Handprint (impressão das mãos, em tradução livre) é um indicador que quantifica os impactos positivos (reais e potenciais) que um produto ou solução produzem para o ambiente. De certa maneira, o conceito se contrapõe à já popular “pegada de carbono” (carbon footprint, em inglês) e outros indicadores “negativos”, que medem a quantidade de gases de efeito estufa (GEE) liberados na atmosfera por indivíduos, localidades, produtos, instituições etc.
De acordo com o Carbon Handprint Guide, produzido pelo Centro de Pesquisa Tecnológico da Finlândia (VTT), da Finlândia, em parceria com a também finlandesa Universidade de Tecnologia de Lappeenranta, enquanto o objetivo de quem contabiliza pegada de carbono é zerar emissões, os impactos positivos que podem ser gerados a partir de handprints são ilimitados:
“Reduzir a própria pegada de carbono não é handprint. Na verdade, o handprint só acontece quando se reduz a pegada de carbono de um outro agente envolvido.”
O termo é uma novidade que ainda não tem uma versão aportuguesada e sempre é calculado em comparação ao uso de produtos ou soluções convencionais.
Por exemplo: um estudo finlandês, publicado em 2019, demonstrou que se um veículo de logística em Helsinque trocasse o diesel convencional por diesel renovável (feito a partir “de óleos vegetais, de gorduras animais, de microorganismos e resíduos como óleo de cozinha usado”, como define o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás) reduziria suas emissões anuais de CO2 em 21 toneladas.
Obviamente, uma frota de veículos adotando o mesmo combustível renovável multiplicaria a contribuição ao ambiente.
Os autores finalizam o artigo propondo que “abordar os handprints é válido para empresas e organizações para quantificar e comunicar o benefícios ambientais de produtos, serviços ou tecnologias que oferecem a seus clientes.”
E complementam propondo handprints para outras medidas de impacto socioambientais:
“Até aqui, os handprints têm servido para medir a redução nas emissões de GEEs, mas o futuro é promissor para avaliar outros impactos ambientais, como o uso da água. Além disso, o conceito pode se estender para além da sustentabilidade ambiental, considerando handprints econômicos e sociais.”
Além de calcular o impacto ambiental positivo que o usuário gera, os handprints também mensuram outros benefícios que a solução ou produto podem trazer para a indústria de que fazem parte, caso sejam adotados no lugar de seus equivalentes convencionais. Um bom exemplo disso vem de um artigo publicado por pesquisadores nos EUA e na Alemanha no final de 2021.
O paper aponta o handprint (neste caso, o potencial de emissões de carbono evitadas) caso um fabricante de leite adotasse uma embalagem mais ecológica. Quatro cenários foram projetados, considerando a adesão de empresas e consumidores:
1. Um fabricante adota embalagens ecológicas, que emitem menos carbono em sua confecção:
Redução de 5,3% nas emissões de GEE
2. O restante do mercado adota a solução mais ecológica (ainda que isso aumente a pegada de carbono do fabricante das embalagens):
Redução de 10% nas emissões de GEE
3. Consumidores do fabricante aderem à inovação mais ecológica:
Redução de 1,5% nas emissões de GEE
4. Consumidores de todos os fabricantes aderem à inovação mais ecológica:
Redução de 10% nas emissões de GEE
No fim das contas, no cenário ideal, com diferentes marcas e consumidores aderindo à embalagem mais ecológica, que emite menos GEE, o handprint total seria de 68,5 milhões de toneladas de CO2-eq (contra apenas 0,5 milhões de toneladas deixando de ser emitidas caso somente a fabricante original das embalagens aderisse).
Além das conclusões quantitativas, o estudo evidencia uma premissa fundamental no conceito de handprint: os agentes de impacto positivo não são os produtos ou inovações em si, mas, sim, os que fazem uso destes recursos, sejam eles indivíduos ou organizações.
Ao concluir o estudo, os autores declararam que os resultados mostraram como empresas podem usar handprints para divulgar reduções de pegada de carbono criadas por meio da ecoinovação de produtos e que essas reduções podem se estender para fora do ambiente que gera a inovação. Essas informações podem apoiar a tomada de decisão das empresas para que escolham soluções contabilizando ambientalmente sua cadeia de valor e os mercados externos.”
E complementam o raciocínio dizendo que:
“Esta pesquisa expande a forma de pensar as mudanças climáticas como um problema apenas de mitigação e busca soluções tanto nas empresas quanto nas mudanças de comportamento dos consumidores.”
O Carbon Handprint Guide menciona algumas maneiras de obter handprints. Elas podem ser realizadas isoladamente ou em conjunto:
Uso de materiais
– Substituição de materiais não renováveis;
– Substituição de materiais que emitem muito GEE em sua fabricação;
– Aumento na eficiência do uso de materiais.
Uso de energia
– Substituição de energias não renováveis ou que emitem muito GEE para serem obtidas;
– Diminuição no uso de combustíveis;
– Melhorias em eficiência energética.
Vida útil e desempenho
– Prolongamento da vida útil de produtos;
– Melhorias no desempenho de produtos.
Desperdício
– Redução de descartes e perdas
– Reciclagem, reuso e remanufatura
Captura e armazenamento de carbono
– Mudanças no uso da terra para armazenar GEE
– Remoção de carbono em biomassa
- Armazenamento de carbono em produtos
Definitivamente, promover handprints é fundamental para estabelecer a sustentabilidade em instituições e comunidades, mas comunicar o que está sendo feito também é importante. Ainda de acordo com o Carbon Handprint Guide, além dos benefícios socioambientais, divulgar os handprints é positivo também para:
• Ações de marketing e comunicação;
• Informar e aconselhar os tomadores de decisão e outras partes interessadas;
• Identificar oportunidades para melhorar o desempenho climático de outros produtos.
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