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Henrique Coelho, 26, duas startups no currículo e o sonho de revolucionar o mercado de seguros

Marília Marasciulo - 13 set 2017 Henrique Coelho já fundou duas startups bem sucedidas. Agora, se prepara para lançar a Casuall, uma insurtech que quer mudar a forma como enxergamos, e contratamos, seguros.
Henrique Coelho já fundou duas startups bem sucedidas. Agora, se prepara para lançar a Casuall, uma insurtech que quer mudar a forma como enxergamos, e contratamos, seguros.
Marília Marasciulo - 13 set 2017
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Quem olha seu histórico, diz sem medo que o catarinense Henrique Duarte Coelho nasceu para empreender. Aos 26 anos, tem em seu currículo a criação de duas startups bem sucedidas: a Pagar.me, plataforma de pagamentos online e gestão financeira, e a Confianet, certificadora de idoneidade para e-commerces. Ambas receberam investimentos de mais de um milhão de reais, e a primeira foi comprada pelo Grupo Arpex Capital, especializado em meios de pagamento e e-commerce. O que faz, então, alguém que nasceu para empreender? Continua, recomeça, não para. Henrique tem atualmente uma nova missão: quer “revolucionar o mercado de seguros” do país com a Casuall, startup que quer trazer tecnologia, agilidade e transparência para os processos das seguradoras.

A Casuall ainda não está operando (e voltaremos a ela). Mas antes vale contar mais sobre o caminho, tortuoso e inspirador, que Henrique percorreu para conseguir extravasar sua vocação de empreender. Filho de um empresário — o pai teve uma fábrica de equipamentos médicos, e atualmente tem uma de chocolates em Gramado (RS) –, Henrique nunca foi encorajado pelos pais a seguir o mesmo caminho. Pelo contrário, eles queriam que o filho seguisse um plano bem tradicional entre os jovens brasileiros: fazer faculdade e conseguir um emprego estável. Mas Henrique nunca desejou isso, sua vontade era empreender, criar algo inspirador, trabalhar com pessoas inspiradoras.

Aos 19 anos, ele conheceu pelo Twitter o empresário Flávio Augusto da Silva, fundador do Instituto Geração de Valor e da rede de escolas de inglês Wise Up e, “na maior cara de pau”, como diz, interagiu com ele. Após uma conversa por Skype, o empresário o convidou para trabalhar na Wise Up. Isso levou o jovem a abandonar a graduação em Relações Internacionais na Universidade Federal de Santa Catarina, ainda no primeiro mês, e se mudar para São Paulo. Seus pais, é claro, “piraram”, e Henrique precisou contar com o próprio trabalho para se sustentar.

O SONHO MAL COMEÇA, A REALIDADE SE APRESENTA

Então veio a primeira surpresa. “Eu fui para lá pensando que iria vender franquia, mas a verdade é que iria vender curso de inglês na rua mesmo”, lembra, rindo. Na posição de trainee júnior, ele realizava cinco reuniões por dia para tentar vender os cursos, andando de cima a baixo pela cidade até então desconhecida. Quem o vê conversando com desenvoltura tem dificuldade para acreditar que na época Henrique era introspectivo e tímido, sem a menor aptidão para vendas. “O Flávio me dizia que o esforço supera o talento, e levei isso muito a sério, decidi que poderia não ser o mais talentoso, mas seria o mais esforçado”, afirma.

Na época, ele recebia um salário mínimo mais as comissões, algo que ficava entre 1 500 e 2 mil reais por mês. Para viver em São Paulo, dividia um apartamento de três quartos com outras seis pessoas, na Vila Mariana. “Tudo que eu tinha era um colchão de ar”, conta. “Mas eu era ambicioso. Pensava que ficar em São Paulo só para pagar as contas não valeria a pena, eu precisava enxergar um plano de carreira.” E de fato ele enxergava isso dentro da Wise Up. Em apenas três meses, trabalhando tanto e passando por tanto perrengue que o faz dizer que “ficar sem dormir era simples”, foi promovido a gerente de vendas. Ele conta o que aprendeu nessa fase:

“É preciso muita resiliência. Ouvi muito ‘não’ e, em vez de duvidar do meu potencial ou do produto, pensava que cada ‘não’ era um degrau para o ‘sim'”

Henrique continuava crescendo, com a perspectiva de se tornar diretor cada vez mais real e próxima. Até que Flávio vendeu a Wise Up para o Grupo Abril e Henrique se sentiu impelido a mudar seus planos. Ele conta que nunca planejou trabalhar em uma grande empresa, e que justamente por isso que evitou fazer faculdade. Para completar, a distância de Flávio e seus colegas o fez rever suas prioridades. “Percebi que mais importante que o negócio com o qual você trabalha são as pessoas com quem você trabalha”, diz.

Henrique chegou a trabalhar um período na Wise Up já no Grupo Abril até que, aos 22 anos, num golpe de sorte, foi convidado pelo amigo Pedro Franceschi — outra pessoa que conheceu via Twitter — para criarem a Pagar.me. Pedro e Henrique Dubugras, ambos na época com cerca 16 anos, eram programadores que desejavam criar uma empresa como startup americana de pagamentos online Stripe. Mas eles precisavam de alguém com conhecimentos de administração e vendas, por isso Henrique entrou em ação. Durante uma madrugada de 2013, em um café, montaram o plano de negócios da Pagar.me. Deu tão certo que a empresa se tornou grande demais para os amigos administrarem. Para completar, os dois programadores foram fazer faculdade em Stanford, na Califórnia, e resolveram vender a Pagar.me.

UM NEGÓCIO LEVA A OUTRO

Henrique não estava nem perto de querer parar de empreender. Durante o período em que liderou a Pagar.me, percebeu que uma das maiores dificuldades que os donos de e-commerce enfrentavam era com a credibilidade de seus nomes. As pessoas tinham medo de comprar de empresas que não conheciam. Daí surgiu a ideia de criar algo que certificasse as empresas online. Surgia, assim, a Confianet, que no fim de 2014 entrou no ar para acelerar as vendas pela internet no país. A estimativa é de que o selo da Confianet, obtido após um processo de auditoria, aumente em 30% a venda de um e-commerce.

Mais uma vez, uma coisa parece ter levado à outra e a ideia de criar algo relacionado a seguros começou a surgir na cabeça do jovem. Isso porque, mesmo com o selo do Confianet, muitos usuários ainda perguntavam se, caso comprassem algo e não recebessem, a própria Confianet efetuaria um reembolso. “Pensei em criar um seguro para e-commerce, o que não foi para a frente, mas a ideia ficou comigo”, conta. “Até que percebi que deveria criar uma seguradora mesmo, o mercado de seguros é péssimo no mundo todo. É muito arcaico.”

Ao mesmo tempo, o mercado das insurtechs (startups que oferecem inovações no mercado de seguros) estava crescendo rapidamente no mundo. Segundo a consultoria McKinsey&Company, em 2013 foram investidos 324 milhões de dólares no mundo inteiro em startups do tipo. Em 2015, o número saltou para 2,6 bilhões de dólares.

No início deste ano, a Casuall ganhou forma: uma startup que tem como objetivo trazer a tecnologia para os processos das seguradoras. Henrique fala do novo negócio:

“Não somos uma seguradora usando alguns recursos tecnológicos. Somos uma empresa de tecnologia vendendo seguros”

Isso porque, na definição do próprio, o processo regulatório de seguros no país impede a inovação. “As seguradoras continuam fazendo exatamente o mesmo, só que online.” O objetivo da Casuall, que tem outras seis pessoas na equipe, é mudar a cultura das seguradoras aos poucos. “Atualmente, a cultura é propícia a fraudes, o cliente não confia nas empresas e elas não confiam no cliente”, diz ele, e prosseugue: “Queremos mostrar que o seguro é um bem social, são pessoas se unindo para ajudar as menos afortunadas.”

NÃO É FÁCIL ENTRAR EM UM MERCADO TRADICIONAL

Para isso, a Casuall vai começar vendendo um seguro bem específico, de objetos pessoais, justamente para evitar conflitos, pelo menos no início, com a ultra regulada e burocrática área de seguros de carros. Os clientes poderão cadastrar os objetos, que serão protegidos a uma mensalidade de baixo valor. Disso, uma parte será retirada para o lucro da Casuall e o restante entrará em um fundo coletivo para pagar os segurados em caso de sinistro, como se fosse uma espécie de “poupança coletiva”.

Henrique e alguns dos empreendedores residentes do Cubo no terraço do novo prédio da aceleradora.

Henrique e alguns dos empreendedores residentes do Cubo no terraço do novo prédio da aceleradora, em São Paulo.

Tudo será feito de forma transparente, os clientes saberão quanto a Casuall está lucrando e quanto dinheiro existe no fundo. Se, ao final de um ano, o fundo obtiver lucro (ou seja, se tiver sobrado dinheiro dos sinistros), ele será revertido para projetos sociais e de segurança. “A confiança tem que partir de alguém, nós vamos confiar nos nossos clientes para que eles confiem na gente também”, diz Henrique, que espera ter mais de um milhão de usuários em três anos.

O plano é ambicioso, e Henrique não para por aí. Ele diz que a Casuall quer ser um unicórnio, ou seja, uma startup avaliada em um bilhão de dólares. Atualmente, ela é uma das 50 que fazem parte do Cubo, um centro de empreendedorismo paulistano criado em 2015 que seleciona empresas com o maior potencial de inovação e as concentra em um único ambiente para acelerar e fomentar a troca de ideias.

Henrique acredita estar no caminho certo porque, como diz, executivos de alto escalão de seguradoras globais têm demonstrado interesse em trabalhar com ele na Casuall e, ao que tudo indica, em breve um deles fará parte do negócio, ocupando o posto de vice-presidente (enquanto o negócio não estiver fechado, porém, ele não pode revelar nomes). Para saber se a Casuall vai ser mesmo um unicórnio, será preciso esperar até o fim do ano, época em que deve a empresa será lançada oficialmente.

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