clima da COP30 (crédito: Rafa Neddermeyer-COP30 Amazônia Brasil-PR).
Dan Ioschpe, Campeão de Alto Nível do Clima da COP30 (crédito: Rafa Neddermeyer-COP30 Amazônia Brasil-PR).
Aline Scherer - 26 set 2025
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A missão de uma presidência da Conferência das Partes (COP) transcende as duas semanas do evento global sobre mudanças climáticas. São dois anos de mandato. Uma das obrigações do Brasil na presidência da COP30 inclui a entrega da Agenda Global de Ação Climática: uma proposta de estratégia e governança para o impulsionamento de soluções práticas para a descarbonização da economia – com desenvolvimento humano e social – durante cinco anos. 

A pessoa responsável por essa missão é o Campeão de Alto Nível do Clima da COP30, Dan Ioschpe: “Esperamos que essa nova arquitetura seja suporte para uma implementação efetiva de soluções, muito pragmática, para fazer uma diferença real ao longo do tempo”.

Empresário gaúcho radicado em São Paulo, Dan preside o conselho da fabricante de rodas e autopeças Iochpe-Maxion (empresa fundada por seu avô), é vice-presidente da FIESP e do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, e conselheiro de WEG, Embraer, Marcopolo e Sindipeças. Ele também liderou o Business 20 (B20), grupo representante da iniciativa privada durante a presidência brasileira do G20, em 2024.

Formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com especialização em Marketing pela Escola Superior de Propaganda em Marketing (ESPM São Paulo), e MBA em Negócios pela Amos Tuck School, nos Estados Unidos, ele reúne habilidades para cumprir a missão, como a capacidade de dialogar e unir atores de diferentes esferas para mobilizá-los a ação, além da veia empreendedora. 

Dan Ioschpe falou ao Draft durante uma recente sessão da iniciativa Central Belém, atendida ao vivo por cerca de 30 jornalistas de todo o mundo, liderada pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS), a Nature4Climate (N4C), e a The Nature Conservancy (TNC), com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP). Leia a seguir a entrevista: 

 

Qual a perspectiva do setor privado e como está sendo desenhada a Agenda de Ação Climática da COP30?
A conexão das Contribuições Nacionalmente Determinantes (NDCs) e do Balanço Global do Acordo de Paris (Global Stocktake – GST, na sigla em inglês) com a Agenda de Ação Climática é fundamental. O que tentamos fazer, e acho que seremos bem-sucedidos, é criar essa Agenda de Ação Climática, que é completamente baseada na GST e deve falar o máximo possível com as NDCs país por país. 

E, ao ir nessa direção, seguindo a liderança da presidência brasileira da COP30, de falar sobre implementação, criamos seis eixos para implementação, cinco eixos verticais mais relacionados à mitigação, adaptação e resiliência e transição, e um eixo horizontal falando sobre fatores habilitadores como financiamento, tecnologia e capacidades que nos permitirão realizar as soluções em energia, florestas, sistemas alimentares, cidades, desenvolvimento humano e assim por diante. 

(Fonte: COP30)

Como vai funcionar a governança destes eixos?
Dentro desses seis eixos, criamos 30 objetivos-chave e suas soluções relacionadas a cada um dos eixos. E convidamos todas as iniciativas existentes que conhecíamos no mundo, sem fazer julgamento sobre nenhuma delas. Nós apenas as trouxemos. 

Então, há 600 iniciativas de ação climática ao redor do mundo. As dividimos entre esses 30 objetivos-chave e criamos 30 grupos de ativação que também podem criar subdivisões para seguir algumas das soluções específicas onde podemos ter mais de uma para cada um dos 30 objetivos-chave. 

Estamos falando sobre combustíveis sustentáveis para aviação, áreas degradadas que precisam ser recuperadas, sistemas de água e esgoto, cidades ou patrimônio cultural que precisam ser protegidos no front de adaptação e assim por diante. Convidamos todos os donos dessas 600 iniciativas para povoar esses grupos de ativação

Há uma secretaria em cada um dos eixos, onde a equipe de campeões climáticos, a presidência brasileira e algumas instituições muito relevantes entraram para formar essa secretaria. Estamos trabalhando nesse processo desde o final de julho. E esperamos que até o final do ano possamos concluir isso. 

Vocês já têm conhecimento sobre em que estágio estão cada uma dessas 600 iniciativas?
Esperamos que até o final de novembro tenhamos um conhecimento muito melhor do estágio de cada uma das 600 iniciativas, seus KPIs (indicadores-chave de desempenho), sua propriedade, com muita transparência. 

E para algumas delas, não todas, especialmente as mais relevantes, o processo de eliminação de gargalos. Então, todos sentados ao redor da mesa, tentando entender por que elas não estão crescendo o mais rápido possível, se esse for o caso, o que está bloqueando seu escalonamento e completo desenvolvimento. 

Tenho esperança que essa nova arquitetura seja suporte para a implementação efetiva de soluções de base, muito prática, muito pragmática, para realmente fazer diferença ao longo do tempo. 

O Brasil tem a obrigação de propor uma estratégia de cinco anos para a Agenda de Ação Climática. Estamos trabalhando nisso, e será entregue pela COP30. Essa arquitetura que descrevi é o centro, o núcleo dessa estratégia 

E esperamos poder continuar a trabalhar dessa mesma forma, não apenas no ciclo da CO30, mas talvez por pelo menos três a cinco anos. Acreditamos que a implementação continuará sendo o foco das COPs por um bom período. 

E, ao termos uma boa organização sobre como trabalhar nessas soluções dia após dia, ano após ano, sem parar, provavelmente encontraremos mais eficiência e produtividade no processo. Isso pode ser um legado muito forte da COP30, essa arquitetura em si.

E claro, algumas questões muito relevantes estão incluídas, como, por exemplo, o TFFF, o Fundo das Florestas Tropicais para Sempre, que esperamos que seja lançado na COP30, e muitas outras questões relevantes que estão em andamento.

Vocês estão abertos a receber novas iniciativas para compor as 600 já mapeadas?
É importante dizer que não estamos propondo da presidência ou da equipe de campeões do clima nenhuma nova iniciativa, nenhum novo compromisso. É uma perspectiva diferente. Estamos dizendo: vamos trabalhar em todas as iniciativas existentes e garantir que entreguemos o máximo possível delas. 

Então, vamos focar no que já existe. Não estamos bloqueando ninguém de criar qualquer nova iniciativa. Esse não é o espírito, mas não seremos nós a propor, porque acreditamos que quanto mais tempo e esforço dedicarmos às iniciativas existentes, mais resultados iremos extrair delas 

E, espero, se continuarmos a trabalhar nessa arquitetura e processo, isso poderá alimentar os negociadores, os governos, e apoiar as NDCs, os Planos Nacionais de Adaptação [NAPs, na sigla em inglês]. Todo o ecossistema deve estar muito focado na implementação e entrega de soluções. 

Convido todos a se juntarem aos grupos de ativação porque esse é o coração do processo. É lá que iremos até definir a agenda dos pavilhões, da Zona Azul. Então, tudo passa pelos grupos de ativação e a participação de todos lá é a mais importante. 

Tomando as NDCs do Brasil como prioridade de negócios, quais setores da economia têm as maiores e melhores oportunidades para prosperar com soluções climáticas?
Qualquer coisa que dialogue com powershoring, acredito que está à frente. Então, geração de energia limpa e renovável, qualquer coisa que lide com isso: data centers, combustíveis de aviação, aplicações relacionadas a hidrogênio para aço, petroquímicos, porque o Brasil tem uma posição incrível nisso. 

É claro, florestas vão junto e os sistemas alimentares também. Acredito que esses três são muito fortes no Brasil e provavelmente serão o coração de qualquer estratégia de desenvolvimento socioeconômico para o país ao longo do tempo, por muitos e muitos anos. 

A 7ª carta da presidência da COP30 identifica a ação climática como a principal oportunidade de negócios do nosso tempo. Como diferentes stakeholders, desde membros da alta gestão de grandes empresas até empreendedores e investidores, devem se preparar para aproveitar ao máximo o evento?
Acredito que a maioria dos CEOs e membros do C-suite que encontro ao redor do mundo estão muito preparados e engajados porque, independentemente do timing político de diferentes países, qualquer uma dessas soluções leva tempo. Elas não são rápidas de implementar. E nenhuma empresa ao redor do mundo quer estar do lado não sustentável da imagem. 

Sustentabilidade é um must para estar por aí pelos próximos 10, 20, 30 anos. E é assim que geralmente os líderes pensam em posicionar seus negócios 

Honestamente, vejo muita preparação já em andamento e muita empatia com essa ideia de estar no terreno, perto das soluções, perto da implementação. 

Então, respeitando ou não o debate, precisamos implementar. Isso é muito atraente para empresas, mas também para municípios e governadores de estados. Vemos uma proximidade muito boa com a forma como propusemos a agenda.

 

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