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O Estúdio Eon nasceu para ser a primeira produtora do país com foco em documentários sobre famílias

Marina Audi - 9 out 2019 Marina Audi - 9 out 2019
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Misturar amizade e negócios é um risco? Se sim, o Estúdio Eon quer desafiar essa máxima. Recém-lançada (em agosto), a empresa se propõe a ser a primeira produtora brasileira focada em cinebiografias e documentários sobre famílias. À frente estão Fabio Schivartche (ou Xivas, como é conhecido), 46, e Kiko Ferrite, 47, amigos de mais de duas décadas.

O nome da empresa remete aos éons, a maior unidade do tempo geológico — em grego antigo, Aιων [aion] significa eternidade ou força vital. A ideia é que, ao se abrir e falar para a câmera, os entrevistados ajudem a perpetuar um legado aos descendentes. Xivas afirma:

“Notamos um interesse crescente das pessoas em contar e deixar registradas as próprias histórias a fim de preservar valores e passá-los para as futuras gerações – o que, no fundo, tem a ver com propósito, com o que se vai deixar para o mundo”

Antes mesmo de se anunciar ao mercado, o Estúdio Eon começou a “abrir câmera”, jargão do audiovisual para um dia de trabalho no set de filmagem. Desde junho, os sócios já produziram três documentários e estão finalizando o quarto (previsto para o início de 2020), sobre os Wessel, família de origem húngara dona da marca de cortes de carne especiais.

AS PESQUISAS E ENTREVISTAS DETERMINAM A HISTÓRIA QUE SERÁ CONTADA

Uma diferença fundamental do produto do Estúdio Eon para um filme corporativo ou institucional é que, nestes, o realizador tem de se ater ao que foi previamente combinado. Além disso, em um vídeo de brand content, diz Kiko, a inspiração vem de acrescentar a uma determinada marca alguns valores, signos e imagens que vão ajudá-la a se fortalecer.

“No filme sobre uma família, o que inspira são as conversas e os entrevistados. Primeiro pesquisamos e entrevistamos todo mundo para, depois, avaliarmos qual é a história a ser contada. É um processo aberto”

O filme da família Wessel, em pós-produção, é um exemplo. Inicialmente, o empresário István Wessel seria o protagonista. Mas, ao conversar com outros membros da família, Kiko (que dirigiu o trabalho) e Xivas (responsável por pesquisa e roteiro) descobriram que a mãe de István, dona Eva Wessel, de 95 anos, tem papel fundamental na história daquela família.

“Quando percebemos que o filme seria sobre dona Eva, a família inteira ‘veio junto’ nessa viagem. No começo, isso não estava claro nem para nós, nem para eles”, diz Xivas.

UM NICHO DO MERCADO EDITORIAL SERVIU DE INSPIRAÇÃO PARA O NEGÓCIO

Xivas foi repórter de Veja, Folha de S.Paulo, UOL e G1, depois trabalhou dez anos com Relações Públicas. Começou a pensar o Estúdio Eon em abril, após deixar a sociedade na Loures Consultoria (adquirida pelo grupo FSB). Chamou então Kiko — cientista social de formação e fotógrafo por vocação — para desenhar a empreitada em conjunto e atender a uma demanda “difusa, quase invisível” de um novo nicho, as cinebiografias.

Com contatos no meio editorial, os dois estavam antenados sobre como biografias de família haviam se tornado um segmento em ascensão. Vislumbraram então a ideia de contar essas histórias com imagens em movimento. Xivas explica:

“Usamos técnicas de documentário e jornalismo aprendidas nos muitos anos de trabalho para que uma história fique envolvente e interessante. Nosso olhar é para que o filme seja bonito, informativo e estimulante. Não pode ficar lento, nem chato!”

Os filmes têm a vantagem de reter o rosto e a voz, que podem ser conferidos daqui a 50 ou 100 anos, lembram os sócios. Porém, eles enfatizam que veem as biografias impressas não como concorrentes, mas como complementares: “As pessoas podem começar querendo fazer um livro e depois partir para um filme”, diz Xivas. “O livro pode se transformar em um pré-roteiro para o filme ou ser um ponto de partida.”

O PILOTO ENFOCOU A FAMÍLIA DO PAI DE XIVAS, DE ORIGEM JUDAICO-UCRANIANA

A primeira produção, Jardim Hollywood (assista ao trailer), custou R$ 70 mil, tem 48 minutos e serviu como um piloto para a dupla testar a linguagem dos documentários de famílias. Xivas assumiu a direção do filme, que conta a história da família de seu pai, de origem judaico-ucraniana. Por ora, não há exibição prevista em cinemas ou festivais.

Os outros dois filmes já entregues foram feitos sob acordo de confidencialidade, portanto o Estúdio Eon só pode revelar que foram co-dirigidos pelos sócios e têm 37 e 29 minutos de duração. O contrato-padrão da empresa prevê direitos autorais para o Estúdio Eon, mas cessão de uso permanente ao cliente.

Importante: se o contrato prevê o uso exclusivamente não-comercial, caso haja interesse posterior em se utilizar as imagens numa propaganda, por exemplo, toda a negociação precisa ser revista, o que pode incluir valores.

Hoje, a empresa tem três pessoas na equipe. Além disso, cada projeto engaja cerca de dez profissionais freelancers, para tocar roteiro, produção, edição, montagem, finalização e design gráfico.  

CADA FILMAGEM PROMOVE UMA ESPÉCIE DE “ARQUEOLOGIA FAMILIAR”

Das conversas iniciais com um cliente até a entrega de um filme podem transcorrer de quatro a seis meses. A duração, a visibilidade do conteúdo — pública ou privada — e a logística de produção, incluindo dias de filmagem, número de entrevistados, prazo de entrega e orçamento, variam de um trabalho para outro.

O fio condutor de cada trabalho é cocriado pela equipe da produtora junto com os membros da família que terá sua história contada. Os sócios contam que, ao longo da realização do filme, promove-se uma espécie de “arqueologia familiar”. Segundo Kiko:

“Muitas famílias não exercitam o olhar para si mesmas. Quando elas se propõem a fazer isso, é uma surpresa. É um mundo que se abre, um leque de desafios, de autoconhecimento, de novas relações…”

Xivas completa, explicando que as pessoas se sentem instigadas e passam a buscar informações esquecidas com parentes mais distantes: “As pessoas vão atrás de imagens dos antepassados e isso gera uma comoção, elas voltam a se reconectar”.

NO BOCA A BOCA, A PROCURA SURPREENDEU POSITIVAMENTE OS SÓCIOS

Neste momento, o Estúdio Eon divide equipamentos e uma sala do coworking Casa Vesper, em Pinheiros, com a produtora Pletora Filmes. Mesmo nesse esquema compartilhado, os sócios investiram R$ 80 mil para abertura de firma, desenvolvimento de site, redes sociais, SEO e no primeiro filme. A previsão é fechar 2019 com faturamento de R$ 500 mil.

A divulgação, por enquanto, tem sido no boca a boca, o suficiente para atrair, segundo os sócios, dez interessados nas últimas quatro semanas. Essa procura surpreendeu os dois positivamente e gerou seis orçamentos ainda à espera de resposta. A dupla de amigos já sonha em expandir pela América do Sul, quando o mercado nacional estiver bem coberto.

Diante da pergunta se a grande presença de imigrantes torna o Brasil mais convidativo à proposta do Estúdio Eon, os sócios rebatem: todo mundo tem uma história que vale ser preservada, ainda que menos dramática do que a fuga de uma região de conflito.

“Quando a gente se conecta com uma família, é porque ela tem interesse em deixar seu legado”, diz Xivas. “Então, vamos ao âmago, tocamos o coração do inconsciente coletivo daquela família. Talvez isso seja a coisa mais verdadeira que essas pessoas possam deixar. É muito íntimo, e muito inspirador.”

 

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Estúdio Eon
  • O que faz: Produz documentários de famílias e cinebiografias
  • Sócio(s): Fabio Schivartche e Kiko Ferrite
  • Funcionários: 3 (além de cerca de 10 freelancers)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2019
  • Investimento inicial: R$ 80 mil
  • Faturamento: R$ 500 mil (previsão para 2019)
  • Contato: [email protected]
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