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Ela fundou uma startup na Bahia para fortalecer os catadores e a coleta seletiva – inclusive durante o Carnaval

Vanessa Fajardo - 3 fev 2025
Saville Alves, fundadora da SOLOS (foto: Tayse Argôlo).
Vanessa Fajardo - 3 fev 2025
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A autoconfiança cultivada ainda na infância, com apoio de uma escola de educação básica montessoriana, aliada à experiência de fundar uma empresa júnior na universidade, foram pilares na construção da história da SOLOS, mesmo antes de sua fundadora Saville Alves, 32, se dar conta dessa importância. 

Criada em 2018 em Salvador, a SOLOS oferece soluções de gestão de resíduos e opera em oito estados: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. A startup constrói programas que facilitam o descarte de embalagens recicláveis e de logística reversa, apoiando o trabalho de cooperativas e de catadores.

Os clientes são empresas da iniciativa privada contratadas para prestar serviço às Prefeituras e demais instâncias de governo. No Carnaval, por exemplo, período em que a SOLOS coleta o maior volume de resíduos, os contratos são feitos com fabricantes de bebidas, como a Ambev, que precisam assegurar o descarte correto dos produtos comercializados durante a festa. 

NO CARNAVAL DE SALVADOR, A SOLOS MONTA CENTRAIS DE RECICLAGEM NO PERCURSO POR ONDE PASSAM OS FOLIÕES

Há quatro anos, a SOLOS faz parte do Carnaval de rua em Salvador, e nos últimos dois também esteve em Recife e São Paulo, garantindo que as latinhas de cerveja e refrigerante, entre outros itens recicláveis, chegassem às cooperativas, mantendo as cidades limpas e respeitando o meio ambiente. 

Durante o Carnaval, a SOLOS monta centrais de reciclagem nos percursos por onde passam os foliões. A coleta é feita por meio de catadores de duas formas: há os profissionais que são contratados temporariamente e os que recolhem os recicláveis e depois vendem os itens para a SOLOS. Saville afirma:

“Compramos este material a um preço justo que é tabelado em nossas centrais e segue o mesmo valor em todos os estados. Atuamos em conjunto com as prefeituras para que elas possam conseguir barrar a entrada de intermediários que vão comprar o material do catador por um preço menor”

Até o ano passado, a empresa pagava 6 reais pelo quilo do alumínio, e 1 real pelo de plástico. O material adquirido pela SOLOS é repassado às cooperativas de reciclagem parceiras que dão sequência ao processo de destinação correta dos resíduos.  

Em 2020, a SOLOS registrou o recorde de coleta na Bahia: 160 toneladas de itens recicláveis pelos circuitos mais disputados por foliões. A intenção da empresa é repetir esta marca no Carnaval de 2025.

DO CEARÁ AO ABC PAULISTA, A STARTUP APOIA GOVERNOS E EMPRESAS NO INCENTIVO À RECICLAGEM

A atuação da empresa não se resume ao Carnaval – e tampouco a Salvador.

Há quatro anos, por exemplo, a SOLOS é responsável por uma iniciativa promovida junto à Heineken para coletar garrafas de vidro em Caraíva, importante destino turístico no litoral sul da Bahia. Saville conta:

“Montamos toda a operação logística reversa de vidro em paraísos onde não existem coleta seletiva. Coletamos não só garrafas de Heineken, mas qualquer tipo de embalagem de vidro. Começamos em Caraíva, um vilarejo no extremo sul da Bahia, e agora já estamos em sete distritos da região”

Em outro projeto, em Fortaleza, a SOLOS desenvolveu um sistema de coleta com apoio de triciclos elétricos, que realizam o “delivery de reciclagem”, com operação porta a porta, por meio de agendamento online. A iniciativa registra 438 toneladas de resíduos reciclados em um ano na capital cearense, com 1 130 usuários participantes e foi validada, segundo a empreendedora, como política pública pela Prefeitura de Fortaleza.

Saville cita ainda uma iniciativa realizada pela SOLOS em São Paulo em parceria com a Braskem, junto às comunidades do ABC Paulista no entorno do polo petroquímico da companhia. Nela, a população troca resíduos plásticos por moedas sociais que podem ser convertidas em benefícios, como kits de alimentação, higiene e limpeza e vales de desconto em estabelecimentos locais. A ação contabiliza 82 toneladas de resíduos reciclados e 600 mil reais em benefícios para a comunidade local. 

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A SOLOS hoje tem uma equipe fixa de 14 funcionários, 27 cooperativas de reciclagem parceiras, uma rede de 7 mil catadores autônomos, 1 500 toneladas de resíduos reciclados e 4,3 milhões em renda gerada para as cooperativas e catadores, 

Para chegar ao estágio atual, porém, Saville precisou reformular o negócio. 

Em 2017, a SOLOS foi contemplada em um edital chamado Triggers, uma realização da Visionários, com uma etapa acelerada pela Quintessa, que possibilitou que Saville e sua sócia na época, Gabriela Tiemy, que depois deixou a empresa, contassem com a mentoria de diretores de multinacionais, como Johnson & Johnson e YouTube. 

“Éramos a única equipe de fora de São Paulo, todos os outros negócios embrionários eram de lá. Isso nos chamou muito atenção. Hoje todos os programas de que eu participo têm a preocupação de ter representantes do Norte, do Nordeste, mas na época não era um tema tão pulsante, tanto que tivemos de nos mudar por um tempo para São Paulo”

A princípio, a SOLOS também oferecia soluções para lixo orgânico, mas depois de entender que ele exigia outro tipo de tecnologia, Saville redesenhou os objetivos estratégicos, focou nos recicláveis e em 2020 fez suas primeiras grandes operações. 

A EMPREENDEDORA QUER INFLUENCIAR POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MELHORAR A VIDA DOS CATADORES

Para este ano, a expectativa de Saville é atuar de forma mais próxima junto aos tomadores de decisões para influenciar a criação de políticas públicas. 

Segundo a empreendedora, é essencial que os índices de reciclagem no Brasil aumentem de forma justa e inclusiva, melhorando a cadeia de toda a indústria. Só 8% dos resíduos foram reciclados no Brasil no ano passado, segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema). 

A SOLOS almeja melhorar as condições de trabalho e renda de catadores. Saville diz que os catadores vendem para comércios sucateiros e de ferro velho informais, e que é preciso sair dessa clandestinidade. 

“Mas a gente precisa entender que as indústrias grandonas estão comprando desses  negócios informais, então precisamos trabalhar junto com essas grandes companhias com essas grandes indústrias para que elas melhorem os processos de compliance e de diligência para conseguir chegar lá na ponta”

Para mudar essa realidade, a SOLOS pretende atuar na co-construção de programas municipais de coleta seletiva, por meio de editais e chamamentos; na busca ativa por editais públicos de fomento à cadeia da logística reversa e/ou soluções inteligentes para a reciclagem e de fundos internacionais; e na contribuição em audiências e consultas públicas sobre economia circular, reciclagem, catadores e logística reversa.

Políticas públicas e regulamentação ditam regras que perpassam a consciência ambiental de cada um, afirma Saville:

“Na Alemanha, quase nenhum lixo vai para o aterro sanitário porque eles conseguem transformar tudo em energia, adubo, é impressionante. Mas não sei se toda a população tem consciência, o que eles têm é atitude ambiental, ou seja, se você não botar o lixo na lixeira correta toda a sua rua vai ser multada”

Por isso, os trabalhos não serão direcionados somente com o intuito de aumentar os níveis de reciclagem, mas também de subsidiar os catadores. 

“Este é um ano em que a SOLOS vai olhar muito para a incidência em políticas públicas, queremos fazer movimentos intencionais de quem está com a caneta na mão para conseguir avançar.”

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