Próteses realistas e preços acessíveis: como a Boobs for Drags quer conquistar seu espaço no mercado de acessórios para drag queens

Juliana Afonso - 13 jun 2022
Virgílio Amaral com uma das próteses de silicone de sua marca, a Boobs for Drags.
Juliana Afonso - 13 jun 2022
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Roupas coloridas, sapatos de salto alto, maquiagem farta. Esses são alguns dos itens que compõem o figurino de uma drag queen. Algumas vão além na hora de se montar e incluem elementos corporais tipicamente femininos, como seios.

Foi de olho nessa demanda que nasceu a Boobs for Drags (peitos para drags, em português), que vende próteses de silicone para drag queens e crossdressers.

Por trás da marca está Virgílio Amaral, 31, mineiro natural de Coronel Fabriciano, a 250 quilômetros de Belo Horizonte. Desde a adolescência, ele já comercializava produtos pela internet, de camisas de futebol e jogos de tabuleiro a equipamentos fotográficos.

“Meu pai é comerciante e sempre tive esse feeling”, diz. “Tudo que eu compro, já penso em revender — não necessariamente para ter lucro. Faz parte do meu DNA.”

Hoje, Virgílio põe esse talento para o comércio a serviço da Boobs for Drags. Fundada em 2020, a empresa vendeu 156 próteses em 2021, um aumento de 100%, segundo Virgílio.

Para 2022, a expectativa é dobrar esse número. “Nos primeiros cinco meses deste ano, já vendemos o dobro dos primeiros cinco meses do ano passado.”

FORMADO EM JORNALISMO, ELE DESCOBRIU O MUNDO DRAG AO SE MUDAR PARA SÃO PAULO

Aos 17 anos, Virgílio saiu de casa para estudar jornalismo na Universidade Federal de Viçosa.

Após se formar, em 2013, trabalhou em rádios e TVs. No ano seguinte, foi para a capital paulista trabalhar na cobertura da Copa do Mundo do Brasil pela Folha de S.Paulo. Não deixou mais a cidade e ainda hoje trabalha, paralelamente à Boobs for Drags, como jornalista e assessor de imprensa em uma agência de comunicação.

Foi em São Paulo que Virgílio conheceu o mundo drag. “Eu tinha uma amiga com muitos amigos drags e passei a me encontrar com eles.” Logo passou a frequentar as festas e a se interessar por esse universo. Ele mesmo criou sua própria persona, a Júlia.

“Eu já me montei três vezes com a ajuda de amigos, mas não me considero drag, infelizmente não tenho esse talento

Com a convivência, os amigos logo descobriram sua vocação para o comércio. Foi desse jeito que ele deu seus primeiros passos para empreender no segmento de acessórios para drag queens. “Um amigo me pediu uma peruca, aí o amigo de um amigo pediu também… Começou assim, bem informal.”

CONFORME A DEMANDA AUMENTAVA, ELE VISLUMBROU UMA OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO

Na base do boca a boca, a clientela foi crescendo e Virgílio, importando cada vez mais perucas para dar conta da demanda.

Com o tempo, passaram a perguntar se ele também vendia próteses de silicone. Virgílio foi atrás. Na época, diz, o preço variava de 1,2 mil a 2 mil reais.

“Era caro comprar uma prótese no exterior e não tinha quase ninguém vendendo no Brasil…. Ali me deu um estalo de que aquilo poderia ser um negócio”

Após avaliar os produtos disponíveis em sites internacionais, ele entrou em contato com fornecedores chineses, encontrou valores mais acessíveis e pediu três modelos diferentes, que foram repassados a amigos pelo preço de custo. Não demorou muito para mais pessoas começarem a pedir.

Virgílio passou a comprar lotes maiores e a oferecer o produto em sites como OLX e Mercado Livre; o uso das plataformas, porém, acabava impedindo uma relação mais próxima com os clientes. Foi quando ele sentiu necessidade de profissionalizar o negócio. “Decidi montar uma marca em 2019. Aí que surgiu a Boobs for Drags.”

O nome foi inspirado na estadunidense Boobs for Queens (peitos para rainhas, em português). Para lançar sua marca, Virgílio testou produtos de diferentes países. “Apesar de as próteses serem parecidas, elas sempre têm alguma coisinha diferente”, explica.

Em alguns meses, definiu os seus fornecedores favoritos: China, Estados Unidos e Suécia. Além das próteses, incluiu outros produtos na loja online, como perucas e trajes. E, em março de 2020, lançou o site e as redes sociais da Boobs for Drags.

A QUALIDADE DO PRODUTO E O RELACIONAMENTO COM O CLIENTE SÃO PONTOS DE ATENÇÃO

Virgílio destaca o que seriam diferenciais da sua empresa. Um deles é a qualidade do material: as próteses, segundo o empreendedor, são bastante realistas; a diversidade de tamanhos e cores ajuda o cliente a encontrar o melhor modelo para o seu corpo.

Atualmente, são vendidas próteses de 400ml, 500ml, 600ml, 700ml e 800ml em seis tonalidades de pele diferentes. Também existe a possibilidade de personalizar o modelo: 

“De vez em quando alguma pessoa quer uma prótese muito grande ou com um preenchimento diferente… Eu converso com o fornecedor e a gente atende o pedido”

Outro diferencial, de acordo com Virgílio, é o preço: enquanto um modelo comprado no exterior pode chegar a 2 mil reais, a Boobs for Drags vende as próteses por 690 reais.

Para reduzir os custos, o empreendedor importa o silicone e faz o preenchimento dos seios com algodão, elástico e ar. Os mamilos são fixados por ele com uma cola especial. “Nunca aumentei o preço das próteses, mesmo com a disparada do dólar.”

Manter o preço foi uma escolha pessoal, mas também uma necessidade do mercado. “É um produto caro, não é todo mundo que consegue pagar”, afirma. “Tem muita gente que batalha pra juntar esse dinheiro.”

Outro ponto de atenção, diz Virgílio, é o relacionamento com o consumidor final:

“Converso com todos os clientes e tiro todas as dúvidas: pergunto se quer que o envio seja feito em uma embalagem discreta, se o tamanho é aquele mesmo, se a pessoa quer mandar uma foto para que eu possa avaliar o tom da pele”

O diálogo continua no pós-venda: todos os clientes são contatados e lembrados que o produto pode ser trocado em até sete dias. “Nenhuma marca faz isso. Se você comprar aí fora, não vai ter essa possibilidade.”

QUANDO A PANDEMIA CHEGOU AO BRASIL, ELE TEVE RECEIO DE UMA DEBANDADA DOS CLIENTES

Nos primeiros meses da pandemia de Covid-19, as importações da China foram interrompidas. Virgílio conta que teve medo de perder clientes, por falta de estoque.

Os clientes, porém, compreenderam o momento difícil e permaneceram fiéis à marca. 

“Esse é um diferencial do público com o qual eu trabalho: as pessoas geralmente são compreensivas e educadas. O pessoal comprava e esperava para receber. Isso ajudou a atravessar esse período”

A apreensão inicial se transformou em entusiasmo em meados de 2020, quando as vendas começaram a aumentar. A Boobs for Drags acompanhou a tendência nacional de crescimento do comércio online: segundo o índice MCC-Enet, desenvolvido pelo Comitê de Métricas da Câmara Brasileira da Economia Digital em parceria com a Neotrust, o setor teve crescimento de 73% no volume de vendas durante o primeiro ano da pandemia.

O retorno das atividades presenciais, diz Virgílio, impactou as vendas: “Tem muita gente comprando para fazer shows”. Outro fator importante foi o lançamento de uma “nova geração” de próteses mais realistas, com caimento mais natural. “Muita gente que já tinha [sua prótese] comprou esse novo modelo.”

Para dar conta do trabalho como assessor de imprensa e de todas as tarefas da Boobs for Drags, Virgílio aproveita as noites e finais de semana. Neste ano, contratou uma pessoa para ajudar com as redes sociais e o atendimento ao cliente.

OBJETIVOS PARA 2022: ALAVANCAR A PRESENÇA NAS REDES E CONQUISTAR NOVOS MERCADOS

A repercussão, diz Virgílio, vem rendendo sondagens e contatos com equipes de televisão.

Ele conta que em 2021 o foi procurado pelos produtores do Shark Tank Brasil, o reality show do Sony Channel em que empreendedores fazem pitches para potenciais investidores. Também conversou com a equipe do Queen Stars Brasil, reality da HBO Max apresentado por Luísa Sonza e Pabllo Vittar que busca formar o primeiro trio musical drag queen brasileiro.

Um objetivo para este ano é intensificar o marketing e alavancar a presença da marca nas redes sociais. Para isso, uma estratégias é reforçar parcerias; artistas como Lia Clark e Hallessia e influenciadoras como Thaynara OG e AGGY já utilizaram as próteses da marca, segundo Virgílio.

A Boobs for Drags vende suas próteses para todo o Brasil. Outro objetivo, agora, é conquistar o mercado externo.

“O frete para enviar uma prótese ao exterior ainda é bastante caro e pode ficar ainda mais caro com os serviços de pós-venda que a marca oferece — mas estou pesquisando possibilidades”

Para Virgílio, o segmento ainda tem muito a crescer. “Para muita gente comprar uma prótese é realizar um sonho, por isso é importante oferecer um produto diferenciado. É um nicho com muitas possibilidades. ”

O empreendedor esbanja orgulho ao falar da Boobs for Drags. “A marca atende aos anseios de um público que queria ser ouvido, mas não tinha muita representatividade aqui no Brasil.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Boobs for Drags
  • O que faz: Próteses de silicone para drag queens e crossdressers
  • Sócio(s): Virgílio Amaral
  • Funcionários: 2
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2020
  • Investimento inicial: R$ 10 mil
  • Faturamento: R$ 116 mil (2021)
  • Contato: boobsfordrags@gmail.com
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