O Brasil é o segundo país do mundo com mais casos de Síndrome de Burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional, de acordo com pesquisa da International Stress Management Association (Isma). Ainda, é líder mundial em casos de ansiedade tanto em números absolutos quanto percentuais, sendo também o 5º no ranking geral da depressão, segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Números impactantes, certo? Tem mais: a incidência de atestados médicos que apontam problemas de saúde mental para afastamento do trabalho cresceu 30% de 2020 a 2022, especialmente em empresas de atividades administrativas — os dados são da pesquisa feita pela startup Closecare, focada em gestão de atestados médicos e saúde corporativa.
Um cenário assim leva a uma pergunta: qual o papel das organizações na saúde mental e emocional das pessoas que nelas trabalham?
“A cultura das empresas pode favorecer o acolhimento ou pode agravar os quadros de saúde mental”, afirma Cátia Tokoro, conselheira da SulAmérica e do Instituto SulAmérica, organização social sem fins lucrativos que apoia pessoas na busca por uma vida mais saudável a partir do letramento em saúde emocional, conscientização, promoção do autoconhecimento e acesso ao cuidado para quem está em situação de vulnerabilidade social.
Além dessas atividades, o instituto é embaixador da iniciativa Mente em Foco, projeto do Pacto Global da ONU no Brasil, do qual a SulAmérica é participante. O movimento convida empresas brasileiras a reconhecerem a importância da saúde mental no ambiente de trabalho e na sociedade como um todo e pretende reunir, até 2030, 1 mil corporações com programas estruturantes de saúde mental, impactando 10 milhões de profissionais.
Como participante, a SulAmérica se compromete a ter profissionais de referência para aconselhamento e atendimento dos times, oferecer orientação e manejo de crises, avaliar permanentemente os trabalhadores e trabalhadoras quanto à saúde emocional, manter gestores engajados, trabalhar no combate aos estigmas e promover ações de incentivo à saúde mental — o que ganha novos contornos com o Instituto SulAmérica e seu trabalho junto à sociedade como um todo.
“Boa parte da vida adulta é dedicada ao trabalho e a experiência com o local laboral é um dos fatores que ajuda a determinar o bem-estar geral de um indivíduo”, afirma Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil.
Para ele, muitas companhias já entenderam a importância da adoção de práticas de saúde mental das equipes. “Mas poucas olham o tema sob a perspectiva da prevenção, que é onde estamos agindo”, emenda.
Para Cátia, o tema da saúde mental está ligado à responsabilidade social que é inerente a toda empresa. “Eu costumo dizer que um CNPJ é um conjunto de CPFs. As empresas contratam profissionais, mas recebem pessoas”. Para ela:
“São muitas as possibilidades de iniciativa para cuidado com saúde mental, e elas acabam passando pelo letramento. É importante que tanto colaboradores como gestores das empresas entendam como prevenir, identificar, cuidar e, eventualmente, como incentivar o tratamento diante de um transtorno mental”
A conselheira destaca que a pauta é importante para a sociedade como um todo, mas também está muito integrada à estratégia do negócio. “Impacta os resultados, a motivação das equipes. Pessoas que se sentem bem em seus ambientes de trabalho, que encontram acolhimento como são, atendem melhor os clientes, são mais engajadas. É um ciclo virtuoso”, explica.
O processo, para ela, deve passar por um levantamento de dados, censo da equipe para entender bem quem são as pessoas, os perfis e, na sequência, co-construir políticas afirmativas.
Para Carlo, ser sustentável, na completude que isso implica, há muito tempo deixou de ser algo opcional para uma empresa e passou a ser mandatório.
“Cuidar das pessoas também é mandatório, e saúde mental é um dos principais desafios que temos atualmente. Não dá para falar que sua empresa é ESG, que é algo que todo mundo busca hoje, se você não cuida das suas e dos seus. E essa preocupação só deve aumentar, já que, segundo a OMS, patologias relacionadas à saúde mental serão a próxima pandemia”
O CEO acredita que o primeiro passo para que ações voltadas à saúde mental corporativa tenham sucesso é contar com o engajamento de gestores e gestoras das empresas, seja na alta liderança ou na média gerência. “É assim que se garante que a organização ofereça um ambiente que fomente a discussão sobre o tema e, em última instância, segurança psicológica.”
Para Cátia, a sensibilidade para lidar com o tema da saúde mental e emocional dialoga com inclusão, equidade e diversidade. “Um grupo diverso de pessoas contribui com suas visões, vivências e diferentes experiências, criando um ambiente mais propício a novas ideias e mais acolhedor”. Ela emenda:
“A gente percebeu que este tipo de acolhimento em um ambiente em que cada pessoa pode ser o seu ‘eu genuíno’ leva a um senso de pertencimento que faz muita diferença no que essa pessoa sente ao trabalhar na empresa. Isso faz diferença nas equipes e também nos resultados de negócio”
A conselheira pontua como exemplo as pessoas LGBTQIA+, que durante o auge da pandemia, no trabalho remoto, muitas vezes se sentiram piores do que se sentiam no ambiente corporativo. “Isso porque às vezes a família não sabia da orientação e era no trabalho que aquele indivíduo podia ser o seu eu verdadeiro e encontrar acolhimento”, pontua Cátia.
Ela também cita a múltipla jornada de trabalho das mulheres, que demandaram sensibilidade das lideranças na mesma época e seguem demandando. “Na SulAmérica, por exemplo, a orientação foi evitar compromissos de trabalho em determinados horários pensando no preparo das refeições, no cuidado das crianças, que em grande parte das vezes recai sobre a mulher na sociedade em que vivemos”.
Mesmo antes da pandemia — que ampliou desigualdades — as mulheres já gastavam, em média, o dobro de horas semanais que os homens em cuidados domésticos e de pessoas, de acordo com dados do IBGE. Considerar esse tipo de sobrecarga, portanto, é fundamental quando se fala em saúde mental e emocional.
Cátia afirma que isso impacta a SulAmérica, por exemplo, em sua própria operação, quando pessoas negras procuram profissionais da Psicologia negros e negras para se consultar, por exemplo. “Encontrar quem realmente te entende é vital na área da saúde. Eu, como descendente de asiáticos, sei que minha pele tem características diferentes, então também procuro me consultar com dermatologistas que entendam a pele amarela”.
Os números alarmantes de adoecimento mental e a promessa de uma nova pandemia colocam tanto empresas quanto profissionais na parede em busca de soluções.
Fenômenos como o quiet quitting (nome já polêmico traduzido como “desistência silenciosa”, no qual uma pessoa faz exatamente o mínimo necessário em seu emprego para não ser demitida), entre erros e acertos, indicam que não há mais predisposição para sacrificar a saúde mental em prol do trabalho, especialmente por parte das gerações mais jovens, o que demanda uma nova cultura. Como Carlo aponta, com urgência:
“As empresas precisam cada vez mais entender os seus impactos e quanto precisam agir para minimizá-los. Nos mais diversos temas. E não adianta criar metas para 2030 ou 2050. Precisam fazer para agora. No tema saúde, muita coisa está sendo feita, mas sabemos que ainda não é o suficiente”
Para Cátia, além do letramento em saúde emocional, da sensibilização e engajamento das lideranças e das políticas afirmativas atentas à diversidade, dois outros movimentos são necessários: o da tolerância ao erro como processo inerente à inovação e o das conversas difíceis, mas necessárias.
“A transformação da cultura corporativa passa por compreender que ignoramos muitas coisas e que nada é mais permanente que a mudança. Pessoas e empresas sempre têm coisas a aprender, a aprimorar e a evoluir”, defende.
Ela acredita que, quando uma pessoa sabe que sua voz é ouvida, se sente mais engajada. “Com mais abertura e flexibilidade, as pessoas se sentem melhores e é possível maximizar o potencial de capital humano”, pontua, acrescentando:
“Dialogar sobre a saúde mental dentro das equipes com respeito, acolhimento e empatia, por mais que seja desafiador, é o caminho para o bem-estar emocional tanto das pessoas quanto dos ambientes de trabalho.
Cátia destaca, ainda, que o trabalho que o Instituto SulAmérica realiza quanto à redução de estigmas; promoção de autoconhecimento, autocuidado e prevenção; produção e disseminação de conhecimento científico sobre saúde emocional e oferta ao cuidado de saúde emocional, desde o diagnóstico até o tratamento para quem mais precisa, são cruciais para essa transformação ampliada da cultura da saúde mental na qual as empresas se inserem. “O instituto é a forma que a SulAmérica encontrou de canalizar e potencializar a pauta da responsabilidade social gerando mais impacto”, finaliza.
Desconfia que sua saúde emocional não anda bem? Você pode realizar um teste simples e rápido, com base científica e pautado em questões elaboradas pela OMS, no site do Instituto SulAmérica.
A partir do resultado, a organização oferece conteúdos e serviços de apoio, como o acesso sem custos à plataforma de consultas virtuais a quem está em situação de vulnerabilidade social e a um curso rápido para formação de socorristas em saúde emocional, numa parceria com o Instituto Vita Alere, referência em prevenção e posvenção ao suicídio.
A iniciativa é parte do movimento #BemAmarelo, lançado pelo Instituto SulAmérica como mobilização pelo cuidado da saúde emocional e prevenção ao suicídio. Faça o teste clicando aqui.
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