Jornalista com assinatura de espontaneidade, há 10 anos empreendendo a si mesma e seus projetos, Maria Cândida Damasceno de Barros Araújo, 50, conhecida no jornalismo e no entretenimento audiovisual apenas como Maria Cândida, descobriu-se há dois anos uma potente ativista da maturidade.
Ao definir a si mesma, Maria Cândida diz ser “uma mulher que fala com públicos maiores” (seja pela tela do smartphone ou pelo monitor 35+ polegadas da TV). O assunto ao qual ela se dedica apaixonadamente é a educação da mulher brasileira madura, dos quatro cantos do país, contra o desconhecimento da menopausa e, claro, contra o ageísmo – o preconceito de idade.
Depois de passar pelos maiores canais de televisão aberta do Brasil, ela se reinventou ao longo da última década e hoje tem um contrato bastante atípico com a Rede Globo para apresentar dois quadros no programa “É de Casa”; afinal, gravar um material pelo celular, editar as imagens e entregar a reportagem pronta para a emissora (famosa por zelar pelo seu “padrão de qualidade”) levar ao ar ainda parece ser algo bem incomum.
Outra particularidade… após ter ganho dinheiro com merchandising na televisão, a paulistana da gema – nascida na desativada Maternidade de São Paulo, a poucos metros da avenida Paulista – tem, hoje, a maior parte de seus rendimentos vindos da internet.
Ao vivo, nas palestras, nos canais do YouTube, Facebook, Instagram e até mesmo no Lobacast (podcast que estreia em maio, com transmissão pelo YouTube), a jornalista assume sempre a mesma atitude de embaixadora da geração ageless, alinhada com sua hashtag: #FalaNaCaraDaMaria.
Direta (e às vezes desbocada), Maria Cândida só tem receio de ser meio over no seu papel de mãe-influenciadora da Lara, de 16 anos (numa brecha da entrevista, porém, a adolescente garantiu que a mãe “está indo superbem”).
Confira, abaixo, a entrevista que Maria Cândida, essa mulher multiplataforma, concedeu ao Draft.
Como foi a experiência de ser modelo nos anos 1980? Por que desistiu dessa carreira e se voltou para o jornalismo?
Segundo a minha mãe, eu fui aquela menininha curiosa que, no restaurante, sentava na mesa de outras pessoas para conversar. Então, essa habilidade para comunicação sempre existiu. Seria um caminho meio natural.
Quando eu tinha 13 anos, os olheiros de agências me chamaram. Minha mãe não queria, porque ela é mais tradicional e eu estudava em um colégio tradicional, o Dante Alighieri, e tinha que continuar estudando. Mas aos 14 anos, eu queria ganhar dinheiro e vi que essa seria uma forma de eu ter uma certa independência.
No primeiro casting para um filme da Lacta, já caí na mão do Ricardo van Steen, um famoso diretor de propaganda. Até pelo meu biótipo – não ser magérrima ou alta como uma modelo para desfile [em passarela] –, fui para o caminho do comercial. Fiz muita coisa
Chegou uma hora em que tive de mudar de colégio para continuar trabalhando. Fui para o Objetivo da Paulista e estranhei muito, porque as pessoas batiam porta, xingavam. Mas foi muito interessante, porque apesar de não vir de uma família rica, eu era muito protegida
Conheci músicos, artistas plásticos, fotógrafos e amadureci nessa época. Esse mix foi legal para mim, porque no colégio tradicional eram só pessoas que queriam ser advogadas, administradores, pais com empresas grandes. Eu era a mais pobre da escola.
Esses contrapontos te prepararam para ser a comunicadora que você se tornou depois?
Com certeza. Essa carreira de modelo, que foi até muito curta, me introduziu no mundo adulto.
Quando eu estava na berlinda entre fazer o vestibular e continuar na carreira de modelo, pintaram os japoneses… Eles vinham com a fita métrica avaliar a possibilidade de você desenvolver uma carreira internacional…
Minha cabeça pirou nessa época. Tive distúrbios alimentares, vomitava para não engordar, porque as modelos ensinam isso. Fui viciada em anfetamina: a partir do momento que você não consegue emagrecer, as próprias meninas passavam as receitas de médicos de não sei onde… Mas decidi parar e não ir para o Japão. Cortei tudo de modelo!
Hoje, existem as modelos plus size, as maduras – eu sou uma delas –, mas essa diversidade ainda não aconteceu para as modelos tradicionais. As marcas não mudaram ainda.
Quando eu tinha 17, não sabia direito o que queria fazer, e gostava do jornalismo. Por insistência da minha família fiz um ano de Direito – odiei, obviamente. Não é a minha. Mas fiz, para a família ficar mais tranquila.
E daí eu prestei o jornalismo [na PUC-SP] e entrei no mundo que eu sempre quis. Não existia revista de celebridades. O jornalismo era jornal escrito, impresso.
Você começou a trabalhar com o factual, notícias diárias, em rádio e jornal – ambientes bem diferentes do que você viveu antes…
Eu não queria fazer televisão, justamente porque tinha sido modelo – aquela bonequinha para quem todo mundo falava o que fazer. E faz parte do jogo, só que eu não era emocionalmente inteligente para sacar. Aquilo me apertava o coração.
Então, quando entrei no jornalismo, estava muito claro que eu não queria ler teleprompter. Aos 21 anos, em 1992, comecei a trabalhar como estagiária no Jornal do Brasil.
E como você foi para a TV? Como marcou a sua posição para não voltar a ser a “bonequinha loira bonitinha”?
Eu ganhei um concurso chamado “Jornalista do Futuro”, em que um dos jurados era o Carlos Maranhão, o diretor da Veja São Paulo, na época. Ele me chamou para fazer freela para “Vejinha” e o Arnaldo Lorençato, que está lá até hoje, me ensinou a fazer resenha de restaurante para o “Comer & Beber”.
Na verdade, eu fazia tudo, qualquer coisa que aparecesse. Minha veia é de repórter e eu amo ser repórter. As pessoas começaram a sugerir que eu fizesse teste pra TV. Eu omitia que tinha sido modelo, porque a pior coisa para mim era ser vista como uma mulher que era só bonita
Fiz um teste ali, outro aqui e fui pra TV Gazeta, por uns três meses. Em 1994, a TV Tribuna [afiliada da TV Globo em Santos] me chamou, porque tinham recebido uma fita [de teste] minha encaminhada pelo pessoal da Globo-SP. A ideia era que eu fosse pra lá para aprender a fazer e melhorar. Fui morar em Santos e continuei a fazer coisas para a “Vejinha”, porque não sabia se o meu negócio era televisão.
Evoluí, voltei para São Paulo, fui para Globo fazer reportagens e tive de parar o impresso, porque não dava mais tempo.
Eu morria de medo de ser apresentadora de televisão, porque, naquela época, o apresentador não era o editor do jornal. Apresentadora era a que sentava lá e lia o teleprompter. Para mim, seria como voltar à ideia de “Bonitinha, fica aí; lê o texto e tá tudo certo!”.
Em 1995, já na Record, eu apresentava um jornal, mas disse que faria [reportagens da editoria de] geral, na rua também!. Então, eu entrava às 7 da manhã para ir pra rua, voltava às 4 e meia da tarde com uma matéria e saía às 8 da noite, depois do jornal ir ao ar.
Depois, você voltou pra Globo, onde foi apresentadora do tempo no Jornal Nacional, apresentadora do SPTV e do Globo Rural… Por que saiu da emissora e foi morar nos EUA?
Esse negócio de moça do tempo pintou porque a Mariana Godoy detectou um câncer de pele e precisou se afastar para operar. E aí foi aquela coisa: “Quem vai, quem vai? Ah, põe a Maria Cândida”.
Não tive muita escolha, assim como fui escalada para apresentar o Globo Rural. A construção que eu tinha era como repórter e eu nunca parei, justamente para não perder algo que eu acho que sou muito boa.
Em 1997, ainda na Globo, comecei a me sentir um pouco oprimida, então fui procurar uma bolsa de estudos, porque sabia que tinha um treinamento na CNN em Atlanta, com os americanos, para o programa “World Report”
Morei quatro meses em Atlanta, ia de manhã assistir a palestras com os âncoras e à tarde era um trabalho prático. Então, você ficava junto à edição de vídeo da CNN Americana e em espanhol. Lá, vi que eles já tinham um departamento de trilha sonora, rádios 24 horas em inglês e em espanhol…
Decidi deixar tudo de lado aqui e fui para Miami, tentar alguma coisa na CBS, que estava começando um negócio em português. Não consegui uma vaga.
Fui chamada para um teste na Bloomberg, em Nova York, para cobrir business, só que eu não sabia nada disso; mesmo assim, fui aprovada. Enquanto os documentos estavam sendo feitos, o SBT me chamou para o SBT Repórter, algo que eu sempre sonhei.
No SBT, além do SBT Repórter, você apresentou as cerimônias do Oscar, do Grammy e entrevistou mais de 100 atrizes e atores de Hollywood. Quais trabalhos de reportagem você destaca dessa época?
No SBT eu comecei a ter mais “cara de mim”. A Globo, no início da minha carreira, me ensinou o máximo do profissional, eu fui muito bem treinada lá. Quando passei para o SBT, comecei a me pôr para fora, na tela. Foi aí que fiz muitas coisas, viajei o mundo.
Entre essas coisas especiais teve o programa do Xingu. Eu, a editora e dois cinegrafistas tomávamos banho no rio Xingu, dormíamos na oca do cacique. A gente levou oito horas em uma canoa para chegar, porque não era o Xingu de agora, fácil
Fui também para o Vietnã, onde viajei de Hanói até Ho Chi Minh, a antiga Saigon… rastejei nos túneis secretos dos vietcongues, da época da guerra com os EUA; voltei doente.
Comecei a entender que tipo de jornalismo eu queria fazer na televisão, que não era só viagens, nem só cultura. Era um mix de tudo, mas conhecendo pessoas, mostrando hábitos.
De volta à Record em 2004, você foi repórter do Domingo Espetacular (2004-06), apresentadora do “Guinness, o Mundo dos Recordes” (2005-06) e do “Tudo a Ver” depois rebatizado de “Programa da Tarde” (2006-09). Mas foi o projeto de 2009, 12 Mulheres (do qual derivou o livro Mulheres que Brilham, lançado em 2011), que te despertou para a situação da mulher madura. O que te fisgou nesse projeto?
Quando eu virei uma apresentadora [do “Programa da Tarde”] em 2006, comecei a ver um outro mundo fora do jornalismo. Os apresentadores que estavam comigo lá eram da linha do entretenimento.
Vivi isso por quatro anos até que aquilo me remeteu de novo à ideia de bonequinha, da modelo que não queria ficar em frente ao teleprompter lendo. Dava audiência, eu fazia o que tinha que ser feito: chamava o VT, brincava, tinha o game.
Eu estava com 37 anos e me sentia infeliz fazendo aquilo. Ganhava muito dinheiro de merchandising, que eu nunca tinha ganhado na vida, mas comecei a me sentir muito mal.
Até que, um dia, em março de 2009, tive uma crise de pânico. Entrei no camarim e caí no chão. Fui me arrastando até o telefone e falei para a minha produtora: “Aline, eu vou morrer.” Eu sentia dor no coração… De lá, eu fui direto para psiquiatra
Todo mundo ficou assustado. Eu fiquei dez dias fora e, depois, disse que não queria mais fazer o programa, porque não tinha nada a ver comigo.
O programa terminou em junho e eu já pensava em fazer coisas ligadas ao feminino, a mulheres. Fui uma adolescente nos anos 1980, quando o movimento feminista estava começando a crescer.
Cheguei no diretor José Amâncio [falecido em setembro de 2021] e falei do meu desejo. Ele disse que estava bolando um programa de entrevistas com mulheres e eu, imediatamente, disse: “Quem vai fazer esse programa sou eu! Isso tem ‘super a ver’ comigo!”
Aí, a gente começou a amarrar esse projeto de entender como estavam as mulheres em todos os continentes. Quem era a mulher oriental? Ela realmente tinha liberdade? Não tinha? Na África, o que pegava? Como repórter, eu queria ver o que essa mulher que estava perto de 35 anos estava fazendo em 2009!
(Foram produzidos 12 episódios retratando mulheres em 12 países: África do Sul, Brasil, Estados Unidos, França, Filipinas, Finlândia, Holanda, Lituânia, México, Peru, Tailândia e Vietnã; em 2011, um box de 3 DVDs foi lançado com os 12 programas.)
Pelo relato no seu livro, escrito no ano seguinte a que os episódios foram ao ar na TV, me deu a impressão de que você voltou transformada dessa experiência. Chegou até a se divorciar do pai de sua filha… Uma coisa tem a ver com a outra?
Sim, eu vinha de um processo de depressão, de mudanças de valores total. O que eu via ao meu lado e o que tentava cultivar eram coisas de que eu nunca tinha precisado.
Nessa época, eu tinha bolsas iguais às das outras apresentadoras, me comparava nesse nível! Esqueci que tinha sido repórter, porque estava num sistema de celebridades
Eu tinha um barco! Tudo bem ter barco, mas eu não sou essa pessoa. Sou uma pessoa raiz, que gosta do povo. Eu não preciso de tantas coisas.
Então, quando eu fui para o mundo [fazer o 12 Mulheres], também tinha esse desejo de me descobrir através dessas mulheres. Ouvi 144 histórias – em quatro meses consecutivos, sem família – de mulheres fortes que abandonaram tudo, jornalistas que criaram hubs, curadoras de museus africanos… Teve de tudo.
Eu chorava em quase todas as entrevistas, ou depois, porque me confrontar com as histórias me fez perceber o quanto eu estava travada num sistema de TV, de dinheiro etc.
Quando eu vi que tinha um monte de mulheres fazendo e acreditando no que eu acreditava, eu falei: “Eu sou uma dessas pessoas. Eu preciso fazer redes de conexão com elas”.
Essas 144 mulheres foram a minha salvação. Foi uma imersão em valores que importavam para mim. Eu me divorciei porque tive essa imersão. Talvez, sem ela, demorasse mais dois anos para eu me divorciar, mas tive um suspiro na minha mente.
Você já disse antes que depois dos divórcios – do pai de sua filha e do mainstream da televisão –, você passou por momentos de grana curta na sua vida. Foi a década dos seus 40 aos 50 anos. E aí, quando voltou para a Globo em 2019, houve quem dissesse que você tinha sido “resgatada”. Você concorda? O que você fez nesse período?
Não, não fui resgatada! Estou escrevendo um livro exatamente sobre esse meu período dos 40 aos 50 anos [o título provisório é Menopausa Sem Medo – Guia Prático da sua jornada dos 40 aos 50 anos, com previsão de lançamento no segundo semestre de 2022]. Algo como aquele livro sobre gestação, O que esperar quando você está esperando.
Eu quero fazer um manual para a mulher se planejar para esse período [da menopausa]. Hoje, ligo para dinheiro no sentido de que eu entendo muito bem que a construção da minha aposentadoria é agora
Bom, em dezembro de 2009, depois que voltei de viagem, tinha a ideia de escrever o livro [Mulheres que Brilham], só que eu teria que parar a televisão. E foi o que fiz: saí da TV, abdiquei de um salário fixo e aluguei um escritoriozinho – hoje, sei que foi um erro estratégico, porque não precisava.
Quando saí da TV Record, queria ser independente. Eu tinha dinheiro guardado. Só que veio a repercussão da crise americana de 2008, que refletiu no Brasil em 2010. Demorei uns três anos para entrar no zero, ter que vender o meu apartamento.
Cheguei a ser aprovada na lei do incentivo fiscal para fazer um programa sobre mulheres brasileiras, viajando o Brasil. Fui atrás de um monte de empresas e não consegui captar. Até patrocinei gravações: fui para a Amazônia, achei uma cacique mulher. Só que expirou o prazo para captação e eu fiquei muito triste.
Aí, tive que me virar. Trabalhei um tempo no Amaury Júnior [entre 2011-13]. Trabalhei em uma agência de publicidade, fazendo RP. Fiz um curso na FGV de Comunicação Corporativa [em 2016] porque achei que não era mais uma pessoa do vídeo e sim, de trás das câmeras.
O meu pai morreu em um acidente trágico, em agosto de 2010: ele caiu de um prédio, enquanto fazia uma inspeção. Isso me gerou uma depressão. Mas mesmo doente, eu não parei
Lancei o livro, criei palestras sobre mulheres, fazia bico aqui, ali… Mas as televisões falavam que não tinham vaga pra mim, que eu era “cara” – ou me viam como “a fracassada”…
E desde 2010, eu estava ligada na internet, abri conta no Twitter [a conta não existe mais], fazia lives. Só que eu acreditava que o mundo era só televisão. Olhava o YouTube e achava que era “coisa de adolescente”, que não tinha nada a ver comigo, embora eu estudasse esse movimento de crescimento.
Até que me chamaram para ser apresentadora do “Tudo Posso” na Rede Família, do Grupo Record [entre 2014 e 2016]. Eu ganhava mal, mas comecei a ver que talvez eu fosse do vídeo mesmo.
Depois, a TV Aparecida me chamou e foi aí que eu consegui virar o jogo.
Consegui equilibrar as minhas finanças e a internet começou a fazer parte da minha vida, porque a minha cabeça tinha se estruturado. Depois de dois anos de TV Aparecida, entendi que precisava entrar na internet
Antes disso, eu achava legal, bom de estar, mas não como o meu “primeiro job” [trabalho principal]. Sinto que eu perdi [a oportunidade]. Se eu tivesse entrado no YouTube em 2012… mas não estava pronta, não sabia.
Hoje, você tem nas redes sociais sua principal fonte de receita. Como você desconstruiu o padrão Globo de qualidade na sua cabeça, para fazer um material muito diferente na internet?
Comecei a desconstruir o padrão Globo de qualidade em 1998, quando fui para o SBT.
Quando cheguei no primeiro dia, lá na Anhanguera, vi o Golias, artistas, a Hebe, bailarinas andando de roupão pra lá e pra cá. Era um elefante que passava porque ia pra tal programa… Vi que o mundo não era só jornalismo.
No SBT Repórter, eu já fazia matéria de biquíni, já entrevistava pessoas lá na lagoa dos Lençóis Maranhenses. No fundo, eu não inventei um personagem. Eu sou essa pessoa.
Como você achou a sua “voz”, o jeito de se comunicar na internet? Você acha que é o mesmo jeito que você se comunicava antes?
Na internet, achei o veículo certo, que tem alinhamento com o que eu sempre fui. No jornalismo não podia rir, não podia brincar, não podia ter cabelo comprido, não podia nada. E na internet é o oposto: pode tudo. Eu mudei o veículo e amadureci para assumir quem eu realmente sou.
Hoje, você está em dois quadros do programa “É de Casa”, da Globo – “Sábado Curioso” (desde setembro de 2019) e “Bem Estar” (desde julho de 2020) –, e em ambos como você mesma, falando sobre a mulher madura. A TV tradicional mudou?
Sim, hoje a TV pede isso por influência da internet. Ninguém mais quer ver um robô. As pessoas querem empatia.
Por exemplo, quando eu deixo meu cabelo branco [está nesse processo desde maio de 2021 e fez reportagem sobre isso] e falo na televisão: “lobas, maravilhosas, vocês têm 50 anos…” as mulheres piram do outro lado. Recebo um monte de mensagens tipo: “Você está me representando”.
Quem quer assumir o cabelo branco na televisão? De apresentadora, só tem a Astrid Fontenelle e eu.
Eu sou uma pessoa de TV aberta, é necessário que eu fale para a mulher: “Tudo bem se você quer pintar o cabelo ou não. Tudo bem ser assim [aponta os próprios fios grisalhos]!”
Esses fios representam toda essa minha história, de quem caiu, levantou, quebrou, vendeu apartamento, carro, que teve sucesso absoluto
Nos dois primeiros anos, a minha chefe na Globo falava que era difícil o conceito de Mulher Ageless – a que “não tem idade”. Eu dizia que não era isso. Ela tem idade, mas gosta de viver tudo.
(A definição oficial de Mulher Ageless dada por Maria Cândida é: “aquela que não se identifica com a idade cronológica, é atualizada, moderna e LIVRE para ser e fazer o que quiser.”)
Então, me pediram para fazer algo no estilo “Maria curiosa”, porque as pessoas amam quando ando pelos lugares, descubro coisas e dou risada com as pessoas. Concordei em fazer o quadro “Sábado Curioso”, com a condição de fazer tudo no celular.
A proposta veio de você? Os quadros têm uma linguagem bem diferente do que se está acostumado a ver na TV, e bem similar ao que se assiste no YouTube…
Sim, eu já tinha me organizado financeiramente e deixado a TV Aparecida para entrar na internet. Meu canal no YouTube começou dia 4 de fevereiro de 2019 e tudo da internet a gente sempre fez no celular.
Somos uma tríade: eu, Fernando Aumada e Lili Filtre, além de uma estagiária em Recife. A gente faz absolutamente tudo. Começamos a fazer YouTube do nosso jeito, com o celular e técnicas de televisão – dois celulares gravando ao mesmo tempo. Até minha filha [Lara, de 16 anos], falou: “Ai, mãe, você quer trocar de roupa várias vezes… A internet é diferente”.
Não importa quantas roupas, o cabelo… É você e a sua comunidade. Quem é de televisão não entende a fidelidade que existe na internet. As minhas seguidoras entram nos meus canais para ouvir o que tenho para falar, porque eu as represento
Além disso, eu estudo para dar informações para elas. Então, existe uma conexão enorme de vida e de crescimento de nós como mulheres.
A Globo me chamou [de volta], porque achou o material legal. Quando eu apareço na televisão e não estou falando de mulher madura, não aumento [o engajamento] as minhas redes. As “minhas mulheres” não estão nem aí se eu “tô” na rua mostrando uma curiosidade. A coisa pega quando eu apareço na televisão e falo para elas. Aí, a mulher lá do Acre diz: “Nossa, ela está falando exatamente sobre o que eu estou passando.”
Quis fazer desse jeito, porque quero levar a ideia de que uma pessoa gravando no celular e editando o material pode entrar na maior emissora do país. Nunca me senti tão pé no chão, sabendo o que eu quero e estudando o que eu quero
Aos poucos, estou levando para a TV exatamente o que eu falo na internet. Uso as dificuldades das minhas seguidoras como ideias de pauta, de assuntos que estão rolando.
Poucos dias atrás, duas seguidoras me disseram que, ao entrar na menopausa, tiveram alergia. Eu achei estranho, nunca tinha ouvido falar, então fui pesquisar. As pautas surgem porque elas sentem.
Como surgiu a ideia de fazer o curso Mulher Ageless (seis módulos, com 27 videoaulas pré-gravadas e apostilas), lançado em novembro de 2020 em parceria com a Agência Mestre?
Foi falando com essas mulheres todos os dias e entendendo os processos delas, que batem com os meus. Talvez eu esteja um pouco à frente, porque tenho muitas seguidoras com 30 e poucos anos, que assistem ao conteúdo porque querem entender algumas coisas.
Percebi que as mulheres não sabiam o bê-á-bá sobre o envelhecimento, que é cheio de tabus. A gente aprendeu que fica “velha”, “feia” e sem vontade de fazer nada…
Outro dia, um cara disse nas minhas redes que a mulher que entra na menopausa tem de ser abandonada! O normal não são os nossos amigos que estão se desconstruindo; o padrão [do Brasil] é o machão que fala coisas do tipo: “Você está uma palhaça com esse batom vermelho”. É agressivo
Pensei em criar um curso em vídeo, organizado para ensinar as mulheres. E fiz na pandemia porque achei que muitas mulheres estavam perdidas…
O primeiro módulo explica a questão do patriarcado e do machismo. No módulo 2, falo sobre o físico e as transformações do metabolismo nessa faixa etária madura… Que se a mulher não mudar os hábitos, provavelmente ganhará peso.
No módulo 3, abordamos a questão da depressão, da queda de estrogênio na menopausa. No módulo 4, a gente fala de moda, sobre entender seu biótipo.
No quinto módulo, falamos das tendências e mudanças de trabalho. A maioria [das mulheres] veio do mundo analógico, não percebeu a internet porque acredita que o empregador vai ficar com ela – e não vai, coisa nenhuma! Elas precisam entender que o mundo vai ser diferente e que elas precisam estar na internet, em vez de negá-la.
Por fim, o módulo 6 é tipo um check-list, para que a mulher faça seu planejamento de 6 meses, 9 meses.
Esse curso não é pra eu ganhar dinheiro. No fundo, é uma estruturação deste período. É para ajudar muitas mulheres a tirarem essa “nhaca” e entenderem onde estão, porque eu não tenho dúvida de que a grande virada é nos 40+
Quero quebrar todas essas crenças. Passei 10 anos fazendo isso [internamente]. E quero antecipar isso para elas.
Adriana Alcântara trabalhou como atriz e cursou artes cênicas sem imaginar que esse lado criativo poderia ser um trunfo no ambiente corporativo. Ela fala sobre sua carreira e o papel à frente da Audible, plataforma de audiolivros da Amazon.
Na infância, Marina Amaral teve de mudar a alimentação e se exercitar para lidar com o ganho de peso devido ao hipotireoidismo. Adulta, ela deu uma guinada na carreira e desenvolveu o Lia, uma plataforma para fortalecer o bem-estar feminino.
A menopausa precoce é uma experiência muito solitária. Renata de Paula conta como encarou esse processo (ao mesmo tempo em que tratava um câncer) e fala sobre o projeto que criou para derrubar tabus e apoiar outras mulheres na mesma situação.