Milhares de filmes no streaming e você nunca sabe o que ver? O Chippu facilita a escolha com algoritmos e curadoria humana

Dani Rosolen - 7 set 2020
Thiago Romariz chegou a duvidar da proposta do Chippu por considerá-la muito simples.
Dani Rosolen - 7 set 2020
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Sua pipoca acaba antes mesmo que você consiga escolher o filme que vai ver no streaming? Acredite, não é só contigo que isso acontece.

Segundo uma pesquisa divulgada em 2019 pela Nielsen, um usuário leva em média 7 minutos nesse scrolling pelo catálogo de plataformas como Amazon Prime, HBO Go e Netflix, sendo que 21% desistem quando não conseguem se decidir pelas opções. 

O Chippu se propõe a resolver essa questão, mesclando curadoria humana e “algorítmica” para indicar filmes que façam sentido ao perfil de cada pessoa. Segundo Thiago Romariz, um dos fundadores:

“Vivemos a era da hiperinformação e do hiperconsumo. Com ‘um milhão de fontes de conteúdo’, fica difícil filtrar. Esse é um traço de comportamento não só do streaming, mas de várias outras áreas da nossa vida, como o noticiário”

Lançado no fim de maio, já durante a pandemia, o aplicativo rapidamente chegou a 120 mil usuários (conquistados sem investimento em mídia, segundo o empreendedor), que usam a ferramenta de graça.

A ideia do Chippu, porém, pipocou bem antes do coronavírus, há cerca de três anos. Na época, faltou um pouco de “fé” de Thiago em sua própria inspiração.

“SE NINGUÉM FEZ ANTES É PORQUE NÃO É UMA BOA IDEIA…” SERÁ?

Thiago é jornalista. Paralelamente ao Chippu, hoje ele atua como Head de Conteúdo e PR do Ebanx.

Quando idealizou o que viria a ser sua startup, ele era diretor de conteúdo do Omelete e chegou a acionar, na época, seus amigos e futuros sócios, os desenvolvedores Luigi Pedroni e Thamer Hatem (fundadores da empresa de tecnologia Happe, de Brasília).

Naquele momento, explica Thiago, o projeto não foi para a frente.

“Existem muitas resistências para se tirar um projeto do papel — e quando ele parece muito ‘óbvio’, mais ainda. Você fica pensando que alguém já fez isso e deu errado. Se não fizeram é porque não presta…”

O escopo inicial esboçado para o Chippu era um pouco diferente, diz Thiago. 

“A ideia era que o aplicativo fosse um grande curador, cobrindo não só a parte de streaming, mas TV ao vivo, música, eventos e várias outras áreas do entretenimento.”

ELE BRINCA QUE EMPREENDEU PARA ATENDER UMA NECESSIDADE DA SUA MÃE

O projeto ficou lá, guardado em algum cantinho da cabeça de Thiago. E voltou com força por ocasião da pandemia.

O empreendedor brinca que montou o negócio para atender a uma necessidade da sua mãe, que assina dois serviços de streaming e não conseguia se decidir em meio à quantidade de opções disponíveis.

“Ela ficava me ligando todos os dias, principalmente no começo da quarentena, para indicar filmes. E aí eu falei: ‘Mãe, vou criar um aplicativo para você usar e não precisar mais ficar me mandando mensagens no WhatsApp‘”

O contexto da Covid-19 parecia tornar a ideia ainda mais pertinente. De acordo com uma pesquisa da Kantar Ibope Media, 73% dos usuários de internet do país disseram que aumentaram o consumo de streaming pago ou gratuito durante esse período de distanciamento social.

Assim, com a pandemia em curso, Thiago resolveu que era hora de tentar mais uma vez.

DO BRAINSTORMING POR WHATSAPP AO LANÇAMENTO, DUAS SEMANAS DEPOIS

Numa sexta-feira, Thiago desenhou algumas telas do aplicativo para simplificar o projeto anterior e mandou por WhatsApp à dupla de amigos, Thamer e Luigi.

Os três testaram como seria o processo de sugestão de filmes e séries. E resolveram focar inicialmente apenas nos longas (segundo Thiago, os processos de consumo dos dois produtos são muito diferentes).

Em duas semanas, com a entrada de um sócio-investidor (amigo de infância de Thiago, Vitor Porto aportou 40 mil reais no negócio), o aplicativo foi lançado. 

Escolher o nome foi o último passo. “Veio na minha cabeça a febre do K-pop e comecei a procurar palavras referentes a esse universo”, diz Thiago. 

Dessa forma, ele chegou ao termo chippu — que não é coreano (como o gênero musical), mas japonês. 

“Chippu significa ‘dica’. Não é exatamente o modo como os japoneses falam, mas a sonoridade da palavra, que vem de tip, em inglês”, explica.

O empreendedor também curtiu o som parecido com “shippar”, gíria (extraída do sufixo de relationship, “relação”, “relacionamento”) que significa a torcida pela formação de um casal.

 “Assim como as pessoas ‘shippam’ casais, a gente ‘shippa’ o usuário com o filme”, brinca.

A CURADORIA HUMANA AJUDA A SUGERIR FILMES DE “FORA DA BOLHA” DO USUÁRIO

O Chippu sempre sugere um filme por dia; o usuário também pode solicitar uma dica a qualquer momento — informando o gênero e a plataforma em que deseja consumir o vídeo.

Para decifrar o gosto do usuário e recomendar filmes entre 20 mil títulos de nove plataformas (Amazon Prime, Apple TV, Crunchyroll, iTunes, Globo Play, Google Play Movies, HBO Go, Netflix e Telecine), a startup usa inteligência artificial e curadoria humana.  

Quando você abre o aplicativo pela primeira vez, um quiz surge para entender suas preferências cinematográficas (caso essa parte seja pulada, personalizações vão sendo registradas conforme você navega no app).

Enquanto o machine learning se encarrega dessa triagem, a recomendação em si cabe sempre a um ser humano — e ajuda a propor filmes que fogem do “padrão”:

“A cada dez sugestões que damos, três têm que ser de ‘fora da bolha’ do usuário. Para isso existe a curadoria humana. O legal é descobrir algo que você não conhece: pode ser até que você não goste do filme, mas vai entender que estamos fazendo uma indicação realmente personalizada”

Caso o Chippu sugira filmes já vistos, basta marcá-los como “assistido” — e assim ajudar o aplicativo a aprender mais sobre suas preferências.

No app, é possível ainda encontrar playlists temáticas; um exemplo recente foi a lista “RIP Chadwick Boseman”, com filmes estrelados pelo ator de Pantera Negra.

A CONQUISTA RÁPIDA DE USUÁRIOS ACABOU ESBARRANDO NA TECNOLOGIA

Na estreia, diz Thiago, a startup chegou a conquistar 10 mil usuários em apenas um dia — e, por conta dessa demanda, precisou lidar com falhas nos downloads.

“Estávamos usando apenas um computador para segurar nosso serviço e o sistema não aguentou. Acabamos perdendo usuários, foi um baque grande… Por outro lado, aprendemos a nos preparar melhor na parte técnica”

Mesmo recém-lançado (e com ajustes em andamento), o Chippu já monetiza por meio de publicidade tradicional. Há contratos fechados com a plataforma de animes Crunchyroll, a startup de entrega James Delivery (que pertence ao GPA) e o canal Telecine.

Thiago explica como funciona uma parceria com o James Delivery.  “Oferecemos às pessoa um desconto no James Delivery atrelado a um filme que indicamos. Por exemplo, recomendamos Pulp Fiction comendo um duplo bacon como eles fazem lá, ou A Dama e o Vagabundo combinado com espaguete.”

O time está criando mais possibilidades para os clientes anunciarem no Chippu. 

“Temos um podcast duas vezes por semana, vamos ter a versão web com mais espaços de publicidade e serviços na área de notícias em que iremos fazer newsletters específicas.”

O PLANO É MONETIZAR TAMBÉM VENDENDO PESQUISAS DE COMPORTAMENTO

O Chippu também pretende monetizar oferecendo pesquisas de comportamento e consumo para players relacionados à indústria do entretenimento.

Em média, a retenção do usuário dentro do Chippu é de quatro minutos por sessão. Tempo suficiente, diz Thiago, para que a inteligência artificial extraia comportamentos de consumo.

“Como temos mais de 120 mil usuários, conseguimos fazer um recorte de comportamento em tempo real. Pelo nosso dashboard é possível saber qual o serviço de streaming está em alta, o gênero de filme mais popular a cada dia e horário, o ator preferido, o cartaz do filme que chama mais atenção…”

Ainda não há clientes nesse formato; a equipe está refinando a plataforma. 

“Queremos deixar esse modelo pronto para o lançamento nos Estados Unidos e no México, provavelmente em outubro.”

A IDEIA ORIGINAL, COBRIR TODA A ÁREA DE ENTRETENIMENTO, SEGUE NO RADAR

Hoje, diz Thiago, além de ser uma ferramenta de recomendação, o Chippu é quase uma rede social. 

É possível criar seu perfil, seguir e interagir com outras pessoas, montar playlists, deixar sua avaliação (já são 300 mil avaliações registradas) ou escrever críticas sobre os filmes (o app conta atualmente com 20 mil resenhas).

Toda semana é agregado um feature novo. Prevista para a segunda semana de setembro, uma área de conquistas virá para engajar os usuários. “Se ele viu, avaliou e escreveu críticas de todos os filmes de Harry Potter, por exemplo, ganhará uma medalha de Hogwarts.”

O empreendedor considera que o Chippu está em versão beta. “Provavelmente, a ‘versão 1.0’ será lançada até o final do ano, quando vamos incluir séries no catálogo, uma aba de notícias e a versão web.”

Mesmo com a alta adesão (e a sondagem de investidores), ele mantém os pés no chão.

“A dificuldade é manter esse sucesso estável. Por mais que o streaming seja algo que veio para ficar, o Chippu não pode depender só disso para ser sustentável. O desafio é se reinventar e se adaptar”

Daí que a ideia original — cobrir toda a área de entretenimento — continua no radar.

“Queremos tomar conta de streaming e cinema neste ano. Aí, partimos para o ‘ao vivo’. Assim, poderemos ajudar o usuário a montar sua agenda completa de entretenimento.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Chippu
  • O que faz: Aplicativo de recomendação de filmes em plataformas de streaming
  • Sócio(s): Thiago Romariz, Luigi Pedroni, Thamer Hatem e Vitor Porto
  • Funcionários: 10
  • Sede: Brasília
  • Início das atividades: 2020
  • Investimento inicial: R$ 40.000
  • Contato: suporte@chippu.com.br
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