Verbete Draft: o que é Reconhecimento Facial

Isabela Mena - 30 maio 2018
Acima,os pontos nodais usados no mapeamento do rosto de uma pessoa por meio de imagens digitais.
Isabela Mena - 30 maio 2018
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

RECONHECIMENTO FACIAL

O que acham que é: O mesmo que retrato falado.

O que realmente é: Reconhecimento Facial (Face ou Facial Recognition) é uma técnica de identificação biométrica (assim como a impressão digital) em que um software mapeia matematicamente os traços faciais de uma pessoa e, por meio de algoritmos, é capaz de compará-los a uma imagem digital do rosto dessa mesma pessoa, reconhecendo (ou negando) sua identidade.

A fase de mapeamento do rosto leva em conta os chamados pontos nodais — nome dado às características que fazem com que as pessoas tenham feições tão distintas umas das outras. Distância entre os olhos, largura do nariz, profundidade das órbitas oculares, forma das maçãs do rosto e comprimento da linha da mandíbula são alguns exemplos de pontos nodais usados pelo Reconhecimento Facial. Há cerca de 80 na face humana.

A medição de um rosto, ou seja, a relação entre esses pontos, cria uma geometria espacial única, que é armazenada em forma de dados (chamada de template ou faceprint). Quando uma nova imagem digital (que pode ser foto, vídeo ou captura ao vivo) é apresentada, o software faz a comparação.

Segundo Jorge Luís Gregório, professor do curso superior tecnológico de Sistemas para Internet da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Jales, o Reconhecimento Facial é uma das possibilidades de aplicações de duas subáreas da Ciência da Computação: a Visão Computacional e o Processamento Digital de Imagens. O propósito da primeira é fazer com que os computadores sejam capazes de “entender” características de imagens, assim como a visão humana. “Já o Processamento Digital de Imagens se ocupa em desenvolver algoritmos capazes de otimizar, modificar e, principalmente, extrair informações de imagens digitais.”

Hoje, já é possível que as imagens sejam feitas em câmeras que possuem sensores 3D, o mapeamento siga a mesma lógica e o Reconhecimento Facial, dessa forma, seja ainda mais preciso — menos passível de erro em função da luminosidade e capaz de reconhecer uma pessoa de perfil.

Quem inventou: O matemático e cientista da computação americano Woodrow Wilson Bledsoe é considerado o pai do Reconhecimento Facial. Ele criou um sistema híbrido: o mapeamento de características do rosto era feito manualmente (eram listadas 20 delas), em um dispositivo gráfico chamado The RAND Tablet (uma pequena tela que tem uma caneta específica) e os dados eram colocados no computador que poderia, então, fazer o reconhecimento.

Quando foi inventado: Em 1964.

Para que serve: Para substituir chaves, códigos numéricos ou biometria de outros tipos (como a de impressão digital e de leitura da íris ou da córnea). Nestes casos, o Reconhecimento Facial permite a entrada de pessoas em locais privados e/ou garante que somente as autorizadas acessem determinados espaços (como condomínios, escolas, clubes, academias etc). Permite, ainda, o desbloqueio de devices, como o aparelho celular, entre outros.

Luiza Mesquita, coordenadora da área de inovação do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio), diz que o Reconhecimento Facial é usado principalmente para praticidade e segurança. “No caso de uma empresa, por exemplo, pode identficar em segundos a presença de um intruso ou de alguém que represente qualquer tipo de ameaça.”

Outra finalidade é ser ferramenta de uso policial para detecção de suspeitos ou criminosos, até mesmo em multidões. Uma vez que haja uma base de dados, o Reconhecimento Facial é uma via de acesso a todos os dados das pessoas listadas (RG, CPF, endereço, local de trabalho etc.) Essa utilização é bastante controversa e, no Reino Unido, grupos de direitos civis dizem que pode inclusive apontar erroneamente alguém, acusando pessoas inocentes.

Há, ainda, o uso para entretenimento, como em alguns jogos no Xbox e no Playstation e pelo Facebook. Há anos a plataforma reconhece rostos e sugere que os usuários se marquem. Em dezembro do ano passado, houve o anúncio de três novos serviços, agora para segurança, como avisar que uma foto sua foi colocada na rede ou, ainda, de que está sendo usada no perfil de outra pessoa. Para isso, é preciso que o usuários optem por esse alerta.

Em animais, o uso do Reconhecimento Facial está começando. A indústria global Cargill anunciou uma parceria com uma empresa de computação para mapear vacas, acompanhando comportamento, padrões alimentares e saúde geral do gado, além de enviar alertas instantâneos diretamente aos agricultores. Já pesquisadores da Michigan State University (MSU), nos Estados Unidos, desenvolveram um software de Reconhecimento Facial para proteger do perigo primatas como mico leão dourado e lêmures.

Quem usa: Empresas privadas, governos e pessoas físicas (por meio de aparelhos celulares). Alguns exemplos são o já citado Facebook; a Amazon, que tem o chamado Rekognition (vendido para o governo dos Estados Unidos); a Apple, com o Face ID (usado não apenas para desbloquear o iPhone X como também para fazer compras em suas plataformas), o Google com o Facenet (organização de fotos); a Microsoft com o Face (também para organização de fotos entre outros serviços), a Mastercard, com o Mastercard Idendity Check (para fazer pagamentos).

Segundo Gregório, o governo chinês implantou um gigantesco sistema de vigilância. “As câmeras, espalhadas por todo o país, são dotadas de inteligência artificial e, além de usar sofisticadas técnicas de reconhecimento facial, são conectadas ao banco de dados da polícia, permitindo identificar suspeitos e até comportamentos criminosos.” O país usa ainda Reconhecimento Facial dentro de escolas para apontar alunos que não se comportam bem. A Receita Federal brasileira usa, desde agosto de 2016, o sistema de Reconhecimento Facial em aeroportos, para identificar passageiros de voos internacionais.

Efeitos colaterais: Possibilidade de erro e não detectar pessoas negras de pele mais escura, principalmente mulheres. Esta questão tem sido apontada por especialistas em diversas publicações, dentre elas a Wired e o New York Times. Há, ainda, a questão da violação de privacidade.

Quem é contra: Grupos da sociedade civil que apontam a possibilidade de erro na criminalização de pessoas e o viés racista e de gênero (como explicado acima). Mesquita diz que há inúmeras organizações e ativistas de proteção da privacidade que trabalham levantando os reveses que a ferramenta pode trazer. “Já houve casos nos Estados Unidos, por exemplo, de ações judiciais contra empresas como o Facebook, alegando violação de leis.”

Para saber mais:
1) Leia, no The Guardian, UK police use of facial recognition technology a failure, says report. Um grupo de liberdade civil do Reino Unido diz que o sistema usado pela polícia metropolitana errou no Reconhecimento Facial de pessoas nove entre dez vezes.
2) Leia, no Futurism.com, Not Paying Attention in Class? China’s “Smart Eye” Will Snitch on You, sobre o Reconhecimento Facial em escolas na China.
3) Leia, no Gizmodo, Finally, Facial Recognition for Cows Is Here e, no Futurism.com, New Facial Recognition Software Tracks and Protects Endangered Primates. O primeiro link é um texto sobre o Reconhecimento Facial feito em vacas, o segundo, em primatas.
4) Leia, na Wired, Photo algorithms id white men fine—black women, not so much e, no New York Times, Facial Recognition Is Accurate, if You’re a White Guy.

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