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Robert Schermers trocou a alta direção em uma multinacional pelo empreendimento em uma empresa sem escritórios, em que todo mundo trabalha de casa

Adriano Silva - 12 set 2014 Robert Schermers trocou uma carreira de alto executivo numa multinacional por uma sociedade com a Innate, os "humanizadores de negócios"
Robert Schermers trocou uma carreira de alto executivo numa multinacional por uma sociedade com a Innate, os "humanizadores de negócios"
Adriano Silva - 12 set 2014
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Robert Schermers, 47, é um holandês apaixonado pelo Brasil. Está no país há cinco anos e fala um ótimo português – o fato de ter se casado com uma brasileira provavelmente ajuda.

Robert veio ao Brasil a serviço da Unilever, empresa para a qual trabalhou 17 anos, na Holanda, na Alemanha e na África do Sul. Aqui no Brasil cuidou da marca Kibon. Depois, assumiu a direção de marketing da unidade de Home Care, cuidando de marcas como Omo, Comfort e Brilhante.

A empresa queria que ele fosse para a Ásia. Na vida corporativa há alguns convites que você não deve recusar – sob pena de ser lido como alguém sem ambição, que se acomodou. Especialmente na alta direção de uma multinacional, é preciso estar disponível. O reconhecimento vem na forma de promoções que por sua vez embutem desafios. O sujeito vai resolvendo problemas para a empresa carreira afora, e vai ganhando mais por isso, inclusive status, dentro e fora da companhia. É mais ou menos assim que funciona.

Foi nesse ponto da carreira, em que o executivo de meia idade ou fica mais cauteloso nas curvas ou costuma embalar numa arremetida para ver quão alto consegue chegar na escadaria corporativa, nos anos que lhe restam, que Robert tomou a decisão mais tenebrosa do mundo: apeou do cavalo, retirou-se daquela corrida. Para cair dentro de outra onde ele era neófito – o empreendimento. Quem tem um bom emprego, como o que Robert tinha na Unilever, e quase 50 anos de idade, sabe o quanto isso é difícil de fazer.

Robert não foi para a Ásia. E não por acomodação. Ficou no Brasil. E há um ano, desde outubro de 2013, representa no Brasil a Innate Motion, empresa da qual virou sócio. A Innate já prestava serviços à própria Unilever – pesquisa estratégica, estudo e diagnóstico de tendências futuras com impacto nos negócios, concepção e auxílio à empresa na execução do reposicionamento de marcas.

“Eu gostava do método da Innate, com foco na mudança de cultura. Os executivos eram expostos ao contato direto com os consumidores, para falar com eles sobre temas da vida e não sobre os produtos da empresa. A Innate nos tirava da zona de conforto, descobríamos quem as pessoas realmente eram , como viviam e como tomavam decisões”, diz Robert. “Era uma chance de ver a empresa de fora, com nossos próprios olhos, mas com o olhar do cliente. Nos despíamos dos papeis de executivos ou de vendedores, naquele momento”.

Robert em ação, pela Innate, na BR Foods.

Robert em ação, pela Innate, na Brasil Foods.

“PARE DE TERCEIRIZAR SEUS SENTIMENTOS”

A Innate Motion é uma consultoria que existe desde 2006, com oito sócios de diversas culturas que cobrem uma dúzia de países. A empresa está presente no Brasil desde 2008. Segundo Robert, a Innate já realizou trabalhos em mais de 150 países. Com uma particularidade: não há escritórios.

Hoje a Innate tem um time global de 37 profissionais. “Conseguimos montar uma revista para um cliente em 24 horas, aproveitando a diferença de fusos. Às vezes não estarmos juntos presencialmente é ruim. Mas não sempre. A eficiência e a produtividade do trabalho também aumentam muito. Estou em contato com as pessoas a qualquer hora, quando preciso. Mas também posso focar, quando necessário”.

“Adorava as marcas e as equipes na vida corporativa. No entanto, à medida que se sobe, numa grande empresa, construir coisas novas se torna menos importante do que defender coisas antigas”.

A Innate se define de modo curioso: “A menor empresa global do mundo”, “Humanizadores de negócios”, “Somos ‘believers’ e ‘change makers’. Somos ativistas de negócios e de pessoas. A nossa engenharia de crescimento de negócios é feita com ferramentas como zelo, empatia e diversão”, “Criamos valor de pessoa para pessoa. Um outro jeito de construir marcas e de fazer negócios”, “Generosidade vale a pena: quanto mais você dá, mais você recebe. Nós acreditamos que os vencedores serão aqueles que entregarem mais valor para as pessoas a quem servem e para o mundo em que vivem” . E, por fim, uma das taglines mais bacanas: “Pare de terceirizar seus sentimentos”.

“As pessoas que trabalham para a empresa são cada vez mais um fator crítico de sucesso. Especialmente os mais jovens, a nova geração, que não admite trabalhar num ambiente de marcadamente infeliz. Se você quiser os melhores, passe a se preocupar com a capacidade da sua organização de gerar felicidade”, diz Robert. “Da mesma forma, o poder migrou para as pessoas lá fora, na sociedade. Não somos mais donos das marcas que administramos. As marcas pertencem aos consumidores que as sustentam”.

No Brasil, segundo Roberto, além da Unilever, a Innate já trabalha com Coca Cola, Brasil Foods, Visa e Estée Lauder. A promessa da consultoria é Meaningful Growth, algo como “Crescimento com Propósito”. E propõe uma metodologia proprietária que estabelece uma pirâmide de marca com os seguintes pontos: As pessoas que nós servimos, A verdade das pessoas, A verdade do produto e O propósito da marca. “Nosso trabalho é colocar o cliente no centro de atividades com consumidores e a marca no coração da sociedade”, diz Robert.

E Roberto Schermers ficou no Brasil. Vania, à esquerda, agradece.

E Roberto Schermers ficou no Brasil. Vania, à esquerda, agradece.

REFLEXÕES DO EXECUTIVO QUE VIROU EMPREENDEDOR

Um ano depois de ter trocado a vida executiva pelo empreendimento, e um escritório cheio de gente, num ambiente de trabalho formal, por reuniões feitas pelo Skype no seu home office – quando não da sala de casa –, Robert reflete sobre o seu salto profissional. “Adorava as marcas e as equipes na Unilever. Contribuí muito nessas frentes. No entanto, à medida que se sobe, numa grande corporação, construir coisas novas se torna menos importante do que defender coisas antigas”.

Pergunto se é possível crescer sem ficar conservador. “Estamos discutindo isso hoje dentro da Innate. Talvez uma organização de até 80 ou 100 pessoas consiga manter seu apetite inovador sem se perder demais defendendo as conquistas já realizadas”, diz Robert.

Robert diz sentir falta, em sua vida de empreendedor, da capacidade da corporação e das marcas de abrir portas. “Ser dono do próprio nariz é mais inseguro. Agora tudo depende de mim e dos meus sócios. E, em termos de dinheiro, você abre mão de uma parte. Por outro lado, você está construindo algo para si mesmo”, diz Robert.

Do que ele não sente falta? Do lado político da vida nas grandes empresas. Da constante necessidade de amarrações e da energia gasta na defesa de territórios de poder. Bem, quem no recinto não souber do que ele está falando, favor levantar a mão…

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