A pandemia vem intensificando o Live Commerce, a venda de produtos por meio de transmissões ao vivo em redes sociais (clique aí no link para ler o nosso Verbete Draft sobre o tema).
Com as restrições impostas pela Covid, marcas vêm adotando cada vez mais a modalidade (também chamada de shopstreaming), que movimentou 170 bilhões de dólares em 2020 segundo uma projeção da iResearch.
Antes, quando assistia a uma live de uma marca, o cliente interessado num produto era redirecionado para o e-commerce por um link ou QR Code. A MIMO surgiu para quebrar essa lógica. Lançada em novembro, a startup se anuncia como a primeira plataforma de shopstreaming da América Latina, permitindo ao consumidor ver a live, tirar dúvidas pelo chat e efetuar o pagamento em uma única tela.
Segundo Monique Lima, CEO, a plataforma combina dois aspectos valorizados na pandemia: a conveniência do e-commerce e o calor humano das relações pessoais.
“A MIMO é o mais pessoal que o digital pode oferecer, com uma experiência de compra próxima, em que o cliente assiste à live, tira dúvidas no chat com o apresentador e finaliza a compra, tudo em uma única tela. Não perder o consumidor na jornada aumenta a taxa de conversão em 16%”
Em dois meses de operação, a retail tech (startup de varejo) com foco em pequenas e médias empresas conquistou 23 clientes e realizou dez lives, com marcas como Blue Bird Shoes, Decabrón, Imaginarium, Jogê, North Face, Pusco, Riachuelo e Spice Splice. E já tem, segundo as sócias, mais 50 lives agendadas até fevereiro.
UM TIME FUNDADOR 100% FEMININO
Make Incredible Moments Online. O nome “MIMO” vem dessa frase: “produza momentos incríveis online”. Monique conta que começou a bolar a ideia da startup em junho de 2020.
Publicitária, ela trabalhava então como diretora de projetos especiais da agência Africa. E viu como as marcas vinham penando no seu relacionamento com os consumidores, em meio à quarentena.
“Pensei que uma solução seria usar as lives, que já vinham sendo usadas para vendas na China desde 2016. No Brasil, o consumidor é muito social e somos campeões de lives… E vi um potencial grande para desenvolver aqui uma plataforma de live shopping”
Atrás de recrutar sócias para a empreitada, Monique recorreu a um grupo de WhatsApp do qual faz parte, formado apenas por mulheres da área de comunicação. Foi assim que recebeu a indicação de Etienne Du Jardin.
Vinda da publicidade, Etienne já trazia experiência em empreendedorismo na bagagem: ela teve outras seis empresas, incluindo o negócio social Somos B. Ela embarcou na MIMO como CPO [Chief Product Officer] da startup.
As duas queriam um time fundador 100% feminino. Assim, abriram uma vaga intencional para uma desenvolvedora negra — e chegaram à terceira sócia, Angelica Vasconcelos, que assumiu o cargo de CTO [Chief Technology Officer].
AS SÓCIAS FUNDARAM A EMPRESA SEM SE CONHECER PESSOALMENTE
As reuniões entre as três para a criação da startup ocorreram ao longo de quatro meses, de forma totalmente virtual, no auge do isolamento por conta da pandemia. Etienne lembra:
“Imagina colocar uma empresa e um produto em pé em quatro meses partindo de uma tecnologia do zero…! A gente trabalhava bastante, então tinha dias em que a reunião por vídeo acontecia de pijama, com máscaras de beleza, fazendo a unha”
Foi só em novembro, quando foram realizar uma sessão de fotos para o lançamento da empresa, é que as três enfim se conheceram pessoalmente.
“Estava morrendo de medo de a gente se detestar quando se conhecesse”, conta Monique. “Fizemos uma imersão: fomos pegar na loja as roupas para as fotos, depois fomos para o estúdio, almoçamos, viemos para a minha casa, tomamos um vinho… Foram 12 horas intensas juntas — e foi ótimo!”
Hoje, o time de 22 pessoas tem 72% mulheres, 31% pessoas negras e 27% autodeclaradas LGBTQIA+. A diversidade, diz Etienne, torna a inovação mais rica.
“Se o que a gente oferece faz sentido para pessoas de background diferentes, então realmente é inovador.”
COMO FUNCIONA A PLATAFORMA DA MIMO?
O funcionamento da plataforma é simples. A marca (ou seller, como a startup chama) se registra na ferramenta, tem seu estoque automatizado no sistema e agenda uma live.
Pela plataforma, também é possível optar pela contratação de um anfitrião (ou host) para apresentar a live. Atuar como host pode ser uma fonte de renda extra para vendedores da empresa. Em geral, porém, as marcas costumam apostar em influenciadores digitais.
“Na China, esses hosts podem fazer a taxa de conversão alcançar 20%, sendo que a média, no geral, é 3%”, afirma Monique.
A MIMO só ganha se a marca vender, ficando com 20% do valor faturado.
“Estamos construindo uma empresa justa, que é bacana para todo mundo. Mesmo se a marca não vender, ela ganha um material bacana de branding, porque a live fica gravada nas redes sociais dela. E além disso, tem em mãos um relatório de quantas pessoas entraram e quanto tempo ficaram na live. E tudo sem custo de set up”
No caso dos hosts, a comissão paga é acertada pela marca contratante, sem intermediação da MIMO. Para o público comprador (os shoppers), o uso da plataforma é gratuito.
A MIMO RECEBEU INVESTIMENTO DO “PAPA DO LIVE SALES” E APOIO DA AMAZON
Para tirar a MIMO do papel, elas investiram 150 mil reais. Atraíram também 20 investidores-anjos, que aportaram 2 milhões de reais — entre eles, o publicitário Nizan Guanaes e Mark Yuan, consultor da Taobao, Amazon Live, P&G e Kim Kardashian, e considerado o “papa” do live sales.
Elas contam que foram “na cara de pau” bater na porta de Yuan. Ou melhor, no seu perfil do LinkedIn. Monique lembra:
“Mandei uma mensagem para pedir uma consultoria, mas pelo preço que ele cobrava não teríamos como pagar. O papo, no entanto, foi tão legal… Ele gostou da nossa proposta e decidiu investir”
A ideia da MIMO de democratizar o live commerce teria fisgado o investidor:
“Chamamos a atenção dele por nosso objetivo de levar essa tecnologia para pequenos e médios negócios”, diz Etienne. “A forma como pretendemos agregar valor e impacto para nossos stakeholders também encantou o Mark.”
Outro apoio foi o da Amazon Web Services, por meio do programa AWS Activate, que oferece créditos para rodar aplicações, suporte técnico, conhecimento e treinamentos.
“Eles abriram portas para a gente até com startups de fora do Brasil”, diz Etienne. “Recebemos um selo da Zendesk de São Francisco e estamos usando o serviço deles por três meses gratuitamente para melhorar a experiência dos nossos usuários.”
COMO FICA O LIVE COMMERCE NO MUNDO PÓS-COVID?
Para Monique, a consolidação do e-commerce e o consumo por meio das lives são caminhos sem volta, mesmo depois que a vacinação começar a dar fim à Covid.
“No começo da pandemia, minha mãe fez sua primeira compra online em um e-commerce e um delivery. Ela não vai mais comprar fisicamente depois que descobriu essa facilidade…”
Segundo pesquisa da Research and Markets, até 2027 a indústria do social commerce deve crescer 39% ao ano e movimentar 600 bilhões de dólares.
Um atrativo para que o formato continue ganhando adeptos é o conteúdo oferecido nas apresentações.
“Uma live não precisa ser só mostrar o produto. Na China é assim e funciona, mas estamos trazendo sempre conteúdo. E aí, as pessoas podem ir pelo entretenimento, para interagir — e, quem sabe, comprar também”
Nos próximos dias, a MIMO deve lançar um aplicativo de agendamento das lives. Hoje, as empresas agendam pelo site. Para o primeiro semestre está previsto outro app, com foco nos consumidores.
“Optamos por começar numa aplicação web-based porque as pessoas estão conhecendo essa forma de comprar”, diz Etienne. “Não queríamos fazer o consumidor baixar um aplicativo antes de nos conhecer. Mas agora estamos engajadas em melhorar ao máximo a jornada dos nossos públicos consumidores.”
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