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Como foi o nascimento e o desenvolvimento do primeiro carro a etanol do mundo

Leandro Alvares - 24 jul 2019
Os primeiros carros “100% a álcool” demandaram três anos de pesquisas e testes da Fiat.
Leandro Alvares - 24 jul 2019
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A história do primeiro carro a etanol do mundo – pioneirismo protagonizado pela Fiat em julho de 1979 – remonta a 1976, quando as pesquisas e desenvolvimento do Fiat 147 a etanol começaram – não casualmente, o mesmo ano em que o 147 a gasolina foi lançado no Brasil. “Vivíamos a era do Pró-Álcool, um programa nacional para combater a crise do petróleo”, lembra Francisco Satkunas, conselheiro da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade). “Então, todos os fabricantes de automóveis desejavam ser os primeiros a lançar um carro 100% a etanol.”

Ainda em 1976, em sua primeira participação no Salão do Automóvel de São Paulo, a Fiat expôs um protótipo do 147 a etanol com dezenas de milhares de quilômetros rodados. Ele chamou tanta atenção do público quanto o modelo de rua, recém-lançado. O ano seguinte foi dedicado ao aperfeiçoamento técnico do produto, além da construção de novas unidades que foram sendo submetidas a diversos testes.

Em 1978, a Fiat desenvolveu o motor 1.3 de 62 cv de potência e 11,5 kgfm de torque que, durante os testes, acabou se mostrando mais adequado para o uso do etanol que o propulsor a gasolina de 1.050 cilindradas, até então utilizado no 147. No início daquele ano, três Fiat 147 a álcool foram entregues ao DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) para serem experimentados no policiamento da Ponte Rio-Niterói. Em setembro de 1978, um Fiat 147 100% a etanol realizou o que viria a ser o teste definitivo para criação do primeiro motor brasileiro a etanol: uma viagem de 12 dias e 6.800 quilômetros de extensão pelo país, percorrendo uma média superior a 500 km diários, três mil quilômetros por vias de terra e variações climáticas de mais de 30 graus.

 

O teste definitivo para a criação do primeiro motor brasileiro a etanol: 6.800 quilômetros rodados durante 12 dias em vias de terra e variações climáticas de mais de 30 graus.

Entre os diferenciais, a taxa de compressão do motor 1.3 foi bastante elevada, de 7,5:1 da versão a gasolina para 11,2:1, e a carburação passou a trabalhar com mistura ar-combustível bem mais rica (com maior percentual de combustível). Essa era a razão de seu maior consumo – 30% mais alto.

“O propulsor ficou com potência pouco maior que a do similar a gasolina, devido à necessidade de conter o consumo: 62 cv brutos contra 61. Por outro lado, a taxa de compressão mais alta favorecia o torque e, portanto, as retomadas e acelerações em baixa ou média rotação. Mas o número que realmente importava era o custo por quilômetro rodado, menos da metade da versão a gasolina, com os preços dos combustíveis na época”, destaca Cotta.

O enorme interesse do consumidor pelo Fiat 147 movido a etanol é confirmado pelos números de vendas. De 1979 a 1987, período em que foi comercializado no Brasil, foram vendidas 120.516 unidades.

“Foi uma revolução no sentido da matriz energética, pois não existia em nenhum lugar do mundo”, destaca Renato Romio, chefe da divisão de motores e veículos do Instituto Mauá de Tecnologia.

“Além disso, a relação custo-benefício do carro com o novo combustível era muito boa, pois o preço do etanol era praticamente 50% menor que o da gasolina e o desempenho do veículo com o álcool também era melhor. Não à toa, os carros a etanol começaram a despontar como líderes de vendas no país”.

O desenvolvimento do motor a etanol não foi uma tarefa simples e muitos desafios técnicos foram solucionados ao longo do percurso, como lembra Renato Romio. “Os fabricantes tiveram que desenvolver importantes soluções, como um tratamento de proteção especial para os carburadores, plásticos e materiais de válvulas mais resistentes, enfim, mudar as características do motor para que ele não quebrasse.”

O motor do primeiro 147 a etanol: um novo sistema de alimentação para evitar a oxidação.

Supervisor de Engenharia de Produto da FCA, Ronaldo Ávila, que na década de 1980 trabalhava no laboratório químico da montadora, acompanhou de perto os constantes aperfeiçoamentos do 147 a etanol. “Minha equipe analisava as peças dos motores. Era um desafio muito grande: no início havia oxidação. Para que viesse a funcionar com o etanol, o sistema de alimentação como um todo [tanque de combustível, bomba, tubulações, carburador, etc.] precisou ser mais robusto para suportar um combustível extremamente corrosivo”, conta.

Após muitos testes, a engenharia da Fiat encontrou uma solução para proteger as peças do motor: o uso de níquel químico. “Esse metal cria uma camada de proteção nos componentes, inibindo as ações do etanol”, explica Ávila. Outra providência foi a instalação de conjunto de escapamento aluminizado.

Por ser o pioneiro entre os carros a etanol, o Fiat 147 foi também o primeiro a encarar algumas características do combustível, como o baixo poder calorífico em relação à gasolina. Na prática, isso significava a lendária maior dificuldade para dar a partida no motor em dias frios. “Para resolver esse problema, a engenharia instalou o reservatório de partida a frio. Um botão no painel do carro aciona uma bombinha igual a do lavador do para-brisa e ela injeta no coletor de admissão uma quantidade de gasolina suficiente para dar a partida principalmente em baixas temperaturas”, detalha Cotta.

Para Renato Romio, o Fiat 147 tem grande importância para a história dos carros a álcool no Brasil por ter participado daquilo que ele considera as “três fases dos veículos a etanol no país”. “A primeira fase era simplesmente para fazer os motores funcionarem com o combustível. Na segunda, o objetivo foi fazer com que funcionassem direito. Por último, tornar os propulsores menos poluentes e mais econômicos.”

Esta matéria pode ser encontrada no Mundo FCA, um portal para quem se interessa por tecnologia, mobilidade, sustentabilidade, lifestyle e o universo da indústria automotiva.

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