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Dar uma bisbilhotada nas redes sociais de um match no Tinder ou no Bumble já virou rotina para entender as preferências políticas (ou musicais etc.) da outra pessoa. Porém, em um país onde o machismo e a misoginia se traduzem em índices alarmantes de feminicídio, as mulheres podem se ver na situação absurda de ter que correr atrás do histórico criminal dos pretendentes só para garantir um encontro seguro.
Foi para suprir essa necessidade, organizando e traduzindo dados disponíveis de forma pública na internet, que nasceu a Plinq. A plataforma, segundo a fundadora Sabrine Matos, conta com mais de 32 mil usuárias (a meta é chegar a 3 milhões em 2026) e já ajudou a evitar pelo menos 200 situações arriscadas. (O número, diz a empreendedora, é na verdade bem maior, porque muitas mulheres têm receio de compartilhar seu caso.)
O nome da startup faz menção ao barulho que faz um cadeado ao ser fechado. “A gente buscava algo que remetesse à segurança e que também pudesse ser associado a uma ação, por isso falamos ‘dê um Plinq’ para se referir à pesquisa dos antecedentes criminais.”
Sabrine, 29, cresceu em Curitiba, mas hoje vive em São Paulo. Ela construiu sua carreira na área de marketing e já tinha empreendido antes com uma agência de outbound.
Foi, no entanto, a notícia de um feminicídio que despertou seu interesse em criar uma solução para ajudar a trazer mais segurança a mulheres.
“Eu estava assistindo a uma reportagem sobre o assassinato da Vanessa [Ricarte] e fiquei chocada”
Vanessa foi esfaqueada, em fevereiro de 2025, pelo ex-noivo Caio César Nascimento Pereira, em Campo Grande (MS). Ele está preso preventivamente desde a ocorrência e foi indiciado pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul, em outubro, por quatro crimes: perseguição, violência psicológica, cárcere privado e divulgação de cena de nudez.
Segundo investigações da Polícia Civil, Vanessa desconhecia o histórico de violência do ex-noivo. Caio respondia a ao menos 14 processos por agressão doméstica. Foi isso que motivou Sabrine a pensar em uma solução tecnológica para evitar esse tipo de desfecho trágico.
A empreendedora nunca soube programar, mas na época estava testando, por curiosidade, o Lovable, plataforma de inteligência artificial que possibilita a criação de sites e aplicativos usando comandos de texto em linguagem natural, sem precisar codar (a técnica que se chama vibe coding e já foi explicada aqui no Verbete Draft).
Sabrine chamou o amigo Felipe Bahia, também da área de marketing e com quem já havia trabalhado em uma agência em 2021, para ajudar no desenvolvimento da Plinq.
Durante esse período, ela conta que consultaram uma série de advogados criminalistas para entender quais eram os dados importantes a se pesquisar e possíveis de acessar, além de tirar dúvidas sobre questões legais.
“Começamos a estruturar a plataforma em abril. Lançamos para amigos em maio e, para o público, em junho”
Sabrine diz que foram 3 mil cadastros em 24 horas. Depois que conseguiram estruturar o modelo básico, a dupla chamou um terceiro sócio especializado em tecnologia para compor o time, o engenheiro de software Micael Marques.
A plataforma funciona de forma simples: a usuária pode realizar a busca digitando o telefone e data de nascimento do pretendente. A Plinq faz então uma varredura sobre aquela pessoa com base em dados públicos de tribunais, diários oficiais e cartórios, atuando em conformidade com a LGPD. Depois, cruza informações e, com a ajuda de IA, retorna o nome da mãe do pesquisado, idade, signo, CPF (com números do meio ocultos) e a indicação da existência ou não de um processo e sua motivação – mas sem detalhar o teor.
Daria para fazer essa mesma pesquisa no Google? Sim, confirma Sabrine, mas o diferencial da Plinq, segundo a fundadora, é entregar os dados de forma acessível:
“Trazemos as informações de maneira organizada e consolidada. E caso a gente encontre processos, enviamos um relatório ‘traduzido’ para a usuária, sem juridiquês”
Outro diferencial, diz, são os envios de “flags” (bandeiras) que sinalizam o grau de risco. A marcação “red flag” indica que a plataforma encontrou processos criminais.
A categoria “yellow flag” indica processos em segredo de justiça, mas que não necessariamente são criminais e nos quais a pessoa pesquisada pode ser vítima, acusado, advogado ou outra parte envolvida. Já a “green flag” sinaliza que nada foi encontrado, mas mesmo assim a indicação é se manter alerta, pois a pessoa pode simplesmente não ter sido denunciada.
Com esse sistema, Sabrine afirma que a Plinq já conseguiu ajudar ao menos 200 mulheres. No próprio site, há relatos, entre eles o de uma mulher que diz o seguinte: “A Plinq revelou que o cara com quem fiz match tinha múltiplas acusações de violência doméstica”.
Embora cerca de 80% das buscas na Plinq sejam sobre parceiros amorosos, a fundadora diz que elas também fazem uma varredura para verificar o histórico de prestadores de serviços e de outras relações sociais:
“Já teve usuária que compartilhou com a gente que ia pegar uma carona e cancelou porque descobriu que a pessoa era condenada por homicídio”
A empreendedora diz que há também proprietários de pousadas ou donos de imóveis usados como AirBnB que usam a plataforma para checar os antecedentes de hóspedes.
Sabrine afirma que muitos homens já vieram cobrar satisfações sobre o funcionamento da plataforma, mas ela diz não se importar:
“Todo dia tentam me cancelar no Twitter, todo dia recebo ameaças de red pill, mas não me abalo porque sei que estou fazendo a coisa certa”
As pesquisas são confidenciais e anônimas (a pessoa pesquisada não fica sabendo da busca). Hoje, a Plinq oferece dois modelos de contratação, o de pesquisa única (27 reais) e o ilimitado, que permite à usuária realizar quantas consultas quiser ao longo de um ano (97 reais).
Nas redes sociais da própria Plinq, algumas usuárias já chegaram a reclamar sobre a entrega da plataforma por não terem recebido informações sobre processos criminais, mesmo sabendo que a pessoa pesquisada tem ficha. Isso, segundo Sabrine, acontece quando o processo corre em segredo de justiça.
“Eu entendo essa frustração, só que estamos partindo de um ponto em que muitas mulheres não sabem nem que esses processos existem, então ao menos a Plinq está mostrando uma ponta do iceberg. Mas obviamente tem muito mais coisas que a gente gostaria de fazer e que não consegue por impedimento técnico”, diz. E complementa:
“O segredo de justiça hoje é a minha maior dor. O argumento é proteger a vítima, mas na verdade quem sai beneficiado é o réu. Por isso estamos implementando uma tecnologia que consiga detectar mandado de prisão e estamos fazendo uma mobilização para pressionar o judiciário”
No dia do Levante Mulheres Vivas, protesto contra feminicídios realizado em diversas cidades brasileiras em 7 de dezembro, Sabrine conta que a Plinq esteve presente por meio de parceiras criadoras de conteúdo que distribuíram cinco mil cartazes pedindo a criminalização da misoginia e o fim do segredo de justiça para o réu. Ela também participou, assim como os dois sócios e suas namoradas.
Sabrine conta que gastou menos de 1 mil reais para criar a Plinq – o faturamento, no entanto, está batendo os 300 mil nesses seis meses de operação, segundo ela. Para escalar a operação, a fundadora está no meio de um processo de captação em que busca entre 1,5 milhão e 2 milhões de reais.
“O meu sonho ainda é ter uma rodada só com investidoras mulheres, mas a gente vai acabar fazendo uma rodada mista”, afirma.
Além da captação, para atender mais usuárias, os planos da Plinq incluem a disponibilização de uma versão gratuita da plataforma por meio da venda para governos.
“Estamos em negociações com Secretarias da Mulher de alguns estados e cidades que desejam subsidiar a plataforma”
E ainda falando em planos de curto prazo, Sabrine promete outra novidade: o lançamento do aplicativo uma semana antes do Carnaval.
“O app poderá ser acessado via reconhecimento facial e trará ferramentas de localização, botão de pânico, fórum anonimizado para que as mulheres possam compartilhar relatos, além de verificação social para que entre elas possam trocar informações sobre um homem.”
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