As negociações diplomáticas na 26º Conferência do Clima, em Glasgow, na Escócia, começam oficialmente nesta segunda-feira (01/11). Ao longo das duas próximas semanas, países representados por cerca de 25 mil membros de delegações discutem o que estão dispostos a fazer para honrar o Acordo de Paris, de 2015.
Um dia antes, Patricia Espinosa, secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, UNFCCC, que organiza as COPs, lembrou que falta muito para chegar lá:
“Estamos no caminho para um aumento da temperatura global de 2,7 °C, enquanto deveríamos estar rumando para a meta de 1,5 °C. Claramente, estamos em uma emergência climática. Claramente, precisamos resolver isso. Claramente, precisamos apoiar os mais vulneráveis. Para fazer isso com sucesso, uma maior ambição é agora crítica”.
Ironicamente, o início da reunião foi marcado por impactos relacionados ao clima – de pequenas proporções, mas que demonstraram como o desequilíbrio climático tem potencial de causar estragos. Uma chuva forte bagunçou a logística e atrapalhou a chegada de diversos participantes ao local. Árvores caídas sobre os trilhos impediram a passagem de trens que transportavam membros de delegações que partiam de Londres.
A pandemia em curso também serve como lembrete. Como descrito pela respeitada publicação médica The Lancet, a mudança climática será a “narrativa definidora da saúde humana” nos próximos anos – uma crise definida pela fome generalizada, doenças respiratórias, desastres naturais e surtos de doenças infecciosas que podem ser piores que a covid-19.
Em seu discurso na plenária, Antônio Guterres, secretário-geral da Nações Unidas (ONU), escolheu um tom duro, lembrando que os últimos seis anos desde a assinatura do Acordo de Paris foram os mais quentes já registrados:
“O nosso vício em combustíveis fósseis está levando a humanidade ao limite. Ou isso nos para, ou paramos com isso”
Nos dois primeiros dias da COP26, líderes mundiais participam da discussão a convite do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson. Entre uma reunião e outra, eles discursam no plenário e costumam, carregados de palavras de impacto, apresentar um plano mais ousado para evitar o lançamento de gases de efeito estufa na atmosfera, que estão provocando as mudanças aceleradas do clima.
Na nota divulgada pela UNFCCC que trazia a ordem das falas, o Brasil não aparecia entre os 117 listados. Nas COPs passadas, a fala de líderes brasileiros era aguardada com grande expectativa. Bolsonaro não foi a Glasgow e, em vez disso, a mensagem chegou num video gravado pelo ministro de Meio Ambiente, Joaquim Leite, exibido no pavilhão reservado ao país na conferência.
Leite anunciou um ajuste na sua Contribuição Nacionalmente Determinada, NDC, na sigla inglês, prometendo que o Brasil vai cortar 50% dos gases de efeito estufa até 2030 em relação aos níveis de 2005. A meta prévia de redução era de 43%. Na prática, no entanto, esse objetivo “empata” com o que o Brasil já tinha proposto em 2015, na COP que criou o Acordo de Paris.
A NDC é uma peça fundamental na engrenagem para frear o avanço das mudanças climáticas: é nela que cada país diz o quanto vai reduzir suas emissões. O conceito passou a existir na COP de Paris, como métrica para que todas as nações colaborem no esforço global.
A NDC original para o Brasil foi revisada em 2020, sob o governo Bolsonaro, e a base de cálculo que serve como referência para estipular o corte foi alterada. Isso permitiu que o país chegasse em 2030 emitindo 400 milhões de toneladas de CO2 a mais do que o estipulado anteriormente, uma manobra que foi chamada de “pedalada de carbono”.
As organizações que acompanham a discussão reagiram ao números apresentados por Leite. O Observatório do Clima, que reúne 70 organizações entre ONGs, institutos de pesquisa e movimentos sociais, comentou:
“Se quisesse apresentar um compromisso compatível com o Acordo de Paris, a meta deveria ser de pelo menos 80% de corte. Enquanto líderes mundiais aproveitam a COP26 para aumentar a ambição de suas metas e tentar manter vivo o objetivo de 1,5 ºC, Jair Bolsonaro no máximo regride a 2015”.
O desmatamento é a principal fonte das emissões brasileiras, responsável por 46% do total em 2020. Agropecuária (27%), Energia (18%), Processos Industriais (5%) e Resíduos (4%) vêm em seguida, segundo dados do SEEG, Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima.
Um dos discursos mais aguardados do dia era de Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. No seu primeiro dia como mandatário, Biden colocou seu país de volta ao Acordo de Paris, do qual Donald Trump, após ser eleito em 2016, havia se retirado.
Em um evento paralelo, Biden chegou a pedir desculpas pelas ações desastrosas de Trump na área ambiental e afirmou que seu país irá liderar pelo bom exemplo.
Os EUA, segundo maior poluidor atrás da China, se comprometeram a reduzir as emissões de CO2 de 50% a 52% até 2030 em comparação com 2005. O país diz também que vai atingir neutralidade de emissões em 2050.
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