Pense num entregador de encomendas. Qual a imagem que vem à sua cabeça? Provavelmente uma pessoa jovem, com disposição para aguentar horas circulando pela cidade, entregando os pacotes dos clientes… Confere?
A 50Mais quebra este estereótipo com um serviço logístico de última milha que utiliza, como o próprio nome diz, couriers com mais de 50 anos — ou “seminovos”, como o fundador os apelidou, de forma carinhosa — para entregas que exijam menos esforço físico e mais cuidado com as encomendas.
Na ativa desde 2017, o negócio social oferece uma oportunidade para aposentados fazerem uma renda extra e desempregados retornarem ao mercado de trabalho. A ideia, claro, veio de um empreendedor sênior: Pedro Wilson Viana Leitão, 71. Depois de se aposentar, ele não queria ficar parado — e combinou sua inquietude com o desejo de ajudar outras pessoas na mesma situação:
“Temos 50% dos entregadores com curso superior, mas muitos não conseguem trabalho na área por conta da discriminação etária… Ao longo destes quatro anos, comprovamos, na prática, o potencial dessas pessoas que superam as barreiras tecnológicas e encararam tarefas completamente diferentes de sua formação”
Além da sede no Tatuapé, Zona Leste da capital paulista, e uma filial em Barueri, na Grande São Paulo, a empresa opera em Brasília e sete estados: Amazonas (Manaus), Bahia (Salvador, Feira de Santana e Irecê), Ceará (Fortaleza, Pedra Branca e Russas), Espírito Santo (Vitória), Pará (Belém), Pernambuco (Recife) e Rio de Janeiro (a capital fluminense e Volta Redonda).
Só em 2021, a 50Mais realizou mais de 2,8 milhões de entregas e quase 38 800 rotas — embora nem todas foram realizadas por entregadores sêniores (mais abaixo a gente explica o porquê). O faturamento, segundo o fundador, chegou a 1,5 milhão de reais mensais.
Formado em matemática, o amazonense Pedro enveredou para o ramo logístico de transportes de cargas rodoviárias e aéreas. Em mais de 45 anos de carreira, passou por empresas como Rápido Dom Vital, Itapemirim, Rapidão Cometa e Stacco Micrologística.
Por dez anos, ele ainda foi sócio da TA Express Transportes Aéreos. Até resolver que era hora de vender sua parte no negócio e se aposentar. Pedro, porém, não conseguiu ficar parado por muito tempo e se lançou à busca por novas oportunidades:
“Cheguei a participar de quatro processos seletivos, mas quando chegava lá, falavam: ‘Vai para casa, deixa o lugar para a moçada…’ Como se o que eu tivesse para oferecer não servisse mais para nada. Isso me causava revolta”
O empreendedor diz que já tinha — há mais de 15 anos — um esboço do que seria a 50Mais, mas por conta das leis trabalhistas não conseguia colocar a ideia em prática. A explosão da Gig Economy e a vontade de voltar à ativa deram gás para que a empresa enfim nascesse no final de 2017, com o investimento de 450 mil reais de dois investidores-anjos.
Pedro conta que, assim que lançou seu negócio, foi chamado pela Maturi — que ajuda a reinserir profissionais 50+ no mercado de trabalho (e já foi pauta aqui no Draft) — para ser um parceiro da empresa, divulgando em sua plataforma as vagas de trabalho disponíveis na 50Mais.
Ele também passou a participar dos eventos da Maturi como palestrantes. E, numa dessas ocasiões, em 2019, acabou sendo entrevistado pelo Jornal Nacional.
“Eu fiquei no ar por 2 minutos. Depois dessa aparição, nosso banco de dados passou de 100 para 1 200 interessados”
Hoje, são 107 couriers sêniores atuando na 50Mais como MEI. Mas, segundo Pedro, toda hora este número muda, pois a cada empresa cliente que contrata 30 entregas, ele consegue absorver mais um courier.
Courier sênior da 50Mais realizando suas entregas diárias.
Todos os entregadores recebem treinamento, passam por avaliação médica e são consultados previamente pelo aplicativo para confirmar se querem realizar as entregas, que se limitam a no máximo 15 quilos (a média é 5 kg) e a um raio de distância de 4 quilômetros da casa dos entregadores.
Após retirarem as encomendas na base da 50Mais, eles têm um dia de prazo para realizar as entregas — no horário que preferirem, de carro ou a pé.
“Como algumas entregas se limitam a um envelope com um chip de celular, por exemplo, o trajeto a pé é possível e o courier ainda aproveita para fazer um cooper”, brinca o CEO. Dois de seus entregadores, diz Pedro, preferem fazer o serviço de bike.
A 50Mais trabalha no modelo de economia participativa. Na prática, quando a empresa fecha um contrato com um cliente, parte da receita gerada é distribuída entre os couriers, que recebem um percentual (em média, 40%) do valor cobrado pela entrega.
Segundo o CEO, os entregadores fazem cerca de 30 entregas por dia (podem ser dez no mesmo endereço, por exemplo), o que em um mês renderia até 3 mil reais.
O recordista de entregas é Atílio, que já fez 64 (!) entregas em um dia. Para Pedro, o entregador de 73 anos (o mais velho da turma tem 78) representa a coroação do impacto que deseja gerar com a 50Mais. Tanto que o empreendedor gravou um vídeo do entregador contando sua história.
“Eu filmei o depoimento com uma câmara amadora. Ele me contou que o primeiro complemento de renda que recebeu era quase três vezes o valor da aposentadoria”
Dentre os clientes atendidos pela empresa estão Azul, Evino, Purina, O Boticário, OMO, Valmari, Wine e, mais recentemente, a Vivo, que desde o fim de 2021 delega à 50Mais as entregas dos seus chips em todo o Brasil.
Pedro explica que o sistema de roteirização inteligente da 50+ permite que os entregadores realizem entregas de forma mais inteligente, mitigando a emissão de CO2, já que rodam no entorno de 4 quilômetros de suas residências e fazem muitas entregas em uma mesma parada.
Além disso, o empreendedor afirma que 99% da frota dos entregadores é abastecida com etanol.
“Estamos fazendo testes com uma empresa parceira para termos uma frota de veículos elétricos própria e assim possibilitar que até entregadores que não tenham carro consigam trabalhar na 50Mais”
Outra área relacionada à sustentabilidade na mira da empresa é a de logística reversa casada. O CEO conta que já desenvolveu um sistema para a coleta de cápsulas de café e está em negociação com empresas do ramo.
“Hoje, os centros de coleta, como o Pão de Açúcar ou as próprias lojas fornecedoras, recebem apenas 17% do total de cápsulas vendidas e o resto vai para o lixo comum”, diz. “São duas joias desperdiçadas: o alumínio e o resto de café e a borra de café que ficam dentro da cápsula.”
Sobre a borra de café, o empreendedor conta que fez um teste com uma empresa para transformar o material em adubo (que possa ser oferecido como brinde para quem retornar as cápsulas usadas). “Inclusive, criamos um dispenser para o consumidor armazenar as cápsulas para a devolução”, afirma.
Apesar de levantar a bandeira da maturidade, a 50Mais flexibiliza seu critério para atender dois clientes específicos: Mercado Livre e UPS, que têm uma rotina mais puxada para os entregadores. Nesses casos, a empresa abre espaço para colaboradores mais novos:
“São pessoas com faixa etária entre 20 e 30 anos, que têm mais pique para aguentar esse ritmo e carregar encomendas com mais de 15 quilos. Isso foge um pouco da proposta da 50Mais, mas é uma vertente do trabalho que nos ajuda na questão da sustentabilidade financeira e a preservas os entregadores 50+”
Mesmo no atendimento a esses dois clientes, a 50Mais mobiliza pessoas sêniores. “Mas só na torre de controle da operação, porque para entregas é um ritmo muito intenso”, diz Pedro. Hoje, a empresa conta com 429 entregadores mais novos. No total, contando também os sêniores, 82,49% dos colaboradores são homens e 17,51%, mulheres.
Para o futuro, além de escalar a entrega de última milha para mais estados e cidades, um sonho de Pedro é conseguir oferecer um plano de saúde empresarial para seus entregadores.
“O maior problemas dessas pessoas [50+] é contratar um plano de saúde individual, principalmente porque são idosos. Minha meta é conseguir oferecer este benefício assim que a 50Mais bater mais de 500 entregadores.”
Ao marcar seu casamento, Vivian Barreira fez um pedido aos convidados: em vez de comprar um presente, que tal ajudar uma ONG? Dessa ideia nasceu o GiftAid, plataforma que engaja pessoas e empresas a doar e promover impacto social e ambiental.
O turismo gera renda e emprego, mas também potencializa impactos ambientais negativos. Saiba como três empreendedoras uniram forças para desenvolver uma certificação voltada às boas práticas sustentáveis do setor hoteleiro do Brasil.
As faculdades continuam formando profissionais sem um olhar crítico para os problemas sistêmicos do planeta. A EcoUniversidade quer mudar esse jogo estimulando a colaboração e conectando empresas e comunidades tradicionais.