Projeto Happyplaces – você já encontrou seu espaço no mundo? Que tal criá-lo?

Marcel Kampman - 1 nov 2014Marcel Kampman, idealizador do Happyplaces, um projeto destinado a registrar a criação e os criadores de "espaços de felicidade" entre nós
Marcel Kampman, idealizador do Happyplaces, um projeto destinado a registrar a criação e os criadores de "espaços de felicidade" entre nós
Marcel Kampman - 1 nov 2014
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Por Marcel Kampman

A versão curta para explicar o Projeto Happyplaces: uma pesquisa pessoal que investiga as motivações, as ideias, os métodos, as opiniões e os insights de “criadores de espaços”, em qualquer dimensão possível. E como eles ajudam as pessoas a encontrar o seu “happyplace” dentro desses “espaços” que criam.

A versão longa: muita gente cria “espaços”. O espaço fora da atmosfera terrestre é infinito. Na Terra, o espaço se tornou escasso. Arquitetos, especialistas em branding, professores, empresários, cientistas, designers – todos eles criam “espaços” para os outros. O Projeto Happyplaces está investigando os caminhos e o impacto dessa criação.

Durante meu trabalho na Royal Academy of Art, em Haia, na Holanda, e também no meu trabalho com agências de criação, um tema recorrente entre os criativos é o quanto eles sentem que “não tem espaço para criar aquilo que realmente gostariam de criar”.

Fascinante. Você esperaria que o maior objetivo de uma agência criativa fosse apenas isso – criar um “espaço” onde seus criativos pudessem gestar o melhor trabalho possível, o mais criativo. Porque, no final, é isso que você está vendendo – criatividade aplicada. E criatividade precisa de “espaço” para germinar e crescer. Mas, aparentemente, há circunstâncias limitantes e restritivas. Ou seja: há falta de “espaço”.

Workshop do Projeto Happyplaces na Holanda - a redescoberta espacial dos lugares que já não percebemos mais

Workshop do Projeto Happyplaces na Holanda – a redescoberta espacial dos lugares que já não percebemos mais

Encontrei esse mesmo sentimento numa série de projetos em que estive envolvido, como o Festival PICNIC, do qual fui curador por vários anos. Idealmente, esses lugares deveriam gerar “espaços” em que as pessoas se sentissem confortáveis para encontrar novas pessoas, de modo fácil, sem estresse. Onde elas tivessem “espaço” para criar e para abraçar o acaso.

Para uma grande empresa de varejo, minha cliente, o “espaço” é também um assunto importante. Eles se mudaram de uma empresa orientada pelo metro quadrado para uma empresa que cria pontos de encontro para as pessoas. O principal objetivo é a criação de “espaços” onde as pessoas queiram estar mesmo quando não precisam estar lá, lugares aonde elas queiram ir mesmo quando não precisam comprar nada.

No Projeto The Dream School, e em meu trabalho com escolas, o “espaço” é também um assunto prioritário: como criar “espaços” para estudantes e professores se desenvolverem mais e melhor? O que é preciso para chegarmos a isso? Que cara devem ter esses espaços?

O fundador da escola Noordwijkse, também na Holanda, me ensinou os princípios básicos para a aprendizagem. Que são, na verdade, bastante simples: segurança e curiosidade. Mas como você cria um ambiente assim? Como você organiza esse “espaço” para as pessoas e como organiza as pessoas dentro dele?

Um grande varejista de alimentos me pediu para opinar sobre sua estratégia de mídias sociais. Minha opinião foi de que eles não deviam necessariamente fazer algo com isso. As mídias sociais não são um objetivo per se. Disse-lhe que era mais importante olhar para o “espaço” que eles estavam criando com a sua marca e com as suas lojas.

Eles tinham um papel importante a desempenhar em suas lojas físicas, tanto para compras diárias quanto como um ponto de encontro para a comunidade. E, dado seu rápido crescimento, eles obviamente estavam fazendo algo que as pessoas apreciavam. Suas lojas eram mídias sociais poderosas, onde as pessoas iam para comprar comida mas também para encontrar seus vizinhos na vida real.

Em Paris, mencionei meus pensamentos sobre “espaço” pela primeira vez a uma senhora que conheci lá, Marie Elisabeth. Ela me surpreendeu com histórias ricas, com sabedoria e insights a respeito do tema. Tivemos uma conversa incrível, versando sobre “espaços” a partir de uma perspectiva filosófica, psicológica e histórica. Infelizmente, eu não gravei. E é exatamente isso que eu estou me dedicando a fazer agora.

Para voltar a enxergar aquilo que se tornou invisível, pelo excesso de uso e de familiaridade, às vezes é preciso deixar de ver - e recuperar a estranheza perdida

Para voltar a enxergar aquilo que se tornou invisível, pelo excesso de uso e de familiaridade, às vezes é preciso deixar de ver – e recuperar a estranheza perdida

O que me fascina é que tem um monte de pessoas se ocupando desse assunto, cada uma à sua maneira, nem sempre de modo consciente. Todos nós pensamos sobre o “espaço” de que precisamos para viver, sobre o “espaço” que queremos ter. Nessa busca, expressamos muito sobre o que nos move, sobre nossos desejos e sobre as oportunidades com que cruzamos na vida. São nossos espaços “pessoais”. E profissionalmente estamos sempre trabalhando para criar “espaços” na cabeça da audiência, dos nossos clientes e consumidores.

O que eu estou procurando com o Projeto Happyplaces é uma “receita de ouro” para criar “espaços de felicidade” – os “happyplaces”. Do que você precisa quando você tem a chance de começar do zero? Pode ser um “panic room mental”, como disse o artista Fons Schiedon. Ou o lugar onde você se encontra e se sente confortável consigo mesmo, como Dorien, uma de minhas alunas do departamento de Mídia e Design Interativo na Royal Academy of Art, descreveu. Ela me disse que o curso a ajudou a descobrir que ela nunca seria uma designer, mas que ele a havia ajudado a se encontrar. Ela tinha encontrado seu “happyplace”… na vida.

Então: como as pessoas criam “espaços”? É possível criá-los em qualquer disciplina? Como você cria espaços físicos onde as pessoas podem ser felizes e encontrar seu “happyplace”? Como criar “espaço” com uma marca? Como criar produtos que causam esse efeito, que conectem cabeças e corações a um “espaço de felicidade”? É possível controlar ou direcionar isso? Que condições são necessárias para criar esse sentimento “de segurança e de liberdade” nas pessoas?

Para descobrir isso, me dediquei a entrevistar uma grande variedade de pessoas. Estou gravando esses depoimentos em vídeo. Pretendo compartilhar isso com todos, para que geremos conclusões a partir desse material, que pode se transformar num livro ou num app ou num filme ou num documentário.

Um tema recorrente entre os criativos, nas agências, é o quanto eles sentem que ‘não tem espaço para criar aquilo que realmente gostariam de criar’. Fascinante. Você esperaria que o maior objetivo de uma agência criativa fosse apenas isso – criar um ‘espaço’ onde seus criativos pudessem gestar o trabalho mais criativo possível. Afinal, é isso que você está vendendo – criatividade.

O Projeto Happyplaces é um projeto lento. É como “slow food”. Estou publicando as entrevistas sem pressa. O site estará online quando ficar pronto e quando eu estiver feliz com o resultado. A duração das entrevistas não é determinada pelo padrão de tempo do material publicado na web – se alguém precisa de mais tempo para expressar seu ponto, sem problema. Nós queremos capturar a riqueza do depoimento.

Eu entrevistei 56 pessoas até agora, incluindo Claude Nicollier (astronauta suíço), Albert de Roeck (cientista do CERN – Organisation Européenne pour la Recherche Nucléaire ou “Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear”), Alain de Botton (filósofo), e um mix de arquitetos, músicos, designers, profissionais de RH, CEOs, professores, planejadores urbanos, escritores, pensadores, entre outros.

Aí no Brasil, estive em São Paulo em setembro para o lançamento do Draft, entrevistei Adriano Silva, da The Factory, que publica o Draft, Bárbara Soalheiro, da Mesa & Cadeira, Bruno Torturra, de O Fluxo, Elohim Barros, de A Balsa, e Gabriel Borges, da Ampfy.

O objetivo disso tudo? Bem, ele muda continuamente. Quanto mais pessoas eu encontro mais ideias, mais possibilidades, mais oportunidades surgem. Agora estou com o objetivo de criar pequenos eventos íntimos chamados “Momentos Happyplaces” para conectar pessoas, ideias a pessoas, pessoas a ideias e ideias a ideias. De modo orgânico e sincero. Vou escolher a dedo essas pessoas.

Muito provavelmente, também, o Happyplaces sairá como livro no ano que vem. E eu estou trabalhando em um “método” que vai ajudar a iniciar projetos de forma diferente. Uma maneira de fazer descobertas, acessível para que as pessoas possam aplicá-la em diferentes contextos.

E há um lado, pessoal, que é meu objetivo também: conhecer e conversar com um monte de pessoas novas, aprender com elas e assim alimentar minha curiosidade. Ao longo do caminho a necessidade de compartilhar essas aprendizagens também tem crescido muito. Mas caminho sem pressa.

 

Marcel Kampman
Independent Creative Strategist

Mais sobre o Projeto Happyplaces.

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