Sem medo de ser pequeno: eles querem transformar o e-commerce em Floripa com um trabalho de formiguinha

Rafael Nardini - 13 ago 2015Os sócios Vanessa, Álvaro e Guilherme, têm menos de 30 anos, estão empreendendo há 1,5 e já aprenderam algumas lições.
Os sócios Vanessa, Álvaro e Guilherme, têm menos de 30 anos, estão empreendendo há 1,5 e já aprenderam algumas lições.
Rafael Nardini - 13 ago 2015
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“Qualquer supermercado do Rio tem muita fila. A experiência é muito desgastante. Se deixar para fazer as compras depois do trabalho, pode ter certeza: você não vai fazer mais nada. Vai chegar dez da noite em casa, cansado, e sabendo que perdeu parte da noite”. Da experiência pessoal, veio o insight para um negócio. O testemunho é do carioca Álvaro Júnior, 26, CEO do Formigueiro Delivery, startup sediada em Florianópolis (SC) que se propõe a ir às compras para que o consumidor não se estresse.

A experiência se assemelha ao serviço de supermercados com loja física e online (entrar no site, escolher as compras e aguardar a entrega), mas há algumas diferenças. O Formigueiro não tem estoque nem loja física. Aliás, nem entregadores. E eles têm a proposta de agregar na loja virtual pequenos produtores de alimentos especializados e  comércios (empórios, açougues, padarias) que nem sempre estão nas grandes redes de varejo. É, eis aí, um trabalho de formiguinha.

“Queríamos criar um e-commerce para os pequenos, dar espaço para a produção própria e local. Então fomos atrás de encontrar os especialistas. E eles têm uma atratividade grande para os clientes. Uma pessoa que quer um queijo específico, vai até esse local”, diz Vanessa Spanholi, 24, designer de produtos de formação, pós-graduada em inovação e diretora de serviço no Formigueiro. “Oferecemos um canal para as empresas familiares. Assim, inserimos esses fornecedores nos novos ciclos de compra que a internet pode abrir”, completa Álvaro. Além do casal Álvaro e Vanessa, fecha o trio de formiguinhas o diretor de tecnologia, Guilherme Pacheco, 23, o reforço mais recente da equipe.

O SONHO DE GRANDEZA vs. A REALIDADE

Depois de um primeiro ciclo, a startup acaba de lançar uma nova plataforma digital, que inaugura também uma fase com direcionamento mais bem definido. Os sócios contam que o Formigueiro passou por arroubos de grandeza antes de sair do papel, em setembro de 2013. Nas conversas que antecederam a abertura das portas, a ideia passou por operar em toda a cadeia do varejo. Álvaro lembra dessa fase:

“Pensamos em horta, compras online e até espaço para os clientes tomarem café. Nem o Eike Batista pagaria uma operação daquele tamanho. Aí começamos a cortar tudo. Nos perguntamos: o que é essencial para o negócio?”

Para o essencial, eles concluíram que seria possível tirar o dinheiro do próprio bolso para bancar o início do sonho: juntaram 80 mil reais, usados como investimento inicial na plataforma, programação e comunicação. “A gente queria um negócio faraônico. Depois de estudar o mercado, deu medo e recuamos”, conta Álvaro.

Quem seriam os clientes? Segundo os empreendedores, gente como eles mesmos: pessoas que não têm carro, moram longe de supermercados ou simplesmente não gostam de aturar a sequência interminável de prateleiras. A falta de tempo — ou a sensação de desperdiçá-lo – pesa muito também, acreditam. “Os primeiros consumidores são aqueles que estão cansados da forma tradicional. Mas a gente percebe uma outra movimentação também, como a de casais com filhos pequenos. As pessoas estão começando a se adaptar às compras online”, diz Vanessa.

O Emporium Bocaiúva é um dos parceiros da startup. O cliente pede no Formigueiro e recebe tudo em casa.

O Emporium Bocaiúva é um dos parceiros da startup. O cliente pede no Formigueiro e recebe tudo em casa.

O primeiro modelo do Formigueiro, uma conveniência online em que o consumidor fazia suas compras pelo site para receber a entrega em até uma hora, acumulou 10 000 pedidos entregues para mais de 1 300 clientes.

O saldo do primeiro ano e meio de operação foi de que as coisas estavam bem, mas poderiam crescer. Os feedbacks eram positivos e pediam, principalmente, uma abrangência maior na entrega e um maior mix de produtos. Isso os fez retomar a coragem para dar um salto um pouco maior. Acabam de ampliar a rede de fornecedores (ainda modesta, é verdade) e acabam de inaugurar um novo espaço online, com navegação mais simples e design amigável.

Em seus primeiros momentos de vida do Formigueiro reformulado – as operações começaram para valer agora em agosto —, há cinco estabelecimentos parceiros e uma oferta de cerca de 1 200 produtos. O atendimento ainda está direcionado à região central de Florianópolis (os bairros de Agronômica, Carvoeira, Córrego Grande, Itacorubi, Jardim Anchieta, João Paulo, Pantanal, Parque São Jorge, Saco dos Limões, Santa Mônica e Trindade são as localidades atendidas). Com a “casa arrumada”, até outubro eles almejam ter oito estabelecimentos parceiros e a meta é chegar a 20 até o fim deste ano. Com isso, crescerá também a área de atendimento das entregas. As cidade de Joinville e São José são os próximos alvos do negócio.

MODELO DE NEGÓCIOS SIMPLES, EXECUÇÃO DELICADA

Cada loja listada no Formigueiro tem suas próprias regras de entregas. O cliente, portanto, ao fazer o pedido agenda a entrega para o período que for mais adequado entre os que a loja oferece. Há também a opção de entregas expressas, com prazo máximo de 60 minutos. Antes da nova plataforma de compras online, eles registravam entre 500 e 600 pedidos por mês. Com a ampliação, o Formigueiro espera um movimento de três a quatro vezes superior já nos próximos meses.

A padaria Casa dos Pães também é parceira do Formigueiro

A padaria Casa dos Pães também é parceira do Formigueiro

A operação da startup é simples. Após fechada a parceria com os parceiros, é definida uma porcentagem fixa sobre a venda dos produtos. O valor cobrado pela taxa de entrega e a responsabilidade pelo envio dos produtos é dos estabelecimentos. Tem funcionado. Apesar de serem pequenos, eles continuam mirando alto.

Amazon Fresh, Google Express e Instacart são três cases bem solucionados no exterior e que, de certa forma, influenciaram as decisões do trio de empreendedores. Todos têm valor de mercado na casa dos bilhões, com investidores e marcas muito fortes na dianteira. Mas e por aqui? O que vai acontecer com o supermercado online por aqui? Álvaro conta: “A gente sabe que os grandes varejistas vão correr atrás do prejuízo. Mas queremos estar na dianteira das entregas no Brasil, começando pela nossa cidade”.

Com um negócio modesto, que já provou seu valor no mercado e acaba de ser reformulado para crescer, eles seguem focados no trabalho diário, pequeno e fundamental, de empreender. Formiguinhas, eles parecem repetir uns para os outros. Álvaro acredita que o perfil do empreendedor mudou, que as gerações anteriores empreendiam por necessidade e, agora, as pessoas o fazem por oportunidade. Ele fala mais a respeito:

“Existe essa cobrança por descobrir o novo aplicativo da moda, resolver o problema do momento. Enquanto isso, os conceitos mais importantes são perdidos. O resultado é que vemos esse monte de coisa que não serve para nada. O grande foco do empreendedor tem que ser atender a uma necessidade real”

Vanessa segue na mesma linha. Segundo ela, para um exército de apenas três pessoas, o mais importante é manter-se apaixonado pelo o que faz. “Tenho brilho nos olhos pelo Formigueiro. Aparece tanto estímulo, tanta coisa nova, mas não dá para sair do caminho. O jeito é manter a paixão”, diz. E segue na lida.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Formigueiro Delivery
  • O que faz: E-commerce de negócios familiares e especializados
  • Sócio(s): Álvaro Júnior, Vanessa Spanholi e Guilherme Pacheco
  • Funcionários: 3 (os sócios)
  • Sede: Florianópolis (SC)
  • Início das atividades: setembro 2013 (a primeira versão) e agosto de 2015 o atual projeto, já reformulado
  • Investimento inicial: R$ 80.000
  • Faturamento: NI
  • Contato: [email protected]
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