Conheça a Salvus e saiba como ela está usando Internet das Coisas para impactar o mercado de Saúde no Brasil – e salvar vidas

Dani Rosolen - 9 set 2020
Maristone Gomes, CEO e fundador da healthtech Salvus.
Dani Rosolen - 9 set 2020
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O aumento de casos de doenças respiratórias já era esperado para 2020, mesmo antes da Covid-19.

Uma dessas doenças atende pela sigla DPOC: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Em 2020, o número de mortes por DPOC deve superar os óbitos por diabetes.

“Mais de 7 milhões de brasileiros têm DPOC”, diz Maristone Gomes, CEO da startup recifense Salvus. “Porém, só 1,6 milhão recebem diagnóstico, e como é uma doença negligenciada, apenas 1 milhão realizam o tratamento.”

Baseada no Recife, a Salvus aplica Internet das Coisas (IoT) para melhorar a qualidade de vida de pacientes com problemas respiratórios como esse. 

Com a pandemia, a demanda pelos serviços cresceu 80%. Duas soluções da empresa dão suporte ao tratamento de problemas respiratórios relacionados à Covid-19.

O ATAS O2 realiza a vigilância clínica e monitora o consumo e estoque do oxigênio medicinal de forma remota. O Salvus Home Care é um sistema para gestão integrada do fluxo de trabalho do atendimento domiciliar.

Há ainda terceira solução, lançada durante a pandemia: um aplicativo que vem ajudando empresas a monitorar a saúde dos funcionários na reabertura dos escritórios.

A VIDA FAMILIAR DESPERTOU O CUIDADO COM A SAÚDE E O INTERESSE PELO SETOR

Antes da Salvus, Maristone já tocava uma consultoria de TI com o amigo Caio Cesar. Ambos são da área de tecnologia e, em 2010, tinham tentado empreender no mercado de saúde com outro negócio, um CRM que funcionava via SMS para reduzir abstenções em consultas e exames. Aquela ideia, porém, não avançou.

Daí, Maristone se casou, teve uma filha… E por fim a sua avó e a avó da sua esposa foram morar com a família. Essa dinâmica fez com que a ideia de um negócio ligado ao tema voltasse ao radar.

“As mulheres cuidam mais da saúde… Com duas mulheres em casa e ainda os cuidados com as avós, passei a ficar mais atento à minha própria saúde — e aos problemas desse setor”

Pesquisando, Maristone foi conhecendo o cenário — e os gargalos — da gestão à distância de pacientes. E de gestão remota (de dados) ele já entendia, por conta da sua consultoria de TI.

COMO CRIAR UM CILINDRO DE OXIGÊNIO INTELIGENTE, CONECTADO À INTERNET

Ele convenceu Caio, o sócio e amigo, a embarcar no novo projeto. A dupla identificou falhas na gestão do consumo e do estoque do oxigênio medicinal — tanto no atendimento domiciliar como nos leitos dos hospitais.

Tiveram, então, a ideia de construir um dispositivo para conectar o cilindro ou tubo à internet — e assim monitorar o consumo e o estoque do oxigênio medicinal em tempo real, utilizando IoT. 

A solução foi batizada de ATAS O2. Os dados coletados pelo aparelho são enviados para a nuvem e processados num relatório que informa, por exemplo, o tempo exato que falta para o término daquela carga de oxigênio.

Uma equipe interna de especialistas da área de saúde realiza uma auditoria clínica para entender se o paciente está tomando a dose indicada e se há desperdício (a economia de oxigênio com o uso do ATAS O2 pode chegar a 35%, segundo Maristone).

VIABILIZAR O HARDWARE FOI DIFÍCIL E SUFOCOU AS FINANÇAS DA EMPRESA

Os empreendedores investiram 50 mil reais no projeto do ATAS O2 — e logo viram que era pouco. Em 2018, aportaram mais 100 mil reais. 

“No início, não sabíamos quanto de dinheiro precisaríamos para criar a solução. Passamos por processo de ‘asfixia financeira’ — o que acabou aumentando tempo de desenvolvimento da tecnologia”

Parte do socorro para que a Salvus “respirasse” e criasse o protótipo do hardware chegou com uma aceleração no Startup Brasil, em 2017. 

Outro empurrão veio do Porto Digital, que já havia incubado a startup e ajudou a produzir o equipamento em escala.

A NOVA SÓCIA CONVIVEU DE PERTO COM A DOENÇA PULMONAR CRÔNICA

Quem também auxiliou a dupla na captação de recursos foi Rayanne Santana, hoje head de fundraising da Salvus. Maristone conta como ele e Caio conheceram a nova sócia:

“A Rayanne já queria trabalhar com negócio de impacto — e quando conheceu a proposta da Salvus, ela literalmente chorou. A tia dela sofria de DPOC, se tratava em casa e era abastecida pelo SUS com oxigênio medicinal”

Segundo Maristone, em diversas ocasiões a família de Rayanne precisou sair às pressas para comprar oxigênio ou levar a tia a um ambulatório. Até que, uma vez, o socorro chegou tarde demais, e a tia morreu.

Hoje, diz o empreendedor, o ATAS O2 ajuda a evitar esse desfecho. A solução é usada em 60 leitos hospitalares do Brasil, entre eles do Hospital Albert Einstein, Interne Soluções em Saúde, Grupo Cene e Saúde Residência. A startup está finalizando o processo de produção em massa e as instituições de saúde que atualmente usam o sistema pagam pelo licenciamento do software e pelo aluguel dos dispositivos.

UMA PLATAFORMA FACILITA A VIDA DOS PROFISSIONAIS DE HOME CARE

Em paralelo, os empreendedores estudavam outras formas de monetizar a startup. Resolveram criar um software que automatizasse a gestão do atendimento domiciliar.

O sistema Salvus Home Care usa IoT para integrar a gestão do fluxo de trabalho e o monitoramento da operação em domicílio, permitindo às instituições de saúde controlar as visitas dos enfermeiros e especialistas, protocolos clínicos e a evolução dos pacientes.

“Quando equipes de atendimento domiciliar fazem anotações em papel, esses documentos podem demorar até 15 dias para chegar na base — e só depois haverá uma auditoria clínica e financeira para possíveis ajustes. Hoje, com nosso sistema, esse tempo foi reduzido a um minuto”

Em modelo de assinatura, a solução já é usada em 2 400 leitos de home care no Brasil por mais de 5 600 profissionais.

UM APLICATIVO AJUDA A GARANTIR A REABERTURA SEGURA DOS ESCRITÓRIOS

Em março, com a pandemia, os sócios entenderam que precisavam mitigar o risco de que profissionais de home care (que circulam por ruas, hospitais e ambulâncias) infectassem com o coronavírus os pacientes em tratamento domiciliar.

Para isso, criaram o A Salvus, um aplicativo que sistematiza o monitoramento em tempo real desse profissional por meio de um check-list diário.

Funciona assim: o usuário responde a uma série de perguntas relacionadas ao aspecto clínico (se apresenta febre, tosse, cansaço etc.) e operacional (se a empresa onde trabalha adota medidas de distanciamento e ventilação, por exemplo).

“A gente sempre altera a ordem das perguntas para checar se o usuário está respondendo com atenção. E as perguntas sobre hábitos sanitários ajudam a reforçar entre os colaboradores a necessidade de se adotar essas medidas no combate ao vírus”

O gestor acessa as informações pelo dashboard do A Salvus, que cruza dados e informa se há risco de uma infecção viral na empresa e quais as providências necessárias. 

Pensada para equipes de home care, a plataforma acabou adotada por firmas de setores diversos, sem ligação com a saúde. 

Hoje, diz Maristone, 500 empresas (de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e São Paulo) pagam para usar o app e reduzir os riscos de contágio na reabertura dos escritórios.

A PANDEMIA DEVE ACELERAR DE VEZ A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DA SAÚDE

Maristone acredita que a pandemia serviu para disseminar o uso de tecnologias 4.0 em toda a cadeia. 

A tendência, diz, é que a transformação digital da saúde se acelere ainda mais, permitindo que todos os processos de saúde sejam conectados. 

“O símbolo deste momento é a telemedicina, que tinha uso limitado por barreiras regulamentares — retiradas para garantir o mínimo da atenção de saúde primária e emergencial à população durante a crise”

Com foco nesse movimento, a Salvus trabalha para finalizar a implantação de uma fábrica de dispositivos médicos e homologar os produtos junto ao Inmetro e à Anvisa.

Entre os dispositivos, a Salvus projeta um único wearable para monitorar a oximetria (nível de oxigênio no sangue), frequência respiratória e temperatura. O device está em validação científica. 

“A ideia é que esse aparelho forneça um monitoramento barato, com rigor médico aprovado pela Anvisa e permita que os profissionais acompanhem seus pacientes à distância.”

APORTES TRAZEM FÔLEGO FINANCEIRO E ALAVANCAM A EXPANSÃO

A criação desse novo wearable foi financiada graças a um prêmio recebido da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. “Vamos executar um piloto, no fim de setembro, em pacientes pós-Covid de comunidades de maior vulnerabilidade social”, diz Maristone.

Ao longo de sua jornada, a startup recebeu 2,5 milhões de reais de subvenções econômicas de entidades como Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação (EMBRAPII) e prêmios como o BNDES Pilotos IoT. O valor foi usado em bolsas de pesquisa e no desenvolvimento dos produtos.

Neste ano, a Salvus contou ainda com um aporte de 1,5 milhão de reais do Eretz.bio (laboratório de startups do Hospital Albert Einstein), da ACE Startups e dos fundos MOR Capital e PPA Capital. 

O montante deve ajudar a startup a ampliar sua atuação — está prevista, por exemplo, a abertura de um escritório em São Paulo.

“A ideia é aumentar nossa participação no mercado”, diz Maristone. “A longo prazo, queremos contribuir para a redução significativa dos desperdícios e erros médicos, ajudando as equipes de saúde a serem mais eficientes na condução do seu trabalho.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Salvus
  • O que faz: Soluções tecnológicas para pacientes com problemas respiratórios
  • Sócio(s): Caio Cesar, Maristone Gomes e Rayanne Santana
  • Funcionários: 26
  • Sede: Pernambuco
  • Início das atividades: 2016
  • Investimento inicial: R$ 150 mil dos próprios sócios
  • Faturamento: Não informado
  • Contato: [email protected]
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