“Pai de 7 filhos, mudei minha rotina quando entendi que ‘o tempo que sobra’ não basta para construir uma paternidade acolhedora”

Rodrigo Koetz de Castro - 12 ago 2022
Rodrigo com os filhos. A partir da esquerda: Iury, Alexia, Nicole, Enzo, Nina, Michel e Nathan.
Rodrigo Koetz de Castro - 12 ago 2022
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Cresci em uma família amorosa e trabalhadora, com forte influência da cultura alemã e grande apreço ético pelo trabalho.

Frases como “estude para ser alguém na vida”, “trabalhe de sol a sol”, “acorde cedo para o dia render” e “o trabalho enobrece o homem” fizeram parte de minha formação com a mesma importância que “a família em primeiro lugar”, “ame Deus acima de tudo” e “não culpe os outros pelo seu fracasso”. 

Estava incutido em minha mente a necessidade de ser um homem exemplar, eficiente, bem-sucedido, completo, prudente, equilibrado e justo. Praticamente um misto de máquina de produção e Superman

Essa fórmula pareceu adequada para mim por trinta anos: tinha uma família linda, minha carreira ia bem e desenvolvia-se rapidamente, minha espiritualidade dava conta de minha exigência e o reconhecimento social abastecia meu ego. Nada poderia dar errado ou ser ruim… 

CONSTRUÍ UMA CARREIRA SÓLIDA, MAS NADA SE COMPARA À MINHA EXPERIÊNCIA COMO PAI

Trabalho na área de tecnologia desde sempre. É uma paixão antes de um ofício. Me estimula saber o que poucos sabem e criar soluções para problemas complexos.

Como profissional de tecnologia, vi a internet e o email surgirem, vivi a bolha das ponto-com, a revolução das redes de comunicação, o surgimento dos smartphones e das plataformas SaaS, redes sociais, startups, criptomoedas e o metaverso. Me especializei e desenvolvi projetos em todas essas frentes, criando um espaço para chamar de meu.  

Como empresário e empreendedor, já fui sócio de várias empresas, passei por fusões e aquisições, joint ventures, investimento em startups e negociações com fundos de investimento brasileiros e norte-americanos e outras tantas experiências não ensinadas na faculdade e desejadas por muitos jovens.

Com frequência, faço palestras contando sobre essa jornada profissional incrível e desafiadora que vivi, repleta de desafios, superação e reviravoltas surpreendentes… Mas nada se compara à minha experiência como pai 

Empresário e executivo superatarefado, com muitas viagens e predileção pelo trabalho, tropecei tantas vezes para me tornar o pai que eu gostaria de ser que até hoje me surpreende como um abraço pode mudar tudo na vida de um homem.

Essa é a história que vou compartilhar aqui. Antes de mais nada, um disclaimer (respire fundo para não ficar chocado!).  

EM CASA, TENHO SETE FILHOS INCRÍVEIS, MAS DEMOROU PARA EU TER UMA VIDA FAMILIAR VIRTUOSA

Lá em casa somos muitos: além de minha esposa e eu, entre filhos biológicos, adotivos e enteados, somam-se sete seres humaninhos cheios de graças e dilemas de todas as faixas etárias.

Há diversão para todos os gostos: são quatro meninos e três meninas entre 9 e 19 anos, da tabuada do 7 à faculdade. Confusão de todos os tipos, visto que nenhum veio de fábrica com manual de instruções.  

Sim, você percebeu bem: um carro de sete lugares não resolve nossos passeios… questionados sobre a família, carinhosamente dizemos que “a gangue” passa bem. Somos algo como os “Peaky Blinders” do bem, se é que isso é possível

Vivemos uma vida interessante como a de todos, com todos os dilemas contemporâneos imagináveis, visitas a psicólogos, médicos, pediatras, home schooling, vacinas, festas, medalhas-canguru, viagens e comemorações.

Minha esposa também é empresária e não temos quem cuide das crianças por nós. Essa bronca é nossa mesmo e não abrimos mão por nada desse mundo. 

Mas foi necessária uma transformação mental gigantesca de minha parte para que hoje tenha uma vida familiar virtuosa.

E tudo aconteceu graças à tecnologia mais simples, gratuita, escalável – e menosprezada – da era contemporânea.  

QUANDO MINHA FILHA PEQUENA ME QUESTIONOU SE EU A AMAVA, ME SENTI NOCAUTEADO POR UM CAMPEÃO PESO-PESADO

Ao final de uma daqueles longas e atribuladas semana de trabalho e viagens, cheguei em casa, vindo do aeroporto, tarde da noite, falando ao telefone e aterrissando no meio da vida pacata e calma de minhas pessoinhas amadas. Eles estavam todos acordados, me esperando.  

“Eles souberam que você vinha hoje e não quiseram dormir antes de você chegar”, disse a avó, que morava conosco. “Estão com muita saudade!” 

Aquilo foi uma benção, um carinho gostoso na chegada, regado a baby smiles e gritinhos de “papai!”. Foi aconchegante e maravilhoso, mas em pouco tempo, os olhinhos começaram a fechar lentamente.  

Gêmeas nos berços, os maiores em seus quartos. Ao colocar a Lelê na cama, ela me pediu que eu ficasse uns minutinhos até conseguir dormir, segurando minha mão.

Aquilo levou muito tempo e ela, vez por outra, entreabria os olhos para certificar-se de que eu ainda estava ali. Parecia uma brincadeira, mas repetiu-se tantas vezes que senti que algo não estava certo, e perguntei se estava tudo bem.  

Ela sentou-se na cama, colocou as mãozinhas em minhas bochechas, aproximou-se do meu rosto, acessou pelos olhos o fundo de minha alma e – como quem faz uma pergunta cuja resposta deve ser segredo – me perguntou à queima-roupa: “Papai, você me ama?” 

Aquilo foi um soco no estômago, desferido pelo campeão peso-pesado da vida. Ela tinha seis anos e me nocauteara com apenas um golpe.

Abracei-a com muita força, repetindo inúmeras vezes que sim e do tamanho do infinito, enquanto lágrimas começaram a correr de meus olhos e a garganta ficou absolutamente trancada.

Ao mesmo tempo que me sentia gigante de tanto amor, me via pequeno na confusão de emoções que aquela criaturinha desvelara. 

Aquele momento foi o pivô de uma mudança radical em minha vida e, desde então, passei a me ver diferente perante os meus filhos.  

CONSTRUIR UMA RELAÇÃO DE CONFIANÇA COM OS FILHOS NÃO É ALGO QUE SE DEIXA PARA O TEMPO QUE SOBRA AOS FINS DE SEMANA

Boa parte do vínculo que criamos com nossos filhos depende da maneira como respondemos às suas necessidades. Isso ocorre porque estão permanentemente tentando descobrir como o mundo funciona e como nós funcionamos.

Não podemos controlar o mundo lá fora — mas, se respondermos de maneira consistente e acolhedora, construímos imagens mentais claras de que serão atendidos com a segurança que eles precisam

E quanto mais respondermos, mais eles fixam essas imagens mentais para que se sintam seguros no mundo em que vivem e no vínculo que estão construindo conosco.  

É uma questão de confiança. E vejam, confiança não tem a ver com algo bom ou ruim, como o senso comum pode levar a crer.

Confiança tem mais a ver com saber o que esperar do outro do que necessariamente definir se é algo bom ou ruim. Ao delimitarmos o que podemos esperar uns dos outros, criamos a confiança de saber como lidar com isso.

E o que as crianças precisam para serem felizes é, antes de mais nada, sentirem-se seguras. Simples assim… 

O que minha filha me disse com seu abraço é que todo meu amor por ela era incompatível com o que ela recebia de mim. Que todo meu sucesso fora de casa não abastecia o que era básico para ela.

O que ela precisava, no fundo de sua alma infantil, era saber o que poderia esperar de mim. Não da boca para fora, através de presentes, viagens e festinhas, mas de presença e afeto. Quente, pulsante, real e cotidiano.

Para construir essa “paternidade acolhedora”, é necessária muita empatia, para nos colocarmos no lugar de nossos filhos e entender melhor o mundo deles, seus sentimentos e necessidades

E isso não pode ser feito no tempo que sobra da sexta-feira à noite ou depois do churrasco de domingo.

Também não é algo que se pratica deliberadamente. Empatia, para os filhos, é algo que você só compartilha se já tem, se estiver sobrando em você.  

MUDEI MINHA ROTINA PARA ESTAR MAIS PRÓXIMO AOS MEUS FILHOS — E NÃO ME ARREPENDO DISSO

Entender isso me fez repensar muitas coisas nos dias que se seguiram. Deliberadamente, fiz mudanças na minha vida depois daquele dia.

Mudei minha rotina, renegociei minhas atividades, remodelei minha carreira, me projetei em outra posição que exigisse menos viagens, menos ausências e me permitisse estar presente nas atividades cotidianas deles.

Passados dez anos dessa reviravolta, olho para trás e não tenho arrependimentos. Dinheiro, reconhecimento profissional e social não te abandonam se você é feliz pessoalmente e trabalha com o que gosta. Conseguir, ainda, ser um pai presente é sucesso total! 

Ah, sim, você deve estar se perguntando qual foi a tecnologia que comentei antes, não é mesmo?  

Posso adiantar que passei a utilizá-la diariamente, sem restrições, em todas as interfaces possíveis e independente das críticas alheias, pois é gratuita, escalável e poderosa.

É a tecnologia emocional mais antiga e poderosa que conhecemos e serve para criar e reforçar vínculos, sem qualquer contraindicação: essa tecnologia é o abraço, quente, pulsante, real e cotidiano!  

E aí, já abraçou seus filhos hoje? 

Rodrigo Koetz de Castro, 44, é fundador e CTO da SOU.cloud, especialista em tecnologia, inovação e governança, investidor — e pai de sete filhos.

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