Ajudar as pessoas a fazerem escolhas alimentares mais conscientes é o principal objetivo do aplicativo Desrotulando. Criado pelo casal de empreendedores Gustavo Haertel Grehs, 38, e Carolina Grehs, 34, a plataforma faz uma avaliação dos rótulos dos alimentos enviados pelos usuários e destaca os pontos positivos e negativos de cada um (com informações sobre aditivos, corantes, quantidade de açúcar adicionado, gordura etc). No final, há sempre uma nota que varia de 0 a 100 e vai de muito ruim a excelente.
Formado em Computação, Gustavo tem uma empresa de tecnologia desde o fim da faculdade. Em 2010, ele buscava algo mais inovador e, junto com Carolina, que é nutricionista, e Samantha Peixoto (outra nutricionista que começou com eles o projeto, mas não está mais no negócio), começou a pensar em como unir tecnologia e alimentação.
Na época, a ideia era fazer um software online de prescrição de dietas para os nutricionistas usarem em consultório. “Esse tipo de recurso já existia, mas era bem arcaico, com CD para instalar na máquina. Fomos entrevistar nutricionistas para validar a ideia e resolvemos abortar a missão porque vimos que, embora fosse uma dor, não havia interesse em resolver o problema”, conta Gustavo. Ele avalia a experiência com os olhos do presente:
“Às vezes você tem uma ideia, mas não está no timing certo. Naquela época, o mercado não estava preparado para nosso produto”
Como a ideia do software naufragou, eles decidiram fazer um blog sobre alimentação. Em 2012 surgiu o Fechando o Zíper, focado em ajudar as pessoas a conciliar a vida social com a dieta. “A gente queria criar uma audiência para ver quais dores as pessoas tinham e que tipo de produto poderíamos oferecer”. Testaram assuntos, formatos e linguagens, sempre usando as redes sociais como uma forma de comunicação e interação com os leitores.
DETALHAR O QUE OS RÓTULOS QUEREM DIZER VIROU QUASE UMA MISSÃO
Um dia, depois de ver na televisão uma propaganda que comparava a maionese com o azeite de oliva, Carolina teve a ideia de abordar no blog os rótulos dos produtos, contando para os leitores o que aquelas informações queriam dizer. Com isso, o tráfego do site começou a aumentar e os posts das redes sociais a serem compartilhados mais vezes, principalmente por nutricionistas. “Notamos que aquele assunto interessava mais do que o que estava sendo dito antes e começamos a explorar essa ideia”, diz Gustavo.
Para aumentar a variedade de produtos analisados e estreitar a relação com os leitores, eles pediram para as pessoas enviarem os rótulos que gostariam de ver analisados e a demanda começou a ficar maior do que imaginaram. “As pautas começaram a vir somente da colaboração de usuários e corroborou a nossa ideia de que tinha gente interessado naquilo”.
Foi quando os sócios decidiram mudaram a estrutura do blog, que passou a ser um site de avaliações, com notas atribuídas aos produtos e conteúdo organizado de forma que as pessoas pudessem encontrar e comparar os produtos mais facilmente.
Uma das inspirações, Gustavo conta, foi um aplicativo chamado Fooducate, que ainda existe, mas hoje está mais focado em contagem de calorias. Ele lembra que nesse momento, em 2013, o tráfego começou aumentar e o Fechando Zíper a ser mais conhecido, compartilhado por outros sites e blogs, com Carolina e Samantha sendo chamadas para dar entrevistas sobre alimentação. Segundo Gustavo, uma delas, para o Jornal Nacional, da TV Globo, durou cerca de 5 segundos, mas gerou tanto acesso que tirou o site do ar. Tudo isso foi importante para a construção de relevância e credibilidade, fundamentais em negócios no meio digital. Era hora, então, de pensar em como monetizar o negócio.
ELES QUERIAM CRIAR UM PRODUTO, MAS O VALOR ESTAVA NO SERVIÇO
Depois de estudar alguns gurus do marketing, os empreendedores resolveram seguir a cartilha dos negócios digitais e criaram um curso online. “A gente achava que o conteúdo do site era uma forma de gerar tráfego, mas o nosso produto seria outra coisa”, diz Gustavo. O curso custava cerca de 200 reais e eles conseguiram fazer 40 vendas. “Foi uma experiência interessante, mas a conclusão foi de que a gente precisaria investir um bom dinheiro para profissionalizar esses cursos e tínhamos dúvidas se conseguiríamos escalar a longo do tempo.”
Optaram, então, por não dar continuidade nos cursos e investir apenas no site. “Enquanto trabalhávamos no curso, as pessoas continuavam mandando rótulo para avaliação. No final daquele ano, tinha uma lista de 2 mil produtos para avaliar e percebemos que, mesmo sem fazer nada, a demanda estava chegando. Foi quando pensamos em como monetizar, de fato, o site”, conta Gustavo.
O trio passou todo o ano de 2014 reestruturando a página e pensando qual a melhor forma de obter lucro. O que já sabiam é que não iriam cobrar pela avaliação dos rótulos. “A nossa matéria-prima são os produtos. Não poderíamos restringir a criação do nosso banco de dados que é o que nos permitiria ajudar mais gente”, afirma.
Em 2015, entrou no ar o que Gustavo chama de uma versão mais comercial do site, acessível para qualquer pessoa, mas com uma conta Premium que permitia aos assinantes acessar informações mais detalhadas da avaliação, além da nota final e uma busca avançada com consulta por calorias, ingredientes, conservantes, aditivos etc. Ele fala mais sobre o processo de transição: “No inicio, um monte de gente chiou, mas decidimos dar a cara para bater e descobrir se aquilo funcionaria ou não o mais rápido possível”. E continua:
“Muita gente dizia que estávamos nos vendendo, mas era o contrário. Para termos credibilidade, precisávamos ser independentes e não usar patrocínio ou publicidade”
Eles notaram, no entanto, que as pessoas desistiam de assinar o serviço muito rápido. E a conclusão foi de que o banco de dados tinha grande valor, mas que acessá-lo por um site não era a maneira mais eficiente para os usuários. “As pessoas nos diziam que era complicado abrir o site no supermercado porque a conexão demorava e não carregava direito. Percebemos que era hora de fazer um aplicativo”, diz Gustavo.
AOS POUCOS, O APP FOI SE SOFISTICANDO
Sem dinheiro pra investir, os empreendedores fizeram o aplicativo da forma mais simples e barata que conseguiram, usando as plataformas que unificam as linguagens para os dois principais sistemas mobile: Android e IOS. A escassez deu um empurrão para a empresa, como diz Gustavo:
“Quando há uma restrição de verba ou de tempo, somos obrigados a tomar decisões. E isso pode ser bom porque, às vezes, a gente quer abraçar tudo e perde o foco”
A versão piloto foi lançada em 2015 e, em 2016, saiu uma versão mais completa, já com o nome Desrotulando. “Precisamos mudar o nome porque Fechando o Zíper remetia à dieta, que já não era mais o nosso foco. Hoje, a gente quer desmistificar o rótulo e ajudar as pessoas a fazer escolhas mais saudáveis”. Eles investiram 10 mil reais no negócio e o faturamento previsto para 2018 é de 100 mil.
A primeira versão do aplicativo era mais rudimentar e as mudanças foram feitas com base em análises do comportamento dos usuários e dos feedbacks enviados. Hoje, é só baixar o aplicativo para acessar todas as informações dos produtos dentro de um perfil chamado “Saúde em Geral”. Estão lá as notas, os alertas, os pontos positivos e negativos, os aditivos, os ingredientes controversos etc.
Esse perfil é baseado em uma pessoa que não tem problemas de saúde, nem demandas específicas. “Percebemos que o usuário tem dois caminhos: ou ele para de usar porque percebe que aquilo não interessa ou ele cria uma confiança e passa a prestar atenção só na nota, e não no detalhe, porque quer otimizar o tempo e acessar os produtos de forma mais direcionada”.
A partir dessa percepção, os sócios criaram perfis personalizados como um recurso para assinantes, que podem acessar funcionalidades específicas para perda de peso, alimentação infantil, hipertensão e diabetes. Os produtos possuem notas diferentes de acordo com o perfil. Por exemplo: quem acessa a versão gratuita vê a nota da tapioca como 80 (bom). Já para os diabéticos, o mesmo produto tem a nota 45 (ruim) e para os hipertensos ela é de 87 (muito bom).
Assinantes também têm acesso à opção “Avançada”, que permite filtrar a busca por ingredientes relacionados a alergias e intolerâncias (como leite, ovos, glúten, peixes etc) ou mesmo por quem opta por não consumir determinados itens, como açúcar adicionado ou aditivos. “As pessoas assinam o premium por ter um objetivo específico ou porque não querem perder tempo. Além disso, se um assinante mandar um rótulo para avaliação, a gente faz isso em até três dias. Para os usuários gratuitos, a fila está em torno de dois a três meses”, diz Gustavo. Atualmente, o Desrotulando tem 100 mil downloads e mil usuários pagantes. O preço da assinatura é de 4,99 reais no sistema Android e 6,50 reais no IOS.
UMA EMPRESA QUE COMBINA COM O ESTILO DE VIDA DOS SÓCIOS
No meio de 2018, Gustavo e Carolina se mudaram para o Canadá, de onde gerenciam toda a operação do Desrotulando. Ela, que era funcionária da prefeitura de Santo Antônio da Patrulha (RS), pediu exoneração do cargo para poder se mudar e ele, que ainda tem a empresa de tecnologia, atua nos dois negócios de forma remota. A ideia de fazer esse aplicativo ser cada vez mais rentável é também uma estratégia para ter um negócio que combine com a vida que eles gostam de levar. “Não queremos que o trabalho tire nossa mobilidade de viajar e conciliar vida pessoal e profissional”, diz Gustavo.
Do ponto de vista do negócio, eles realmente podem fazer tudo de qualquer lugar do mundo, já que a empresa é totalmente digital. Os grandes desafios estão na vida pessoal. “Aqui a gente tem que começar quase tudo do zero. Estamos, por exemplo, tirando carteira de motorista de novo”, conta o empreendedor. Para Carolina, o Desrotulando é uma forma de continuar atuando na área que ela escolheu, a nutrição, sem precisar fazer uma revalidação do diploma.
Outro objetivo dos sócios é internacionalizar o aplicativo, abrindo frentes de atuações para “desvendar” rótulos em outros países. “Existe uma demanda de brasileiros que moram fora por esse tipo de serviço”, diz Gustavo, que já está pesquisando a melhor forma de atuar fora do Brasil. Todo mundo, afinal, ganha se souber o que de fato está comendo.
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