“Um projeto de jornalismo comunitário me fez entender o impacto de uma publicação feita por e para quem é da quebrada”

Guilherme Silva Santos - 20 out 2023
Guilherme Silva Santos na visita dos alunos do projeto Repórter Paraisópolis ao Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.
Guilherme Silva Santos - 20 out 2023
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Meu nome é Guilherme, tenho 17 anos e sou nascido e criado em Paraisópolis, onde moro com meus pais.

Minha vida na comunidade é bem tranquila: meus estudos se mesclam com a vivência no bairro, que tem de tudo para atender as minhas necessidades – de farmácia a cabeleireiro; de mercado a espaços para lazer e cultura, como o pavilhão do G10

Meu grande sonho é cursar engenharia de produção e estou me dedicando muito, o máximo que posso, para alcançar esse objetivo.

Mas, no meio de tanto estudo, acabei conhecendo o Repórter Paraisópolis, um projeto realizado pelo Einstein que mudou a maneira como enxergo o jornalismo, a ciência, a saúde e a própria vida na comunidade

Quem me falou pela primeira vez do Repórter Paraisópolis foi minha amiga Nicolly. Fizemos juntos as inscrições para participarmos do processo seletivo e, juntos, também ingressamos.

Até que foi simples. Ali eu pensava que conseguiria mergulhar em alguns conceitos de comunicação, jornalismo, saúde e ciência, temas com os quais ainda não tinha tido tanto contato. Adianto, porém, que aprendi muito mais do que isso.

AO MERGULHAR NA FUNÇÃO DE REPÓRTER, APRENDI O QUE É JORNALISMO COMUNITÁRIO E COMO USÁ-LO PARA MELHORAR O LUGAR ONDE VIVO

No projeto, entendi o que é jornalismo comunitário, por exemplo: aquele que é feito pela comunidade para a comunidade.

Descobri como se faz apuração e checagem de dados e de informações encontradas na internet e em veículos de mídia.

Aprendi a perceber problemas, alguns bastantes significativos em Paraisópolis, como uma infraestrutura deficitária, falta de saneamento básico, esgoto a céu aberto…

São questões que afetam diretamente nossa saúde — e também a vida cotidiana.

Talvez o grande aprendizado seja que eu, como morador de Paraisópolis, posso agir para combater esses problemas que afetam a mim e a todos que amo e com quem divido meus dias

Ainda que haja obstáculos e que nem todos os processos tenham a velocidade necessária, é fundamental progredirmos nessa conscientização, na percepção do problema e na construção de suas soluções.

Estou certo de que essa consciência também me ajudará na faculdade que vou cursar e em todo o resto da minha vida.

Aprender a enxergar e a discutir isso tudo me qualifica, me capacita a expor minhas ideias. É assim que a mudança começa.

UMA DAS PRINCIPAIS LIÇÕES DO PROJETO FOI DESENVOLVER O “FARO” JORNALÍSTICO E SENSO CRÍTICO PARA IDENTIFICAR FAKE NEWS

Lembro bem dos primeiros encontros no Repórter Paraisópolis, quando discutíamos a importância e características do jornalismo comunitário, de ter algo feito por nós, que somos da quebrada, para quem é da nossa quebrada.

A escolha das pautas que desenvolvemos e a maneira de contar essas histórias também depende dessa proximidade. E isso faz toda a diferença. 

Fui desenvolvendo o “faro” jornalístico, senso crítico, construção de texto e até outras habilidades, como oratória, ao longo das dez semanas de aulas e oficinas.

Além de diminuir a minha timidez, também melhorei minha postura em entrevistas e vídeos, e entendi como identificar e combater fake news. 

Aprendi também que para saber se uma informação é correta ou não é preciso procurar a fonte primária da notícia, investigar se ela é confiável e quais são seus vieses

Temos que ter cuidado redobrado com matérias tendenciosas e sempre verificar dados e números.  Transmitir a notícia adiante? Só com a certeza de que é verdadeira.

Como parte das atividades do projeto, saímos às ruas para fazer o “fala, povo”, momento de nos conectarmos com os outros moradores de Paraisópolis e entender o que eles pensam sobre saúde e os cuidados com ela.

Também estivemos dentro do Centro de Ensino e Pesquisa do Einstein, onde falamos com um cientista para entender como o conhecimento que eles produzem lá se transforma em benefícios para a população.

COMO PARTE DA CONCLUSÃO DO PROJETO, PRECISÁVAMOS ESCREVER UMA REPORTAGEM, MAS ME EMPOLGUEI E FIZ DUAS

Chegamos, então, à etapa de escolha de pautas e temas que iríamos desenvolver para a +Saúde na Quebrada (ou +SQ), a revista física e digital do projeto.

Nessa parte, dissecamos os principais problemas e questões de saúde e bem-estar em Paraisópolis para decidir os assuntos que seriam abordados, tudo ligado a nossa realidade.

Para concluir o programa, era necessário que cada um de nós desenvolvesse uma reportagem: com apuração, pesquisa de dados e números, entrevistas e redação do texto.

E eu me empolguei tanto que acabei fazendo duas! Uma delas foi sobre a relação entre animais de estimação e a saúde mental e física de seus tutores.

A outra foi sobre os benefícios da prática da corrida. Os dois assuntos são muito evidentes na comunidade e encontram representação entre moradores (embora não haja uma estatística oficial).

As duas reportagens estarão na próxima edição da +SQ, que é distribuída em Paraisópolis e que tem tudo para melhorar a vida de quem a lê.

E olha como as coisas se conectam: a matéria de capa da edição, assinada pela minha amiga Nicolly, será sobre automedicação, e minha mãe (desculpa dedurar, mãe!) se automedica bastante. Eu não entendia o perigo disso, mas agora estou atento!

Talvez o segredo do sucesso do Repórter Paraisópolis e da +Saúde na Quebrada esteja justamente nessa mistura entre grandes temas de saúde e o cotidiano das pessoas.

Como repórter, reparo e identifico problemas que antes não via. E, agora, posso dizer para a minha mãe que se automedicar não é boa ideia.

Assim como as matérias escritas por meus colegas já me impactaram, torço para que as minhas também tenham impacto na vida de mais pessoas. 

NO MOMENTO, MEU SONHO É CURSAR ENGENHARIA, MAS O PROJETO ME AJUDOU A EXPANDIR MEUS HORIZONTES E REPLICAR INFORMAÇÕES ÚTEIS

Agora consigo, dentro das minhas limitações, oferecer informação de qualidade para o meu bairro. Sabemos que as notícias muitas vezes chegam distorcidas em Paraisópolis, ainda mais quando se trata de temas delicados, como saúde. 

A +Saúde na Quebrada quer mudar isso, gerando impacto social na comunidade ao qualificar jovens da própria região.

Eu, como morador de Paraisópolis e participante do projeto, me sinto mais preparado para combater as fakes news e apurar e propagar informações que ajudem as pessoas.

Já estou na época de escolher minha futura área de atuação no mercado de trabalho e nunca cogitei alguma profissão na área de comunicação.

Mas, após o Repórter Paraisópolis, consigo me ver atuando nessas áreas em algum momento da vida.

Independentemente de qualquer coisa, sei que informação de qualidade é fundamental para todos nós e que isso precisa ser replicado em cada canto de Paraisópolis e em todo o mundo.

 

Guilherme Silva Santos, 17, foi aluno da 3ª edição do Repórter Paraisópolis, projeto gratuito que visa levar informação de qualidade sobre saúde à população

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