“O cara do Google no Brasil”. É assim que André Barrence, 37, é conhecido entre os empreendedores.
André é diretor para América Latina do Google for Startups, que dá suporte ao crescimento de novas empresas. Liderou, também, a equipe que inaugurou, em 2016, o Google Campus São Paulo, que oferece programas de aceleração, local de trabalho e diferentes recursos para startups.
(A unidade paulistana foi tema de uma reportagem no Draft, na época da inauguração; há apenas outras cinco no planeta, em Madri, Seul, Tel Aviv, Tóquio e Varsóvia.)
Entre 2016 e 2021, mais de 250 startups passaram pelos programas do Google: Startup School, Startup Zone (exclusivo do Brasil), Programa de Residência, Immersion e Accelerator. Os dados são de um relatório recente, que lista outros números: 15 mil empregos gerados por essas empresas; 35 bilhões de reais em investimentos captados por elas; 30 mil startupeiros capacitados em temas ligados a empreendedorismo, tecnologia e inovação; e 150 mil inscritos para fazer parte da comunidade do Google for Startups.
Quando André chegou à companhia, depois de dez anos trabalhando no governo, seu desafio era educar a comunidade de empreendedores que se formava. Logo viu que teria de se esforçar para espalhar o mindset de escalar e gerar impacto entre empreendedoras também.
Filho de mãe negra e de pai branco, André se viu, em 2019, provocado a olhar para suas origens. Emergiu desse mergulho para criar o Black Founders Fund. Dois anos depois, o fundo de venture capital do Google destinado a investir em empresas lideradas por pessoas negras já tem 29 startups no seu portfólio.
Leia a seguir a conversa de André Barrence com o Draft:
Você é filho de mãe piauiense, negra, que migrou para São Paulo, e de pai branco, descendente de baianos. Nasceu na capital paulista e cresceu na Zona Leste. Dá para dizer que você encarna a ideia do “brasileiro que deu certo”? E quem era o André antes do Google?
Eu sou, de fato, essa combinação de diferentes origens que me trouxeram até o lugar onde estou.
Tem outro ponto que eu, normalmente, não falo: o meu pai tem deficiência auditiva, perdeu a audição com 12 anos. Então, desde que me entendo por gente, convivo com um pai com uma deficiência, o que foi um ingrediente a mais de inspiração para mim.
Minha mãe é a terceira de dez filhos, de uma típica família nordestina que migrou para São Paulo quando ela tinha 3 anos. Meus avós vieram com aquele sonho de uma vida melhor, que não se concretizou; tiveram uma vida sofrida, se estabeleceram em uma região bastante carente da cidade
Sou nascido e criado em São Miguel Paulista [distrito da Zona Leste da capital]. Na vila onde meus avós se estabeleceram, e os meus pais cresceram e se conheceram, histórias de tanta vontade e solidariedade quase se confundem.
Desde criança, convivi com essa realidade de uma família com dificuldades…, mas encontrei em meu pai e minha mãe as histórias mais inspiradoras que eu conheço.
Acho que eles fizeram um acordo para fazer a união deles, e aquela família, progredir não só em termos financeiros, mas em termos de ter acesso, ser bem-recebido nos lugares… que é a coisa mais difícil.
A minha mãe foi professora da rede pública municipal de São Paulo por mais de 25 anos. O meu pai foi um dos primeiros programadores, desenvolvedores do Brasil. Nos anos 1970, ele trabalhou no centro de processamento de dados do grupo Votorantim.
Meu núcleo familiar sempre teve essas combinações: superação e a educação como a grande alavanca. Sou uma pessoa extremamente sensível às dificuldades e à realidade do que é o Brasil de fato, porque vi isso na minha família
Ao mesmo tempo, sou a própria constatação de que há caminhos…, mas que eles não podem ser para poucos, deveriam ser para muitos. Essa é a grande lição da minha jornada.
Acho que o André é uma pessoa extremamente sonhadora, empreendedora, que tem um apetite enorme para transformar a realidade, mas sem esquecer de onde eu vim. Porque a minha história é o meu grande combustível.
Aos 13 anos, sua família se mudou para Belo Horizonte. Qual foi o contexto?
A minha ida para Belo Horizonte foi curiosa. O meu pai tinha empreendido e quebrou. Isso teve um peso emocional enorme na família e nele. Quando ele decidiu voltar para o mercado, recebeu uma oferta para ir para BH.
Saímos de um bairro de classe média baixa, na periferia de São Paulo, e fomos morar em um bairro de classe média alta, com muitos acessos.
Belo Horizonte, de fato, abriu o meu horizonte e isso foi muito importante na minha formação como indivíduo, porque comecei a ter acesso a pessoas, a uma educação melhor e a sonhos que eu nem sabia que eram possíveis… Foi um momento de muita expansão para mim
O restante da minha família continuou em São Miguel Paulista; e eu sempre vinha para cá [São Paulo], várias vezes ao ano, e me deparava com as dificuldades de meus avós, tios e familiares. Aquilo me trazia para o chão, para entender que, na realidade, o que eu estava vivendo era maravilhoso, mas existia uma outra parte que eu jamais poderia esquecer.
Parece que a sua escolha acadêmica, Administração Pública, tem bastante a ver com essa necessidade de ampliar o acesso…
Sempre quis fazer Direito, porque sempre gostei da ideia de justiça. Não ouso dizer que sou advogado, mas sou formado em Direito pela UFMG. Eu me via muito representado no pensamento de “o que é o certo a fazer em uma determinada situação?” e “o que é o justo?”.
A instrumentalização do Direito não me trazia tanto entusiasmo. Ao mesmo tempo, eu tinha passado no curso de Administração Pública, no qual me deparei com uma constatação surpreendente: o Poder Público é uma plataforma excepcional para você fazer mudanças. Ele pode não estar funcionando bem, mas é incrível para gerar impacto
Me formei nos dois cursos; durante a Administração Pública fundei a Consultoria Júnior e comecei a fazer projetos. Alguns me levaram a lugares que jamais imaginaria conhecer, como o Vale do Mucuri e o Vale do Jequitinhonha (MG), onde trabalhei com comunidades muito carentes e pensava como juntar educação com segurança alimentar e desenvolvimento social. Isso me trouxe uma clareza do potencial e da responsabilidade do governo.
Você sempre soube, desde o começo da faculdade, que trabalharia no governo?
Quando me formei, fui trabalhar com o Antonio Anastasia, que tinha sido meu professor na faculdade e ocupava a Secretaria de Planejamento; depois ele se tornou governador [entre 2010 e 2014] e, hoje, é senador [pelo PSD-MG].
Trabalhei muito próximo a ele e tive ali um cenário fértil para me desenvolver. Vi que havia espaço para criar, empreender dentro do governo, e aquilo gerava impacto em educação, segurança pública, ciência e tecnologia
Essa sensação de potencial foi o que me fez ficar por tantos anos. Eu brinco que consegui empreender na organização menos inovadora do mundo, ou percebida como tal! E, depois, fui para o Google, considerado uma das organizações mais inovadoras do mundo…
Uma das iniciativas de destaque desse período é a fundação da SEED Startups. Como veio esse conceito de ter uma aceleradora estadual?
Em determinado momento, decidi fazer um mestrado. Fui para Londres, recebi uma bolsa do governo britânico. Lá, fundei uma startup, a Go Green Guide. Passei na seleção de um processo de aceleração, mas a startup não deu certo. Os sócios – eu, Fernanda Menegotto, Márcia Bindo e a francesa Ellie Mouy – não conseguimos encontrar um modelo, tínhamos objetivos um pouco diferentes.
No processo, uma frase de um mentor me marcou: “Na aceleração, queremos que você tenha o desenvolvimento de três anos em três meses”. Eu nunca tinha visto nada parecido no Brasil.
Quando voltei, em 2011, o governador me chamou para assumir o Escritório de Prioridades Estratégicas e me deu a missão de pensar o que seria a economia do futuro de Minas Gerais, quais seriam os empregos de qualidade… Eu estava com a ideia da aceleradora na cabeça e fiz um pitch sugerindo que o Governo de Minas se tornasse o maior investidor-anjo do país
O governador perguntou: onde aquilo já tinha sido feito daquela forma? No Chile, eu disse. Ele topou. Fizemos todo o processo, criamos legislação específica, decretos, orçamento. Nos tornamos uma das maiores aceleradoras de startups [do país]; no período em que estive ali, aceleramos entre 80 e 100 startups, de 15 países. Várias permanecem até hoje operando no Brasil.
Mais do que o governo, quem estava na frente eram os empreendedores. Foi uma coisa criada em total harmonia, integração e conexão com a comunidade de San Pedro Valley. Um projeto abraçado por todos.
Depois da Go Green Guide, você voltou a empreender em 2015, quando deixou o poder público e cofundou a Innpact, consultoria de inovação governamental e políticas públicas. O que o motivou a empreender naqueles dois momentos? E como foi empreender?
Foram momentos bem diferentes. O primeiro foi de muita efervescência, quando vivi aquele ecossistema de Londres.
Foi uma ideia, um projeto de startup que nasceu 10 ou 12 anos antes do que deveria, porque trabalhava o tema de Low Carbon Economy and Sustainable Services… Como você incentiva o consumo sustentável, que pra mim é um dos grandes temas da próxima década.
A segunda vez que empreendi foi por vontade de um grupo que tinha trabalhado muito bem junto. Então, pensamos em reproduzir o que tínhamos feito em Minas e ajudar outros governos a serem tão inovadores quanto conseguimos ser. E foi superbacana.
Nesse momento, fui convidado para ser sócio da Geekie, startup de um grande amigo, o Claudio Sassaki, que estava fazendo uma captação de série B. Ele me chamou para tocar a parte de educação ligada ao setor público.
Eu estava ali com dois “chapéus” — o que foi superlegal –, porque empreender em educação não é uma tese de investimento ou de empreendimento; é uma tese de país
Na época, o MEC era um dos grandes clientes, com o projeto “A Hora do Enem”. De um dia para outro, saímos de algo como 4 milhões para 15 milhões de usuários. Foi um desafio incrível. Ainda mais difícil foi entender os desafios do setor público em lidar com a tecnologia — e também todo o processo de contratação, que nunca é fácil.
Às vezes, empreendo dentro do governo; às vezes, empreendo dentro de uma startup, ou como fundador. Às vezes, empreendo dentro de uma empresa como o Google.
Vamos falar do seu lado investidor? O seu primeiro investimento-anjo foi na AppProva, em 2013, depois adquirida pela Somos Educação. Depois, investiu também na escola de programação Trybe, na The Trip Boutique, consultoria de viagem suíça que usa inteligência artificial, e na DNVB de bem-estar Holistix, entre outras… Quais critérios você usa para investir?
O meu primeiro investimento-anjo foi em uma edtech; desde então, a minha tese é muito parecida: eu olho para mercados ou problemas em que tenho interesse e acredito que sejam setores importantes para a teoria de mudança em que acredito para o país, como educação, sustentabilidade, construção de comunidades… Áreas que têm a ver com ganhos de eficiência.
A segunda coisa, talvez a mais importante, é que sejam negócios fundados por pessoas que eu admire…, empreendedores com visões que me motivam — e me emocionam. E a terceira é: o quanto eu acredito que posso contribuir com essa iniciativa, seja pela minha vivência, experiência… De que maneira eu posso ajudar na jornada.
E como faz para não misturar o “André investidor” com o “André do Google”?
Este é um tema superimportante pra mim porque o tipo de trabalho que eu realizo no Google for Startups também tem um impacto no ecossistema. Então, tenho muito cuidado, sempre, para que essas coisas não se confundam — e para que não haja nenhum tipo de dúvida da natureza e da questão ética em relação ao que eu faço no Google.
Todos os investimentos que faço são, necessariamente, aprovados pelo time de compliance, como os de qualquer outro Googler, para manter a clareza de quais são as linhas que a gente precisa observar enquanto está exercitando o nosso papel profissional — e o que somos nós para fora da companhia.
E tenho uma regra pessoal: nunca investi em nenhuma startup que passou pelo Google.
Como você chegou ao Google? Qual foi a missão que te foi incumbida? E por que você aceitou?
Tudo começou em 2015, com um e-mail… no Gmail (risos). Eu fui para uma reunião em Campo Grande e quando cheguei no aeroporto, tinha um e-mail: “Hi from Google.” Pensei que tinha estourado a minha capacidade de armazenamento…, só que era um recrutador do Google falando que queria me conhecer e me contar sobre uma iniciativa.
Tive uma primeira conversa; mesmo não tendo ficado claro o que era o projeto, entendi que havia um elemento gerador de transformação de ecossistema, que sempre faz brilhar os meus olhos.
Foi um processo longo, durou meses, várias idas e vindas. Mas ficou claro para mim que liderar o Google for Startups e assumir a missão de abrir o espaço físico aqui em São Paulo, o Google Campus, seria uma alavanca fundamental para acelerar o desenvolvimento do ecossistema naquele momento
Não foi uma decisão fácil, porque eu gostava muito de empreender. Mas ao mesmo tempo foi um chamado forte para que eu fizesse algo que se conecta muito com o meu propósito, que é pensar transformações em escala, com um impacto real na sociedade.
É certo dizer que, quando você entrou no Google, o desafio era educar a comunidade de empreendedores que se formava? E que só depois vocês perceberam que existia uma desigualdade de gênero no ecossistema?
No princípio, a gente tinha um objetivo claro: aumentar a densidade de startups em estágio inicial e contribuir com esse crescimento que já estava acontecendo de maneira orgânica. Entramos como um catalisador, com todo o potencial que a marca consegue adicionar a essa receita que já estava sendo feita.
Naquele primeiro momento, o nosso foco era bastante em early stage. Desde a primeira turma de residentes, a gente já tinha em mente o desafio de encontrar startups lideradas e fundadas por mulheres — e aumentar essa proporção.
À medida que as iniciativas e o ecossistema foram evoluindo, começamos a migrar também para programas mais voltados a estágios de crescimento e, depois, para estágios de escala.
E aí essa discrepância foi ficando ainda mais evidente: à medida em que os nossos programas passavam a atender estágios mais maduros, a proporção de mulheres e de outros grupos subrepresentados, como empreendedores negros e negras, praticamente inexistia
Começamos a nos questionar sobre como aumentar essa participação. Fizemos parcerias, como, por exemplo, com a B2Mamy, para fortalecer esse pool de empreendedoras early stage de modo que elas conseguissem avançar aos estágios de crescimento. E ficou evidente que o esforço necessário para ampliar a participação no que dizia respeito à raça seria muito diferente.
Quando você teve essa sacada? Quando entendeu que precisaria de muito mais esforço para trazer para perto do ecossistema do Google empreendedoras e empreendedores negros?
Em 2019, tive uma conversa muito transformadora com uma Googler, a Nathy Fogo Neres [Senior Account Manager no time de Google Customer Solutions], que é negra e trabalhou no time do Campus durante um período.
Ela me disse: “Não sei como você se sente, mas eu acho que você tem a possibilidade e a capacidade de fazer mais pela nossa participação. Não só dentro da companhia, como também fora, no ecossistema”.
Eu nunca tinha recebido uma provocação tão positiva… Uma parte importante da coragem para agir veio dela. A partir daquele momento, esse tema ficou nítido na minha cabeça, inclusive para eu entender qual era o meu lugar nisso
Um fenômeno que se viu ao longo da história do Brasil é que, à medida que a população negra evolui em status social, ela deixa de lado boa parte dessas reflexões sobre a sua própria origem.
Eu comecei a entender qual era o meu lugar, busquei dados… Fui ver no censo da cidade de São Paulo qual era o percentual da população negra onde nasci. Era algo entre 70% e 80% da população do bairro. Pensei: “Nossa, em São Miguel Paulista eu talvez não me visse como negro”.
Quando mudei para Belo Horizonte, as pessoas começaram a me chamar de “Dedé Negão”. Nunca achei que fosse algo ruim. Quando fui ver o censo do bairro que eu morava em BH, era o inverso! Pensei o que aquilo tinha a ver comigo… Daí fui buscar informações sobre a nossa comunidade do Campus, quais eram as características demográficas e papéis no ecossistema. De fato, vi que existia aqui um problema estrutural.
Essa combinação me fez ter maior consciência sobre o que fazer. E o impulso para dar o passo no vazio veio quando, em 2020, vivemos a comoção com o que aconteceu nos EUA com o George Floyd [sufocado até a morte por um policial branco, que manteve o pescoço em seu joelho].
Em meio a essa tragédia, abriu-se uma janela de discussão de raça no meio das empresas de tecnologia, entre os empreendedores, em vários setores. Foi quando vi a possibilidade de trazer uma ação concreta, capaz de endereçar um desses pilares mais estruturais da pouca diversidade que a gente vê no ecossistema
O Black Founders Fund foi uma iniciativa cocriada em paralelo com o que surgiu nos Estados Unidos. A primeira iniciativa foi lançada lá; na sequência, lançamos aqui no Brasil.
Você acha que não refletir sobre sua origem tinha a ver com o fato de a sua pele não ser preta?
Total… É engraçado isso, porque 56% da população no Brasil é negra. E ela é composta de duas parcelas: a população preta e a população chamada de parda.
Eu não sou preto, eu sou pardo. Só que eu falo que “pardo é papel”… Eu não sou papel, eu sou negro! Sempre me autodeclarei, mas nunca publicamente. Acho que não é tão simples. Você precisa, primeiro, buscar e compreender a sua origem, as suas próprias experiências…
O fato de eu não ser preto, por si só, já me trouxe privilégios em uma estrutura social e racial como a gente tem no Brasil… O que não tira a minha responsabilidade! Essa é a grande constatação
Digo que cada um tem um tempo para compreender, a partir da sua história, das suas experiências, qual é o seu papel e a sua responsabilidade. Mas todos temos [responsabilidade]!
Vocês lançaram o Black Founders Fund com a proposta de investir 5 milhões de reais em 30 startups ao longo de 18 meses. Pouco mais de um ano depois, já selecionaram 29 startups. Consegue vislumbrar diferença na representatividade da comunidade negra do Campus São Paulo?
As nossas hipóteses iniciais do fundo foram todas colocadas a teste, ao longo dos últimos meses. Fizemos adaptações, entendemos qual é a natureza do desafio, da oportunidade… E vejo que, de um ano para cá, a qualidade das startups que a gente encontra e nas quais temos investido cresceu muito.
Não é questão de ausência de talento; é questão de acesso e oportunidade. Se pudermos apoiá-los nessas frentes, tenho certeza de que várias destas startups investidas vão continuar a crescer — porque elas já crescem bastante, têm aumentado em contratação e receita. E têm problemas também, lógico.
Agora, vocês vão ter que buscar mais dinheiro para investir?
Uma coisa com a qual nos deparamos foi esse “bom problema” de que temos ainda mais talento em quem gostaríamos de investir. Então, estamos animados com a possibilidade de aumentarmos o fundo para que possamos investir mais em empreendedores e empreendedoras deste grupo que a gente já conhece, e de outros.
Tenho certeza que, à medida que essas empresas começarem a ter exit – e elas já vão começar a sair –, veremos mais empreendedoras e empreendedores negros, que talvez ainda não tivessem confiança para buscar um investidor ou de nos provocarem, trazerem suas ideias e seus pitches
Realmente acredito que esse portfólio vai crescer. E ele é extremamente importante para, primeiro, a própria rede de startups que já passaram pelos programas aprender com eles e também apoiá-los em seus desafios. A gente sente nesse grupo, em vários fundadores e fundadoras, uma real preocupação de apoiar esses empreendedores ainda subrepresentados.
Gostaríamos que isso aumentasse ainda mais em proporção na nossa comunidade, mas sabemos que são ponteiros que se movem lentamente. Acho que os números de participação e representação nas nossas próximas pesquisas já terão sido impactados.
A gente acredita que esse é, de fato, um movimento que requer esforço continuado e de médio e longo prazos. E estamos dispostos a fazer isso, porque sabemos que o jogo é esse.
Entre as 29 startups selecionadas pelo fundo, quais você destacaria, e por quê? Vê nelas potencial de se tornarem unicórnios?
Isso é igual a falar de “filho preferido” [risos]… Mas posso destacar algumas que acho fantásticas. Uma startup que eu gosto muito — passou pelo programa de residência, foi investida e depois contratada pelo Google como empresa fornecedora — é a Creators [apresentada aqui no Draft quando tinha o nome de Nosotros]. Ela está atuando em um tema muito relevante, como você trabalha com essa comunidade de criativos e como você mobiliza isso para marcas e para empresas para construção de conteúdo.
Entendendo que a construção de comunidades e que esses criativos vão ter um valor de negócio incrível, nos próximos anos em vários setores. Eu acho muito bacana esse modelo deles, o conhecimento que a Nohoa [Arcanjo] e o Rodrigo [Allgayer] têm do mercado, e a oportunidade dessa creative economy e dessa comunidade como forma de alavancar valor de negócio, de marca…
A outra, que está em um mercado extremamente quente — e que já produziu no Brasil dois unicórnios — é a LegAut. Falo que é a empresa que ninguém vai ver, mas que ela vai resolver um monte de problemas. Ela trabalha no processo de automação de tudo que diz respeito a processos cartoriais e notariais, na compra e venda de imóveis.
Imagine que a experiência de um comprador de imóvel em várias plataformas digitais, como QuintoAndar e Loft, que inclusive são parte do nosso portfólio, passaram pelos nossos programas… Ela tem um monte de coisas que acontecem na frente do usuário, só que para o processo ser rápido e ser satisfatório, tem um monte de outras que precisam acontecer por trás, com serviços cartoriais e notariais.
A LegAut faz justamente a automação de tudo que o usuário não vai ver quando estiver comprando o imóvel. O mercado é grande, o problema é grande, o time é bom, tem o uso intensivo de tecnologia… Acho que eles vão crescer muito. Porque o mercado de tecnologia de real estate, vai continuar em crescimento
Essas são duas que eu mencionaria — sempre com o risco de esquecer várias que a gente gosta muito e que eu sou fã.
Como fortalecer a inclusão no topo das corporações? Cofundador da Future in Black, Douglas Vidal fala sobre os desafios (e o futuro) da conferência de negócios e carreira protagonizada por pessoas negras que trabalham em grandes empresas.
Carro na oficina costuma ser sinônimo de transtorno? A Mecanizou criou uma plataforma que, com base na placa do veículo, identifica o modelo e o ano, lista diferentes fornecedores e preços e acelera a entrega da peça necessária para o reparo.
Líder de Responsabilidade Social Corporativa da IBM, Flávia Freitas fala sobre sua carreira e o desafio de ajudar a preencher a lacuna global de especialistas em inteligência artificial através da capacitação de pessoas de grupos minorizados.