O que fazer quando a empresa da sua família produz castanhas-de-caju e você deseja agregar mais valor a essa matéria-prima?
Resposta: transformá-la em leite vegetal.
Essa foi a alternativa desbravada pela A Tal da Castanha. À frente da empresa cearense de leite plant-based estão dois irmãos, Felipe e Rodrigo Carvalho.
Do pai, Antônio José Carvalho (fundador da Amêndoas do Brasil, que produz e exporta castanha-de-caju a granel para 20 países), eles receberam uma incumbência: pesquisar o nicho de leites vegetais e entender se era viável criar uma versão com castanha-de-caju.
O sucesso da A Tal da Castanha (ou ATDC) prova que sim. Fundada em 2015, a marca clean label (livre de aditivos) e com certificação de Empresa B usa apenas ingredientes de origem natural e vegetal na formulação de seus produtos.
A ATDC hoje é o carro-chefe de um grupo de três empresas, reunidas sob a marca guarda-chuva Positive Brands. O grupo faturou 45 milhões de reais em 2020 — e espera quase dobrar esse resultado, com projeção de fechar 2021 faturando 85 milhões de reais.
O MERCADO PARECIA PROMISSOR, MAS ATINGIR A FÓRMULA IDEAL FOI UM DESAFIO
Segundo levantamento do Euromonitor International, o consumo de leites vegetais no Brasil cresceu 860% em cinco anos, gerando 98 milhões de reais (o equivalente a 8 milhões de litros) em 2019.
Esse mercado já parecia promissor quando Felipe, publicitário de formação, começou a pesquisá-lo, em 2014. Na época, além do leite de soja (a versão vegetal mais conhecida), também havia opções à base de amêndoas, arroz e coco.
Rodrigo ainda não tinha embarcado no projeto, mas conta que a maioria das bebidas desse nicho levava mais de 15 ingredientes, contrariando a proposta mais natural:
“Dessa percepção, o Felipe decidiu desenvolver não apenas o primeiro leite vegetal de castanha-de-caju do mundo — mas o primeiro leite vegetal clean label, sem usar aditivos na formulação”
Felipe chamou a nutricionista Alessandra Luglio, hoje consultora da marca, para ajudar na criação. Após um ano e meio de testes, aproveitando os recursos e laboratórios da Amêndoas do Brasil, eles chegaram ao primeiro produto da ATDC: o Original, que leva apenas água e amêndoas de castanha-de-caju orgânico.
Atingir a formulação ideal não foi simples. “As próprias indústrias que envasam achavam que o produto não ia dar certo sem estabilizantes e conservantes”, diz Rodrigo.
O NEGÓCIO LOGO COMEÇOU A GANHAR UMA DIMENSÃO MAIOR DO QUE O PREVISTO
O produto caiu no gosto de nutricionistas, que começaram a recomendar o leite vegetal. E a marca emplacou em redes de supermercados de alto padrão, como Eataly e St Marche, além do Pão de Açúcar.
No começo, Rodrigo não participava do negócio; administrador de empresas, era sócio de uma concessionária. Até que, em 2017, se juntou ao irmão:
“Entrei em 2017, quando percebemos que o negócio estava ganhando um contorno maior do que imaginávamos. Ainda não tínhamos uma estrutura comercial… Aí começamos a estruturar toda a área com representantes no Brasil inteiro”
O leque de produtos também cresceu, com pastas de castanha-de-caju em três versões e snacks orgânicos, assados e sem a adição de óleo e sal.
A família de leites vegetais da A Tal da Castanha.
Se antes a ideia era escoar a produção da Amêndoas do Brasil, Rodrigo diz que o alvo passou a ser desenvolver produtos saudáveis.
E o foco no planeta, como fica? Segundo ele, segue firme na proposta plant-based, com menos uso de água e terras cultivadas, menos emissão de gases de efeito estufa e não exploração animal. Fora isso, há um cuidado com as embalagens.
“Temos uma parceria com a eureciclo. Hoje, 100% das nossas embalagens são compensadas através de cooperativas de reciclagem.”
A FALTA DE SUBSÍDIOS — E DE ADITIVOS — IMPACTA NO CUSTO FINAL DO PRODUTO
A ATDC já lançou outras oito variedades de leite. Entre elas, o achocolatado Choconuts (água, amêndoas de castanha-de-caju orgânica, açúcar demerara orgânica e cacau), o primeiro leite de amêndoas do mundo sem aditivos — leva apenas água e amêndoas — e o mixed nuts (enriquecido com cálcio e proteína vegetal).
A caixa de 1 litro do Original custa R$ 19,90. A diferença de preço em relação ao leite tradicional tem a ver com a questão dos subsídios, diz Rodrigo:
“O leite de vaca é um produto altamente incentivado; o governo dá muito subsídio, seja no âmbito federal ou estadual, à cadeia de laticínios. Já o leite vegetal não tem ainda uma classificação fiscal própria, entrando na categoria de ‘outras bebidas’. E com isso, a gente arca com uma maior carga tributária”
Na comparação com outros leites vegetais, o que pesa no custo da ATDC é o aspecto clean label. “Por não levar aditivos, nosso produto é bem mais concentrado — então temos que colocar mais matéria-prima.”
As castanhas-de-caju orgânicas vêm de pequenos produtores familiares certificados da Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí, via Amêndoas do Brasil. Outros ingredientes — como o amendoim, a aveia (sem contaminação de glúten) e a água de coco — são adquiridos no mercado fair trade.
UMA “CONTRADIÇÃO” DO MERCADO DE ISOTÔNICOS SE REVELOU UMA OPORTUNIDADE
Enquanto expandiam o negócio, os irmãos fundaram, em 2019, sua segunda empresa: a Jungle, de isotônicos naturais feitos à base de água de coco, tapioca e suco de frutas.
“Começamos a estudar o mercado de isotônicos, que não passava por uma inovação há muito tempo, e percebemos que havia algo contraditório. As pessoas faziam exercícios para a saúde, mas tomavam um isotônico cheio de corantes e açúcar…”
Formulados durante um ano e meio junto com nutricionistas, diz Rodrigo, os isotônicos da Jungle têm “características necessárias de hidratação e energia, mas sem aditivos ou ingredientes artificiais”.
Já no fim de 2020, os irmãos lançaram uma terceira empresa, a Nutco, de snacks salgados e torrados. As vendas começaram em janeiro deste ano; segundo os irmãos, o produto tem uma proposta diferente da linha de snacks da A Tal da Castanha:
“Na Nutco, a gente consegue trabalhar melhor o sabor e a crocância, usando ingredientes como o sal — que na ATDC não usamos de jeito nenhum. E abrimos o leque, com snacks de amendoim, amêndoas e pistache.”
CAFÉ COM LEITE: HOJE, O GRUPO 3CORAÇÕES É DONO DE METADE DA EMPRESA
Com o tempo, A Tal da Castanha se desvinculou da empresa-mãe, a Amêndoas do Brasil. Desde 2018, diz Rodrigo, a marca já vinha atraindo olhares dos fundos de investimento.
“Mas nunca quisemos fazer negócio [apenas] por dinheiro”, explica. “Se fosse para alguém entrar, seria por questões estratégicas.”
Essa parceria estratégica foi sacramentada em fevereiro de 2020, quando a Positive Brands (que engloba A Tal da Castanha, Jungle e Nutco) fechou uma joint venture com o Grupo 3Corações.
“Conseguimos aproveitar toda a sinergia comercial e distribuição da 3Corações para chegar mais rápido e em todos cantos do país, acelerando nossos crescimento”
Hoje, a empresa de café detém metade do negócio; os outros 50% pertencem aos irmãos Carvalho e ao pai.
Da parceria, nasceu, ainda em 2020, o Barista, um leite vegetal próprio para bater ou misturar com café em preparações quentes ou gelados. “Ele já é o quarto produto mais vendido da ATDC”, diz Rodrigo.
O FATURAMENTO NO E-COMMERCE CRESCEU SEIS VEZES NA PANDEMIA
Além das gôndolas dos supermercados, o consumidor encontra os produtos no e-commerce da Positive Brands. Com a Covid-19, as vendas pela internet dispararam:
“Logo no início, entre março e abril, tivemos os maiores meses de venda no online, multiplicando por seis nosso faturamento no e-commerce. Depois caiu um pouco, mas ficou num patamar mais elevado do que tínhamos. Este ano, a demanda está igual à de março de 2020”
As parcerias no food service também se intensificaram no período. A ATDC é usada na preparação de bebidas sem leite da rede Starbucks e também aparece nas versões veganas dos sorvetes da Lowko.
“Eles dizem que testaram vários leites vegetais e o único que funcionou foi o nosso”, afirma Rodrigo. “Passaram a informar na embalagem que usam A Tal da Castanha, porque isso agregaria valor à marca deles.”
Em São Paulo, os leites vegetais da ATDC estão nas padarias Le Pain Quotidien e Galeria dos Pães e nos restaurantes Le Manjue e Nattu, de cozinha orgânica.
“Recentemente, fechamos uma parceria com o Must Bar, do Hotel Tivoli Mofarrej São Paulo. Eles criaram um cardápio plant-based feito só com produtos da A Tal da Castanha: são quatro pratos e duas sobremesas.”
COM UMA NOVA MARCA, A EMPRESA QUER TORNAR O LEITE VEGETAL MAIS ACESSÍVEL
Em fevereiro, a empresa pôs no mercado um novo leite de aveia (sem contaminação de glúten) enriquecido com cálcio; além dos dois ingredientes, leva apenas água e sal marinho.
Além disso, lançou uma linha do seu leite de castanha-de-caju com foco no público infantil, a Mini, nos sabores baunilha, chocolate, morango e maçã com banana; a ideia é oferecer uma opção mais saudável aos achocolatados tradicionais.
“O grande ponto da Mini é a nutrição. Oferecemos um alimento plant-based saboroso com proteína vegetal, fibra, cálcio. Fora isso, reduzimos em até 60% o uso de açúcar em relação a produtos tradicionais. E usamos zero de açúcar refinado, substituindo pelo demerara”
O próximo lançamento está previsto para abril. Com investimento de 5 milhões de reais, a Possible será uma nova empresa de leites vegetais da Positive Brands.
O acréscimo de mais um ingrediente (goma) na composição vai ajudar a baratear o produto, que terá preço sugerido de R$ 13,90 — valor semelhante, segundo Rodrigo, ao praticado pelas marcas plant-based mais em conta do mercado.
“Queremos tornar possível o consumo de um leite vegetal saudável no dia a dia a um preço menor. Nossa meta é que fique cada vez mais fácil para as pessoas substituírem os produtos animais sem sentir falta deles.”
Praticidade na alimentação não precisa ser sinônimo de delivery (ou de macarrão instantâneo). Fundada por Jéssica Schroeder e Larissa Leal Martins, a Mexidona produz sopas e risotos em versões desidratadas, sem adição de sal nem conservantes.
Alimentar-se bem desde cedo ajuda no desenvolvimento e previne doenças crônicas no futuro. Luciana Vicente e Paula Cunha empreendem a Jornada Mima, que produz e vende refeições congeladas com ingredientes naturais para bebês e crianças.
De artigos de decoração a bonecas de pano e pijamas para crianças, uma plataforma só com marcas graciosas e unidas pelo compromisso socioambiental: essa é a proposta da Stellar, fundada pelas amigas Emily Perry e Renata Reis.