Já sabe em quem vai votar? O Colab acaba de lançar um game para ajudar os brasileiros a votar melhor. (Estamos precisando, não?)

Bruno Leuzinger - 11 nov 2020
Paulo Pandolfi (ao fundo, à esq.) e Gustavo Maia, os sócios do Colab (foto: Leo Orestes).
Bruno Leuzinger - 11 nov 2020
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Você sabe (mesmo) como funcionam as instituições democráticas? O que é orçamento público, pacto federativo? O que faz um vereador?

Para fortalecer a educação política e o engajamento cívico, o Colab, plataforma de conexão entre pessoas e governos, acaba de lançar (às vésperas da eleição municipal) um jogo dentro de seu aplicativo.

Batizado de Jornada do Cidadão, o game convida o usuário (o app pode ser baixado gratuitamente, em versões para iOS e Android) a testar seus conhecimentos sobre questões como democracia, divisão de poderes e sistema eleitoral. Um dos objetivos, segundo a govtech, é estimular o voto consciente.

O Colab já foi pauta aqui no Draft, em 2018. A startup municia governos com informações para tomadas de decisão e permite a pessoas reportarem problemas que precisam de atenção das autoridades. Nos últimos dois anos, expandiu sua base de usuários para 300 mil pessoas — e quer atingir 1 milhão em 2021. 

A seguir, Gustavo Maia, CEO do Colab, fala sobre a Jornada do Cidadão, conta como a empresa reagiu à pandemia, e como vem direcionando a estratégia para ser mais do que uma ferramenta de zeladoria urbana.

 

Como nasceu a ideia de desenvolver o jogo Jornada do Cidadão?
Sempre tivemos uma vontade que o aplicativo da Colab tivesse ferramentas para gerar engajamento de forma que as pessoas aprendessem [sobre política e instituições democráticas]. 

No início deste ano, o Instituto Votorantim e a CBA lançaram um edital em busca de soluções de engajamento cívico. Construímos juntos, dentro do aplicativo, uma jornada de educação política. 

O que é essa jornada? É para que a pessoa vá aprendendo: “o que um prefeito faz? E um vereador? E como você pode participar mais…?”

A jornada funciona no app em si. É um gamezinho com missões que você vai passando de fase, ganhando pontos, alguns prêmios (como um e-book), de vez em quando um quiz para ver se você aprendeu direito… Para que, ao final, a pessoas saibam melhor como funcionam as instituições

Apesar de estarmos lançando perto da eleição, é atemporal, está lá por tempo ilimitado. Não tem que baixar até o domingo. Pode fazer isso pelos próximos meses. E  assim vamos engajando, engajando, engajando cada vez mais pessoas.

Quem é o público-alvo?
O game tem uma função social. Vamos supor que todas essas pessoas do Brasil inteiro que já gostam do tema engajamento cívico baixem o app e usem… Legal, mas até aí estamos pregando para convertidos…. O que é incrível, também. Porém, tentamos ir além desse impacto.

Queremos alcançar pessoas de classes sociais que tenham uma necessidade utilitária de se relacionar com a prefeitura, através do Colab. Por exemplo, porque tem uma fossa de esgoto na frente da casa dela. 

Quero engajar essa pessoa na Jornada do Cidadão, para que ela entenda a diferença entre um vereador, prefeito… De forma que, talvez, na próxima eleição, ela não vai mais votar no cara que se diz líder comunitário, e que vai trocar um favor com o vereador… 

Engajamento, transparência, interatividade, diálogo… São conceitos que norteiam o Colab desde sempre, e vão continuar norteando.

Como o Colab reagiu à pandemia?
Temos um grupo de WhatsApp com gestores de cidades que são clientes nossas. Em março, assim que apareceu a pandemia, começaram as trocas de mensagens sobre decretos de isolamento etc. E aí apareceu a demanda: Colab, vocês precisam ajudar a gente. 

Marcamos uma reunião com gestores de Recife, Maceió, Niterói e Santo André. E aí, pensei, quem é o cara mais forte de epidemiologia que eu conheço? O Onício Leal, da Epitrack, que competiu comigo no Chivas Ventures [em 2015]. Foi uma conexão perfeita.

Chamei: Onício, vou fazer uma conversa com outro prefeituras, pode vir falar com essa galera sobre vigilância [epidemiológica] participativa? Ele topou, falou, e depois da reunião entendemos que era hora da gente fazer algo juntos pela primeira vez. 

E assim, lançamos a plataforma Brasil Sem Corona, colocando dentro do app do Colab uma consulta de sintomas e de contatos com pessoas com Covid. E por trás do app, os algoritmos da Epitrack rodando, para identificar no mapa para onde a doença estava indo

Lançamos, foi um estouro logo de cara, conseguimos entregar dados qualificados no Brasil inteiro. 

Um exemplo: em Caruaru (PE), com base nas informações [coletadas pela plataforma], o time da Epitrack rodou estudos e conseguiu direcionar quais eram os locais de maior incidência da doença para que a prefeitura fizesse testes naquele sociais.

O índice de assertividade foi tão grande que isso virou um paper publicado numa revista internacional científica, avaliado por pares e comprovado que com base em vigilância participativa a gente tinha um ganho enorme no combate à Covid.

Que aprendizados vocês extraíram desse projeto? E de que forma ele pode ajudar a direcionar novos rumos para a empresa?
Em termos zeladoria urbana, o nível [de engajamento] caiu: como você vai reportar buraco [pelo app] se não sai à rua? Mesmo assim, nesses últimos meses tivemos o maior engajamento da história do Colab, por conta da coleta de dados do coronavírus.

A pandemia foi um experimento para que a gente visse que o Colab podia ser mais amplo, trabalhar com outras empresas, outros governos

Fizemos essa estratégia conjunta com a Epitrack e trouxemos outra startup, a Ti.Saúde, que tem uma plataforma de teleconsulta parceira da Universidade Federal de Pernambuco. Quem reportasse sintomas, se estivesse mal, podia marcar gratuitamente uma teleconsulta com um médico da UFPE.

Tudo isso nos ajudou a entender que o Colab não precisa fazer “tudo”. O iFood não produz todas as comidas. Da mesma forma, nem todas as ferramentas precisam estar dentro do Colab, podemos trazer outras startups para dentro do nosso aplicativo

Isso está se desdobrando em um produto incrível que será lançado em 2021. Um superapp, com algumas ferramentas de gestão por trás… Estamos chamando de um “novo Colab”. É uma nova etapa da companhia.

Conta um pouco mais sobre esse projeto? Qual é a ideia, e como ele vem sendo implementada?
Zeladoria urbana não é um grande problema do cidadão. É um problema das cidades? Óbvio, cidades são ruins porque não têm uma boa zeladoria urbana. Mas essa não é a dor verdadeira do cidadão. Quantas vezes você ligou para reclamar de um buraco na frente da sua casa? Uma, duas? 

E quando a gente olha para as camadas mais vulneráveis, problema é ter que ir num domingo às 5 da tarde e virar a noite na fila de um posto de saúde para pegar uma ficha para agendar um exame dali a três meses…

Estamos entrando numa linha de ser um super app de utilidades de governo. Como uma ferramenta mais útil e mais forte de gestão de cidade e relacionamento, com integração de dados para que você consiga acessar os serviços de forma fácil, sem precisar de título de eleitor…

Em julho, no meio da pandemia, fechamos uma nova captação, de 3 milhões de reais, com fundos que são nossos sócios. Nos nossos moldes atuais, foi uma captação relativamente pequena, mas que está dando foco para potencializar nosso crescimento. 

Estamos nessa mudança de produto. E se saímos de 200 mil para 300 mil usuários entre 2018 e 2019 agora, em 2021, queremos pular para 1 milhão de usuários: dar um grande salto para levar utilidade a cidadãos do Brasil inteiro.

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