A Container Box recicla contêineres e constrói casas (e laboratórios) com pegada de carbono até 90% menor do que uma obra em alvenaria

Maisa Infante - 6 fev 2023
Adriana França e Danilo Corbas querem colaborar para uma construção civil mais sustentável.
Maisa Infante - 6 fev 2023
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Na Copa do Qatar, no fim de 2022, o estádio 974 abrigou sete partidas, inclusive duas vitórias do Brasil, contra a Suíça (1 x 0) e Coreia do Sul (4 x 1). Porém, o que deu fama ao estádio foi sua estrutura criada com contêineres de transporte marítimo – 974 ao todo, daí o nome.

A reciclagem de contêineres é um recurso visto com bons olhos por profissionais da construção civil que buscam mais sustentabilidade em suas obras. Bem antes da Copa, a Container Box ajudou a consolidar essa proposta aqui no Brasil.

A empresa, fundada em 2012 pelo casal Danilo Corbas e Adriana França (ele, arquiteto; ela, publicitária), reaproveita contêineres para desenvolver projetos e construções comerciais e residenciais de baixo impacto. 

“O setor da construção tem uma enorme capacidade de reduzir o desperdício, aumentar a reciclagem e a reutilização de materiais”, diz Danilo. A Container Box adquire contêineres em portos pelo país afora, onde esses enormes caixotes metálicos repousam, depois de aposentados pelas companhias marítimas:

“Escolhemos os contêineres no porto e levamos de caminhão para o nosso galpão, onde fazemos o tratamento das partes danificadas e os recortes. É quando começa a transformação para o projeto”

O menor uso de recursos como areia, cimento e água também contribui para sustentabilidade desse método construtivo. 

O interessante é que a ideia do negócio começou a se desenhar quando o casal resolveu construir sua própria casa, na Granja Vianna (em Cotia, na Grande São Paulo), da maneira mais sustentável possível. 

UMA MEMÓRIA DE INFÂNCIA INSPIROU A CONSTRUÇÃO DA NOVA CASA, QUE POR SUA VEZ DEU ORIGEM AO NEGÓCIO DO CASAL DE EMPREENDEDORES

“Meu pai sempre trabalhou na Petrobras, tanto embarcado em navio quanto em terra, dentro de contêiner”, diz Adriana.

Foi assim que, já adulta, ela resgatou uma memória da infância que, mais tarde, se mostraria decisiva para o nascimento da Container Box:

“Eu ainda era pequena, na década de 1980, quando ele chegou em casa falando pra minha mãe sobre fazer uma casa em contêiner. Isso ficou na minha cabeça… e quando conheci o Danilo juntamos a criatividade da minha área de publicidade com o trabalho dele de arquiteto”

Na época, porém, o objetivo ainda não era empreender, e sim construir um novo lar. Para colocar sua casa de pé, o casal foi em busca de referências sobre obras realizadas com contêineres. E a procura inicialmente deu em nada:

“Todo mundo chamava a gente de louco”, afirma Danilo. “Diziam que não ia dar certo, que depois não conseguiríamos vender a casa porque não existia nada assim…” 

Durante a construção da casa feita com contêineres reciclados na Granja Viana, em São Paulo, surgiu a ideia da Container Box (foto: arquivo Danilo Corbas).

Ainda assim, eles insistiram. E quando entenderam que aquela ideia dialogava com o tema sustentabilidade (conceito, na época, já na mira do mercado da construção civil, mas ainda incipiente), foram buscar o patrocínio para validar a técnica construtiva.

A prospecção deu certo. Ao todo, 23 marcas — incluindo Roca, Sherwin Williams, Triângulo Pisos, Lafarge e Trisoft – toparam embarcar no projeto, que utilizou quatro contêineres para construção de 196 metros quadrados. 

Concluída em 2011, a casa de Adriana e Danilo virou um case arquitetônico, destacada em sites especializados, visitada por estudantes e profissionais do setor. Ele afirma:

“O diferencial é que não colocamos apenas um contêiner em cima do outro. Trabalhamos design, arquitetura e sustentabilidade para ter essa visibilidade e tornar o projeto relevante para as pessoas”

Foi a partir da repercussão dessa casa que surgiu a Container Box. A visibilidade gerou interesse e novos clientes foram surgindo, inclusive grandes empresas. 

O MERCADO CORPORATIVO ESTÁ DE OLHO NA ARQUITETURA EM CONTÊINER

Hoje, o mercado corporativo representa 80% do negócio, com clientes como Adidas, Localiza, Hyundai, Caterpillar, Tecnisa, KIA, Shell entre outros.

Nesse segmento, a empresa atende tanto a área de eventos como de projetos customizados. 

Para os eventos, são muito utilizadas as CBoxes, unidades automatizadas com três tamanhos diferentes. Elas são levadas para o local do evento fechadas, possuem abertura automática e já vêm equipadas com tomadas, iluminação de LED, toldo elétrico etc. Essas estruturas podem ser alugadas por alguns dias ou até mais de um ano.

Os projetos customizados são feitos tanto para residências como para empresas, como o Car Display, criado para a Nissan nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Foram utilizados 14 contêineres para a exposição de veículos da marca.

SEGUNDO A EMPRESA, O IMPACTO DE UMA OBRA COM CONTÊINERES CHEGA A SER 90% MENOR DO QUE O DE UMA CONSTRUÇÃO DE ALVENARIA

O uso de contêiner reciclado contribui significativamente para que as obras da Container Box tenham uma pegada de carbono menor do que a construção civil tradicional.

Para entender essa pegada, a Container Box fez o inventário corporativo de carbono em 2021 e identificou que o impacto gerado é 90% mais baixo se comparado a uma construção de alvenaria. Adriana explica:

“Quando fizemos o inventário, ficou claro que a maior contribuição para o nosso impacto vem dos nossos fornecedores e não dos nossos processos. Vem, por exemplo, dos materiais que são agregados aos nossos projetos, como o drywall. O contêiner em si não tem esse impacto todo porque já está sendo reutilizado”

Segundo a empresa, a produção de um contêiner do tipo 40 pés HC (High Cube) emite em média 18 toneladas de CO2 equivalente. 

Em contrapartida, uma edificação com as mesmas proporções executada em alvenaria convencional tem uma pegada de carbono de cerca de 195 toneladas de CO2 equivalente. São, portanto, 177 toneladas de CO2 equivalente a menos lançadas na atmosfera. 

“Ainda assim, toda a nossa pegada é calculada independentemente do momento de compra do contêiner aqui no Brasil”, diz Adriana. “O que significa que mitigamos a pegada do contêiner desde a sua produção inicial, quando sai da fábrica para o seu uso principal.”

O PROJETO DE UM LABORATÓRIO PARA O INSTITUTO BUTANTAN INAUGUROU UMA NOVA FASE DE CONSTRUÇÕES CARBONO ZERO

O resultado do inventário levou a Container Box a lançar, em 2022, a campanha CO2 zero, com o objetivo de zerar a pegada de carbono de todos os projetos desenvolvidos.

Para isso, o que não é possível reduzir na obra é mitigado com a compra de créditos de carbono. E quem paga essa conta é a Container Box, não o cliente. Adriana afirma:

“Estamos defendendo um ambiente de construção melhor e esperamos que empresas e profissionais de todo o setor façam um compromisso semelhante, tomando uma posição numa questão que acreditamos apaixonadamente que pode ajudar a impulsionar a indústria da construção civil para um futuro mais sustentável”

O projeto que inaugurou a era de construções carbono zero da startup foi o Laboratório Estratégico de Diagnóstico PCR do Instituto Butantan, em São Paulo, erguido pela Container Box em 2022.

O Laboratório Estratégico de Diagnóstico PCR do Instituto Butantan, em São Paulo, é a primeira obra carbono zero da Container Box.

Com a pandemia de Covid-19, a construção de um laboratório como esse ganhou prioridade. Foram utilizados seis contêineres na execução da obra, entregue em quatro meses; segundo Adriana, caso fosse feita em alvenaria, seria necessário pelo menos mais oito meses.

Nessa obra, a pegada de carbono foi 90% menor do que uma construção tradicional; os 10% que não foi possível reduzir foram compensados com a compra de créditos de carbono em projetos na Amazônia. Danilo afirma:

“Hoje, o mercado B2B é o mais preocupado com a questão da sustentabilidade. Quando a gente acrescenta o carbono zero nos nossos projetos, que já são sustentáveis, as marcas veem relevância dentro da área ESG

A expectativa é que essa campanha influencie companhias de construção civil e atraia novos negócios para a Container Box. “Foi uma iniciativa muito casada com o que o mercado está pedindo para as empresas.”

Em relação à performance do negócio, a startup não divulga números absolutos, mas revela que o faturamento cresceu 70% em 2021 – com as demandas corporativas à frente.

AGORA, UMA NOVA FÁBRICA NO INTERIOR PAULISTA DEVERÁ PERMITIR À CONTAINER BOX ESCALAR SUA OPERAÇÃO

A Container Box está desenvolvendo uma linha de montagem automatizada em Sorocaba, interior de São Paulo, para produzir projetos residenciais, comerciais e industriais – e escalar sua operação. 

Além de comercializar o sistema modular para que arquitetos possam criar seus projetos, a Container Box também vai fabricar casas padrão com metragens de 50 a 260 metros quadrados, focadas no público A, B e C (capazes, inclusive, de atender algumas faixas do programas como Minha Casa, Minha Vida, segundo os empreendedores). 

Essas casas terão aproximadamente 80% da sua estrutura feita em contêiner e 20% em outras técnicas. Adriana afirma:

“Com essa nova fábrica vamos escalar e, com isso, atender grandes demandas de casas, laboratórios e até galpões industriais. Ela terá capacidade de fazer 360 casas de 52 metros quadrados por mês, considerando apenas um turno. Como será automatizada, nosso dia terá efetivamente 24 horas de trabalho”

Com a sustentabilidade na raiz do negócio, a Container Box quer ser, mais do que construtora carbono zero, uma agente de transformação. 

“Sempre é possível fazer mais para as futuras gerações, impactando positivamente pessoas e empresas rumo a construções mais amigáveis ao meio ambiente”, diz Adriana. “Acreditamos que é possível, sim, agir agora.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Container Box
  • O que faz: Obras residenciais e corporativas com contêineres
  • Sócio(s): Danilo Corbas e Adriana França
  • Funcionários: 13
  • Sede: Cotia (SP)
  • Início das atividades: 2012
  • Contato: perguntas@containerbox.com.br
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