Dois dedos de prosa podem mudar seu futuro profissional: ele criou uma startup que quer digitalizar a forma como se faz networking

Rebecca Vettore - 9 jan 2023
Luiz Lobo, fundador da Prosa (crédito: Vinícius Conci).
Rebecca Vettore - 9 jan 2023
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Conseguir uma primeira chance é duro quando você ainda está começando a vida profissional e ainda tem pouca – ou nenhuma – experiência para apresentar.

Além da bagagem no currículo, faz falta uma boa rede de contatos. Sem um networking, aliás, mesmo quem já está no mercado pode sentir dificuldade para fazer a carreira engrenar ou para decidir que rumo tomar, quais passos seguir.

Contornar esses obstáculos é a proposta da Prosa. A startup, criada em 2021, pretende ser um “Tinder da mentoria”, conectando estudantes e profissionais em início de carreira a gente mais tarimbada, que tem muito a ensinar.

“A gente via pessoas que queriam falar com marcas, como Google, e [então] conectamos o perfil do jovem profissional com profissionais mais seniores para que ele tivesse mais experiência e clareza da decisão”, diz Luiz Lobo, sócio-fundador.

O nome da startup já insinua a ideia de favorecer a conversa, aqueles “dois dedos de prosa”:

“O que a Prosa faz é ser genuinamente uma empresa de networking e conexão entre as pessoas, voltada para a carreira dos jovens universitários que querem entender um pouco sobre o mercado de trabalho” 

Com alguns cliques, o usuário navega por temas na plataforma (como inteligência emocional, domínio técnico em métodos ágeis, ou formação em diversidade) sobre os quais queira se aprofundar.

A plataforma realiza uma filtragem de acordo com os objetivos do usuário, até encontrar o profissional com mais experiência de mercado que atenda às suas necessidades. 

A partir disso, basta escolher um horário disponível na agenda compartilhada e marcar a mentoria, que tem duração prévia de uma hora. 

LUIZ INGRESSOU NO MERCADO DE TRABALHO NO MOMENTO EM QUE UMA CRISE ECONÔMICA ASSOLAVA O PLANETA

Nascido em Cuiabá, Luiz se mudou com a família para São Paulo. Quando tinha 14 anos, seu pai, Rogério Lobo, executivo de telecom, o levou por uma “turnê” para conhecer algumas das principais universidades do país – leia-se, USP, PUC e Unicamp.

O jovem, porém, acabou escolhendo outra universidade – a Federal do Paraná – por conta de um curso fora do comum (ainda mais naqueles tempos em que nem se falava em ESG): engenharia ambiental.

Ele se formou em 2008. Naquele ano, estourou a crise imobiliária nos Estados Unidos, que mais tarde ganharia proporções de um tsunami mundial. Nos anos seguintes, o mercado de trabalho se tornaria mais hostil; mesmo assim, Luiz conseguiu uma vaga no Carrefour.

“Ingressei como trainee na estrutura de Recursos Humanos, passando por relações institucionais e sustentabilidade”, diz. Ficou até 2010, quando pintou um convite para atuar na Vivo, também como trainee, na diretoria de Comunicação Corporativa e Institucional.

AO ESTUDAR INOVAÇÃO NO MIT, ELE DESPERTOU PARA A POTÊNCIA DO CRUZAMENTO ENTRE EMPREENDEDORISMO E EDUCAÇÃO

Em 2012, Luiz trocou de emprego novamente para atuar naquela que seria a empresa onde trabalharia por mais tempo: o Grupo Boticário.

Começou como analista de sustentabilidade sênior, e criou um relatório corporativo de boas práticas da marca. Foram nove anos na companhia, galgando posições.

Durante essa jornada, ele foi estudar inovação em sustentabilidade no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos. O ano era 2015. A experiência o impactou e permitiu ver de perto como empreendedorismo e educação podem estar entrelaçados.

“Pude perceber grandes diferenças no método educacional praticado no exterior – um modelo extremamente mais estimulante, disruptivo e que caminhava em paralelo ao empreendedorismo, com a proximidade de mentores ao cotidiano dos estudantes”

Luiz terminou o ciclo no Boticário na função de squad leader, à frente de projetos ligados ao desenvolvimento de stakeholders, grupos de fornecedores, franqueados e colaboradores. 

Em um desses projetos, chamado Talentos em Movimento, ele tinha a missão de olhar para as pessoas, e não para os seus cargos; podia alocar, por exemplo, um profissional de tecnologia para trabalhar com varejo ou meio de pagamentos.      

“O projeto partia da premissa que todo profissional possui uma competência que pode ser útil para a organização como um todo”, diz Luiz. “Por isso, esse profissional tinha a possibilidade de passar por outras áreas e emprestar o seu talento em prol dos resultados da organização.”

O ESTALO PARA EMPREENDER SURGIU DURANTE A PANDEMIA, PENSANDO EM QUAL SERIA O PRÓXIMO PASSO DE SUA CARREIRA

Finda a jornada no Boticário, e vivendo as restrições da quarentena devido à Covid-19, Luiz se pegou pensando, no fim de 2020, no que faria a seguir.

Foi então que um grupo de amigos, donos de um coworking, fez uma consulta informal a Luiz para saber se ele teria uma ideia diferente de uso do espaço naquele contexto desafiador do isolamento social. 

“Na hora que eles trouxeram esse briefing, me veio o insight que tive em 2015, no MIT, onde vi uma série de startups que estavam crescendo com base em uma tecnologia de algoritmo que conectava as pessoas, que ainda não existia no Brasil.”

Acendia ali, na cabeça de Luiz, a faísca do empreendedorismo. 

“Conversei com um colega que faz vários negócios e ele me deu uma dica para começar, ‘você literalmente precisa tocar 200 cafezinhos com pessoas que você confia’. Levei ao pé da letra e marquei 200 conversas, e de forma online lapidei a ideia que eu tinha”

A ideia seria criar uma startup para conectar pessoas e preencher as lacunas impostas pelo isolamento social, ajudando na reformulação das relações de trabalho nesse período pandêmico. 

“Pensei quais eram os movimentos novos de tecnologia lá de fora que eu poderia ‘tropicalizar’ e trazer para o Brasil, e me deparei [com] como fazia networking.”

DESBRAVANDO O JEITINHO BRASILEIRO DE FAZER NETWORKING

E assim a Prosa começava a tomar forma. Luiz e (o hoje ex-sócio) Guilherme Marins investiram 60 mil reais. Para desenvolver uma solução bem estruturada, foi preciso trabalhar por quatro meses. 

“Fazer tecnologia de primeira não é o melhor caminho, a gente precisava estruturar um processo. Precisava rodar no analógico, aprender com ele e ver o que de fato poderia ser impulsionado pela tecnologia para depois criar uma plataforma para levar ao mercado.”

Além disso, “tropicalizar a tecnologia”, como diz Luiz, era importante, porque o jeito de se fazer networking varia conforme a cultura de cada país.

“A cultura brasileira é extremamente relacional. Gostamos de conversar sobre amenidades como quebra-gelo antes de qualquer reunião, para em um segundo momento engatar na pauta principal. Todo profissional brasileiro é muito disponível para conversas, dicas e cafezinhos”

Já no mercado norte-americano, segundo o empreendedor, essa é uma atividade “precisamente remunerada” e que se dá sem rodeios, sempre em intervalos pré-definidos, contados no relógio.

“Foco no resultado é o nome do jogo. Por isso que o mercado de coaching é tão profissionalizado, maduro e movimenta 7 bilhões de dólares só nos Estados Unidos.”

OS MENTORES DA PLATAFORMA PRECISAM ATENDER TRÊS REQUISITOS E PASSAR POR UM TREINAMENTO ONLINE

Segundo Luiz, por enquanto já passaram mais de 300 usuários pela plataforma da Prosa, sendo que 260 profissionais estavam buscando algum tipo de assessoria e apoio. 

Pelo lado da mentoria, existem 27 mentores ativos e cerca de 30 em fase de homologação. 

“Para serem escolhidos, é necessário atender três requisitos — tempo como líder de equipes, experiência no setor e experiência na cadeira técnica — e passar por um treinamento”

O sistema de treinamento da startup atende por MentorClass. “São 15 módulos com duração total de cinco horas para reforçar conceitos.”

Entre os profissionais da base de mentores da Prosa, ele cita Ananda Armani, profissional da área de Recursos Humanos da OLX, e Abdul Assal, executivo da MasterCard com passagem também pelo Santander e Carrefour.

PLANOS PARA PESSOAS FÍSICAS E PARA EMPRESAS

A Prosa atende duas pontas. De um lado estão as pessoas físicas: recém-formados e profissionais com pouca experiência em busca de mentoria.

Para esse público há dois planos pagos: o básico (R$ 9,90 por mês) e outro cujo valor mensal varia de R$ 17,90 a R$ 79,90, dependendo das funcionalidades:

“Essa faixa de preço leva em consideração recursos extras que o usuário pode contratar, como a criação de conteúdos gravados, quantidades de filtros – como temas, setores da indústria… tipos de KPIs de resultado como relatórios histórico de operações, horas contratadas com mentores…”

Há também a frente B2B. Aqui, os clientes são empresas que fazem uso dos recursos da plataforma para promover trocas de experiência e treinamentos internos, além de identificar talentos para projetos com uso de algoritmos.

Em seu site, a startup lista clientes parrudos, como Rede Globo, brMalls, Allianz e Fundação Getulio Vargas. Os planos abrangem assinaturas com mensalidade a partir de 499 reais, e valores crescentes – até 24,9 mil reais

“Tudo depende do grau de personalização que leva em conta quantidade de tecnologias, integrações com outras ferramentas e, principalmente, nível de sofisticação dos recursos de TI”, diz Luiz.

A PLATAFORMA CAPTOU INVESTIMENTO-ANJO E INVESTE EM TECNOLOGIA PARA POTENCIALIZAR O SEU ALCANCE

A Prosa faturou 150 mil reais entre janeiro e outubro de 2022. A empresa ainda não dá lucro, mas a expectativa é alcançar o break even em breve, afirma Luiz.

Para alavancar o negócio, em junho de 2022 o empreendedor captou 400 mil reais de oito investidores-anjos.

“Esse dinheiro ajudou a consolidar todos os recursos de tecnologia que vi lá fora e queria tropicalizar para o Brasil, e a construir o primeiro time dedicado full time nas áreas de tecnologia, produto e vendas” 

Agora, há duas metas concretas e ousadas para 2023: alcançar 10 mil usuários – entre estudantes, profissionais recém-formados e os mentores – e atingir o primeiro 1 milhão de reais de faturamento.

“Temos um produto bem encaixado, uma clareza de público que queremos atingir, um caixa que traz conforto – e uma estratégia de comunicação limpa.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Prosa
  • O que faz: Aproximar jovens profissionais e recém-formados do mercado de trabalho através de uma plataforma
  • Sócio(s): Luiz Felipe Lobo
  • Funcionários: 5
  • Sede: Curitiba
  • Início das atividades: 2021
  • Investimento inicial: R$ 60 mil
  • Faturamento: R$ 150 mil (2022)
  • Contato: [email protected]
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