E se uma camisa ou um vestido pudessem carregar as histórias e símbolos do Pará? Essa é a proposta da Retrô Chic, criada em Belém por Patrícia Souza em 2014.
Inspirada pelo imaginário amazônico, a marca autoral transforma referências culturais em estampas que expressam identidade local, religiosidade e sustentabilidade.
“A Retrô Chic é uma marca que celebra a Amazônia, as raízes do Norte e as nossas peculiaridades regionais”
Agora, com os olhos do mundo voltados para Belém, durante a COP30, Patrícia espera levar seus encantos e criações para novos públicos.
Administradora por formação, Patrícia, 48, sempre foi apaixonada por moda. A decisão de empreender surgiu em um momento em que, segundo ela, o mercado ainda não reconhecia a força da criação autoral no Norte.
“Era preciso ir a outros lugares para ter chance de ingressar na área. No início, com o meu trabalho CLT, eu sustentava o negócio”, relembra. E a divulgação era um trabalho de formiguinha:
“Não tínhamos muito acesso à internet como hoje, então a gente ralava muito para aparecer. E, principalmente, para colocar na cabeça das pessoas que a nossa produção regional e artesanal poderia ser boa, de muita qualidade”
Com o tempo, a marca conquistou autonomia financeira e passou a ser valorizada como expressão da cultura local.
Ao longo de sua trajetória, a Retrô Chic lançou coleções que dialogam com diferentes aspectos da cultura paraense.
“Raízes” buscou inspiração na arte marajoara, enquanto “Atrativos” resgatou os vidrinhos de essências e perfumes vendidos no Mercado Ver-o-Peso. Já em “Lá do Norte”, palavras e expressões típicas regionais viraram grafismos de moda.
A mais recente coleção do Círio, intitulada “Encantos Amazônicos”, presta homenagem à tradicional festa religiosa celebrada em outubro, com o ápice da comemoração no dia 12. Uma das estampas reproduz o artesanato de miriti, palmeira local que serve de matéria-prima para a fabricação de brinquedos super coloridos e cheios de simbolismos utilizados como decoração no Círio. Casinhas, barcos, cobras e a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, entre outros elementos, compõem a narrativa visual assinada por Thay Petit.
Trio vestindo a estampa Miriti da Retrô Chic.
Outra criação de destaque dessa coleção é a estampa Salve a Amazônia, desenhada pela ilustradora Caroline Santos – e que traz um pedido: “Nossa Senhora de Nazaré, salve a Amazônia”.
“Eu queria muito fazer algo que remetesse a esse nosso momento, às questões climáticas, a nossa fauna e flora”
Nessa estampa, encontram-se árvores e palmeiras da flora amazônica, a vitória-régia, rios, embarcações, uma onça, uma arara e dois personagens folclóricos — a Boiúna (cobra gigante que vive no fundo dos rios amazônicos) e o curupira, alçado a mascote desta edição da COP.
As ideias nascem no imaginário de Patrícia, que conta com uma rede parceira feminina para transformar conceitos em desenhos. São mulheres ilustradoras, como as já citadas Thay e Caroline, Brenda Lemos e a própria filha da empreendedora, a arquiteta Kharen Ohanna de Souza Teixeira.
As ilustrações são enviadas para fora de Belém, onde são aplicadas em tecidos sustentáveis — a viscose digital, feita com fibras proveniente de áreas reflorestadas. Segundo Patrícia, não é um tecido fácil de ser estampado, mas é o mais adequado ao clima amazônico.
Estampa Salve a Amazônia.
A etapa seguinte acontece em ateliês parceiros na capital, comandados por costureiras como dona Raimunda e dona Vera. O ciclo se completa com a produção de editoriais fotográficos em parceria com fotógrafos e influenciadores locais, como Tiane Melo.
Os itens mais vendidos da Retrô Chic são os vestidos chemise, os kimonos e as camisas de botão. Os valores variam de R$ 89,90 a R$ 400 e as peças podem ser compradas nas lojas parceiras Espaço Vem, Estação das Docas e quiosque Tapuia Artesanato, além de no próprio WhatsApp da marca, que envia seus produtos para todo o Brasil.
Desde a fundação, a Retrô Chic assume um compromisso ambiental que transcende o trabalho com tecidos ecológico e se reflete em outras ações.
Durante a pandemia, por exemplo, os tecidos excedentes foram transformados em máscaras, numa política de lixo zero. Depois, os retalhos passaram a ser usados para produzir elásticos de cabelo e ecobags, entregues como brindes aos clientes.
E falando em sustentabilidade — e em Belém como palco da COP30 —, Patrícia espera que, para além do debate climático, o evento ajude a direcionar holofotes sobre o empreendedorismo e a cultura local. E que essa projeção não seja apenas passageira:
“Precisamos fomentar as pessoas daqui para que nossa economia gire — e para que quando tudo isso passar, a valorização da nossa cultura continue e se expanda”
Com essa ideia em mente, ela reflete sobre o poder da moda como impulsionadora de mudanças em favor do meio ambiente:
“A moda pode trazer consciência ambiental a partir do momento que as pessoas entendem o impacto de consumir marcas autorais, locais e que levantam bandeiras sustentáveis e culturais.”
Você é vegano(a) ou tem intolerância à lactose? De olho no sabor e em opções mais inclusivas, Marcos Christol e a sócia Marina Sena criaram o primeiro leite vegetal do país feito de banana (e não, não é uma vitamina).
Como nasce uma marca de cosméticos sustentáveis? A AmoKarité, de Estephanie Rosa e Clara Klabin, tem como destaque no catálogo batons, bases e iluminadores com fórmulas veganas e formato de frutinhas, embalados em caixas de papel compostável.
A Soul Brasil, de Letícia e Peter Feddersen, produz conservas e condimentos com ingredientes de comunidades indígenas e pequenos agricultores da Amazônia. E agora quer levar nossos sabores para fora (driblando o tarifaço de Donald Trump).