Com metas agressivas de expansão, a Mobly quer tornar a decoração mais democrática

Giovanna Riato - 7 dez 2015
Victor, Mário e Marcelo voltaram do MBA nos Estados Unidos e mergulharam direto no projeto da Mobly.
Giovanna Riato - 7 dez 2015
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A Mobly completa quatro anos no mercado com grandes metas para o futuro. O primeiro e-commerce especializado em móveis do Brasil entrou no ar em 2011. Na época, nem mesmo as varejistas que atuam nessa área consideravam vender mais do que acessórios e objetos de decoração pela internet. Afinal, quem compraria um sofá sem antes sentar nele ou um guarda-roupas, que exige investimento alto, sem checar a qualidade bem de perto? Bom, parece que desde então muita coisa mudou.

O consumidor mostrou não ter tanto preconceito em adquirir móveis on-line e a concorrência cresceu bastante. Não só as lojas do mundo real foram para a internet, como surgiram outras marcas voltadas ao e-commerce desde o nascimento, como a Oppa. Para a Mobly esse ambiente é mais favorável do que preocupante. Pelo menos é o que garante Ricardo Bechara, diretor de marketing que está na empresa desde o começo do negócio. “Assim, comprar na internet acaba se tornando mais natural para o consumidor”, acredita.

A empresa nasceu da iniciativa de três sócios: Victor Noda, 33, engenheiro mecânico pela Poli-USP, Marcelo Marques, 34, que tem a mesma formação, mas pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), e Mário Fernandes, 35, engenheiro mecatrônico também pela Poli. Com trajetória de sucesso em grandes empresas, como Booz & Company e Ambev, Marcelo e Mário se conheceram na Fundação Estudar, onde buscaram bolsas de estudo para um MBA nos Estados Unidos.

Mário foi fazer MBA na Harvard Business School. Enquanto isso, Marcelo seguiu para um MBA em Marketing e Empreendedorismo na Kellog Scholl Manegement, também nos Estados Unidos. No curso ele conheceu Victor, que já tinha a experiência de ter fundado o site de leilões Looki. Na volta os três se reuniram com o desejo de criar um negócio e já colocaram a mão na massa.

Inspirados na Ikea, e-commerce de móveis e artigos de decoração de origem sueca, eles chegaram ao modelo de negócio da Mobly: vender on-line os produtos de diversas fabricantes de móveis, reunindo em um só espaço virtual uma série de possibilidades para o cliente. Mário aponta que, na primeira fase do negócio, foi importante ter atitude e iniciativa para que as coisas acontecessem:

“Empreender significa fazer muito e, no início principalmente, com poucos recursos. É importante desenvolver a resiliência. Você tem de estar mais aberto a errar e aprender com os erros”

Para ele, empreender compreende muito mais acertos e erros do que em outras atividades. O risco, afinal, faz parte do negócio e a Mobly conseguiu ter sucesso nas rodadas de investimento. Os sócios não divulgam o montante que conseguiram captar, mas passaram parte do controle da empresa para o grupo alemão Rocket Internet, que tem presença em negócios como WestWing e Easy Taxi. Também receberam investimentos do banco JP Morgan, do fundo sueco Kinnevik e do Grupo Cisneros. “Começamos já com o capital necessário para escalar”, conta Ricardo.

 

"Linha Romântica" é uma das famílias com o design assinado pela Mobly, uma das apostas para 2016.

“Linha Romântica” é uma das famílias com o design assinado pela Mobly, uma das apostas para 2016.

Segundo ele, hoje a Mobly tem mais de 100 mil produtos no portfólio online (com a meta de dobrar este número em 2016), o site recebe seis milhões de visitantes mensais e a expectativa é de ampliar as vendas em 70% em 2015 na comparação com 2014. A meta para o ano que vem é duplicar este volume de negócios. “Estamos ganhando mercado e nos estabilizando, muito próximos do break-even”, diz Ricardo. Ele acredita que, já no primeiro trimestre do ano que vem, a Mobly será capaz de se financiar com as próprias receitas.

COMO CONVENCER FORNECEDORES DE UM MERCADO QUE NÃO EXISTIA

O caminho para esse estágio não foi simples, garantem os sócios. No começo foi uma suadeira atrair fornecedores, afinal, se o mercado não acreditava que era possível vender sofá on-line, as fabricantes de móveis menos ainda. Com o tempo, as empresas — localizadas principalmente no Sul do Brasil — começaram a ampliar suas vendas com a ajuda da Mobly. O comércio online as levava para bem mais longe do que a estrutura própria de distribuição poderia alcançar. “Hoje temos 800 fornecedores. Percebemos que as coisas estavam mudando quando, em vez de a gente correr atrás dos fornecedores, eles é que passaram nos procurar”, conta Ricardo.

Tomar conta da complexa logística exige cuidado. Como as vendas ficam mais concentradas na região Sudeste, a empresa investiu em um centro de distribuição em Jundiaí, que nasceu com 10 mil metros quadrados, mas a esta altura já dobrou de tamanho. Em 2013 surgiu ainda a Mobly Log, o braço de transporte do e-commerce. “Começamos com entregas em bairros de São Paulo e expandimos aos poucos. Hoje trabalhamos nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro”, diz o diretor de marketing.

A Mobly também se tornou uma empresa de proporções consideráveis em relação ao capital humano. Atualmente o time soma 550 funcionários. “Um startup não tem os mesmos atrativos de uma grande companhia, por isso é importante procurar pessoas com o perfil certo, que gostem de aprender e de trabalhar em uma empresa mais horizontal. Aqui oferecemos o sonho e engajamos as pessoas”, afirma Ricardo. Ele aponta que, lá dentro, não há ideias que não possam ser ouvidas. “Essa filosofia faz os projetos fluírem melhor e mais rápido.”

TECNOLOGIA PARA DEMOCRATIZAR A DECORAÇÃO

É nessa toada que a Mobly planeja seus próximos passos. Com o break-even no horizonte, a meta é manter o ritmo de crescimento. Em seus quatro anos de história, a empresa já descobriu alguns pontos-chave da venda de móveis na internet. “O consumidor não vê o produto ao vivo antes de comprar, então é importante oferecer o máximo possível de informação”, diz Ricardo. Para ele, expor detalhes dos produtos e oferecer as avaliações dos clientes que já compraram são ferramentas essenciais. Mas é claro que a Mobly pretende oferecer mais do que o fundamental:

“Queremos melhorar a experiência no mundo virtual para que ele seja mais aconchegante do que uma loja física”

Desde junho de 2015 a empresa oferece um aplicativo com simulação 3D. A ferramenta permite ao cliente tirar uma foto do cômodo que pretende decorar e ver como ficariam os móveis da loja online no espaço. Há ainda o serviço de consultoria sobre a decoração, em que um profissional faz o projeto a um custo bem mais baixo do que normalmente é encontrado no mercado. “Queremos democratizar a decoração”, diz Ricardo.

Uma das funcionalidades é o projeto de decoração feito online, por consultores da Mobly.

Uma das funcionalidades oferecidas é o projeto de decoração 100% online, chamado de Mobly Decora, que custa a partir de 250 reais.

A Mobly também passou a oferecer linhas próprias de produtos em 2013. Móveis com a assinatura da empresa produzidos por diversas fabricantes. Este ano a companhia deu um passo a mais e lançou a primeira solução desenvolvida 100% internamente, o colchão Guldi, de mola ensacada. “Nosso plano foi oferecer um produto com qualidade e preço acessível. O resultado foi um bom volume de vendas já desde a primeira semana”, conta Ricardo.

O plano para o ano que vem é seguir trabalhando em produtos exclusivos, tocando todo o projeto de desenvolvimento. A empresa não diz qual será a próxima novidade, mas deixa claro que os produtos próprios são parte da estratégia de oferecer soluções completas para a casa. “Estamos fortalecendo nossa operação aqui para que possamos internacionalizar”, afirma Ricardo. A Mobly, porém, não diz quando pretende chegar a outros países, mas o plano é avançar nos vizinhos da América Latina, levando junto a cadeia de fornecedores e a filosofia de oferecer o melhor atendimento possível.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Mobly
  • O que faz: E-commerce de móveis e objetos de decoração
  • Sócio(s): Victor Noda, Marcelo Marques e Mário Fernandes
  • Funcionários: 550
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2011
  • Investimento inicial: NI
  • Faturamento: NI
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