Danilo Costa strikes again. O fundador do Educbank teve sua história contada aqui no Draft dois anos atrás, em abril de 2023. Nos últimos 24 meses, andou fazendo muita coisa – inclusive vender sua participação na startup que criou, de provimento de crédito para escolas.
O antídoto financeiro que o Educbank oferece às escolas privadas (da pré-escola ao ensino médio) evita com que elas sofram com a inadimplência de seus alunos e, com isso, tenham condições de investir e manter o foco em áreas prioritárias.
O Educbank hoje integra o grupo Cogna, o maior conglomerado educacional do Brasil em receita líquida, que tem em sua rede marcas pesadas como Anglo, Anhanguera, Pitágoras, Sistema Mackenzie de Ensino, Red Balloon, a editora Scipione e dezenas de outras. Danilo tem assento no conselho de administração. Mas seu contrato de non-compete assinado com a Cogna não o impediu de lançar um produto muito similar ao Educbank nos Estados Unidos, seu atual campo de batalha.
Nova startup de Danilo, a Clad – algo como “protegido”, em tradução livre – vive sua primeira dentição com, por ora, um headquarter em São Francisco e o “sonho grande” de conquistar um quarto do mercado nacional em cinco anos – 8 mil escolas. Segundo o empreendedor, trata-se de um setor que movimenta 120 bilhões de dólares e cresce a uma taxa média de 10% ao ano.
Em termos de mercado, os Estados Unidos (mesmo antes de mergulharem na distopia político-econômica trumpiana) são “outros 500”. As instituições educacionais privadas americanas nas faixas atendidas pela Clad, as mesmas do Educbank no Brasil, jamais sentiram a dor da inadimplência.
Pelo contrário: os pais dos estudantes sempre tiveram o costume de antecipar os pagamentos, anualizando-os, mesmo sem qualquer estímulo financeiro para isso.
Esse cenário, porém, vem mudando. “Antes, apenas 20% dos pais optavam por pagar mensalmente, hoje são cerca de 90%”, disse Danilo ao Draft em entrevista por videoconferência.
Desde a pandemia, os Estados Unidos passaram a padecer de alguns males “tropicais”: inflação, juros altos (para o padrão local, é verdade, de um dígito), e, sim, inadimplência.
Com isso, a solução da Clad passou a fazer sentido, sobretudo num mercado muito distinto daquele das universidades da célebre Ivy League norte-americana, como Yale, Princeton, Brown e Harvard (em que as doações por meio de instrumentos filantrópicos são centrais).
“Essa não é a realidade da escolinha de bairro, do colégio independente. Eles não têm fundos de endowments, não tem o [Mark] Zuckerberg fazendo doação de 50 milhões de dólares… É tiro, porrada e bomba, um cenário comercialmente muito desfavorável”
Antes de empreender no país, Danilo fez uma pesquisa detalhada de mercado. Viu que cerca de 10% dos alunos da pré-escola, fundamental I e II e do ensino médio (o target da Clad) estão em escolas privadas. E que a ambição dos pais por fazer seus filhos trocarem as instituições públicas pelas privadas é grande – a Clad poderia ser chave nesse movimento.
Em seguida, criou um time nos Estados Unidos e assuntou possíveis investidores. Foi só depois de levantar capital – financeiro e intelectual – que ele mandou um e-mail para seu futuro sócio (de uma família da área educacional de Massachusetts, estado onde estão Harvard e o MIT), convidando-o para um papo em que apresentou a si próprio e o projeto que viria a ser a Clad.
Mais do que oferecer um novo instrumento para um mercado que passa a demandá-lo, Danilo se vê a protagonizar um novo momento geopolítico, em que o Brasil troca de papéis com os Estados Unidos e oferece valor agregado à nação historicamente dominadora da relação.
Se isso é verdade e se podemos tomar o todo pela parte, deixamos momentaneamente de ser o país bananeiro, o produtor de commodities, para virarmos o exportador de leapfrogging (“pulo de sapo”, em tradução livre); utilizado por Danilo na entrevista, o termo atualiza aquilo que um dia ficou conhecido como “disrupção”.
“O Brasil e a América Latina historicamente mandam commodities para os Estados Unidos, mas acho que a minha geração vive um momento único, de exportar inovação tecnológica, de exportar soluções para problemas que aqui sempre enfrentamos e que eles começam a ter de lidar. Como a inflação e os juros altos”
E justamente por ser esse um cenário pouco usual nos Estados Unidos, há muito a remar. Danilo explica que há um ordenamento legal distinto para cada um dos 50 estados americanos, o que demanda conhecimentos múltiplos, especialmente nas áreas jurídica e tributária, além da contratação de escritórios (de advocacia, por exemplo) em cada estado que a Clad pretende ingressar.
Ter convivido com o famoso manicômio fiscal brasileiro, na frase célebre de Roberto Campos – o avô –, ajuda no paranauê.
Mas há anomalias ou limitações para as quais a experiência pouco tem a oferecer. Não há nos Estados Unidos a tecnologia do Pix, tampouco inexistem simples boletos bancários, diz Danilo. Cheques são ainda um instrumento bastante comum em operações financeiras, a despeito da vontade de Donald Trump em extirpá-los.
“O Brasil tem excelência global nessas soluções em que o custo do dinheiro se multiplica com o tempo, em que não é possível acordar no dia seguinte sem se preocupar com esse tema. Desenvolvemos ERPs, programas, meios de pagamento e outras tecnologias que são referenciais. Os Estados Unidos estão descobrindo agora coisas como parcelamento, crediário, consórcio”
Ao criar soluções inéditas para problemas muito particulares, Danilo entende que o Brasil virou um “celeiro de disrupção”.
Para embasar essa afirmação, cita o Quinto Andar, e seu sistema de garantia de fiança, que revolucionou o mercado imobiliário brasileiro; o Gympass, que se tornou rapidamente dominante no setor de atividade física, alastrando acesso às academias de ginástica; e o próprio Educbank e seus congêneres na América Latina, que levam solução de crédito para, segundo Danilo, 4 mil escolas do continente:
“Está mais do que na hora de deixarmos nossa síndrome de vira-lata”, afirma.
O empreendedor empilha reconhecimentos notáveis. Para citar três: o do MIT para inovadores com menos de 35 anos; o da consultoria EY para um dos empreendedores do ano de 2022; e o do SXSW como inovador de 2023.
Como fundador de uma instituição educacional, Danilo conheceu a dor de que mais tarde ele mesmo viria a criar antídoto – ou, vá lá, lenitivo. E dá seu depoimento como “ex-school principal” numa das telas do site da Clad: “Apenas quem é – ou foi – dirigente de escola sabe o que significa não ter previsibilidade sobre o fluxo de caixa (…) ao invés de se dedicar aos projetos estratégicos das escolas.”
Danilo sabe que o tema é delicado, pois o instrumento que coloca agora à disposição do mercado norte-americano é prerrogativa da escola privada, que desproporcionalmente premia seus alunos com posições de destaque na vida universitária. Mas não se furta a perguntar ao entrevistador quantos tiroteios e massacres, dos “360 que aconteceram nos últimos doze meses” em escolas dos Estados Unidos, passaram-se em instituições privadas. O próprio Danilo responde:
“Zero. É um soco no estômago”
Em outras palavras, o impacto que a Clad almeja criar nos Estados Unidos não se resume à mobilidade social. Trata-se também, em última instância, de uma questão de sobrevivência.
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