O aumento do interesse pelas boas práticas ambientais, sociais e de governança pode ser sentido nas buscas pelo termo ESG no Google, nas ofertas de trabalho e de cursos, na forma como a cultura das corporações está se modificando.
Pode ser visto também na maior procura das grandes empresas brasileiras pelo ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da B3, a Bolsa de Valores do Brasil. Criado em 2015, ele funciona como um indicador do desempenho de sustentabilidade empresarial, e tem como intenção promover a adoção das práticas ESG pelas empresas.
Da carteira que está em vigor em 2021, fazem parte 39 empresas, número 30% maior em comparação a dois anos atrás. Isso indica que as empresas estão mais interessadas em assumir seus compromissos de sustentabilidade como também estão mais preparadas para ter seus indicadores e metas escrutinados.
As 176 empresas que contam com as 200 ações mais líquidas da Bolsa são convidadas para se candidatar ao índice. O processo inclui o preenchimento de um questionário, em que são detalhadas as práticas e metas para diversas dimensões de sustentabilidade. “Muitas empresas veem o ISE como um objetivo. Ele tem um papel muito importante na indução e promoção dessas práticas”, diz Cesar Tarabay Sanches, superintendente de Sustentabilidade da B3.
MEIO AMBIENTE É UM DOS PILARES DE AVALIAÇÃO
O índice passou por um processo de revisão de metodologia e agora incorpora temas ESG prioritários para cada setor econômico. Depois de abrir espaço para contribuições, a B3 recebeu 1.278 sugestões. Dessas, cerca de 55% foram incorporadas às novas métricas de seleção. “Um dos objetivos era reduzir e dar mais objetividade para os questionários, no que avançamos. Além de menor, agora ele está setorizado”, diz Sanches.
Outros dois elementos principais formam o score de avaliação da empresa que deseja aderir ao índice. Um deles é a avaliação da empresa no CDP, que mede sua performance em relação ao combate às mudanças climáticas. Nesse caso, a candidata precisa ter nota igual ou superior a “C”. O terceiro ponto é uma análise de risco reputacional feita pela RepRisk.
Isso indica que as empresas que desejam acessar esse capital precisam validar seus resultados ambientais ou sociais em certificações externas, aumentando o controle sobre desempenho e metas e dando mais transparência ao processo. Além disso, desde 2017, a publicação das respostas das empresas ao questionário é pré-requisito para participação no ISE.
“Existe um aumento de procura pelo ISE. Primeiro porque a revisão foi muito bem-recebida pelo mercado. E em segundo porque há também uma tendência global de incorporação de ESG na estratégia das empresas. Isso não tem volta, é uma nova realidade. Globalmente, tendemos a ver a sustentabilidade decolando como uma nova realidade.”
Para a carteira atual, de 2021, 78 companhias se inscreveram no processo, sendo 45 na categoria “elegível” e outras 33 como “simulado”.
Quem induz boas práticas nas empresas brasileiras também faz o dever de casa. No caso da B3, a própria criação de índices que estimulem empresas a aderir a boas práticas está entre os pilares de suas atividades para ampliar sua agenda ESG.
“Temos uma estratégia de sustentabilidade muito sólida e bem-estabelecida. Contamos com 3 pilares: adoção das melhores práticas ESG do mundo; a indução e promoção dessas práticas para o mercado e o desenvolvimento de produtos e serviços, como os índices.”
Além do pioneiro ISE, a B3 oferece outros sete índices atrelados a desempenhos de sustentabilidade. “Esses índices dão oportunidade para os investidores terem opções para fazerem alocação de capital. Não existe um melhor que outro, estão lá para cumprir um papel: queremos promover as melhores práticas”, diz Sanches.
Há 40 dias, a B3 lançou o Sustainability Linked Bond (SLB), um título de renda fixa ligado à sustentabilidade que faz com que a emissora — no caso, a B3– se comprometa com metas sociais específicas. A primeira é a criação de um índice de diversidade para o mercado brasileiro e a segunda é o aumento de mulheres em cargos de liderança dentro da Bolsa.
No primeiro caso, o novo índice deve ser criado até 2024 e deve ter como objetivo mensurar a performance de empresas brasileiras na questões de diversidade. No segundo, a meta é atingir 35% de mulheres em cargos de liderança na B3 até 2026.
“Temos feito muito na parte de governança nos últimos 20 anos. Lançamos o ISE em 2005, que na época foi o quarto do mundo. Além disso, nos tornamos membro do Pacto Global, da ONU, e há dez anos nos tornamos carbono neutro”, afirma Sanches, que completa dizendo que a B3 foi eleita recentemente uma das melhores empresas do país para se trabalhar, já é carbono neutro há dez anos e passa agora a ter seu relatório anual totalmente auditado externamente.
“Queremos promover metas para a própria B3 que sejam consistentes com a nossa história. Não é algo que começamos agora.”
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