De “boas intenções”, o empreendedorismo social está cheio… Conheça a escola online que ajuda a viabilizar negócios de impacto

Fernanda Lagoeiro - 22 ago 2023
Alexandre Amorim (à esq.) e Alex Barbosa, os cofundadores da Ago Social (foto: Gus Benke).
Fernanda Lagoeiro - 22 ago 2023
COMPARTILHE

Criar um modelo de negócio, colocar em prática, monetizar… Empreender nunca é fácil, mas esses desafios podem ser ainda mais complexos quando, além do lucro, a sua empresa visa ainda transformar o mundo em um lugar melhor.

Alexandre Amorim já vinha de uma experiência com negócios sociais. E sentiu na pele as dificuldades e a solidão de quem quer empreender na área. Ele afirma:

Milhões de pessoas ficam indignadas com problemas sociais e ambientais, mas não sabem como começar, não têm conhecimento para isso e se veem sozinhas, sem recursos

Decidido a facilitar o caminho a outros empreendedores socioambientais, Alexandre se uniu ao sócio Alex Barbosa e, juntos, criaram a Ago Social

Fundada em 2021, a escola oferece formação, mentoria, investimento financeiro e acompanhamento profissional para empreendedores e negócios de impacto

EM SUA PRIMEIRA EMPREITADA, ALEXANDRE FUNDOU UM NEGÓCIO PARA IMPULSIONAR A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 

Natural de Curitiba, Alexandre tem 34 anos. Sua trajetória empreendedora começou há 15, ainda na faculdade. 

Inspirado pela irmã, portadora de Síndrome de Down e autismo, ele teve a ideia de criar um negócio para impulsionar a inclusão e a melhoria em instituições de ensino e atendimento a pessoas com deficiência. 

Assim, com dois amigos — Luiz Hamilton Ribas e Diego Tutumi Moreira —, Alexandre fundou a ASID Brasil (Ação Social para Igualdade das Diferenças). Ele relembra as dificuldades da época:

“Os dois primeiros anos foram de muito perrengue. Eu lavava louça em bares e restaurantes para arcar com os custos da empresa, e não tinha conhecimento, conexões, contatos… Nada

Para se qualificar como empreendedor social, Alexandre buscou encorpar o currículo. Foi atrás de especializações em negócios de impacto pelas universidades de Harvard e Stanford, nos Estados Unidos.

O esforço e a dedicação deram frutos. Ao longo dos anos, Alexandre conquistou reconhecimento com a ASID em premiações da Folha de S. Paulo e da revista Veja, além de uma nomeação na Forbes Under 30.

O ENCONTRO ENTRE OS DOIS SÓCIOS SE DEU DURANTE UMA PÓS-GRADUAÇÃO

Em 2016, quando dava aulas na pós-graduação de Empreendedorismo em Negócios Sociais da FAE Business School, em Curitiba, Alexandre conheceu seu futuro sócio.

Alex Barbosa nasceu em Carazinho, interior do Rio Grande do Sul. Foi criado na zona rural por uma mãe jovem, com poucos recursos financeiros. Conseguiu bolsa de estudo e desbravou uma carreira como empreendedor e vendedor do setor moveleiro — até decidir se dedicar unicamente ao propósito de atuar com negócios de impacto. 

Desse encontro entre os dois nasceu a Ago Social. Alexandre faz questão de dizer que não se trata de uma aceleradora:

Não existia antes nenhuma escola com a quantidade de alunos que nós alcançamos, e nem com a projeção ampla que a gente gostaria de ter na área social. Havia aceleradoras, mas elas têm outro formato e selecionam poucos empreendedores para ajudar. Escola é diferente

Primeiro, os dois sócios tentaram criar o projeto por meio de iniciativas acadêmicas, mas encontraram muita burocracia no caminho. Esses entraves acabaram ajudando a lapidar o conceito e impulsionaram a fundação da escola, com um método mais ágil e prático.

A dupla contou com o apoio de Araceli Silveira, que Alex conhece há mais de 20 anos. Ela participou da idealização da Ago e hoje permanece ligada ao projeto, atuando como consultora.

A EMPRESA SE DESDOBRA EM DUAS FRENTES E MOBILIZA CAPITAL PARA INVESTIR EM NEGÓCIOS DE ALUNOS

A Ago oferece conhecimento, conexão e capital para ajudar empreendedores socioambientais a pôr seus projetos em prática e transformar o propósito em um negócio financeiramente sustentável. 

Hoje, o grosso do faturamento vem da frente B2B, que representa 65% do negócio. A Ago cria projetos de capacitação, mentoria e acompanhamento para companhias — como clientes, Alexandre cita a Itaipu Binacional e o Instituto InterCement.

Na outra ponta, no B2C, a Ago Social tem hoje cerca de 2 mil alunos, que encontram uma grade curricular formada por mais de 30 programas, com treinamentos que vão desde a criação do modelo de negócio, até captação de recursos, gestão financeira, marketing e mentalidade empreendedora. Há cursos de apenas seis horas (89 reais) até os longos, com carga horária de mais de 100 horas (999 reais). 

Quem ministra o conteúdo são professores e especialistas, incluindo profissionais de destaque, como Carola Matarazzo (diretora executiva do Movimento Bem Maior), Lina Useche (CEO da Aliança Empreendedora) e Gustavo Fuga (leia a nossa entrevista com o fundador do curso de idiomas 4YOU2, uma escola de inglês no modelo low cost).

A Ago também mobiliza capital de empresas (investimento filantrópico ou venture capital) para turbinar os negócios dos alunos. Segundo Alexandre, até agora foram mobilizados 1,9 milhão de reais, de investidores como BTG Pactual, B3 e Fundação FEAC.

COMO A AGO VEM AJUDANDO SEUS ALUNOS A FECHAR MAIS VENDAS E POTENCIALIZAR SEU IMPACTO

Entre as pequenas empresas impulsionadas pelos conteúdos da Ago Social, Alexandre cita a Atairu, fundada por Fabrício Cruz na cidade baiana de Ituberá (a 170 quilômetros de Salvador).

Após mentoria da Ago em 2022, a Atairu (ainda segundo Alexandre) teria conseguido fechar mais vendas e implementar sua tecnologia de gestão social em 14 municípios da região Baixo Sul da Bahia – com perspectiva de atingir outras regiões do estado e expandir para o restante do país.

Não existe mágica para acelerar um negócio, enfatiza Alexandre. Daí a importância de se manter constantemente atualizado: 

Hoje em dia as pessoas querem respostas rápidas, impacto rápido, conhecimento rápido, e não é bem assim. Acredito em aprendizado contínuo. Os projetos que estão com a gente e passaram por essa linha de aprendizado contínuo têm resultados melhores do que as que procuraram soluções rápidas

Outro case é o da Olha o Peixe, que incentiva financeiramente pescadores, famílias de pescadores e a economia da pesca pagando valores acima do mercado – e já foi pauta aqui no Draft. Com apoio da Ago, diz Alexandre, a empresa do litoral paranaense conseguiu aumentar em 500% o número de famílias atendidas.

Ele menciona ainda a Cooprima, cooperativa de agricultores familiares de Primavera (município do Pará), que atendia 34 famílias e hoje atende 120. “São negócios avaliados pela Ago que cresceram em impacto e números de atendimento”, diz Alexandre.

COM DISTRIBUIÇÃO GRATUITA, A REVISTA DA AGO QUER AMPLIFICAR O DEBATE SOBRE NEGÓCIOS SOCIAIS E TERCEIRO SETOR

Para repercutir histórias de empreendedorismo social e amplificar conteúdos sobre ESG, a Ago lançou recentemente a sua própria revista. 

Batizada de AGORA, a publicação começou com uma versão piloto, que circulou em abril. O primeiro número “oficial” foi lançado de fato em julho. A proposta é ser uma revista trimestral, com distribuição gratuita.

Alexandre explica:

“A ideia veio do Alex, que já atuou em editora… Sentimos muita falta de uma revista feita para contar histórias, com uma visão plural do setor. É uma revista ampla, feita para inspirar e trazer conteúdo relevante

Aquela primeira edição trouxe 52 páginas e, na capa, 12 mulheres ligadas ao empreendedorismo social e ao terceiro setor. Entre elas, Maria Célia Porto, arquiteta, aluna da Ago e empreendedora da Dona Casa, que “atua com projetos sociais em reformas de residências em condição de insalubridade”. 

(Quem folhear aquela edição de AGORA vai encontrar outros nomes que já apareceram aqui no Draft. É o caso de Priscilla Veras, da Muda Meu Mundo, que capacita agricultores do Ceará, e Anamaria Schindler, diretora da Ashoka.) 

A META AGORA É MAIS DO QUE DOBRAR O NÚMERO DE ALUNOS ATÉ O FIM DO ANO

Com sede em Curitiba e um escritório em São Paulo, a Ago Social tem hoje 25 colaboradores (alguns alocados de forma remota). Metade já atuava antes em organizações e institutos sociais.

Alexandre conta que, no início, centralizava todas as tarefas, e encontrou ruídos na comunicação. 

“Nós queríamos falar para todo mundo, com todo mundo e ter um público mais amplo possível, porque a área social é feita de subsetores, de empreendedores de nichos diferentes, de tipos diferentes, de tamanhos diferentes, classes sociais diferentes

O time, diz ele, ajudou a empresa a falar uma linguagem mais plural, capaz de abranger todo o público prospectado – e escolher também o melhor formato de curso para transmitir conhecimento de maneira mais assertiva.

A Ago agora tem o baita desafio de expandir. A meta, no curto prazo, é mais do que dobrar o número de alunos nos próximos meses e alcançar 5 mil até o fim de 2023. Para isso, a empresa deu início à contratação de profissionais de gestão mais experientes, para estruturar áreas e processos. 

“É preciso equilibrar sonhos e execução”, diz Alexandre. “Onde existir um problema ambiental ou social, que tenha um aluno da Ago resolvendo.” 

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Ago Social
  • O que faz: Escola para empreendedores socioambientais que oferece treinamentos, mentoria, capacitação, acompanhamento profissional e investimento
  • Sócio(s): Alexandre Amorim e Alex Barbosa
  • Funcionários: 25
  • Sede: Curitiba
  • Início das atividades: 2021
  • Contato: [email protected]
COMPARTILHE

Confira Também: