É mais fácil você decidir o prato que vai pedir num restaurante do que escolher uma ração para seu pet – há versões específicas para cada raça, produzidas com bases de diferentes proteínas, para animais de pelos longos, paladar exigente, alérgicos, orgânicos, enfim, são centenas de opções. Além da qualidade do alimento, os tutores de pet não costumam se lembrar que a sustentabilidade das embalagens também deveriam contar na hora da compra.
Fundada em 2018, a startup de nutrição para pets Tibii traz solução para os dois dilemas. Descomplica a alimentação com um portfolio enxuto, todos com o menor número de ingredientes do mercado – o destaque é a ração All Breads, para todas as raças e portes de cães. E, de maneira inédita, no mercado mundial de ração, não usa plástico para embalar seus produtos, mas um tipo de papelão ondulado resistente, desenvolvido em parceria com a produtora de papéis e embalagens de papel Klabin.
Para chegar a esta novidade, a Tibii embarcou, com a Klabin, numa jornada de desenvolvimento, há quase cinco anos. Começou com uma embalagem inicial de papelão, mas ainda com plástico interno. As pesquisas avançaram e resultaram na primeira embalagem eco sustentável para ração do mundo. Feita em papel kraft de alta qualidade, com lignina, uma resina natural da madeira, ela se degrada completamente em até 9 meses, sem causar danos ao meio ambiente.
A QUESTÃO DA DURABILIDADE
Mas por que tirar o plástico, do tipo laminado, na composição de embalagens para comida de animais é tão complicado? Por um motivo simples: durabilidade. Sem uma barreira (que o material oferece), a gordura do alimento migraria para o pacote e o danificaria, comprometendo sua integridade. Há também, é claro, o aspecto visual, com o brilho e a aparência atraente.
Uma conta simples mostra o tamanho ambiental desse problema: cada cão consome, em média, 15 quilos de ração por mês, em sacos plásticos que pesam cerca de 140 gramas. Ao fim de 13 anos (tempo médio de vida do animal), são 20 quilos de plástico. Se consideramos que há quase 55 milhões de cães no Brasil, estamos falando de mais de 90 milhões de quilos do material. Grande parte descartada incorretamente ou composta de misturas com pouco potencial para reciclagem.
PRECISA DE TANTA OPÇÃO?
Um portófio enxuto também preza pela sustentabilidade.
“De acordo com as agências americana e européia de alimentação animal, só há necessidade de rações diferenciadas para lactantes, gestantes e filhotes, e o mesmo vale para gatos, por isso, focamos em fórmulas simples, com ingredientes naturais, como linhaça, yucca, beterraba e frango, sem corantes e antixoxidantes artificiais”, afirma Mario Cleto Giugni , sócio-fundador da Tibii.
Os esforços em ESG da startup, que tem o compromisso de zerar o uso de plástico nos próximos anos, não se resumem à área ambiental. O social também está em foco. Exemplos são os projetos #MeAdota, que apoia entidades e instituições na adoção de pets e faz doações de alimento, e uma outra parceria com a Klabin, também inédita, para incluir texto em braille no papelão ondulado de todas as embalagens. A ideia é garantir acesso a todas as informações sobre os produtos a deficientes visuais.
“Uma palavra resume bem a Tibii: legado. É óbvio que precisamos ganhar dinheiro e cumprir compromissos, mas criamos produtos que geram valor para o cliente, para a sociedade e para o meio ambiente – e essa é uma jornada difícil porque competimos com gigantes.”
Mario Cleto fala com conhecimento de causa. Segundo ele, ainda é uma surpresa para as pessoas tratar de sustentabilidade no mercado de pet food. Quando começou a formatar a empresa para ESG, seu próprio time de vendas não mencionava a embalagem biodegradável. “Eu chegava nas reuniões e falava: vocês têm ideia do que estamos propondo para o mercado e não estamos falando disso como um ativo comercial?”
“O cliente – especialmente das novas gerações – está maduro, mas, muitas vezes a informação não chega até ele. Temos que mudar essa mentalidade e nos perguntar, como empresários, que diferença nossas empresas teriam feito para o mundo e para a sociedade se deixassem de existir. Se ninguém perceber, é porque precisamos nos repensar. Sem a ambição do legado e da preocupação com o meio ambiente, o que sobra é um negócio sem alma. O cliente percebe, e você terá sérias dificuldades para se manter vivo.”
Por isso, o plano para o futuro é se consolidar como player centrado na sustentabilidade mantendo-se saudável financeiramente. A fórmula tem dado certo. Embora tenha sentido o baque da pandemia de Covid-19, que chegou justamente num momento de franco crescimento, a Tibii ganha corpo no mercado por meio de distribuidores em 19 Estados (vendas diretas respondem apenas por uma pequena parcela do negócio) e dobra de faturamento a cada ano. Ao todo, já foram mais de 500 mil produtos vendidos.
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