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O que o futuro reserva para a indústria de alimentos? Esta foi a discussão do FoodTech Expo

Cláudia de Castro Lima - 24 mar 2021
A carne cultivada da startup Aleph Farms, que firmou parceria com a BRF para a produção no Brasil a partir de 2024 (foto: Divulgação/Aleph Farms)
Cláudia de Castro Lima - 24 mar 2021
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Há cinco anos, quando pouco ou nada se falava sobre carne cultivada, um executivo israelense voltou empolgado de uma viagem à Holanda. Ele havia passado três horas no laboratório do professor Mark Post. 

Diretor do Departamento de Fisiologia da Universidade de Maastricht e pioneiro na investigação sobre carne cultivada em laboratório, o professor tirou todas as dúvidas daquele sujeito interessado no produto e no processo de fabricação.

Ao retornar para Israel, o executivo em questão, Jonathan Berger, CEO da The Kitchen FoodTech Hub, começou a procurar em todas as universidades do país quem tinha a tecnologia mais avançada para uma produção do tipo. Ele estava decidido a investir no negócio.

Encontrou o professor Tom Levenberg, do Technion, o Instituto de Tecnologia de Israel, que estudava multiplicação celular com fins medicinais. A tecnologia foi adaptada – não sem um longo processo de convencimento. Assim nasceu a Aleph Farms, startup que firmou parceria este ano com a BRF para a produção de carne cultivada no país.

A história das razões desta parceria foi tema de um painel – do qual participou também Sérgio Pinto, diretor de Inovação da BRF – na segunda edição do FoodTech Expo

O evento de três dias reuniu, entre 17 e 19 de março, os grandes nomes da indústria de alimentos do país e do mundo em debates, mesas-redondas, palestras e em uma competição de startups, além de apresentar uma feira virtual da qual 76 foodtechs participaram. Empresas como BRF e Givaudan foram as patrocinadoras.

Veja os principais highlights dos três dias do evento:

-> Ciclo de palestras aborda a inovação na indústria
No primeiro dia, 15 dos mais proeminentes nomes da indústria de alimentos do país e do mundo abordaram, em velocidade de pitch, aspectos diversos sobre como a inovação vem transformando o setor. 

Foram painéis sobre a digitalização em sistemas alimentares, o cenário da inovação em locais como Cingapura, Israel e Estados Unidos, a educação do agricultor como pilar fundamental da transformação do sistema alimentar no Brasil e o papel da ciência em dietas nutritivas e sustentáveis, entre vários outros.

Demetrio Teodorov, gerente executivo de Inovação da BRF, apresentou um painel sob o tema “Inovação do Futuro no Presente: Um Case de Sucesso”. Nele, tratou dos pilares da inovação na companhia, que pretende investir 10% de sua receita em 2023 em ações da área, além de explicar como se dá o processo de inovação aberta da BRF, conduzido pelo time do BrfHub.

O executivo apresentou as duas edições anteriores do Programa de Desafios e mostrou como acontece a conexão entre as áreas internas da companhia nessa busca de parcerias com o ecossistema de inovação. 

Demetrio também expôs que, neste novo ciclo do programa, são quatro os temas prioritários: sustentabilidade, tecnologias digitais, novos produtos e processos e novos canais (quer saber quais são os 12 desafios do programa e inscrever sua startup, scale-up ou pesquisa acadêmica? Clique aqui). 

-> Competição reúne startups em 4 categorias distintas
No FoodTech Global Challenge 2021, 20 startups selecionadas entre as diversas inscritas na competição fizeram pitchs e foram avaliadas por um corpo de jurados de especialistas. 

Os temas eram quatro: 1) dietas nutritivas e sustentáveis, 2) novas tecnologias, 3) varejo, food service e food marketplace e 4) novos ingredientes.

Demetrio foi um dos jurados da última categoria, na qual se apresentaram as seguintes startups:

  • Rubian Extratos, que produz extratos vegetais ricos em bioativos, focados em segurança, eficácia e transparência
  • Amylum, focada em produção de amido resistente para ser usado como substituto nutritivo de farinha de trigo ou em produtos cárneos
  • Faba, que desenvolveu um ingrediente de fonte vegetal, proveniente do grão-de-bico, capaz de substituir as funcionalidades de um ovo 
  • Cano-ela, cuja missão é eliminar ingredientes refinados da indústria, usando como substituto substâncias da canola 
  • The Protein Brewery, que fabrica uma proteína chamada Fermotein a partir de açúcar de beterraba, batata e milho e que substitui produtos com ingredientes de proteína animal

A vencedora foi a Faba, do Rio Grande do Sul, que ganhou um ano de mentoria com a organizadora do evento, a FoodTech Hub, e uma viagem internacional para Israel, para conhecer o ecossistema de foodtech de lá – claro, quando a pandemia permitir.

-> Painel apresenta razões da parceria entre BRF e Aleph Farms
Para falar de carnes cultivadas, o painel sobre o qual tratamos no início deste texto reuniu o diretor de Inovação da BRF, Sérgio Pinto; Fabio Bagnara, diretor de P&D da BRF; Gary Brenner, VP de Desenvolvimento de Mercado e Produto na Aleph Farms, e Jonathan Berger, CEO da The Kitchen Hub.

Nele, Sérgio reforçou as razões da parceria entre a gigante de alimentos e a startup israelense e afirmou que ela atende a uma demanda crescente de alimentação da população, ao mesmo tempo em que causa muito menos impacto ambiental. “Mais do que uma companhia de proteínas, somos uma companhia de alimentos”, disse. 

Gary Brenner usou parte de seu tempo no painel para fazer uma confissão: disse que sua startup estava de olho no mercado brasileiro havia algum tempo e que, depois de conversar com todos os grandes players do mercado nacional, optou pela BRF para a parceria. “Esta é uma grande oportunidade para ambas as empresas”, disse.

-> Workshop propõe roteiro de ações sobre novos ingredientes e proteínas alternativas
No workshop de oito horas, que está disponível na íntegra aqui, mais de 20 executivos e renomados profissionais do setor de alimentos debateram sobre a importância e a urgência do desenvolvimento em larga escala de proteínas alternativas e de novos ingredientes na indústria.

Um dos participantes foi Fernando Camargo Silveira, secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Mapa. Segundo ele, o Brasil é “uma potência agropecuária, mas também uma potência ambiental”. “Temos tecnologia para fazer agricultura de baixo carbono”, afirmou.

Sérgio Pinto também participou do workshop e reafirmou a crença da companhia de que devem existir alternativas às proteínas tradicionais – e a parceria com a Aleph Farms é um exemplo de como a BRF inova nesse sentido. Mas, segundo ele, essas diversas proteínas vão coexistir. “Há espaço para todas”, disse. “E a BRF vai fomentar esse convívio.”

-> Parceira da BRF é apresentada como case de sucesso
Fernando Santana, sócio-fundador da R&S Blumos, foi escolhido para fechar o evento como um dos “Cases de Sucesso” apresentados no FoodTech Expo. Sua empresa detém um portfólio de ingredientes 100% plant based e desenvolveu uma marca B2B chamada Carnevale, composta por uma família de ingredientes para a criação de carnes 100% vegetais.

No evento, ele anunciou a inauguração de uma fábrica “bem complexa de criação de ingredientes e tecnologia limpa” e de extrusão úmida. “Ela é uma grande cozinha”, “uma união de food science com arte culinária, com cozinha”, como definiu. “Nosso grande sonho é começar a fomentar cadeias produtivas de leguminosas no Brasil.” 

Fernando disse ainda que compartilha da ideia de coexistência de proteínas de Sérgio Pinto. “Sabemos que isso começou e que está muito rápido, mas não sabemos onde vai acabar”, falou, sobre as inúmeras alternativas que a inovação traz para o universo da alimentação.

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