“Por que troquei os escritórios do mundo corporativo para cuidar de crianças no lombo de um cavalo”

Thais Perez - 9 jan 2015Thais Cimino, com Vida. criadora do Projeto Precisamos Falar Sobre Isso, uma plataformam para "reunir desabafos de mulheres que se depararam com coisas sobre as quais a maioria das pessoas prefere silenciar – e que não encontram ajuda ou apoio para falar sobre isso".
Thais Cimino, com a filha, Vida, criou o Projeto Temos que Falar Sobre Isso, uma plataforma para "reunir desabafos de mulheres que se depararam com coisas sobre as quais a maioria das pessoas prefere silenciar – e que não encontram ajuda ou apoio para falar sobre isso".
Thais Perez - 9 jan 2015
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Por Thaís Perez

 

Muito Prazer. Meu nome é Thaís Perez, sou publicitária, mas não exerço mais essa profissão desde 2013. Me formei na FAAP, em São Paulo. Trabalhei para empresas como Reebok, Microsoft, Fox e Yahoo. E deixei tudo isso para abrir um centro de Equoterapia. Saí de São Paulo, onde nasci, e me mudei para a cidade de Vinhedo, cidade de 63 mil habitantes a 75 km da capital, de modo a levar a vida que escolhi.

Durante os 10 anos da minha vida que dediquei ao mundo corporativo, cresci muito. Conheci pessoas incríveis, aprendi demais, desenvolvi meu lado profissional e pessoal, almejei galgar posições na carreira. Para isso, e para me aperfeiçoar, fiz MBA em Marketing, em 2009. E foi ali que comecei a perceber que toda a minha empolgação havia sumido. Minhas dedicação e vontade estavam sendo sufocadas pelas incontáveis demandas do dia-a-dia, pela pressão, pelas longas jornadas e pela frieza dos escritórios refrigerados (literalmente!).

Até que parei e refleti: “estou em um ponto muito bom, tanto em minha vida profissional (aos olhos de quem vê de fora) quanto em minha vida pessoal. Mas algo está realmente faltando. O que será?”

Ajudar crianças especiais a se sentirem mais felizes e autônomas. O dia-a-dia deve ser recompensador na Estância Tordilha...

Ajudar crianças especiais a se sentirem mais felizes e autônomas. O dia-a-dia deve ser recompensador na Estância Tordilha…

Foi aí que entendi que a raiz da minha frustração estava no desequilíbrio entre o que eu fazia e o que eu realmente gostaria de fazer. Queria fazer parte de algo maior, queria fazer uma diferença positiva onde eu estivesse. E eu já não sentia essa possibilidade no mundo corporativo. No final das contas, olhei para dentro e vi que era isso o que eu buscava:

1. Significado: trabalhar com um propósito maior, algo com que eu pudesse transformar vidas para melhor.

2. Equilíbrio: obter um balanço melhor entre vida pessoal e profissional.

Meu desejo estava além da autossatisfação. Era uma busca por sentido e realização. Só que eu não sabia o que me esperava.

Depois de um longo processo de autoconhecimento e de decisão, que durou pouco mais de um ano, e movida pela intenção de ajudar uma amiga, descobri a Equoterapia – uma atividade que utiliza o cavalo, seu porte, sua sensibilidade e seus movimentos para trazer mais qualidade de vida a quem a pratica. Os benefícios são vários – na área física, psicológica, comportamental, social e educacional.

Quando vi pela primeira vez uma criança especial em cima do lombo de um cavalo, feliz, viva, empoderada, sendo criança, em um ambiente ao ar livre, senti que tudo fazia sentido. Eu reencontrei um sentido. Vidas eram transformadas ali para melhor. Famílias eram transformadas quando sua criança se sentia mais segura e alegre. Os resultados eram incríveis.

Por meio da simplicidade e da harmonia que encontrei na Equoterapia, e com a força e a graça do cavalo despertando todo o potencial daquelas crianças, eu me deparei com o propósito que eu buscava para meu trabalho.

Comecei ali, em 2013, minha jornada de pesquisa, estudo e compreensão do mundo dos cavalos. Quando cheguei em um ponto crítico entre meu trabalho convencional e meu novo interesse, que começava a me puxar cada vez mais, não hesitei: me desliguei do mundo corporativo e deixei para trás a posição que ocupava, de Publisher Executive na Phorm (antiga 121 Media), empresa que desenvolve softwares de contextual advertising (sistema que serve anúncios individualmente baseado na navegação de cada usuário).

Senti um baita frio na barriga, é claro. Apesar de estar fazendo tudo com o pé no chão e com o apoio incondicional do meu marido, estava me aventurando em águas inéditas para mim. Afinal, nunca tinha trabalhado fora do mundo corporativo, iria empreender pela primeira vez. Eu sabia que não ficaria rica com o passo que estava dando. E tudo bem. Porque essa não era a minha intenção.

Senti um baita frio na barriga. Apesar de estar fazendo tudo com o pé no chão, estava me aventurando em águas inéditas para mim. Nunca tinha trabalhado fora do mundo corporativo. Iria empreender pela primeira vez. Eu sabia que não ficaria rica com o passo que estava dando. E tudo bem. Porque essa não era a minha intenção.

E, uma vez na água, comecei a nadar. Ou melhor: uma vez na sela, comecei a cavalgar. Fiz uma pós-graduação em Equoterapia, na Fundação Rancho GG, em Ibiúna, interior paulista, em 2013. Fiz também, no mesmo ano, um curso na Califórnia, no The Monty Roberts International Learning Center (MRILC), além de outros cursos no Brasil, tanto sobre cavalos quanto de negócios. Desenhei meu business model canvas, pedi conselhos a empresários que admiro e comecei a transformar o sonho em realidade.

Um ano e meio depois, o projeto se tornou realidade: a Estância Tordilha saiu do papel em 2014, em Indaiatuba, a 90 km de São Paulo. E eu tenho metido minhas mãos e meus pés, todo dia, em serragem, feno e estribos. Desde então, a Estância Tordilha tem possibilitado a transformação de vidas – a começar pela minha – estou construindo o equilíbrio entre vida profissional e pessoal que tanto queria.

Continuo lidando com desafios, dificuldades, reuniões mais cabeludas que a crina de um manga larga, mas posso dizer que minha realização é diária, seja em um sorriso, em um novo movimento, em uma palavra de uma criança atendida. O objetivo se tornou maior, e o esforço e suor trazem prazer e regozijo constantes.

Se me permitem, gostaria de encerrar esse relato com uma citação do Vick Vujicic, diretor da Life Without Limbs, que nasceu sem pernas e sem braços devido a uma síndrome rara chamada Tetra-amelia:

“Ao procurar seu caminho na vida, é normal sentir um pouco de frustração. Trata-se de uma maratona, não de uma corrida de curta distância a toda velocidade. Seu anseio de encontrar um sentido é sinal de que está crescendo, indo além dos limites e desenvolvendo seus talentos. De vez em quando é saudável parar de olhar para o lugar em que está e se perguntar se suas ações e prioridades estão a serviço de um propósito maior.”

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