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“Quando uma mãe diz que o filho não queria ir embora do shopping por causa do nosso espaço, sentimos que acertamos”

Marcela Marcos - 17 jul 2025
Os irmãos Danielle e Nelson Paulino, sócios da 2a1 Cenografia.
Marcela Marcos - 17 jul 2025
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Se começar um negócio próprio sem ter dinheiro para o investimento inicial é uma história típica ainda hoje, em 2025, imagine no final dos anos 1990.

Danielle Paulino e seu irmão Nelson tinham menos de 20 anos quando viveram esse dilema. E o desafio era ainda maior considerando que o objetivo era empreender com cenografia. Como armazenar as peças enormes usadas na construção de cenários – tendo apenas a sala da avó para guardar tudo?

De alguma forma eles deram um jeito. Hoje, Nelson, 44, é o CEO, e Danielle, 46, a sócia e diretora comercial da 2a1 Cenografia, que cria cenários para eventos e ativações no varejo. “Entregamos projetos 360º, que combinam criatividade, execução impecável e inovação tecnológica”, diz Danielle.

A empresa lança mão de recursos como inteligência artificial, projeções tridimensionais e manufatura digital avançada na criação de exposições temáticas e experiências imersivas para grandes marcas.

SEM PLANO B, MAS COM MUITA CARA DE PAU

O começo, claro, foi bem menos tecnológico. E exigiu jogo de cintura.

Os irmãos Paulino nasceram em São Paulo e cresceram em uma família criativa, mão-na-massa e de “espírito empreendedor”, segundo Danielle:

“Sempre tivemos liberdade para criar e correr atrás do que acreditávamos”

Eles trabalharam com produção e design antes de decidirem fundar o próprio negócio. “Vimos uma lacuna no mercado de cenografia para marcas e decidimos preencher esse espaço com um olhar inovador.”

Porém, se a intenção de empreender estava clara, faltava grana para apostar na ideia. Os irmãos começaram a trabalhar na casa da avó, improvisando um escritório na sala e contando com a ajuda da bisavó.

O investimento inicial, diz Danielle, veio da penhora do relógio de um dos irmãos:

“A gente falou com um cara que fazia adesivos, que acabou sendo nosso primeiro fornecedor. Deixamos que ele ficasse com o relógio e falamos: ‘Se não der certo, pode vendê-lo’. Éramos jovens, não tínhamos um plano B, mas não faltava cara de pau”

Conforme os cenários criados se amontoavam pela casa da avó, o telefone da residência servia como contato oficial da empresa.

O primeiro cliente chegou em 1999: o Shopping Lar Center, na Zona Norte de São Paulo. E o boca-a-boca foi levando o negócio adiante.

A IMPRESSÃO 3D É USADA PARA AGILIZAR AS CRIAÇÕES

O caminho até a profissionalização, diz Danielle, foi um equilíbrio entre “improviso estratégico” e “compromisso com a excelência”, aliados a uma “visão de longo prazo”.

Se antes, na casa da avó, a dupla basicamente desenhava o que o cliente queria e depois se virava para montar um cenário a partir daquele rascunho, hoje a estrutura inclui um galpão em Guarulhos (SP) e o uso de tecnologia para tocar os projetos.

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Impressoras 3D em ação.

A 2a1 utiliza realidade aumentada, interatividade digital, modelagem em 3D avançada e automação. A impressão 3D, em particular, permite a fabricação de peças complexas com alta precisão e em grande escala.

Para se ter uma ideia, segundo Danielle, uma escultura de 1,80m de altura, feita manualmente, pode levar de 20 a 25 dias para ficar pronta. Uma impressora de filamento tradicional já reduziria o tempo para 8 a 15 dias.

Esse prazo, porém, despenca para no máximo 10 horas com a impressora de dois cabeçotes usada pela 2a1.

DA PATRULHA CANINA AO JURASSIC WORLD

Um dos destaques no portfólio da 2a1 é o Férias Monstruosas. Criado para o Cartoon Network, o projeto teve ambientação em escala real e ativações interativas pensadas para “oferecer ao público não apenas cenário, mas uma jornada sensorial”.

Como cases, Danielle cita também os eventos Patrulha Canina Experience, Casa Warner e uma mostra dedicada ao universo de Game of Thrones. E o site da 2a1 lista, entre os clientes, marcas como Disney, Nickelodeon, Globo, Lego e Coca-Cola, entre outras.

“Estas parcerias geram alto apelo emocional com o público, fortalecem o posicionamento dos shoppings como polos de entretenimento e garantem experiências únicas — que só podem ser vividas ali, naquele espaço, com aquele cenário”

Para tangibilizar essas ideias, a 2a1 usa softwares de modelagem tridimensional, como Autodesk 3ds Max, Blender, SketchUp Pro e AutoCAD, além de ferramentas de edição e animação, como Adobe Photoshop, InDesign, After Effects e Final Cut. Os recursos permitem corrigir erros antes da produção física.

A empresa desenvolveu algumas técnicas exclusivas. Danielle ressalta a modelagem paramétrica, que adapta estruturas a diferentes espaços sem comprometer a estética; e os sistemas modulares, que otimizam montagem e desmontagem – a fim de facilitar o transporte e a logística.

A Covid-19, segundo ela, deixou reflexos na forma como as famílias com crianças interagem com a cenografia da 2a1:

“Depois da pandemia, as pessoas têm priorizado vivências ‘reais’. As mães costumam pedir que [os filhos] guardem o celular, para brincar e interagir sem o aparelho… Dá até para dizer que as experiências estão sobressaindo ao instagramável”

Atualmente, um evento da 2a1 baseada no filme Jurassic World: Recomeço está em cartaz no Complexo Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo. O espaço celebra os dinossauros com atividades lúdicas e réplicas dos répteis.

O PLANO É EXPANDIR PELA AMÉRICA LATINA

A empresa, diz Danielle, fechou 2024 com um crescimento em torno de 40% em relação ao ano anterior. A equipe é composta por 200 pessoas, entre departamento criativo, administrativo e de produção.

Em paralelo, os sócios mantêm relacionamento com estúdios e empresas detentoras de direitos, de olho em projetos futuros. E há cerca de quatro anos inauguraram um escritório nos Estados Unidos.

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Evento inspirado em “Jurassic World”, em São Paulo.

A 2a1 se prepara agora para lançar o Casa WB no Equador, seu primeiro evento em outro país da América Latina que não o Brasil. E vê perspectivas de expansão para Chile, Colômbia e México, onde esse formato de exposição em shopping ainda seria pouco explorado.

Ao olhar para trás e refletir sobre seu trabalho, Danielle se diz realizada:

“Sem demagogia: se eu ficasse milionária, continuaria fazendo o que eu faço, porque é gratificante ver crianças e famílias encantadas com os cenários”

Para embasar esse sentimento, ela compartilha uma métrica de sucesso muito particular: “Quando uma mãe diz que o filho não queria ir embora do shopping por causa do nosso espaço, sentimos que acertamos. Criamos memórias que não têm preço”.

 

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